A célula mais ínfima da sociedade, que já dispõe
de uma estrutura organizativa é, sem dúvida, a família e, o seu funcionamento,
contribui, decisivamente, para o melhor ou pior desenvolvimento daquela.
A importância da família não deve, portanto, ser
menosprezada pelos seus próprios elementos, os quais devem, eles próprios, isso
sim, procurar por todas as formas admissíveis, a melhor harmonia e progresso.
Na verdade, muitos são os problemas que afetam a estabilidade familiar, podendo
citar-se, entre os que mais contribuem para a discórdia, no seu seio e que,
inexoravelmente, passam à sociedade e provocam nesta, desequilíbrios mais ou
menos profundos.
Com efeito, o desemprego, os salários em atraso
e/ou o seu não pagamento, a falta de habitação, a confusão no ensino, a fome, o
aborto, as dificuldades conjugais e a “sexualidade erótico-bestial”, sem o
mínimo respeito pela dignidade de quem tem de “vender o corpo” poderão ser
alguns dos males que contribuem para uma certa intolerância, desordem, revoltas
à escala internacional e suicídio.
Naturalmente que não se tem a petulância de, neste
trabalho, abordar todas aquelas situações nocivas, mas apenas de uma, a qual se
prende com o comportamento sexual conjugal, analisado numa perspectiva
ético-psicológica.
Segundo estatísticas credíveis, cerca de oitenta
por cento dos casais portugueses, não vivem em harmonia sexual, e o
relacionamento entre homem e mulher constitui, deste modo, um grave problema.
Não significa isto que tal percentagem dos
matrimónios portugueses seja um fracasso total, um irremediável insucesso
conjugal, mas tão só que, efetivamente, apenas vinte por cento desses
casamentos terão condições ético-psicológicas para viverem com muita
felicidade.
As duas componentes em análise são indissociáveis,
já que o psíquico pode influenciar no ético e vice-versa, logo, abordar-se-á:
primeiro, aquela componente para, depois, se incidir sobre a que mais
diretamente se prende com a disciplina, objecto deste trabalho.
Seguramente que ao abordar-se este assunto, no
contexto de uma disciplina moral, foi necessário refletir, profundamente, sobre
a oportunidade do tema, considerando a eventual polémica que possa causar, isto
é: emitir uma preocupação sobre uma situação que, certamente, estará na origem
da deslealdade conjugal de muitos casais, com reflexos nocivos para a
sociedade.
Invocando, uma vez mais, as estatísticas
disponíveis, poder-se-á admitir que uma elevada percentagem de mulheres casadas
sofre de uma falsa frigidez por desconhecimento, quando, na verdade, são
normais. Ora, isto, constitui um primeiro perigo para a coesão familiar, cuja
célula ainda resta numa sociedade em decomposição e na qual devia haver amor,
compreensão e entre-ajuda.
Aqui coloca-se o problema da informação e da educação
sexual, isto é, quando deverá começar, quem a deve ministrar, em que moldes,
quer dizer, que tipo: pragmático, científico, ético, ou porque não,
equilibradamente doseada. A educação sexual não será, decididamente, a panaceia
para resolver, plenamente, a situação, mas será, eventualmente, um grande passo
para a sua solução.
Acontece que os casos patológicos, quando como tal
comprovados, fogem ao âmbito desta reflexão e, interessante será, denunciar,
precisamente, situações ético-psicológicas que, mais frequentemente, conduzem à
instabilidade familiar, tais como a pseudo-frigidez, a necessidade de uma
informação sexual, o desconhecimento da problemática sexual, pseudo-impotência,
tudo isto no aspeto psicológico.
No que concerne ao domínio ético, igualmente se
verificam comportamentos desajustados, designadamente nas relações sexuais
precoces, as extraconjugais, a prostituição, o erotismo técnico-exibicionista,
o egoísmo da satisfação unilateral de um dos parceiros e, finalmente, as
denominadas aberrações sexuais, tais como o homossexualismo, a masturbação e o
transsexualismo, (atualmente, é necessário investigar as causas que conduzem a
tais comportamentos, compreender os novos valores da sociedade atual, apoiar,
incondicionalmente, as pessoas que, por estes procedimentos são felizes, não
discriminar ninguém e manter um espírito e uma prática de inclusão).
Numa sociedade cada vez mais complexa, e tendo em
conta uma determinada orientação filosófico-religiosa, ao nível do matrimónio
legal e religiosamente celebrado, os atos sexuais naturais, praticados em
comunhão recíproca dos cônjuges, com amor, afetividade e respeito, são
aceitáveis pela Ética e pela Lei Divina, contribuindo, com a sua quota-parte,
de forma eficaz, para a harmonia e felicidade conjugais, para a estabilidade e
progresso da família, para o equilíbrio e tolerância da sociedade.
A Ética assume, na vida sexual, uma importância
fundamental, tanto mais decisiva quanto mais vincula o indivíduo a uma praxis
verdadeiramente humana, consentânea com os valores mais profundos que todos
devem desejar reativar, agora que se iniciou um novo século, do qual se espera
uma era de paz, de prosperidade, de amor e de progresso controlado, vocacionado
para a supressão da fome, do ódio e da guerra.
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo