domingo, 31 de julho de 2011

Autoridade Familiar para uma Vida-Boa

À medida que o ser humano se vai desenvolvendo nos contextos ontogenético e filogenético, revelam-se possibilidades acrescidas de atingir níveis de realização pessoal, que nenhum outro animal jamais o conseguiu, verificando-se que o processo evolutivo não estagnou mas, pelo contrário, o ritmo de realizações, para o bem e para o mal, tem aumentado de forma nunca antes inigualável.
A pessoa humana procura superar-se a si própria e aos seus semelhantes, buscando a sua própria transcendência, até aos limites possíveis da virtude e da perfeição e/ou dos vícios e da monstruosidade.
O objectivo, materializado numa vida-boa, é compaginável com a superação e erradicação dos pensamentos e actos prejudiciais aos valores, princípios e boas-práticas, que conduzem ao mais nobre e desejado desígnio humano: a felicidade individual, no contexto de uma sociedade justa, significando aqui a justiça: harmonia, compreensão, solidariedade, igualdade de oportunidades, entre-ajuda, paz para todos; o bem-estar e a felicidade de cada um e de todos.
Através dos valores que definem a dignidade humana, como a autoridade, o respeito, a obediência, a tolerância, a espiritualidade, existem grandes hipóteses de cada um se libertar de preconceitos contrários àqueles valores e, consequentemente, viver uma vida-boa, mas também se devem aperfeiçoar outras dimensões que conduzem à superioridade racional, ética e organizativa da pessoa e da sociedade.
Torna-se pertinente desenvolver as qualidades, competências e conhecimentos acima do que se consideraria normal, isto é, superando-se e transcendendo-se até se atingirem objectivos sublimes e racionalmente compreensíveis, utilizando-se aqui o conceito segundo o qual: “Transcender é substituir progressivamente os valores materiais pelos valores espirituais. As pessoas normalmente buscam a transcendência pelas trilhas religiosas. Porém, é possível alcançar o mesmo objectivo por meio do desejo consciente de evoluir aprimorando as emoções e cultivando as virtudes, ou seja, através de uma busca racional da espiritualidade.” (PIRES, 1999:42)
A superação de preconceitos, estigmas, rótulos, fobias e situações degradantes, em ordem à transcendência, deverá iniciar-se aquando da implementação do processo de socialização de cada indivíduo, precisamente no quadro das instituições sociais mais significativas e compatíveis com a pessoa humana: família, escola, Igreja, comunicação social, entidades patronais, grupos diversos e outros parceiros que participam na construção da personalidade do indivíduo e da sociedade.
O processo que conduz à transcendência é complexo, exigente, mas também, estimulante; implica, determinação, autoridade e responsabilidade; pressupõe, liberdade, criatividade e autonomia; inicia-se, ou deveria começar, no seio da família e na mais tenra idade.
Nesta perspectiva, compete aos pais e encarregados de educação exercerem a sua influência, impondo uma autoridade democrática, partilhando conhecimentos, experiências e emoções, assumindo responsabilidades.
Deverá ser no seio da família que se inicia o projecto para uma vida-boa, no respeito pelos direitos e deveres de cada membro, em que o exercício da autoridade seja recíproco, porque: “A autoridade familiar nasce e deve existir como serviço, um instrumento insubstituível de que devem dispor os filhos para crescerem progressivamente a uma mais completa maturidade pessoal, de modo que também os pais se possam realizar como pessoas a nível da família. (…) A autoridade não é um privilégio, mas um dever de consciência, não é um último recurso, mas um clima permanente que sempre se deve respeitar e proteger, mesmo quando não se encontrar em exercício. (…) A autoridade familiar não se move no plano do jurisdicismo, mas deve considerar-se como um serviço, como possibilidade de ser útil, não como meio de dobrar a vontade ou de sujeitar a liberdade das crianças.” (ALVES, 1991:51-2)
Sabedoria para gerir, conciliar e potencializar todo este conjunto de variáveis é uma capacidade exclusivamente humana, que pode proporcionar uma vida-boa, entendida como sucesso em todas as iniciativas e circunstâncias em que se envolver a pessoa, porque: “O sucesso está subordinado à felicidade e, a felicidade, está muito mais próxima da sabedoria do que da inteligência. As melhores coisas da vida brotam de fontes tão pequenas que, muitas vezes, passamos ao lado delas sem percebê-las.” (PIRES, 1999:122).
O preconceito sobre a alegada inutilidade das coisas simples, porém, eficazes, deverá, pois, ser superado como tantos outros que infestam algumas mentalidades pseudo-técnico-científicas. É necessária uma autoridade desdogmatizada para se construir o futuro de sucesso que uma vida-boa pode proporcionar.
Os investimentos a realizar pelos governantes, empresários, instituições religiosas e de solidariedade e comunidades, para proporcionar à esmagadora maioria da população mundial, melhores condições de vida, não serão tão avultados como aqueles que se utilizam na preparação e manutenção de guerras, independentemente dos objectivos a alcançar.

Bibliografia

ALVES, A. Martins, (1991). Autoridade Educativa na Família, Porto: Editorial Perpétuo Socorro.
PIRES, Wanderley Ribeiro, (1999). Dos Reflexos à Reflexão. A Grande Transformação no Relacionamento Humano, Campinas: Editora Komedi.

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
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domingo, 24 de julho de 2011

Instrumentos Facilitadores da Inclusão


Reflectir sobre algumas hipóteses para minimizar o problema da exclusão é, de imediato, um primeiro instrumento que pode e deve ser utilizado, sabendo-se, embora, que a situação não será resolvida apenas com reflexões, se estas não apontarem soluções exequíveis a curto, médio e longo prazos.
Nem tão pouco se pretende inventar uma fórmula milagrosa que erradique, definitivamente, aquela chaga social que cada vez afecta mais cidadãos em todo o mundo, e constitui um libelo contra uma sociedade civilizada.
É óbvio, porém, que muito há para fazer e que muito mais se pode conseguir do que até hoje se obteve, a partir do momento em que toda a comunidade se consciencialize deste drama tão humilhante para as pessoas atingidas e acusativo para os mais directos responsáveis pela governação, privada e/ou pública, das nações e do mundo.
Eventualmente, também o cidadão anónimo poderá ter a sua quota-parte de responsabilidades nesta situação, talvez por lhe faltar a coragem cívica para denunciar os casos que conhece e os meios para agir com segurança.
Naturalmente que compete aos titulares dos cargos públicos em primeiro lugar e aos privados, complementarmente, desenvolver todos os processos em ordem à construção da sociedade inclusiva, porque não basta falar do tema, no âmbito de situações pontuais, protocolares e de circunstância.
A discussão acerca dos caminhos a percorrer, em ordem a facilitar a inclusão dos cidadãos, no seio das comunidades em que se integram ou pretendem vir a abraçar será, obviamente, diversificada e exaustiva e, eventualmente, sem garantia de sucesso total, quaisquer que sejam as modalidades, as estratégias e os métodos.
Apesar das dificuldades, à partida suscitadas, considera-se pertinente iniciar-se este debate e extraírem-se algumas ideias que possam conduzir os decisores à implementação de medidas e/ou projectos, cujo objectivo consista em reduzir o número de excluídos, nos diferentes sectores de actividade, numa comunidade local ou na sociedade mais alargada das nações e do mundo. Esta reflexão não tem a pretensão de enunciar a fórmula milagrosa, técnica ou científica para terminar com a exclusão.
Pretende-se, isso sim, alertar as consciências dos não excluídos, daqueles que, vivendo sem grandes dificuldades, generosamente, podem contribuir para ajudar os que mais precisam, independentemente de ideologias, estatutos e outras situações que se vivem nas sociedades modernas.
A inclusão das pessoas nas actividades, instituições e ocupações que lhe são próprias, enquanto cidadãos no pleno uso dos seus direitos, deveres e responsabilidades, é uma exigência, não só constitucional, como ética, moral e cívica, desde logo a inclusão na igualdade de acesso às oportunidades de melhor saúde, habitação, trabalho, educação, entre muitas outras importantes.
Ninguém deveria ser excluído por razões ilegítimas, injustas, ilegais, estatutárias ou outras, desde que, em igualdade de circunstâncias, condições e aptidões, para todos os interessados a um determinado bem, serviço ou produto, respeitando-se, aí sim, a legislação específica, elaborada e aprovada por quem tem a competência e legitimidade para o fazer, sempre no respeito pelos mais elementares direitos humanos.
Independentemente dos diversos e até plausíveis argumentos que, fundamentadamente, possam justificar determinado tipo de exclusão, a verdade é que, com excepção de quaisquer outras hipóteses, seria possível, pelo menos, reduzir o número de excluídos, aumentar e melhorar as condições de vida dos que venham a ser incluídos na sociedade, precisamente a partir de instrumentos facilitadores da inclusão, como a saúde, educação, formação, trabalho, habitação, aposentação, entre outros.
Um recurso poderosíssimo do qual dependem, praticamente, todos os instrumentos facilitadores da inclusão, situa-se ao nível da actividade política, desenvolvida pelos políticos, que concebem, aprovam, mandam executar, fiscalizam e avaliam (e são avaliados nas urnas eleitorais) as respectivas leis e projectos educativos, bem como todas as restantes intervenções na sociedade civil que, obrigatoriamente, se rege pelo sistema jurídico, implementado pelo poder político.
Resulta que toda e qualquer situação de exclusão é da responsabilidade, em parte, dos detentores de cargos políticos, com poderes numa determinada área da governação, relacionada com a natureza de uma dada exclusão.
Igualmente a sociedade civil no seu todo e o indivíduo em particular tem, uma quota-parte de responsabilidade, sempre e quando se acomoda à espera que o Estado resolva tudo. A iniciativa de todo o cidadão é livre e dever ser exercida, desde que para fins legítimos e legais.
Independentemente de qualquer hierarquização de instrumentos facilitadores, e/ou determinantes para a construção de uma sociedade inclusiva, considera-se que a educação-formação desempenha um papel fundamental, tanto mais imprescindível quanto mais se prolongar na vida de cada cidadão.

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
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domingo, 17 de julho de 2011

A Antropologia ao Serviço da Pessoa-Humana


Cada vez se torna mais pertinente uma ciência da antropologia, precisamente ao serviço do homem, considerado na sua dimensão última, ou seja, um ser à imagem e semelhança do seu Criador.
Quaisquer que sejam as teorias, o homem confronta-se, de facto, com um avassalador progresso científico que, por vezes, colide com valores e princípios ético-morais que são fundamentais para os Direitos do Homem. Um dos autores mais sensíveis a uma abordagem do progresso científico, em termos culturais e axiológicos e, concretamente, ético-antropológicos foi Paul Feyerabend.
Este autor: “denuncia uma concepção de progresso científico gerador de injustiças e do domínio da cultura ocidental sobre outras culturas consideradas subdesenvolvidas. (...) É contra esta forma de universalismo, negador das especificidades de cada cultura que Feyerabend ergue a sua voz: Em todo o mundo as pessoas elaboram instrumentos de sobrevivência em meios em parte perigosos.” (Id. Ibid.:2).
Naturalmente que não é isso que hoje se pretende das ciências e, por força de razão, não é isso que os filósofos exigem das ciências cognitivas, na medida em que ao exagerar a intervenção das ciências ditas positivas, verifica-se que, alguns deles e, concretamente, os teóricos das ciências sociais, políticas e outros intervenientes actuam na sociedade: “O modo como os problemas sociais, os problemas de assistência a idosos e assim por diante são resolvidos nas nossas sociedades podem, a traços largos, ser descritos nos seguintes termos: levantar-se um problema. Não se faz coisa nenhuma a seu respeito.
As pessoas são afectadas. Os políticos difundem a sua preocupação daí decorrente. São convocados os especialistas. Os especialistas elaboram teorias e planos que neles se baseiam. Os grupos de pressão próximos do poder, com especialistas ao seu serviço, introduzem diversas modificações neste primeiro trabalho... (...)
Temos hoje uma situação em que as teorias sociais e psicológicas do pensamento e da acção humanos tomaram lugar deste pensamento e desta acção em si próprios. Em vez de interrogarem as pessoas implicadas numa situação problemática, os gestores do desenvolvimento, os educadores, os tecnólogos e sociólogos extraem a sua informação acerca do que essas pessoas realmente querem e precisam de estudos teóricos realizados pelos seus prezados colegas nos campos considerados relevantes.
São consultados modelos abstractos e não seres humanos vivos: não é a população-alvo que decide, mas os produtores dos modelos. Os intelectuais de todo o mundo têm por adquirido que os seus modelos serão mais inteligentes, farão melhores sugestões, aprenderão mais capazmente a realidade dos seres humanos por si próprios.” (Id. Ibid.:2).
Esta análise feyerabendiana, citada pelo Prof. Doutor. Alfredo Dinis, é extremamente pertinente e, a situação timorense não esteve longe deste método, onde, segundo se afirma, efectivamente o povo maubere não foi, no passado recente, auscultado pelos políticos e militares, sobre o que seria melhor para a salvaguarda dos seus Direitos Humanos, designadamente, aqueles valores que se enquadrariam, nesta fase de segunda geração, ou seja, direitos sociais.
 Evidentemente que não está em causa a competência, a dedicação, o altruísmo de todos os que então tentaram reconstruir Timor; o que importa aqui é a metodologia utilizada que não poderia ser influenciada por interesses alheios aos timorenses.
Seguramente que não há “receitas” perfeitas nem milagrosas e o método feyerabendiano também não o é, na medida em que a objectividade, supostamente existente nas aspirações das populações-alvo, tem de ser trabalhada, pelos homens da ciência e pelos teóricos, pensada pelos filósofos, de tal forma que os dados concretos recolhidos, junto das comunidades, tenham em conta as suas culturas, os diálogos culturais entre culturas diferentes, conceitos e princípios diversos e até divergentes.
Torna-se essencial ter em conta que o discurso antropológico vem sendo objecto de intensa mudança, as dicotomias corpo-alma, matéria-espírito, também enfrentam graves problemas.
Nesta linha de pensamento, parece pertinente a tese do Prof. Alfredo Dinis quando ensina que: “...A ciência, mesmo a ciência da natureza, do universo material é, de facto, uma grande investigação acerca da humanidade. Na verdade, quando perscrutamos o espaço intergaláctico, não estamos apenas à procura de estrelas ou planetas semelhantes à Terra, ou de buracos negros ou estrelas... Estamos à procura de nós mesmos.
Andamos permanentemente inquietos em busca de nós, movidos por uma inquietação talvez inconsciente, por uma inquietação que tem no mais íntimo de nós a sua nascente, naquela profundidade misteriosa como um santuário onde nem mesmo nós ousamos penetrar.
E lançamo-nos então para fora de nós, à procura de nós, lá longe, muito longe, mergulhados como ébrios no infinitamente distante dos espaços siderais, ensaiando talvez os mergulhos que sonhamos no infinitamente perto que está em nós. (...)
É precisamente neste sentido que entendo que toda a ciência é, ultimamente, antropologia, e que todo o progresso científico só tem sentido se for visto como uma categoria antropológica. Mas tudo isto exigirá, certamente, um novo modelo de saber.” (DINIS, 2000:3 – parte final).
A reflexão que antecede conduz, efectivamente, a uma posição que se pode aceitar como de grande humildade, no sentido em que, não basta haver uma Declaração Universal dos Direitos Humanos, comprovadamente de matriz ocidental, se se ignorarem as tradições, as culturas, os hábitos, usos e costumes, o direito natural e consuetudinário de outros povos, noutros pontos do mundo. Quem somos nós, para criticarmos outros seres humanos cujos valores e princípios nós, ocidentais, preconceituosamente pretendemos negar.
A manter-se esta mentalidade, certamente, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, dever-se-ia denominar, “Declaração Ocidental dos Direitos de Alguns Povos”, porque, mesmo no ocidente, existem divergências quanto à importância de certos valores, como por exemplo a vida.
O direito à vida em quaisquer circunstâncias, ainda não foi absolutamente conseguido, veja-se o que se passa em alguns Estados Norte Americanos e diversos países onde a pena de morte, em início do século XXI, ainda vigora.
Na origem dos Direitos Humanos estão alguns valores que, por sua vez, têm a sua própria fundamentação: “...a tradição ocidental que conjuga o altruísmo e o individualismo. O dualismo apresenta duas faces: uma necessária e outra convencional (...) Em sua face convencional temos as regras sociais fundamentais nos interesses humanos. (...) O ocidente foi fundado por dois acidentes históricos, o milagre grego e o cristianismo. (...) Quanto ao cristianismo o advento de Deus na história forneceria uma resposta que, no entanto, foge ao escopo Popperiano.” (PEREIRA, 1993:173-75).
Na passagem acabada de citar é evidente uma defesa do racionalismo como uma opção moral, que cria os valores e se ilustra muito bem no seguinte trecho extraído da obra A Sociedade Aberta: “Acredito que a nossa sociedade ocidental deve seu racionalismo, sua fé na unidade racional do homem e na sociedade aberta, e especialmente sua feição científica, à antiga crença socrática e cristã na fraternidade de todos os homens e na honestidade e responsabilidade intelectual.” (Id. Ibid.:168)

Bibliografia



DINIS, Alfredo, (1998). Implicações de Desenvolvimento em Biologia e Ciências Cognitivas, in Revista Portuguesa de Filosofia, Tomo LIV, Braga, 1998, Fasc. 3-4
DINIS, Alfredo, (2000). O Progresso Científico como Categoria Antropológica, II, A, 1-A (Apontamentos), Braga: Faculdade Filosofia de Braga, S.A.
FEYERABEND, Paul, (1997). Tratado Contra el Método. Tercera Edicion, Madrid: Teknos. 
PEREIRA, Júlio César Rodrigues, (1993). Epistemologia e Liberalismo, (Uma Introdução à Filosofia de Karl R. Popper), Porto Alegre: Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Colec. Filosofia – 9, EDIPUCRS, (pág. 163-177)
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
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domingo, 10 de julho de 2011

O Papel da Escola na Educação Cívica

Por incrível que a alguns empiristas possa parecer, o certo é que, quanto mais se pretende “inventar”, mais rapidamente se volta às origens. A comprovar isto mesmo, veja-se, articuladamente, o que nos dizem alguns preceitos legais da Lei 46/86 e da Declaração Universal dos Direitos do Humanos (art. 26º, respectivamente:
1) “O sistema educativo é o conjunto de meios pelo qual se concretiza o direito à educação (...) acção formativa orientada para favorecer o desenvolvimento global da personalidade, e projecto social e a democratização da sociedade” (cf. Art. 3º b);
2) Declaração Universal dos Direitos Humanos: “Toda a pessoa tem direito à educação; (...) O ensino elementar é obrigatório. O ensino técnico e profissional deve ser generalizado; o acesso ao ensino superior deve estar aberto a todos em plena igualdade, em função do seu mérito (cf. Art. 26º 1); e
“A educação deve visar a plena expansão da personalidade humana e o reforço dos direitos do homem e das liberdades fundamentais e deve favorecer a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos...” (cf. Art. 26º nº 2).
O prefácio de Vitorino Magalhães Godinho na obra de António Sérgio “Educação Cívica”, vem ao encontro, justamente, dos grandes valores e princípios da educação, (in SÉRGIO, 1984: 4-5): “A escola tem como objectivo formar a personalidade (...) para uma sociedade determinada que se educa, ou em função da história Sócio-Cultural, tendo como alvo a transformação da sociedade?” acrescentando que:
Para Sérgio temos que nos situar em relação a uma sociedade progressiva, educarmos para que triunfe a produção contra o parasitismo” e, mais à frente, o prefaciante esclarece: “Assenta-se, assim a escola, como a educação, em alicerces radicalmente distintos dos tradicionais. A escola é uma cidade, laboratório, oficina, uma comunidade de trabalho. A educação é uma acção, o que há que revolucionar são os métodos e não os programas (estes devem ser muito flexíveis). (...) Na escola-cidade a educação não pode ser coerção, mas não pode discutir-se, deixando de orientar, dirigir, é direcção pois.
Comprova-se, afinal, que o papel da escola tem, e, deverá ter, cada vez mais, uma maior importância, na medida em que, conjugadamente com outras instituições, nomeadamente a família, a religião, a política, a empresa, a comunicação social, entre outros agentes, se formará o homem que desde Aristóteles, Platão, S. Agostinho, Kant, Habermas e António Sérgio se vem defendendo desde há milénios.
Pretende-se um Homem pessoa-humana, dotado de personalidade, de conhecimentos, de experiências vividas/sentidas, de atitudes, isto é, do homem que Sabe-ser, Sabe-estar, Sabe-fazer e Sabe-conviver-com-os-outros. Defendem os ilustres antepassados, acima referenciados, um homem para os Direitos Humanos, sem dúvida.
A educação cívica é essencial para o bom relacionamento das sociedades e, naturalmente, para a compreensão/interiorização dos Direitos e Deveres Humanos, não parecendo existir grandes dúvidas que ela, a educação cívica, se deve iniciar na família e na  escola, seguramente, o mais cedo possível, mas também, indubitavelmente, ao longo da formação contínua, permanentemente, durante toda a vida do homem. O mesmo será dizer, em todos os níveis do ensino/aprendizagem, acções de formação, reciclagem e quaisquer outras.
Obviamente que a escola será o meio mais eficaz, desde que possua os instrumentos mais adequados: programas actualizados e coerentes; pedagogias e andragogias modernas; instalações bem dimensionadas e equipadas; professores e formadores, imbuídos da sensibilidade crítica do conhecimento científico, técnico-pedagógico, espírito de humildade e de vontade de aprender com os alunos e formandos.
Mas será que, no início de um novo milénio, as actuais escolas básicas, secundárias e superiores estão preparadas para este desafio? E todos os professores, mestres, doutores e formadores, possuirão, a compreensão e terão a tolerância suficientes para ajudar a resolver os problemas e situações dos alunos e formandos?
A obra de António Sérgio “Educação Cívica”, talvez venha dar uma ajuda, concretamente, no papel da escola, como local do exercício de preparação para a vida real, em que os responsáveis não devem recear, nem ter complexos de importar programas, métodos, tecnologias e outros recursos, quando estes se revelaram eficazes noutros países.
Sérgio dá um exemplo bastante simples mas elucidativo (1984: 27-28) relativamente àquele “cavalheiro que manda vir um certo automóvel sem motor” para dizer que “nós imitamos como toda a gente a maquineta de Inglaterra, a civilizadora do mundo, o país modelo mas que afinal não somos como os ingleses”, porque “copiamos a maquineta mas esquecemo-nos do motor e, neste caso, o motor é a educação dos ingleses (...) a mola do sistema britânico consiste numa coisa, que por ser deles lhes chamaremos, como eles lhes chamam: o self-govermment.”
Neste sistema, paralelamente à sociedade, à família e ao ambiente, também a escola forma o educando para a vida activa real, objectivos que a denominada educação lusitana não atinge, porque, afinal, importa coisas incompletas.
A verdadeira educação portuguesa (ou de qualquer outro país?) passará por uma educação adaptada a uma escola do trabalho e da organização social do trabalho, sempre no respeito pelos direitos do próximo.

Bibliografia

ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA PORTUGUESA (1986). Lei 46/86 de 14/10 que aprova a Lei de Bases do Sistema Educativo Português, alterada pelas: Lei n.º 115/97 de 19 de Setembro, Lei n.º 49/2005 de 30 de Agosto e Lei n.º 85/2009 de 27 de Agosto.
ONU – Organização das Nações Unidas, (1948). Declaração Universal dos Direitos Humanos, Nova York: Assembleia-geral das Nações Unidas 10/12/1948, in AMNISTIA INTERNACIONAL – Secção Portuguesa, s.d.
SÉRGIO, António, (1984). Educação Cívica. Lisboa: ICLP/ME.

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
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domingo, 3 de julho de 2011

Alguns Valores para um Casamento Feliz



O matrimónio, enquanto modo de vida familiar, entendido na sua versão clássica – um homem, uma mulher –, tem vindo a atravessar diversas dificuldades que, numa percentagem significativa, mais de cinquenta por cento, em Portugal, encontra um desfecho, nem sempre pacífico, ao nível da respectiva dissolução.
O fenómeno, se assim se pode considerar, constitui um problema cujos reflexos, na vida das famílias nucleares tradicionais, são bem nítidos e complexos, principalmente, quando existem filhos para criar, educar e preparar para a vida.
 Pretende-se, entretanto e desde já, deixar bem claro que não se deseja defender um falso puritanismo, nem tão pouco uma convivência a dois sob o estigma da violência, da incompreensão, dos egoísmos individuais, enfim, sob a capa do “verniz” de uma aparente normalidade para o exterior e, internamente, no espaço privado e mais íntimo do casal, se cometerem as maiores atrocidades.
O respeito, por si só, já incorpora um fundo de amor, na perspectiva da amizade profunda, independentemente das divergências. Quando um jovem casal heterossexual se sente atraído, ou duas pessoas adultas, em qualquer idade, nutrem algum tipo de sentimento, a aproximação e o contacto vão propiciando oportunidades para um melhor e recíproco conhecimento.
Preparar o casamento para constituir uma família, com amor e respeito recíprocos dos dois membros do casal, pressupõe um percurso prévio, a dois – homem-mulher –, durante o qual vão analisar e desenvolver as capacidades que devem melhorar, até ao limite da perfeição possível.
Iniciar, desenvolver, manter e consolidar uma vida matrimonial, entre um homem e uma mulher que, supostamente e à partida, se amam, constitui, nos tempos modernos, uma tarefa verdadeiramente sábia, para a qual as pessoas parecem, cada vez menos preparadas.
Muitas são as alegadas causas para a dissolução do matrimónio, apresentadas por qualquer um dos cônjuges, cada um com suas razões, comprovadas ou não.
Acredita-se que também os esforços e tentativas de manutenção, e até de consolidação, se verifiquem, em quantidade e qualidade. Igualmente se compreende que determinadas atitudes e comportamentos conduzem a situações problemáticas, cuja solução drástica passa pela separação do casal.
Constata-se, com relativa facilidade, uma grande impreparação de, pelo menos, uma das partes, para: por um lado assumir todas as responsabilidades de uma vida a dois, com tudo o que ela comporta – alegrias/tristezas, riqueza/pobreza, saúde/doença, facilidades/dificuldades – e, por outro lado, não haver a força de vontade suficiente para abdicar de certos hábitos, partilhar a dois o que até então era usufruído por um, sacrificar certos prazeres, gostos e projectos, em favor da harmonia a dois, ou mais, quando há filhos.
O matrimónio, aqui também no conceito de casamento, constituição de família nuclear clássica ou tradicional – um homem, uma mulher, filhos –, revela-se como um percurso de vida a dois, depois a mais elementos, quando o casal procria, o que implica mais maturidade, prudência, sabedoria, sentimentos e valores genuinamente sinceros e solidamente interiorizados.
O matrimónio, fundado em situações meramente casuísticas, de conveniência, materiais e outros motivos supérfluos, é como construir um edifício em cima do lodo, sem alicerces assentes na firmeza do terreno sólido e bem estruturado.
Impõe-se a todas as pessoas que tencionam constituir-se em matrimónio, uma formação prévia, longamente preparada nos comportamentos, capacidades e valores essenciais, que consolidam a coesão do casamento: maturidade, prudência, amor, sabedoria, partilha, respeito, solidariedade, tolerância, confiança, compreensão, trabalho, economia, saúde, educação, religião, companheirismo, possivelmente, entre outros tão relevantes quanto os que se acabam de mencionar, segundo o ponto de vista de cada um.
Pelo menos estes valores deveriam estar bem presentes em cada um dos cônjuges, sem prejuízo de outros que, igualmente, cada casal considere importantes para a sua situação específica, tendo por objectivo final a felicidade da família no seu todo: pais e filhos.

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
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