domingo, 27 de novembro de 2011

Inegociabilidade de Sentimentos, Valores e Amigos

Os sentimentos, os valores, os princípios e os amigos, não se vendem, nem se compram, nem se trocam interesseiramente, porque: ou se têm, se sentem e se acarinham amorosa e generosamente; ou não se vivem e, portanto, não existem. A amizade incondicional, verdadeira, imbuída de sentimentos de um sincero “Amor-de-Amigo”, naturalmente que gera valores supremos, inegociáveis e insubstituíveis.
Se se analisar, por exemplo, o papel crucial que os verdadeiros amigos exercem na vida de quem tem a felicidade de os possuir, verifica-se, imediatamente, que não se podem negociar, trocar ou, simplesmente, ignorá-los. Tais amigos, complementa-se, no bem e no mal. Na alegria e na tristeza. Eles vivem para objectivos comuns: manter, contra tudo e contra todos, uma amizade sincera.
Em princípio, um amigo puro, do coração, especial, vai assumir esse superior privilégio para o resto da vida, jamais poderá ser inimigo, porque entre amigos leais, solidários, confidentes, a inimizade nunca existirá, porquanto a reciprocidade de sentimentos, comportamentos e conivência serão sempre como que o escudo que os defende de todos os obstáculos, fraquezas, intromissões, situações, interesses e pessoas que, nitidamente os prejudicam.
Uma amizade, unida pelo verdadeiro “Amor-de-Amigo”, pode, porém, fragilizar-se e até destruir-se face à existência de atitudes que configurem sentimentos de negação dos valores unificadores daquele amor. É necessário ter-se muita firmeza, muita sensibilidade, amar-se muito o amigo para que nada nem ninguém destrua uma dilecção tão profunda quanto nobre.
Nestas circunstâncias são fundamentais, entre os amigos, o a comunicação permanente, o diálogo leal e um elevado nível de empatia constante, no sentido de que: “A pessoa se esforça por entender o outro, mas se coloca à disposição para ajudar, respeitando seu sentimento, seu interesse, sua individualidade. Propõe compartilhar o poder e a solução do problema com o outro.” (RESENDE. 2000:94)
O “Amor-de-Amigo” é um sentimento que, como muitos outros, não sendo totalmente lógico, pelo menos, em certas circunstâncias, pode complementar a racionalidade humana; o contrário será, eventualmente, verdade. Nem sempre os sentimentos são totalmente racionais.
O ser humano não é exclusivamente racional, nem sentimental, de resto é, provavelmente, esta dicotomia que o diferencia da restante natureza. Por isso não se poderá considerar fraco quem é sentimental, nem forte que é, racional. A virtude, para quem a possui, estará, como em tudo na vida, no meio-termo.
A existência humana, possivelmente, não teria uma dimensão superior se a emoção não estivesse presente. A emoção dos sentimentos verdadeiros, porque puros, desinteressados dos valores materiais, talvez por estranhos complexos e, alegadamente, de auo-inferioridade, nem sempre é revelada por quem a vive. Numa sociedade “fria” em que os números, normalmente, estão acima das pessoas, os sentimentos, os valores e as emoções são entendidos como sinal de fraqueza.
 Talvez por isso: “Algumas pessoas relutam em agir de forma emocional porque a consideram uma atitude infantil. No entanto existe uma diferença entre ser infantil e ser como as crianças. Ser infantil é ser imaturo e recusar-se a assumir a plena responsabilidade pelas próprias ações. Ser como as crianças é assumir a responsabilidade e ao mesmo tempo ser capaz de entregar-se às emoções.” (BAKER, 2005:124)
O percurso de vida, ao longo dos anos, vai ensinando que há situações, interesses e pessoas que importa defender, aprofundar e conservar. Com as vivências experimentadas: umas bem sucedidas; outras que se ficaram pelo caminho e, ainda, outras, que resultaram em autênticas tragédias relacionais, é fundamental possuir a faculdade e também a felicidade de separar o essencial do acessório, e isto é um privilégio que nem todas as pessoas possuem, mas que se deve buscar incessantemente.
A capacidade para se ser criança, no sentido de assumir as responsabilidades e da vivência autêntica das emoções, paradoxalmente, ou não, consegue-se, eventualmente, na idade dita madura, em que determinados sentimentos, valores, princípios e amigos, estarão, ou deveriam estar, consolidados.
 Na verdade: “Com a idade, poderá encontrar-se rodeado por amigos e pessoas que se preocupam genuinamente consigo, que proporcionam toda a segurança que resulta de ser amado e tratado com dignidade e respeito. Esses amigos, essas pessoas tornam-se então a sua verdadeira família. Essas pessoas também podem partilhar os seus valores espirituais e entre todos é possível ajudarem-se mutuamente e evoluir de uma maneira positiva. A sua família espiritual são essas pessoas.” (BRIAN, 2000:102)
O ser humano experiencia sentimentos, emoções e situações mais ou menos intensas. Para certas pessoas, determinados sentimentos e as consequências deles resultantes serão positivos, para outras não. Instala-se como que um certo relativismo perigoso, na medida em que nem tudo pode ser considerado negativo, embora se tenha de admitir que existem conceitos que não são interpretados e vividos da mesma forma.
Por exemplo: se para determinadas pessoas a paz é a ausência da guerra e com esta definição se contentam; para outras, a paz é um valor a defender intransigentemente, porque consideram um bem supremo da humanidade; finalmente, para outras, a guerra é mais importante porque movimenta outros “valores”, quer materiais quer também um caminho para se atingir a paz, através do derrube dos ditadores. Em todo o caso e apesar desta divergência, ainda se acredita que a paz, no sentido da harmonia, é desejada pela maioria da população mundial.
O valor da paz, aqui percebida como o supremo desejo da humanidade em geral, resultará sempre da paz individual que cada pessoa tiver dentro de si. Para que tal aconteça: “(…) precisamos primeiro da capacidade de compreensão, e a compreensão não é possível sem uma comunicação gentil e afectuosa. Por isso, restaurar a comunicação é uma prática essencial para a paz. A comunicação é a raiz e o desabrochar da nossa prática de não-violência.” (HANH, 2004:30)
Considerando-se e respeitando-se os valores que cada pessoa defende, segundo as suas próprias convicções, o facto é que há valores que as sociedades modernas, democráticas, livres e responsáveis defendem e os comungam, transmitindo-os, por vezes com alguma dificuldade, às gerações mais novas, precisamente porque outros alegados valores, de natureza material, “abafam” aqueles que são genuinamente próprios do ser humano, ou que o deveriam ser e, jamais, negociáveis, tais como: a vida, a dignidade, o respeito, o amor; bem como os direitos inalienáveis designadamente: a saúde, a educação, o trabalho, a segurança, a propriedade, a liberdade, entre outros.
Por vezes afirma-se que tudo tem um preço, tudo se pode negociar, tudo se pode substituir, desde que, materialmente, resultem lucros concretos para as partes envolvidas. Vive-se, em muitas circunstâncias, uma vida de conveniências, de oportunismos, do “vale-tudo”, para se atingirem determinados fins, sem se olhar aos meios, “cilindrando”, até, os mais nobres sentimentos e valores das pessoas que não podem defender-se ou ousam obstaculizar tais projectos, quantas vezes maquiavélicos.
A justiça social, a harmonia, a felicidade, esta aqui entendida no sentido de cada um e de todos estarem de bem consigo próprios e com o mundo, respectivamente, não se constroem nem se consolidam enquanto não se respeitarem sentimentos, emoções, valores, opções e a dignidade que são devidos a toda a pessoa humana.
Claro que parece inevitável que no exercício dos valores a existência de sentimentos nobres em muito ajuda para o sucesso das relações humanas, sejam pessoais, profissionais, empresariais e quaisquer outras. Quando não se respeitam sentimentos, emoções, valores e princípios das pessoas, não se lhes está a reconhecer a dignidade, a honra e até o seu bom nome.
O valor da amizade só se tornará efectivo se envolvido em sentimentos de amor sincero, entre verdadeiros amigos, que são capazes de dar prioridade total ao relacionamento entre eles, independentemente de outros afazeres, situações interesses e pessoas. A amizade entre dois amigos, quando genuína, estará sempre em primeiro lugar e a comunicação, os actos mais singelos, são veículos insubstituíveis para a manter consolidada e inabalável.
Este sentimento bem profundo, bem legítimo que é o “Amor-de-Amigo”, que se nutre por outra pessoa, é inegociável, não tem qualquer preço, nem quaisquer condições, é ilimitado e permanece indestrutível, quando firmado nos valores da lealdade, da solidariedade, da reciprocidade e da cumplicidade.
Este sentimento fortíssimo que é o “Amor-de-Amigo”, que em nada se confunde com o amor conjugal, filial, fraternal, e outros de natureza familiar, dir-se-á que se consubstancia ao nível da dignidade, do respeito, da nobreza e generosidade do carácter e de uma certa elevação espiritual, porque não pressupõe relações sexuais, nem quaisquer outras intenções inconfessáveis.
Trata-se de um sentimento que não é próprio de “aventureiríssimo”, de “conquistas de fim-de-semana” ou de “colecção de casos”. Ele pauta-se pelo carinho, pelos gestos ternos, meigos e sinceros. Estará próximo do “Amor Platónico”. É um amor ideal que conduz, justamente, à felicidade dos amigos, enquanto tais.
Vivem-se emoções, cumplicidades, reciprocidades, solidariedades, lealdades, sempre com total amizade. O fim deste amor singular, acabará com a morte física do último dos dois amigos, mas sobreviverá, espiritualmente, se eles acreditarem numa vida celestial, para além da morte biológica.
Como conclusão pessoal, defendo que o “Amor-de-Amigo é um sentimento que se considera inegociável, intransmissível e insubstituível: ou se tem e se pratica, amando o amigo incondicionalmente e para todo o sempre; ou não se tem e vive-se um pouco na solidão e nas margens do “rio da felicidade”.

Bibliografia

BAKER, Mark W., (2005). Jesus o Maior Psicólogo que já Existiu.Trad. Cláudia Gerpe Duarte. Rio de Janeiro: Sextante.
BRIAN L. Weiss, M.D. (2000). A Divina Sabedoria dos Mestres. Um Guia para a Felicidade, alegria e Paz Interior. Trad. António Reca de Sousa. Cascais: Pergaminho.
HANH, Thich Nhat, (2004). Criar a Verdadeira Paz. Cascais : Pergaminho
RESENDE, Enio, (2000). O Livro das Competências. Desenvolvimento das Competências: A melhor Auto-Ajuda para Pessoas, Organizações e Sociedade. Rio de Janeiro: Qualitymark





domingo, 20 de novembro de 2011

Inclusão pelo Trabalho


Para o projecto de inclusão existe, entre outros, um instrumento facilitador, pelo qual a esmagadora maioria dos cidadãos se esforça por alcançar: o trabalho ou emprego, se possível estável, digno, material e socialmente compensador. A precariedade no emprego constitui uma chaga social que urge erradicar da sociedade.
A própria demografia nacional é prejudicada com esta situação, na medida em que os jovens receiam constituir família porque, em bom rigor, não podem esperar qualquer espécie de segurança. Ter filhos, torna-se, ainda mais complicado e poderá ser um risco que, mais tarde, possivelmente, afetará uma ou mais crianças.
Preparar as novas gerações para uma actividade profissional, proporcionar novas oportunidades para todos os que, por qualquer motivo, perderam o emprego, ou ainda para aqueles que, não obstante terem atingido uma situação de reforma, querem continuar a trabalhar, deve ser uma preocupação, não só dos interessados como também das instâncias oficiais competentes, no sentido de facultarem aos cidadãos a formação profissional integral, que lhes permita encarar o futuro com segurança, entusiasmo e desempenharem, produtivamente, uma determinada profissão na sociedade. 
Ao inserir-se no mundo do trabalho, o ser humano foge a outras situações, nomeadamente, as da ociosidade, do vício que, mais tarde ou mais cedo, pode conduzir à marginalização e consequente exclusão.
O ser humano é muito mais do que um outro animal qualquer, na medida em que, não se conformando com a natureza animal que o integra e também o envolve, procura, através de uma praxis, concertando teorias e práticas, numa dialéctica sempre em tensão, mas progressiva, vencer as dificuldades, autoproduzindo-se.
Pelo trabalho o indivíduo humano se distingue, se eleva e se dignifica, atingindo vários estatutos, que ele próprio também inventa e aplica, ao ponto de se tornar elemento fundamental na organização da natureza e do mundo que o rodeia.
Na verdade: “(…) pelo trabalho o homem aprende a conhecer as próprias forças e limitações, desenvolve a inteligência, as habilidades, impõe-se uma disciplina, relaciona-se com os companheiros e vive os afectos de toda a relação. Nesse sentido, dizemos que o homem se autoproduz, pois ele se modifica e se constrói a partir da sua acção. E nesse movimento tece a sua liberdade.” (ARANHA, 1996: 17)
A sensibilização para hábitos de trabalho deve constar dos programas educativos e de formação profissional, designadamente, na componente sócio-cultural: Cidadania e Empregabilidade, Cidadania e Profissionalidade, Mundo Actual, Integração, Desenvolvimento Pessoal e Social, Ética e Deontologia, Religião, Psicologia, História, Relações Interpessoais, Língua materna, Direito, e outras disciplinas de sustentação de valores, necessários, também, à formação da personalidade e do cidadão responsável.
O trabalho é um valor, tomado aqui o conceito de valor como sendo: “Tendência natural do homem. Valor é interesse, e tudo quanto satisfaça uma necessidade profunda, quer se trate de objecto ou de ideia, de pessoa ou de realização. É o sistema de valores, isto é, os princípios e os ideais que governam no jovem de carácter, seu estilo de vida, bem como a sua vida emocional.” (SCHMIDT, 1967: 202).
Incutir na criança, no adolescente, no jovem e no adulto e, se necessário, no idoso, o conceito de trabalho como um valor ideal, que dignifica o ser humano, elevando-o à condição da cidadania plena, com amizade, solidariedade, liberdade, lealdade, verdade, reciprocidade, competência, responsabilidade, entre outros valores, constitui, indubitavelmente, um instrumento que, rapidamente, retira a pessoa da exclusão e/ou a mantém firme e respeitada na sociedade inclusiva.

Bibliografia

ARANHA, Maria Lúcia Arruda, (1996). Filosofia da Educação. 2a Ed. São Paulo: Moderna.
SCHMIDT, Maria Junqueira, (1967). Educar para a Responsabilidade, 4ª edição, Rio de Janeiro RJ: Livraria Agir Editora.

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
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domingo, 13 de novembro de 2011

Paradigmas Pedagógicos

A fragmentação do conhecimento científico, com especial aceleração no último século, tem provocado correspondente necessidade de especializações, de construção de equipamentos, cada vez mais sofisticados, de intervenções técnicas adequadas e soluções pertinentes, para os problemas entretanto surgidos, que se adicionam a outras situações, ainda não resolvidas, que transitaram para o novo século.
No emaranhado dos conhecimentos e na luta entre os respectivos paradigmas, surgem as fórmulas pedagógicas, didácticas e técnicas, para se transmitir o volumoso acervo de conhecimentos, que a ciência vem proporcionando.
Modernamente, recorre-se, intensamente, à transmissão dos conhecimentos através das tecnologias da informação e da comunicação, -TIC- com suporte informático. Planificam-se e ministram-se cursos à distância, com a mesma garantia de rigor e validação dos cursos presenciais: as engenharias e as tecnologias ao serviço da educação e formação profissional. A utilização de uma linguagem técnico-científica suportada num idioma a caminho da universalização. – Inglês -
Experimenta-se o ensino à distância, inventam-se as máquinas de ensinar, criam-se soluções informáticas para avaliar, rigorosamente, na perspectiva das ciências exactas, matérias e alunos/formandos. A capacidade humana aplicada à ciência, à tecnologia, à criatividade e ao progresso, parece não ter limites.
A qualidade e nível de vida têm vindo a melhorar e reflecte-se no desenvolvimento precoce das crianças, em diversos domínios, e no aumento da esperança de vida. Será correcto, então, afirmar-se que se vive num mundo maravilhoso? Habita-se num espaço terrestre onde predominam a saúde, a paz, a felicidade, a lealdade, a solidariedade, quaisquer que sejam os seus conceitos?
A força e influência paradigmáticas da ciência e da técnica, conseguem introduzir-se na pessoa, sob fórmulas de valores, princípios, sentimentos e emoções? Interpretam e resolvem questões estritamente do foro íntimo de cada pessoa? Podem as máquinas substituir o ser humano na sua consciência, no exercício da moral e da ética, nas manifestações de alegria e de tristeza, na relação, mais profunda e íntima, entre um homem e uma mulher? São muitas as interrogações para as quais ainda não existem respostas definitivas e solucionadoras das dúvidas que se colocam.
A humanidade aproxima-se de uma encruzilhada complexa: em cujo ponto central se interceptam, cruzam e partem cada vez mais caminhos; desconhecendo-se, em muitos deles, a natureza e objectivos a que conduzem; ignora-se o fim, embora se conheça o princípio; são como que uma caminhada sem destino concreto.
Ao nível das alegadas ciências exactas, objectivas e positivas, tais itinerários são incompatíveis com o rigor que as caracteriza, embora se saiba que aqueles itinerários existem. Recorrer a algumas disciplinas (ou ciências) humanas e sociais levanta, nalguns sectores científicos, dificuldades de aceitação de resultados, ditos não objectivos, devido ao grau de maior ou menor subjectividade, que caracteriza o conhecimento adquirido através destas disciplinas (ou ciências) sociais e humanas.
E nos domínios da metafísica e da espiritualidade: onde imperam a crença e a fé; o misterioso e o inefável, como aceitar estes conhecimentos e como transmiti-los? Serão as máquinas inventadas pelo homem competentes para o fazer?
Como atitude intelectualmente honesta e metódica, pode-se dar o benefício da dúvida, e aceitar que constituem mais um bom recurso, a utilizar no ensino à distância, este sim, cada vez mais interessante e que oferece imensas vantagens.

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
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domingo, 6 de novembro de 2011

Amigo Ignorante ou Inimigo Sábio: Qual Preferir?

Se partisse de duas premissas, segundo as quais: o amigo “ignorante” pode conduzir a situações muito difíceis, precisamente porque sendo amigo, nele acrditamos e nos quer bem; a segunda, que poderá induzir-nos numa outra situação, que talvez leve o nosso inimigo sábio a envolver-nos, através da sua sabedoria, eventualmente astuta e maligna, se for o caso, em situações, igualmente preversas, embora também nos possa dar indicações para a nossa própria autodefesa.
O conceito de amizade, quando implica valores como lealdade, solidariedade reciprocidade e entrega, entre duas pessoas que verdadeiramente se querem bem, não é fácil de se destruir, embora, não se desconheça que o amigo de hoje pode ser o maior inimigo  de amanhã e, nesse sentido, tendo obtido conhecimentos privados e até íntimos, do que até então era amigo, os possa utilizar, já na qualidade de inimigo, contra aquele que até então foi amigo.
A amizade, fundada no num verdadeiro “amor-de-amigo”, não será fácil de destruir, os amigos que assim se tornamaram, por via deste vínculo mais forte, estarão sempre disponíveis para se ajudarem e, mesmo que sejam “ignorantes”, é preciso saber em que domínio são “ignorantes” para, entre eles, se aperfeiçoarem e adquirirem os conhecimentos necessários e assim, no futuro, evitarem erros e não se prejudicarem.
O amigo verdadeiro, mesmo “ignorante”, quando pela sua “ignoranãncia”, conduz o outro amigo, a situações complicadas, ele é o primeiro  a assumir as conserquências, a reparar o erro, a oferecer o “ombro amigo”, a desculpar-se e a  revelar toda a sua boa-fé. Será que o inimigo “sábio” terá esta dignidade, ou, pelo contrário, não se aproveitará de uma determinada situação, que é lhe favorável, para alcançar os seus objectivos inconfessáveis?
Por outro lado, o papel do inimigo em termos da sua evolução, pode, igualmente, ser o mesmo, isto é, o que hoje é o nosso maior inimigo, no futuro poderá ser o nosso maior amigo, por circunstâncias da vida, estratégias, interesses ou por gratidão, em função de alguma atitude praticada por aquele que até então era seu inimigo. Haverá pessoas assim, certamente.
Em todo o caso, poderá existir uma espécie de relativização do ponto de vista comportamental, talvez mais do que na óptica racional. Na verdade, provavelemtne, bem lá no íntimo da sua consciência, o inimigo de sempre, nunca o vai deixar de ser, mesmo que numa dada fase da sua vida se torne amigo. O contrário será, igualmente, válido para o amigo.
Para melhor justificar a preferência pelo amigo “ignorante” agora  no sentido da amizade pura, partilha-se aqui um conceito muito interessante  de amigo, com o qual estou de concordo, e que passo a citar:  “Para mim um amigo verdadeiro é aquele que nos apoia, que é leal connosco, que nos respeita, que investe no nosso desenvolvimento, nos ajuda a expandir os nossos horizontes, que nos incentiva, alguém com o qual temos afinidades idênticas ou diferentes mas que nos completa, com quem partilhamos os nossos sonhos, aquele que nos elogia ou nos diz as verdades no momento certo, aquele que nos empresta um ombro para chorar, mas também aquele que nos faz rir, aquele com quem gostamos de conversar sem receio, ter um diálogo sincero e verdadeiro, aconselhar-nos, alguém que não nos cobra nada, que nunca desconfia de nós, alguém de quem temos saudades quando não está por  perto, em suma que faz de nós uma pessoa melhor e feliz. Por vezes, nem sempre dizemos aos nossos amigos o quanto eles são importantes para nós… por isso quebrem esse silêncio e digam-lhes!” FERNANDES in http://oquemevainacabecaagora.blogspot.com/ acessível em 05.11.2010)
 Parece evidente que um amigo destes, mesmo que seja “ignorante”, é preferível a um inimigo sábio, porque, em bom rigor, com aquele amigo podemos contar, sempre, com ele, nos bons e nos maus momentos, é aquela pessoa que sincera e frontalmente nos diz, no momento certo, quantas vezes, as verdades que não queremos ouvir, mesmo que proferidas pela boca do tal amigo “ignorante”, mas que nos quer bem e, ainda que por vezes nos magoe, ele é sincero.
E o inimigo, como actua ele para atingir os seus fins? Provavelmente com premeditação, astúcia, utilizando argumentos que nos seduzem e nos conduzem para situações verdadeiramente inimagináveis, das quais não sairemos, justamente porque para lá fomos conduzidos pelo tal inimigo sábio. Este inimigo sábio, possivelmente, não dá a “cara”, poderá, inclusivamente, agir sob a capa da simpatia, da subserviência, da bajulação hipócrita, colhendo para si o fruto que é de outros.
E se a seguir desenvolvermos o tema para o plano do “amor-de-amigo”, considerando este amigo, igualmente ignorante, uma vez mais verificamos quanto é importante termos amigos que fundamentam a sua amizade com este verdadeiro amor, o que parece não ser exequível num inimigo sábio. Aliás, eventualmente, este inimigo “sábio” até poderá simular uma qualquer amizade e utilizar as fraquezas e fragilidades de uma pessoa para dela extrair o que lhe convém.
Igualmente se transcreve para aqui um conceito que também se pode aplicar ao amigo “ignorante”, que é o verdadeiro “Amor-de-Amigo”, no qual: “A relação de Amizade é uma grande manifestação do Amor humano. O Amor de Amigos é Amigável, puro e sem hipocrisia. A pessoa escolhe livremente gostar dessa pessoa, amar essa pessoa, a que chama AMIGO. A pessoa não está ligada à outra pelo instinto! É uma simpatia pela pessoa. Amizade pode existir entre homem e mulher, entre homem e homem, entre mulher e mulher. Neste Amor de Amizade não há! Não existe atracção sexual. A verdadeira Amizade ou seja Amor de Amigos, trás muita alegria, a pessoa Ama e dá sem esperar nada em troca. Não Ama o Amigo pelo que ele fez ou faz! Ama independentemente da ajuda, de qualquer coisa que a pessoa Amiga faça.
Nós Amamos os nossos Amigos queremos estar perto deles. Desejamos o melhor para eles. Desculpamos os erros. Temos bons pensamentos, boas palavras, bons sentimentos, bons desejos para os nossos Amigos. Desejamos tudo de bom para os nossos Amigos. Somos sinceros! puros! Amáveis! Honestos! Leais! Verdadeiros! com os nossos Amigos. Esta é a verdadeira relação de Amizade. Gostamos dos nossos Amigos.” (ROBERTSON, 2007).
Pode deduzir-se que tal amor deve ser cultivado como um sentimento profundo, muito especial, sem reservas, obviamente traduzido nos actos compatíveis com ele. Os verdadeiros amigos que se sentem inundados por este “Amor-de-Amigo” devem respeitar-se dentro dos limites que, reciprocamente, se impõem, sem prejuízo dos gestos e atitudes carinhosas, reveladores de pessoas com bons sentimentos e sem quaisquer outras intenções inconfessáveis.
A amizade traduzida e levada às respectivas manifestações do “Amor-de-Amigo” implica, inclusivamente, passar por uma necessidade de maior proximidade, acompanhamento, atenção, carinho e consideração especiais em relação aos amigos ditos de ocasião. Se em cada duas pessoas houvesse este verdadeiro “Amor-de-Amigo”, o mundo estaria bem melhor e a felicidade seria possível.
Acredita-se que será difícil, por vezes, confiar em certas pessoas e, provavelmente, impraticável em relação a muitas outras. É possível compreender que, em muitas situações, um homem ou uma mulher se possam relacionar muito bem, mesmo tendo em conta uma certa sociedade preconceituosa ou mesmo maledicente.
 O verdadeiro “Amor-de-Amigo” dever ser superior a tudo isso. As pessoas devem, livremente, escolher os seus amigos, sem emboscadas, nem imposições, nem hipocrisias. Quando tal “Amor-de-Amigo” existe, com sinceridade e sentimentos puros, a entrega deve ser total e recíproca e não uma rendição provocada por instintos animalescos. Uma dádiva comungada simultaneamente pelos amigos, mas regulada por valores que resultam da sensibilidade e da racionalidade.
Obviamente que a defesa de uma ou de outra tese é sempre legítima e que se respeita. Do meu ponto de vista, em boa verdade, prefiro viver com um amigo “ignorante”, porque a amizade é um valor que muito prezo, mesmo que, por vezes, seja difícil compatibilizar situações, personalidades, interesses, intromissões e outros acontecimentos que, momentaneamente, desestabilizam os amigos verdadeiros, mas que a amizade entre eles, sendo leal, solidária e recíproca, não deixa que se afastem, bem pelo contrário, os torna mais coesos e fortes para enfrentarem as adversidades e as maledicências lançadas por outras pessoas, (os tais inimigos sábios e/ou os “amigos” hipócritas, de ocasião) contra os dois amigos e/ou um  deles.
Os amigos, quando leais, não temem colocarem-se perante certos factos, porque, “ignorantes”, ou não, sendo amigos, eles depressa se entendem, rapidamente se perdoam e, depois do perdão, a amizade como que se reforça, a coesão, entre eles, fortalece-se de tal maneira que muito dificilmente algum inimigo sábio a destruirá.
Prefiro, portanto, os verdadeiros, sinceros, leais, cúmplices e transparentes amigos “ignorantes” do que os inimigos sábios, sim, porque estes nunca olharão a meios para nos derrubarem, se estiverem em causa os seus próprios interesses.
Com os amigos, ainda que “ignorantes”, poderemos sempre contar, nas horas boas quanto nas horas más, nos desentendimentos como nos melhores entendimentos, ou de contrário não serão amigos, porque aqui, o que está em causa, para mim, é o conceito de amigo e o de inimigo, este, como já disse, mesmo que no futuro venha a tornar-se “amigo”, provavelmente, nunca o será de verdade, porque, bem no seu íntimo, permanecerão as alegadas razões da sua anterior inimizade.
A corroborar esta tese e de autor desconhecido, transcrevo a seguinte posição: “A amizade verdadeira está por cima das idéias ou da bagagem conceitual de cada um. Amigo ignorante não deixa de ser amigo. Não sou amiga somente de pessoas que tem escolarização ou tem maior sabedoria. A amizade não deixa de existir diante da simplicidade. Não gostaria de ter inimigo, muito menos, sábio. São verdadeiras víboras. São capazes de ir até o fim na sua malignidade, pior ainda, são sutis, astutos. Puxam tapete sorrindo pra você. Estejam longe de mim sempre.
Sem dúvida, valem infinitamente mais os amigos verdadeiros, ainda que sejam “ignorantes”. Eles não me servirão de tropeço.”
(autor desconhecido, in site http://br.answers.yahoo.com/question/index?qid=20070418191907AAQT8RX.
Finalmente, considero que a amizade da/o amiga/o dita/o “ignorante” poderá incluir-se num amar sincero, sempre preocupado com o bem do amigo amado, numa perspectiva de profundo respeito aqui, sem margem para dúvida e/ou segundas interpretações, no sentido de: “desejar-lhe o melhor, olhar por ele, tratá-lo de forma excepcional, dar-lhe o melhor de nós mesmos. Significa a outra nossa alma gémea da amizade sincera, dos valores e exigências a ela associados, em suma, trata-se de um amar característico de verdadeiros e incondicionais amigos”. (cf. ROJAS, 1994)

Bibliografia

FERNANDES, Cecília Manuela Gil Fernandes (2010). Profissão versus Amizade. (Disponível em http://oquemevainacabecaagora.blogspot.com/ acessível em 05.11.2010)
ROBERTSON, Maria, (2007). Amor de Amigos. (http://blogamor.blogs.sapo.pt/30407.html, consultado em 05.11.2011)
ROJAS, Enrique, (1994). O Homem Light. Tradução Pe. Virgílio Miranda Neves. Madrid: Ediciones Temas de Hoy, S.A.

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
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