domingo, 30 de setembro de 2012

Filosofia: Reflexão para a Inclusão


A genuinidade filosófica, com que se pode abordar determinados temas da vida humana, é compatível com a invocação de lugares-comuns, quantas vezes, autêntica sabedoria popular que, ao longo dos séculos, vem resistindo a destacadas mentalidades técnico-científicas, ou aos círculos intelectualizados das elites académicas e políticas. Afirmar-se que a Filosofia é a ciência da vida, no seu sentido mais profundamente socrático do “Conhece-te a ti mesmo”, poderá parecer mais um lugar-comum, sem qualquer interesse para o conhecimento técnico-científico positivista.
Defender-se que a Filosofia é essencial para a educação da pessoa humana, em ordem ao governo da Polis, pode conduzir a conotações arquetípicas, coevas do regime político de Atenas, da Grécia Antiga e, portanto, sem interesse para esta humanidade de início de mais um século e milénio.
 Assumir a apologia da Filosofia como disciplina nobre, de orientação e rigor para o pensamento humano, pode revelar-se pretensioso ou subjetivo e, uma vez mais, sem interesse para as doutrinas positivas e materialistas deste novo tempo, que teimam em se consolidar através de acentuados individualismos.
Quaisquer que sejam as posições assumidas, em relação à indispensabilidade do estudo, reflexão, aprofundamento e práticas filosóficas, a realidade que atualmente se vive, em todo o mundo, relativamente a inúmeras situações inumanas, no mínimo, aconselham a que se desenvolva um debate profundo, sério e leal, aos níveis intercomunitário, interpessoal e introspetivo, a fim de se identificar algumas das causas (outras já estarão inequivocamente sinalizadas, como a desigualdade, a fome, a doença, a guerra) que têm conduzido ao mundo da conflitualidade, de violências várias, de exclusão de muitos, por parte de alguns, em que hoje a sociedade universal se encontra.
Implementar a todos os níveis escolares, e ao longo da vida, uma filosofia para a educação da inclusão, é um objetivo que qualquer político, governante e empresário, sensibilizados para estas questões, devem propor-se atingir, quando assumem funções executivas e/ou deliberativas.
Filosofia da educação para uma sociedade inclusiva, poderá significar um projeto ideal que norteará todo o processo de socialização do indivíduo ao longo da sua vida. Até caberia, aqui, invocar, por exemplo, a responsabilidade social do Estado, das Empresas e do Cidadão.
O mundo precisa do contributo dos cientistas e dos técnicos nos respetivos domínios, como necessita da axiologia, da ética, da moral, da deontologia, da educação, da cultura e da dimensão social do homem: «A educação é, portanto, fundamental para a socialização do homem e sua humanização. Trata-se de um processo que dura a vida toda e não se restringe à mera continuidade da relação, pois supõe a possibilidade de rupturas, pelas quais a cultura se renova e o homem faz história.» (ARANHA, 1996:18).
O ser humano, por sua própria natureza, beneficia das suas capacidades específicas, que as pode colocar ao seu serviço, no sentido mais inclusivo do termo, isto é, desenvolver todas as suas potencialidades para fugir ao isolamento, porque ele sabe que não terá hipóteses de vida humana, excluindo-se do relacionamento e convivência com os demais seres seus iguais. Aqui começa toda a caminhada do seu progresso, da sua grandeza e da sua aproximação ao Criador.
A humanidade ainda terá de fazer um longo percurso, até atingir um estado de total inserção na sociedade em que todos se integram, e nas dimensões que lhe são mais específicas, de entre elas a inclusão: religiosa, política, social, laboral, económica, cultural e universal.
Não pode haver barreiras físicas, geográficas, sociais ou outras, que impeçam o homem de se relacionar, conviver, produzir e aprender com os seus semelhantes, em qualquer parte do mundo que todos habitam, porque este mesmo mundo não foi criado e oferecido a nenhum grupo humano em particular.
Defender uma filosofia da educação para a globalização da inclusão é um imperativo universal, justamente num tempo em que muitas atividades e situações começam a ser globalizadas.
Hoje, um projecto desta grandeza e repercussões, pode parecer utópico, porém, quem garante que a médio e longo prazos a globalização da inclusão não seja reconhecida como uma forte solução para a maioria dos problemas atuais?

Bibliografia

ARANHA, Maria Lúcia Arruda, (1996). Filosofia da Educação. 2a Ed. São Paulo: Moderna.
 
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

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domingo, 23 de setembro de 2012

Bens e Serviços Suscetíveis de Distribuição


Ao abordar-se a questão da distribuição justa das riquezas naturais e/ou produzidas pela humanidade, consideram-se riquezas de natureza material e também aquelas que não são assim tão objetivas e quantificáveis.
Se quanto às riquezas materiais é possível identificá-las e medi-las, como elementos constituintes de um dado património, tal como o dinheiro, prédios, objetos de arte, viaturas e muitos outros bens físicos; no que se refere às riquezas imateriais, a sua identificação e amplitude objetivas são mais difíceis de determinar. Ainda assim, pode-se indicar como fazendo parte deste acervo, a cultura, a educação/formação, profissão, estatuto/prestígio e diversos ideais, tais como ser portador de valores ético-morais, honra, lealdade, dignidade.
Por outro lado, existe, ainda, outro conjunto de riquezas que contribuem, decisivamente, para o bem-estar material e espiritual da pessoa humana, constituindo o suporte mais desejado por cada pessoa, para uma vida feliz, nomeadamente: a saúde, o trabalho, a ordem, a segurança, a paz, o progresso e as leis justas, entre outras, igualmente importantes, como a igualdade de oportunidades no acesso a bens e serviços do domínio público, sob administração do Estado, como, por exemplo: a justiça, a educação e a cidadania plena. Obviamente que a distribuição e enquadramento daquelas riquezas pode assumir outras disposições e classificações, sem que isso afete a objetividade de uma melhor justiça distributiva das riquezas.
Admite-se que em todo o mundo existam situações de graves e inaceitáveis injustiças na distribuição das riquezas, não só no interior de cada país, mas também ao nível internacional e, neste quadro mais alargado, poder-se-ia questionar por que razão as riquezas naturais, concedidas ao ser humano pelo Criador, supostamente sem discriminações, tais como, por exemplo: a fauna, a flora, o petróleo, o gás natural, os diamantes, os minérios, a água, entre outros, não são geridos por uma só entidade supranacional e universal, do tipo, Nações Unidas e distribuídas equitativa e proporcionalmente pela população mundial? Até porque em alguns dos países onde existem aquelas riquezas naturais, grande parte da população vive na mais abjeta miséria.
Uma abordagem sobre estas riquezas naturais, na perspectiva da distribuição universal por todos os países, poderá parecer utópica e até suscetível de críticas humorísticas, todavia, a humanidade é só uma e a dignidade das pessoas igual, qualquer que seja a sua origem étnica e nacionalidade.
Todos nascem livres e iguais, detentores dos mesmos direitos e deveres, embora se reconhecendo que, atualmente, as influências económicas, culturais, religiosas, políticas, ético-morais e outras, são muito fortes para que se consigam alterações de fundo na redistribuição das riquezas naturais, controladas pelos habitantes dos territórios físicos, onde elas foram colocadas pela Natureza.
Reconduzindo a reflexão para os planos nacionais, igualmente se verifica que, certamente, em todos os países, a justiça distributiva das riquezas materiais e/ou imateriais, também está ao nível da utopia ou de uma miragem, inacessível à esmagadora maioria das populações, quanto ao respectivo benefício.
Naturalmente que o Estado, através dos órgãos específicos e estes geridos por pessoas, tem responsabilidades acrescidas, na medida em que: por um lado, coercivamente, obriga o cidadão a pagar determinadas contribuições, impostos, taxas e serviços à comunidade; mas, por outro lado, favorece-se a si próprio. O Estado é uma elite sem rosto, servido pelos cidadãos eleitos, ou nomeados.
A situação de flagrantes injustiças na distribuição de bens e serviços fica-se a dever à deficiente formação de uma parte dos responsáveis político-governantes e a uma notória insensibilidade para estas questões, agravada por comportamentos autoritários de poder, de arrogância, de pseudo-competências e, principalmente, por práticas reiteradamente injustas, notoriamente, em sistemas autocrático-ditatoriais.
A sociedade, as instituições e quaisquer organizações, independentemente dos seus fins, carecem ter à sua frente, dirigentes justos, no sentido da coerência, imbuídos de um espírito de compreensão, tolerância, humanismo e respeito pela dignidade do seu semelhante.
A justiça, qualquer que ela seja, só será verdadeiramente realizada por pessoas justas porque: “É verdadeiramente o aparecimento dos justos, que marca, ou deve marcar, agora, a nova atitude na concepção e na administração da justiça.” (LÚCIO, 1999: 36).
Não obstante o conceito roussiniano, segundo o qual “o homem é naturalmente bom”, o que parece ainda não estar provado, igualmente se pode aceitar que o homem nasce naturalmente impreparado para viver com regras, valores, direitos e deveres, sendo a sociedade, através dos seus diversos agentes e instrumentos de socialização, que o vai preparar para se integrar plenamente (ou não) numa determinada ordem.
 Desconhece-se, portanto, se o homem é justo pela sua natureza ou, se não o sendo, o poderá vir a ser pela educação, formação, cultura e religião. Se esta segunda hipótese for a correta, então o homem tem de ser preparado para ser justo, como cidadão, como pessoa, como profissional, qualquer que seja o seu estatuto.

Bibliografia

LÚCIO, Álvaro Laborinho, (1999) A Justiça dos Justos, Viana do Castelo: Centro de Cultura do Alto Minho/Casa dos Rapazes.
 
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo 

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domingo, 16 de setembro de 2012

Cultura: Dimensão Nobre da Pessoa Humana


Pelo estudo do folclore e da etnografia, melhor se pode compreender o passado que é parte de toda a pessoa, raiz da existência humana e suporte de uma cultura, neste caso, a portuguesa, a qual se revela no modo de vida de um povo, na sua forma de agir, sentir e pensar, com base num conjunto de princípios, valores, sentimentos e práticas, e que estão adequados à persecução de um ideal.
Ela, a cultura, é sempre uma relação histórica com o passado, um reviver no presente numa direção para o futuro. O ser humano é portador da cultura do passado, mas também produtor de uma cultura do presente, que se acumula em princípios, normas, ideias e sentimentos e que, inevitavelmente, se transmitem aos vindouros, numa linha para o futuro.
Portugal, talvez mais do que nunca, atravessa hoje várias crises, também de natureza cultural, muito profundas, consoante as abordagens que se façam e a perspetiva que se pretenda publicitar. Certo é que, efetivamente, o português de hoje parece revelar um certo complexo do passado, ignorando o perfil temperamental que o carateriza.
Procura-se omitir determinados conhecimentos do pretérito, valorizam-se banalidades, ditas vanguardistas, e ironiza-se, depreciativamente, muitos princípios, valores, sentimentos e práticas fundamentais, procurando, afinal, sob a capa de um modernismo, dito original, inovar e recriar costumes e situações que desde há séculos foram parte integrante das tradições e cultura portuguesas.
Mas, apesar disso, a crise revela-se mais acentuadamente no facto de o homem atual não saber o que quer, não possuir ideais pelos quais lute, e nos quais se venha a sentir realizado, como pessoa verdadeiramente humana.
O homem português tem que, face aos poderosos meios científicos e técnicos ao seu alcance, assumir a sua cultura, com tudo o que ela comporta, sem vergonhas nem complexos, retirar do esquecimento as suas seculares tradições, recapitular o mundo antigo, antecipar para o futuro o classicismo greco-romano, do qual e de resto nasceram valores inestimáveis, nomeadamente: a Honra, o Respeito, o Humanismo, o Direito, a Justiça, a Fraternidade, entre muitos outros, hoje tão ignorados, ou ridicularizados, ou pelo menos, não assumidos.
Neste caso, todos aqueles grandes princípios, valores e sentimentos que, entre outras religiões, o Cristianismo encerra, consubstanciados no Amor, na Verdade, na Solidariedade, na Lealdade, na relação antropológica do “Eu-Tu”, sob a Luz de um Ser Absoluto e Supremo que de facto tudo fundamenta, é que dão esta dimensão inigualável da pessoa verdadeiramente humana.
Apesar do que fica escrito, a cultura portuguesa não está, ainda, completamente degradada, porque os cidadãos, inseridos numa civilização do tipo ocidental, conseguem, não obstante os vários movimentos super nacionalistas, manter uma certa referência ao passado e uma distinção em reação a outros tipos civilizacionais e, como que “renascendo das cinzas”, mostrar aos parceiros internacionais um valioso património cultural, com base no sentimento emocional que carateriza a cultura portuguesa.
Esta cultura nacional é um processo de valorização do humano, mais de formação de caráter do que transmissão de saberes, dentro de um rigoroso conceito de humanismo, através da arte, da literatura, da filosofia e do vasto leque das outras ciências sociais e humanas.
Exatamente dentro deste espírito, parece lógico e razoável que os governantes portugueses, independentemente das ideologias político-partidárias, dinamizem todo um processo educacional em ordem à assunção dos valores mais tradicionais, e também em relação à salvaguarda dos princípios universais aceites pelo conjunto das nações.
Nesse sentido, justificam-se, plenamente, a desilusão, praticamente generalizada, sobre a desvalorização que certas disciplinas vêm tendo nos currículos do ensino em Portugal. A pouca carga horária, por exemplo, atribuída à disciplina de Filosofia, provoca, seguramente, uma certa “acefalia” no pensamento português, reduzindo a pessoa a uma mera máquina do sucesso material, robotizando-a naquilo que ela tem de mais profundo e livre que é o seu próprio pensamento, o seu “Eu”, a sua capacidade crítica, afinal, parte integrante da cultura.
É indubitável que, nas horas mais difíceis, deve triunfar a parte melhor que existe dentro do homem, mas para que tal se verifique ele deve possuir formação humanística, deve ser culto e, na posse destes dois elementos, ele será, obviamente, solidário, amigo, leal, compreensivo, tolerante, inteligente, encontrando as soluções corretas e justas, para os problemas mais delicados.
O homem sem cultura é como um prisioneiro de preconceitos absurdos, isolado do seu contexto histórico, cultural, social e também religioso. A Cultura dá esperança ao homem e esta é a “última a morrer”, constituindo, por isso mesmo, uma saída para as crises e para a projeção de um futuro mais promissor, porque sem esperança o homem não tem destino, não idealiza um projeto de vida e jamais alcançará a felicidade suprema da realização pessoal, enquanto pessoa humana de deveres e direitos, enquanto “animal de cultura”, dotado de inteligência e vocacionado para as mais elevadas realizações ecuménicas.
 

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
  
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domingo, 9 de setembro de 2012

Como Vencer a Crise


Afirmar-se que a sociedade contemporânea atravessa tempos difíceis, é já um lugar-comum, infelizmente, porém, verdadeiro. Por todo o lado se ouve falar em crise, habitualmente, reportada à economia que, por sua vez, afeta todos os sectores de atividade, contudo, também estes provocam impacto negativo naquela.
Vive-se, portanto, num círculo vicioso: economia fragilizada porque não existe o dinamismo suficiente na produtividade e no escoamento para o consumo sustentável, dizem uns; poder de compra enfraquecido porque a economia não está a gerar emprego e riqueza suficientes, para melhorar a aquisição de bens e serviços, através do poder de compra dos cidadãos, dizem outros.
Eventualmente, não será necessário ser-se um grande especialista em economia e/ou conhecimentos afins para se chegar a esta conclusão simplista. É nos fatos simples, nas decisões elementares que, quantas vezes, se resolvem grandes problemas. A complexidade da vida já é um problema que se enfrenta todos os dias, nas mais diversificadas situações.
Quanto mais pobre for a pessoa, a família, a instituição e o país, tanto maiores serão as suas fragilidades gerais. Daqui resulta que a crise material nos domínios da economia e das finanças, resolve-se: por um lado, com o maior poder de compra das pessoas, pagando-lhes os justos salários e reformas, a que têm direito e, por outro lado, não as sobrecarregado com impostos desumanos e, muito menos, retirando-lhes direitos que fazem parte das suas expetativas de qualidade de vida e para as quais, muitas pessoas, descontam há várias décadas.
Os alegados sacrifícios devem ser assumidos por todos aqueles que, de alguma forma, têm responsabilidades na situação que se vive, sejam os indivíduos, as famílias, as instituições e as nações. Certamente, todos serão culpados, em todo o caso, seguramente, uns mais do que outros.
Mas a crise não será apenas económica e financeira, nas diversas vertentes materiais. Fala-se pouco na crise de valores, talvez porque sendo estes imateriais, não geram riqueza, pensarão alguns. Parece que será precisamente o contrário, isto é, quanto mais enaltecidos forem os sentimentos, valores, princípios, regras, educação e formação das pessoas, maior será a participação das mesmas na busca das soluções que urge implementar, melhor será a sua compreensão para os sacrifícios que lhes são pedidos.
A sociedade ainda não terá acordado para este verdadeiro drama, que é o não-exercício real dos muitos valores que podem alterar mentalidades e comportamentos para uma atitude positiva, de esperança no futuro, de otimismo e elevação da auto-estima de cada pessoa e de todo um povo que, uma vez mais, é chamado a mostrar a sua grandiosidade.
Educar, formar e reconhecer a importância das boas-práticas de valores essenciais ao desenvolvimento equilibrado, justo e solidário de toda uma população, deveria constituir a principal preocupação de quem dirige uma instituição, seja a família, seja a empresa, seja o próprio Estado, este representado num governo democrática e confiantemente eleito pelo seu povo.
 O ser humano tem capacidades inatas para resistir, adaptar-se e vencer as mais complexas situações naturais, e as que são provocadas por ele próprio. Trata-se de uma faculdade que se vem conhecendo cada vez melhor e que, cientificamente, se denomina por “resiliência”. Este poder de adaptação a situações catastróficas, e de algum sucesso sobre elas, é fundamental para a sobrevivência de toda a pessoa que é apanhada em tais circunstâncias da vida.
É bem sabido que as crises, quaisquer que elas sejam, não se vencem pelo medo, nem com ameaças, nem com o pessimismo, pelo contrário, são os valores da esperança, do otimismo, da capacidade em se acreditar nas próprias faculdades, até porque: «Os seres humanos estão predispostos para a normalidade, que é o que nos sucede habitualmente. Inclinámo-nos a pensar que no nosso dia-a-dia não vamos ter grandes surpresas e, na realidade, é quase sempre assim, por isso nos acomodamos tão bem aos hábitos, aos costumes, às rotinas.» (MARCOS, 2011:91)
A crise de valores, em praticamente todos os estratos da sociedade será, provavelmente, a primeira que se tem de vencer, obviamente, com o apoio das principais instituições envolvidas: família, Igreja, comunidade, empresas, o Estado.
Isoladamente, não se perceberá como se poderá vencer as crises, quaisquer que elas sejam, incluindo-se, aqui, por exemplo, crises de relacionamento interpessoal: seja entre profissionais, entre amigos, entre familiares, ou em qualquer outro contexto, se não se recorrer ao exercício pleno de valores como: a amizade, a lealdade, a solidariedade, a reciprocidade entre pessoas de bem.
Os agrupamentos humanos, habitualmente organizados em função de valores, princípios, regras e objetivos comuns, mantêm-se unidos enquanto acreditarem que é possível atingirem os resultados a que se propuseram e, nesse sentido, o bom relacionamento é como que o cimento que os mantém colados, porque: “(…) a vida seria melhor se pensássemos com mais frequência que a nossa salvação consiste em restabelecer os relacionamento rompidos. Quando um relacionamento se rompe, a maioria das pessoas se preocupa em descobrir quem está errado. Quando somos feridos, procuramos logo o culpado, querendo que pague por isso.” (BAKER, 2005:51)
 Naturalmente que se podem evitar muitas crises, desde logo se cada pessoa for capaz de desempenhar as inúmeras funções diárias, sem atropelar os direitos e deveres dos seus semelhantes e, até pelo contrário, se tiver a generosidade de estar sempre disponível para o exercício dos valores essenciais à comunidade, como a saúde, a justiça social, a paz, a educação, a formação, o trabalho, o reconhecimento da dignidade de cada pessoa.
Indiscutivelmente que, antes do todo estão as partes, e estas devem entender-se nos seus relacionamentos diários, pela via da amizade sincera, da compreensão, da generosidade, da tolerância, do respeito, da consideração, da estima, enfim, dos valores que fazem com que as pessoas se amem verdadeiramente, se disponibilizem para o diálogo, para a priorização do amigo sobre todos os restantes compromissos materiais.
 Espiritualmente e em bom rigor, vencerá quem vem sendo vítima de violências axiológicas, psicológicas e comportamentais, à humanidade, dignidade, e generosidade próprias. As atitudes vexatórias serão vencidas pelo amor, pelo bom-senso, pela verdade dos valores da lealdade, da solidariedade, da reciprocidade, da cumplicidade e da gratidão que, mais tarde ou mais cedo, revelarão toda a força da sua importância e imprescindibilidade. O futuro joga-se neste xadrez axiológico.

Bibliografia

BAKER, Mark W., (2005). Jesus o Maior Psicólogo que já Existiu.Trad. Cláudia Gerpe Duarte. Rio de Janeiro: Sextante.
MARCOS, Luís Rojas, (2011). Superar a Adversidade, O Poder da Resiliência. Trad. Maria Mateus. Lisboa: Grupo Planeta. 

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
 
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domingo, 2 de setembro de 2012

Comunicação Transparente


Comunicar apresenta-se, hoje, como uma das principais potencialidades da humanidade, objetivamente, na sua vertente mais nobre que é o diálogo, a diferentes níveis: interpessoal, intergrupos, intergerações e internações, sejam quais forem os domínios, os temas e as finalidades.
O caminho mais adequado e digno da condição humana, para resolver os conflitos, alguns, naturais e compreensíveis; outros, menos atendíveis, que nas diversas circunstâncias da vida e dos papéis que cada ser humano desempenha, vão opondo interesses, valores, princípios e objetivos.
A humanidade está predestinada à inevitabilidade da comunicação. Quem se esconder na penumbra da indiferença, na aparente tranquilidade do silêncio sistemático e inconfessável, ou no egoísmo dos interesses ilegítimos, terá, provavelmente, imensas dificuldades em cooperar com os seus semelhantes, com as instituições, com um mundo cada vez mais exigente, e com a própria natureza.
Gerir, equilibradamente, a comunicação interpessoal é, cada vez mais, uma ciência superior, (também uma arte), nem necessariamente uma ciência exata, nem absolutamente uma ciência social e humana, porque numa ou noutra, sempre terá lugar alguma objetividade e, simultaneamente, haverá espaço para uma certa margem de subjetividade, sem que isso afete a veracidade da comunicação, a sua autenticidade e eficácia.
Com efeito, a ciência da comunicação pressupõe um método e um objecto: um método ou processo pelo qual se progrida e se alcancem novos resultados, ou se melhorem os já existentes e se atinjam objetivos previamente estabelecidos; um objecto, que, no quadro da ciência da comunicação, se pode identificar com a dimensão humana de relacionamento interpessoal, isto é, melhorar a qualidade e a quantidade dos actos comunicacionais.
Na conjugação e articulação do método com o objecto de estudo, considerem-se as estratégias, os instrumentos e a avaliação, através dos quais se credibilizem, testando, os procedimentos dos interlocutores comunicacionais.
Falar, ouvir, escrever, pintar, mimetizar e desenvolver toda uma panóplia de linguagens verbais e não-verbais, sem intencionalidade, sem regras, sem objectivos e sem consequências, equivale a uma possível incompetência dos intervenientes comunicacionais.
Sendo a comunicação humana um veículo poderosíssimo, único e acessível, exige-se que os seus utilizadores sejam competentes no exercício deste recurso singular do ser humano.
Da competência do uso da língua, dependem os resultados do acto comunicacional, respeitando sempre as normas do respectivo código utilizado, o qual deve ser do conhecimento profundo dos interlocutores.

Bibliografia

BÁRTOLO, Diamantino Lourenço Rodrigues de, (2007). Curso de Comunicação e Relações Interpessoais Avançado – Manual de Estudos

 
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
 
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