domingo, 28 de outubro de 2012

Felicidade Social


A complexidade da sociedade exige, de qualquer cidadão, uma capacidade praticamente ilimitada para se adaptar às inúmeras situações que, não só ao longo da vida, mas também num só dia, se apresentam. O poder de flexibilização de comportamentos, dentro dos limites da dignidade, dos princípios, dos valores e dos sentimentos, será tão necessário como o cumprimento das mais elementares normas sociais, consuetudinárias e jurídicas.
Sobrevier numa sociedade onde diversos ”valores” começam a crescer com muita força: sofisticação, aparência, soberba, domínio, irresponsabilidade, hipocrisia, deslealdade, manipulação, entre muitos outros – faz todo o sentido que as gerações mais velhas se esforcem por compreender as alterações rápidas que tais “valores” implicam no relacionamento uns com os outros, porque: «A predisposição natural para nos relacionarmos, alimenta o motor da sobrevivência, contribui para a vontade de viver e faz parte de um instinto de conservação. A nossa capacidade para criar e manter laços de afeto é inata.» (MARCOS, 2011:57).
O relacionamento interpessoal, digno, verdadeiro, coerente, assertivo e leal, genericamente considerado, é praticamente impossível, admitindo-se, contudo, a sua possibilidade entre pessoas que pautam as suas relações pelo respeito, pela reciprocidade e que entre elas exista um sentimento de sincera e incondicional amizade, que estão sempre ao lado umas das outras, em permanente defesa da honra, da reputação, com solidariedade e mutualidade.
Uma sociedade como a acima descrita poderá parecer uma utopia, pelo menos na sua análise total. O mundo dos humanos e dos restantes seres nunca foi pacífico, nem coerente e muito menos alguma vez foi perfeito, isto é sobejamente conhecido. Mas o que é que tem sido feito para se alterar as situações mais degradantes que têm afetado a pessoa humana.
Claro que há conjunturas que o homem não prevê, e se prevê não evita parte das consequências, quantas vezes, catastróficas para grandes aglomerados populacionais – sismos, vulcões, tsunamis, tempestades, furacões e outros fenómenos devastadores que a Natureza desencadeia, sem “pedir licença” a ninguém.
Mas no que ao homem pertence fazer, o que é que ele tem resolvido para evitar guerras, fome, criminalidade, injustiças, para além de outras misérias como a prostituição, a pedofilia, o tráfico de menores, a droga, a comercialização de armas? Que sociedade é esta que tendo entrado na segunda década do século XXI, parece que caminha para a pobreza extrema, a vários níveis, principalmente axiológicos e materiais?
Os detentores dos vários poderes: político, económico, financeiro, empresarial, mercantilista e religioso que mandam e, alguns dos quais até subjugam o mundo, sem dó nem piedade. A especulação e agiotagem desenfreadas bem como todo um conjunto de práticas inadequadas, vêm conduzindo os povos à mais degradante situação que um ser humano jamais deveria chegar, porque todos têm direito à saúde, ao trabalho, à constituição de família com dignidade, à velhice confortável e respeitável, à tranquilidade e à paz.
É evidente que a responsabilidade poderá ser um pouco de todos, mas é, seguramente, na sua maior parte, dos detentores dos diversos poderes, os quais deveriam ter a sensibilidade social e a formação técnico-científica para resolverem os problemas existentes, e evitar que surjam novas situações prejudiciais ao bem-comum. É, também, uma questão de consciência moral bem formada e de boa vontade. No fundo é um problema de cidadania.
Jamais haverá paz no mundo enquanto não forem repostas as condições mínimas da dignidade humana que, como já foi referido, passam, integralmente, pela manutenção dos mais elementares direitos de sobrevivência da pessoa humana. É injusto e imoral retirar direitos a quem já os tinha e para os quais contribuiu uma vida inteira e muito mais imerecido não alargar tais direitos à totalidade da população.
Na verdade: «Praticar a paz, fazer a paz viver dentro de nós é cultivar ativamente a compreensão, o amor e a compaixão, mesmo em situações de confusão e conflito.» (HANH, 2004:8). Acrescenta-se que tais sentimentos e comportamentos, partindo de uma pessoa e/ou grupo, terão de ser aceites e correspondidos pela outra pessoa e/ou grupo, porque a reciprocidade é fundamental para o sucesso da felicidade humana.
A sociedade atual corre, freneticamente, em busca de tudo (e de nada). Os “valores” do “Ter”, sobrepõem-se aos do “Ser” pessoa verdadeiramente humana. Procura-se o caminho mais curto, mais fácil, sem nenhum obstáculo que impeça a maior velocidade possível para se chegar primeiro ao alvo, não importando os meios, desde que os fins sejam alcançados.
O mundo como que parece que “foge”, que vai acabar amanhã, criando uma mentalidade do “máximo rendimento para o mínimo de esforço”. Mas, apesar de tantas dificuldades, de inúmeras situações de injustiças, da existência de extremos radicalizados, ainda será possível tentar-se, ao longo das gerações, presente e vindouras, alterar, significativamente, o contexto global em que vive a humanidade, proporcionando a todas as pessoas o que de mais elementar elas necessitam: saúde, trabalho, educação/formação, habitação, lazer, segurança na velhice, paz, tranquilidade e felicidade.
Bem se sabe que alguns dos valores agora enunciados são relativamente subjetivos: paz e felicidade podem diferir em função da condição social, política, religiosa, profissional, eventualmente, entre outras. Em todo o caso, é necessário que os responsáveis pelos diversos setores de atividade, avancem com medidas concretas, a bem de objetivos verdadeiramente humanistas.
Ninguém, nenhum grupo, nenhuma comunidade e nenhum país se pode fechar na sua “redoma”, porque a globalização, em quase todos os domínios, é um facto irreversível, portanto, o poder de resiliência de todos em geral e de cada um em particular é fundamental para, paralelamente, se mudar, para melhor, a atual sociedade.
Provavelmente, começar a mudança pela educação/formação será uma estratégia que em poucas décadas contribuirá para alterar mentalidades, práticas e respetivos resultados. Talvez, e para começar, seja pertinente implementar um conceito simples de “Felicidade Social”, seguida das respetivas boas-práticas, delimitando-se, então, este interessante conceito: «Aqui considera-se que todos os seres humanos são iguais, não importado a cor, a etnia, raça, credo, religião, nível social, cultura, poder económico, cargo político, fama, origem, aspeto físico, capacidade ou habilidade. (…). A felicidade social é a expressão máxima na saúde relacional social, pois eleva-se acima das restantes felicidades. Tolerância, solidariedade, compaixão, sabedoria e não-violência fazem parte da felicidade social.» (TIBA, 2002:72)
É evidente que neste período conturbado da História da Humanidade se torna, para já, muito difícil, interiorizar este conceito de “Felicidade Social”, e ainda mais complexo implementar e exercitar, cada pessoa em particular e a sociedade em geral, para as práticas necessárias em ordem a viver-se com “Felicidade Social”, porém, esta felicidade, há que o reconhecer, também inclui outros tipos como as felicidades: egoísta, familiar, comunitária, igualmente, entre outras possíveis.
Independentemente do tipo de sociedade em que se deseje viver, dos seus conteúdos, dos seus valores, práticas e objetivos, há dimensões da pessoa humana que são essenciais para uma sociedade moderna, justa e feliz.
Há princípios, valores e sentimentos que não podem ser ignorados, sob pena de a pessoa se transformar num animal qualquer, ou num simples objeto que, depois de utilizado, se atira para o lixo ou, na melhor das hipóteses, faz-se a sua “reciclagem”.
Deve-se, portanto, caminhar para uma sociedade de regras, de princípios, de valores, de sentimentos, numa perspectiva altruísta, em que o bem seja praticado, reconhecido e retribuído, sempre com mais e melhor qualidade e rigor, numa sociedade governada por pessoas sensíveis à dignidade humana, bem-formadas, ética e moralmente, com experiência, em suma, pessoas sábias e humildes, porque assim se chegará à “Felicidade Social”.

Bibliografia

HANH, Thich Nhat, (2004). Criar a Verdadeira Paz. Cascais : Pergaminho
MARCOS, Luís Rojas, (2011). Superar a Adversidade, O Poder da Resiliência. Trad. Maria Mateus. Lisboa: Grupo Planeta.
TIBA, Içami, (2003). Quem Ama, Educa! Lisboa: Pergaminho.
 
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

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domingo, 21 de outubro de 2012

Gestão do Capital Humano


A estruturação da sociedade envolve várias vertentes e, em todas elas, a componente humana vai estando presente, seja de forma direta e/ou indireta. Não é despiciendo considerar que a pessoa humana, verdadeiramente assumida e considerada como tal, é o motor de toda a organização societária, na medida em que sem a sua intervenção, possivelmente, apenas a natureza, respeitando os seus ciclos, cumpriria as respetivas funções e o mundo não teria evoluído até ao ponto em que hoje é conhecido, com todas as suas grandezas e misérias que, afinal, constituem os dois extremos, partir dos quais se procura, incessantemente, o equilíbrio que se deseja cada vez mais estável.
A intervenção humana, praticamente em todas as áreas que lhe são conhecidas ou sob investigação, tem sido notável, para o bem e para o mal, todavia, e pelo menos, verifica-se que ao longo dos milénios tem havido uma evolução cada vez mais acelerada, de tal forma que, atualmente, é impossível acompanhar-se, em simultâneo, o avanço da ciência e da técnica. O ser humano, seguramente, está dotado de capacidades que ele próprio, também e ainda desconhece, bem como a diversidade de situações em que é capaz de intervir e que é incomensurável.
Mas se organizar e gerir certas conjunturas lhe está relativamente acessível e até consegue, com mais ou menos sucesso, nomeadamente, a modificação de parte da natureza, outro tanto não conquista, em pleno, quando a intervenção tem por objeto as pessoas, seja qual for o contexto em que estas se encontrem: familiar, social, político, religioso, económico, empresarial, porque não é possível a experimentação absoluta, das pessoas, em laboratório, e muito mais difícil estabelecer leis científicas e universais para certos comportamentos humanos.
A sociedade, através dos seus atores e dos instrumentos que são adequados às mais diversas situações, naturalmente, que se vai organizando com a busca ininterrupta dos equilíbrios necessários, a fim de ser possível chegar-se ao bem-comum, à paz e à felicidade. Por isso a elaboração, a aplicação e controlo de regras, em todos os domínios, é essencial. Gerir pessoas é uma ciência e uma arte que não estão acessíveis a qualquer cidadão, independentemente da sua vontade e recursos disponíveis. Ninguém ignora que o capital humano, em qualquer organização: da família à empresa, passando pela sociedade na sua imensa diversidade, é o bem mais valioso que existe no mundo.
A sociedade de hoje está organizada em múltiplos e complementares setores de atividade, logo, nesse sentido, toda a pessoa tem capacidades para dar o seu melhor, num determinado contexto de intervenção: «As capacidades das pessoas são geralmente consideradas no âmbito das suas funções, havendo pouco conhecimento daquilo que um indivíduo é capaz de fazer fora do seu departamento ou seção. Assim se desperdiçam competências disseminadas pela organização, se desmotivam as pessoas, se perdem oportunidades de negócio e se desperdiça potencial competitivo.» (CUNHA, et. al., 2010:64)
O que se aplica às empresas públicas e privadas, pode-se, muito bem, adotar para a sociedade em geral, obviamente, com as devidas adaptações, na medida em que esta é composta, precisamente, por indivíduos, inseridos numa qualquer instituição ou, provisoriamente, num determinado contexto ou, ainda, numa situação específica, porém, sempre dotado de capacidades diversas, evidentemente enquanto detentor das respetivas faculdades, conhecimentos e práticas. Por isso, todas as pessoas são necessárias e valiosas.
E se ao responsável de uma determinada instituição, de uma específica natureza e com funções e objetivos bem determinados, se lhe pede que saiba gerir e valorizar os seus recursos humanos, idêntica exigência se deve colocar aos poderes político-institucionais, no sentido de não só prepararem pela educação e formação os seus cidadãos, como também proporcionar-lhes as melhores condições de vida, para estes poderem intervir equilibradamente na sociedade, em ordem ao bem-comum. Os governos não podem desperdiçar o seu capital humano e, muito pior, exportá-lo como se de uma mercadoria qualquer se tratasse.
Educar e formar uma pessoa, nas suas diversas dimensões, é uma tarefa que envolve meios complexos e avultados, qualitativa e quantitativamente considerados. Preparar a pessoa, verdadeiramente humana, para intervir em várias frentes: família, sociedade, profissão, instituições culturais, religiosas e de lazer, com sentido responsável e cívico, implica, por sua vez, um conjunto de recursos materiais e humanos que devem ser disponibilizados pelo Estado de Direito Democrático e também com grande envolvimento das próprias pessoas.
Pese embora um conjunto de grandes dificuldades que atravessa todas as sociedades de diferentes naturezas: familiar, económica, laboral política e axiológica, a verdade é que a gestão das capacidades positivas, individual e/ou grupalmente consideradas, não estarão a ser usufruídas, optando-se, provavelmente, (mal) por se ignorar estes fatores de desenvolvimento do país, apelando-se à saída da pátria ou então a enviá-las para uma existência de ócio e inutilidade social, o que até constitui uma grande ofensa a quem deseja colaborar na reconstrução da sociedade.
O desperdício que resulta da inatividade dos cidadãos e do conformismo perante a adversidade constituem, por si sós, uma perigosa descrença quanto à possibilidade que realmente existe de um futuro melhor. O exercício de valores, atualmente tão esquecidos, ajuda a vencer as dificuldades em que o mundo se encontra. É fundamental acreditar-se de que se pode vencer, com estudo, trabalho, poupança, investimento e boas-práticas cívicas.
Na verdade, e a título de estímulo, pode-se afirmar, sem vergonha que: «A sociedade entendida como sentimento de fraternidade, de adesão, de fidelidade e de compreensão que nos impele a cuidar, apoiar, animar mutuamente, é uma força natural que incute confiança, segurança, esperança e fomenta uma perspetiva mais comunitária do mundo, menos individualista.» (MARCOS, 2011:122)
A gestão do capital humano, seja em que âmbito for, não pode visar, exclusivamente, resultados materiais quantificáveis numa determinada unidade monetária mas, paralelamente, haver uma forte preocupação pela realização pessoal de cada pessoa, pelo seu bem-estar familiar, profissional, económico, social e por uma interiorização do valor espiritual que cada uma transporte consigo mesma, enfim, por uma convicção bem consolidada da importância e insubstituabilidade de cada ser humano. Princípios e valores, não se negoceiam. A felicidade não se mede, sente-se, vive-se e transmite-se solidariamente.
Atualmente, segunda década do século XXI, não poderá haver mais lugar para a desordem, para o divisionismo do capital humano, que é o mesmo que dizer, colocar pessoas contra pessoas, porque os resultados familiares, sociais, políticos, económicos, religiosos e empresariais são, seguramente, desastrosos e, eventualmente, definitivos, deixando feridas insanáveis que jamais deixarão de sangrar e doer.
Uma boa gestão do capital humano, em todos os contextos da intervenção da pessoa, passa pela conjugação de todas as sinergias, pela educação e formação, por objetivos bem claros e, previamente, definidos, sempre reiterados, no caminho que conduz à realização suprema de cada pessoa em particular e da sociedade global em geral. Numa sociedade que, maioritariamente, busca o gozo dos mais elevados valores, gerir este valiosíssimo património humano é fundamental, para que, pelo menos, as próximas gerações tenham uma vida digna.
Superintender este capital humano deve conduzir, entre outros, a valores universais que conduzam à paz e à felicidade. Mas governar este capital passa, em primeiro lugar, por cada pessoa, porque tem de ser ela a gerir-se a si própria, obviamente com as regras societárias que estão estabelecidas e sevem aqueles valores, a outros que enaltecem a dignidade humana, seria demasiado irresponsável exigir aos outros o que em primeira instância pertence ao próprio, ou seja, cada pessoa deverá ser bom exemplo para outra e assim sucessivamente.
A interiorização de valores altruístas e a sua prática começa por ser da livre vontade de cada pessoa de bem, porque: «Se nós transformarmos a nossa consciência individual começaremos o processo de mudança da consciência coletiva. Transformar a consciência do mundo não é possível sem a mudança pessoal. O coletivo é feito de indivíduos, o indivíduo é feito do coletivo, e todo e cada indivíduo tem um efeito direto na consciência coletiva.» (HANH, 2004:60)

Bibliografia

CUNHA, Miguel Pina e, et. al., (2010). Manual de Gestão de Pessoas e do Capital Humano. 2ª Edição. Lisboa: Edições Sílabo, Ldª.
HANH, Thich Nhat, (2004). Criar a Verdadeira Paz. Cascais : Pergaminho
MARCOS, Luís Rojas, (2011). Superar a Adversidade, O Poder da Resiliência. Trad. Maria Mateus. Lisboa: Grupo Planeta.
 

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

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domingo, 14 de outubro de 2012

Docência com Espírito Apostólico


Exercer a docência com espírito apostólico começa a ser um imperativo intransponível na formação de uma sociedade de valores, que se torna indispensável num mundo em permanente evolução técnico-belicista, pese embora os esforços de alguns responsáveis mundiais e pessoas anónimas para contrariar este surto de violências físicas, psicológicas, egocêntricas, económicas e étnico-culturais, sobre pessoas, populações, nações e continentes.
A luta contra os valores irracionais que imperam um pouco por todo o mundo deve ser reforçada, não pela força das armas, sim pela coerência e justeza dos argumentos, através do diálogo sincero e frontal, pela harmonia das posições moderadas, pela compreensão das opiniões diferentes, quando razoáveis, lógicas e sensatas, pela tolerância com que devem ser interpretadas atitudes menos corretas e, finalmente, pela cooperação entre os povos.
É neste quadro que ganha realce o papel do professor-formador, quaisquer que sejam as origens, estatutos e escalões etários dos seus alunos-formandos que, num futuro próximo, serão os cidadãos do mundo moderno e complexo que se avizinha. Ser professor-formador, para preparar estes futuros cidadãos do mundo, não vai ser tarefa fácil, nem ao alcance de todos os atuais docentes.
 Neste século que se iniciou há mais de uma década, não serão suficientes os conhecimentos científicos e as mais avançadas tecnologias, porque: “Na perspectiva da função missionária da educação, salienta-se a urgência de um projecto educativo que implique princípios filosóficos, um sistema de valores a promover e a defender, objectivos gerais, um perfil de aluno e opções pedagógicas. Nesta lógica de ideias, ser professor, hoje, implica ter amor pelos alunos, agir com carinho e autoridade, ser competente e saber trabalhar em equipa.” (REIMÃO, 2005:230).
Construir este magnífico e transcendente edifício, denominado Cidadão do Mundo, não é a mesma coisa que fabricar bombas atómicas, elaborar teorias que poucos entendem, muitos ignoram e ninguém beneficia ou, ainda, desenvolver estratégias globais que apenas aproveitam a poderosos grupos favorecidos e, finalmente, muito menos, idealizar, aprovar e executar leis que privilegiam grupos minoritários, mesmo que, democraticamente eleitos pela maioria, em prejuízo dos mais necessitados.
As transformações sociais mais profundas e justas passam, inexoravelmente, pela construção de um novo cidadão do mundo. Este cidadão-paradigma deve ser formado em permanência, isto é, desde o dia em que nasce até ao dia em que morrer, enquanto pessoa e ser humano único, irrepetível e infalsificável. Vários são os técnicos e agentes chamados para darem o seu contributo nesta magnânima construção: família, Igreja/Religião, empresas, comunidade de vizinhos e sociedade, entre outros.

 
Bibliografia

 
REIMÃO, C. (2005). Ética da Profissão Docente, 10ªs Jornadas Psicopedagógicas de Gaia. Resumo das Intervenções sobre o tema: “Deontologia e Desempenho Profissional”, in Psicologia, Educação e Cultura. Carvalhos: Colégio Internato dos Carvalhos. Vol. X, (1), Maio-2006, pp. 229-236
 
 
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
 
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domingo, 7 de outubro de 2012

Educação: Motor para a Inclusão


Entendida não só no seu sentido de aquisição de conhecimentos, técnicas e cultura geral, mas também na sua vertente de formação profissional, para o exercício de uma actividade produtiva, para o próprio e para a sociedade. A educação/formação, que habilita para o exercício de uma profissão, é o primeiro grande instrumento facilitador da inclusão social, significando aqui o termo social a maior abrangência no contexto da sociedade humana.
A par e integrando uma educação formal, em ordem à preparação para uma vida ativa, pode (e deve) existir uma coeducação para a inclusão, de forma que cada pessoa, bem cedo na sua vida, interiorize este valor e direito humano, inalienável, que é a inclusão plena de todos os cidadãos na sociedade global, cujo processo se inicia na família, prossegue na escola, na Igreja, na empresa e na comunidade: «Coeducar para uma sociedade inclusiva pretende contrariar este princípio de exclusão a partir de uma verdadeira internalização do princípio da igualdade de oportunidades.» (PINTO, 2000:96)
O sistema formal educativo, em parceria com outras instituições, já mencionadas (família, Igreja, empresa e comunidade, esta representada nos seus órgãos eleitos e/ou nomeados) tem, portanto, um papel central e decisivo: como motor, coordenador e avaliador das políticas educativas para a inclusão dos cidadãos, não, necessariamente, os respectivos resultados, estes sim, a serem verificados pelos departamentos competentes e específicos da natureza da exclusão social, política, económica, religiosa, cultural e qualquer outra.
Nesse contexto, o poder político legal e legitimamente instituído, por exemplo, através do seu departamento específico para a educação, deve legislar sobre matérias a incluir nos currículos, de todos os níveis de ensino e cursos, com objetivos de promoção de um comportamento inclusivo, em todos os educandos e formandos, ao longo da vida, proporcionando, assim, uma educação para a mudança.
Obviamente que urge, em primeiro lugar, preparar os responsáveis pelo processo educativo, em contexto de ensino, aprendizagem e formação, que no professor/formador tem a sua máxima e, desejavelmente, competência.
A educação/formação dos professores será, então, uma outra medida do instrumento facilitador da inclusão, genericamente denominado por educação. Concorda-se, por isso, que «A aprendizagem profissional é importante para aumentar a consciência e dotar os professores de capacidades para que sejam mais eficazes com os seus estudantes. Tal aprendizagem inclui os usuais seminários, as conferências e as sessões de formação interna, mas estende-se muito para além destes, para abarcar dúzias de outras práticas, incluindo o treino por pares, a investigação colaborativa, visitas entre as salas de aula, revisão da qualidade escolar, utilização de amigos críticos, portefólios individuais de aprendizagem profissional, planeamento conjunto, redes de trabalho computadorizadas de aprendizagem profissional, grupos de apoio para professores, parcerias entre a escola e a universidade e centros de professores.» (HARGREAVES et. al., 2001: 209-10)
Uma educação para a mudança determinará, a médio prazo, alterações significativas em vários paradigmas sociais, para que os cidadãos que beneficiem desta educação possam, quando investidos de funções e responsabilidades públicas, ter sensibilidade e competências técnico-sociais para colaborarem em projectos de inclusão, quer promovidos pelos poderes públicos consignados ao estado; quer pelas entidades privadas.
É imprescindível que estes cidadãos, formados para o paradigma da mudança construtiva e inclusiva, sejam sensíveis aos problemas que a exclusão social origina e transporta consigo própria, qual “bola de neve”, sempre em crescendo.
O paradigma educativo-formativo é, portanto, o que vai conduzir o mundo nos próximos séculos, porque: «A educação é, fundamental, portanto, para a socialização do homem e sua humanização. Trata-se de um processo que dura a vida toda e não se restringe à mera continuidade da tradição, pois supõe a possibilidade de ruturas, pelas quais a cultura se renova e o homem faz história.» (ARANHA, 1996:18).
Impõe-se, portanto, uma educação-formação, que acompanhe as mudanças rápidas que ocorrem num mundo em permanentes transformações, a caminho da globalização total, e para acompanhar esta aceleração científica e tecnológica: «A educação tem carácter permanente. Não há seres educados e não educados. Estamos todos nos educando. Existem graus de educação, mas estes não são absolutos” (FREIRE, 1983:28)

Bibliografia
 
ARANHA, Maria Lúcia Arruda, (1996). Filosofia da Educação. 2a Ed. São Paulo: Moderna

FREIRE, Paulo, (1983). Educação e Mudança. 8ª Edição, Trad. Moacir Gadotti e Lillian Lopes Martin. Rio de Janeiro: Paz e Terra
HARGREAVES, Andy; EARL, Lorna; RYAN, Jim, (2001) Educação para a Mudança: Reinventar a escola para os jovens adolescentes, Trad. Inês Simões. Porto: Porto Editora
PINTO, Teresa, (2000).”Coeducar para uma Sociedade Inclusiva no contexto do Projecto de Educação”, in Atas do Seminário Internacional, Lisboa 29,30 e 31 Maio 2000, Lisboa: Comissão para a Igualdade e para os Direitos das Mulheres. 

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo 

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