domingo, 29 de julho de 2012

Relações Humanas


O imperativo que determina e se impõe, com inevitável insistência, nas sociedades humanas atuais, pode denominar-se por “Relações Humanas”, naturalmente bem construídas sobre os alicerces dos valores ético-deontológicos e humanísticos, desenvolvidas através do diálogo assertivo e consolidadas nos resultados do bom relacionamento interpessoal.
A sociedade é complexa porque constituída por indivíduos únicos, também eles complexos, titulares de direitos e deveres individuais e coletivos. Qualquer que seja o papel que a cada indivíduo, ao longo da sua vida vá desempenhando, ele terá sempre a inevitabilidade de se relacionar com o seu semelhante, sendo que uma grande parte do seu relacionamento se verifica em duas situações, maioritariamente bem definidas, no seu percurso biossocial: na família, na atividade profissional.
Pelo comportamento individual assim a sociedade caminhará, num determinado sentido, com objetivos nem sempre bem esclarecidos, devido, em muitas circunstâncias, à ausência de valores, de regras, de ações transparentes.
A sociedade poderá ser, obviamente, muito melhor em diversos aspectos da vida comunitária, desde que as relações humanas contemplem normas civilizadas e eticamente corretas: «Para tanto é preciso que nossas ações profissionais sejam incorporadas de sentido humanitário, cooperativo e direcionadas para a justiça social, fazendo de nós profissionais, pessoas comprometidas e responsáveis enquanto parte construtora do tecido social e do destino de nosso povo. A análise crítica de nossas ações é que dará o direcionamento de nossa vida pessoal e profissional, fazendo de nós cidadãos responsáveis e comprometidos” (PUGLIESI, 2006:2)
A tónica para o desenvolvimento de relações humanas sadias, frutuosas e duradoiras passa pela ação comunicacional, pelo ato comunicativo entre pessoas, entre grupos, entre nações. Não haverá outro caminho mais seguro e pacífico do que aperfeiçoar todas as técnicas, estratégias, metodologias para uma prática de relações humanas que possa estar acima de todo e qualquer interesse ilegítimo.
A instituição de um paradigma comunicacional impõe-se hoje à sociedade universal, sendo urgente implementar todos os recursos possíveis para que o relacionamento humano intercultural, interreligioso, intergrupal, interplanetário seja uma regra e não uma exceção.
Só por uma atitude de leal e transparente comunicação as pessoas se podem relacionar sem receio, com a certeza que o seu interlocutor compreenderá as posições do seu semelhante porque também ele usará dos mesmos princípios e regras do diálogo assertivo.
Não será de estranhar a análise, segundo a qual: «O paradigma comunicacional surge na cultura ocidental no contexto de uma crise social, política, ética e económica. A sua emergência assume, por um lado, o objetivo terapêutico de pôr fim a um conjunto de processos anómicos, (desorganizados), decorrentes da Primeira e da Segunda Guerras Mundiais e, por outro, o desejo de difundir profusamente uma profilaxia baseada na comunicação, que permitisse evitar futuras ruturas e desequilíbrios sociais.” (DIAS, 2004:33)

Bibliografia

PUGLIESI, E. S. “A Ética e o Administrador” in www.metrocamp.com.br (Artigos) Abril-2006
DIAS, F. N. Relações Grupais e Desenvolvimento Humano. Lisboa: Instituto Piaget. 2004
 
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

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domingo, 22 de julho de 2012

Gestão da Amizade


O mundo das relações humanas é extraordinariamente complexo, e só uma excelente preparação nos domínios dos saberes, dos princípios, dos valores, dos sentimentos e dos comportamentos é que permite ultrapassar as dificuldades que, diariamente, se colocam entre as pessoas. A relação humana pressupõe, portanto, uma personalidade estável, não estática, não cristalizada, mas flexível, que compreenda e se adapte às diversas situações sem, contudo, abdicar do essencial que é a própria dignidade pessoal.
Certamente que se pode, e deve, conviver com aquelas pessoas que, por quaisquer circunstâncias nos rodeiam, de resto, seria contraproducente, afastarmo-nos de colegas de trabalho, dos amigos, dos familiares e de situações diversas, inerentes à convivência humana, porém, a proximidade com tais pessoas deve ser aquela considerada suficiente e necessária, para um relacionamento correto, cordial e educado, sem mais cedências do que aquelas que são indispensáveis, sem ignorar, justamente, o nível de amizade que se deseja conservar.
A estratégia que muitas vezes se adota, no sentido de se garantir um bom relacionamento com toda a gente, mais tarde ou mais cedo, pode resultar em fracasso, pela simples razão de que não há duas pessoas exatamente iguais e, por muito flexíveis que sejam, nunca vamos adaptarmo-nos a todas as personalidades, o que significa que, para sermos agradáveis a umas, seremos, eventualmente, incómodas com outras, se assim não for, estaremos a faltar à lealdade e à retidão.
O mesmo princípio poderá valer para a amizade. Será difícil a alguém ser, simultaneamente, amigo de duas ou mais pessoas, quando estas não são amigas da primeira e/ou amigas entre elas, de resto, os amigos escolhem-se, não nos são impostos por ninguém e depois de aceitarmos a sua amizade, o mínimo que deveremos fazer é retribuir essa amizade, com lealdade, com carinho, com cumplicidade, com tolerância, enfim, com uma disponibilidade total para a reciprocidade e para a compreensão.
A amizade entre amigos, por vezes, pode até ser dolorosa, pode, inclusivamente, magoar, porque entre estes amigos não há restrições de nenhuma natureza, no sentido em que sendo leais eles devem manifestar sempre o que sentem um pelo outro, sem rodeios, com total transparência e confidencialidade, obviamente no respeito pela dignidade de cada um, para que desta forma seja possível melhorar sempre a relação.
As amizades casuísticas, de mera conveniência, nem sempre são sinceras e duradouras, resultam, muitas vezes, em grandes confusões, ódios e, eventualmente, acabam em perseguições e vinganças. Conquistar e consolidar uma amizade é um caminho longo, quando se deseja que ela seja pura, o mais íntima possível, evidentemente, no contexto do respeito, da racionalidade e dos valores mais nobres que a sustentam: lealdade, dádiva, reciprocidade, cumplicidade, carinho e comunhão de objetivos.
Esta amizade que se converterá em amor que, eventualmente, faz sofrer, é que será a verdadeira, porque se sente, magoa, pela sinceridade que entre os amigos se verifica, mas também será, a maior parte das vezes, fonte de alegria, de perdão e consolidação, acaba portanto, numa felicidade inigualável.
É necessário conquistarmos este amor, consolidá-lo e exercê-lo permanentemente e para isso também é importante que: «Alguém precisa de nos encorajar a não pormos de lado aquilo que sentimos, a não termos medo do amor e do sofrimento que ele gera em nós, a não termos medo da dor. Alguém precisa de nos encorajar para o fato de esse ponto macio em nós poder ser desperto e, ao fazermos isso, estaremos a alterar as nossas vidas.» (CHODRON, 1997:117)
É evidente que quando a amizade é pura, recíproca, leal, cúmplice e os amigos não se traem com outros amigos, que não são comuns, que sabem retribuir generosamente, que conhecendo os gostos do amigo os satisfazem, que sempre têm tempo para conversarem, conviverem, estarem juntos, trabalharem com objetivos idênticos, ajudando-se mutuamente, então esta amizade traz muita alegria, muito prazer, muita felicidade.
Estes amigos não sabem recusar nada um ao outro, eles vivem a sua amizade como algo superior a quaisquer outros sentimentos, comportamentos e instintos. É claro que esta amizade é muito difícil de sustentar, só personalidades, dotadas de imensa generosidade, de uma entrega total, de uma lealdade a toda a prova e de um espírito de integral união é que a conseguem manter indestrutível.
Quando se vacila diante de situações e interesses, a favor de outras pessoas e se esquece a verdadeira amizade, anteriormente conquistada, estamos perante pessoas que, por dificuldades diversas, ou por dependências se tornam vulneráveis a influências, eventualmente, inconfessáveis que, quantas vezes, rapidamente as levam ao descrédito, à desconstrução de uma personalidade que quiseram fazer passar por “forte”, intransigente e «dura».
A História da Psicologia e as biografias de «grandes» figuras revelam isso mesmo, ou seja: a inflexibilidade, a arrogância, a humilhação a que submetem outras pessoas, no fundo, em certo sentido, demonstram a cobardia, a fraqueza, a ausência de valores, verdadeiramente compatíveis com a solidariedade, a amizade a lealdade e a dignidade humanas.
Construirmos uma amizade assente em protagonismos, oportunismos e para resolvermos situações que nos são incómodas, que nos fragilizam, constitui um comportamento inaceitável, profundamente reprovável porque vai contra a dignidade da pessoa, contra a sua própria essência humana.
Uma amizade assim poderá ser considerada de natureza instrumental e a pessoa que acredita que tal amizade é verdadeira, acaba por vir a sofrer imenso, porque vai sentir-se infinitamente utilizada, como se de um qualquer objeto se tratasse e que, depois de não ser necessária, é humilhada, descartada, atirada para a indignidade do lixo humano.
Os valores, os princípios, os sentimentos e os amigos não se compram nem se vendem, porque eles são, materialmente, inegociáveis. A amizade ou existe incondicionalmente, ou não pode ser encarada como um meio, um utensílio, uma estratégia para resolver problemas, que resultam de situações do foro privado, e que depois de resolvidos, esquecem-se todos os sentimentos, todas as preocupações, toda a generosidade, amor e entrega da pessoa que nos ajudou, nos fez bem, porém, foi malevolamente, foi utilizada. Quem utiliza estes métodos não poderá ter uma formação verdadeiramente humanista, mais parecerá uma criatura iníqua.
Os amigos verdadeiros, especiais, do coração e quaisquer outras designações que se pretendam atribuir, caminham lado-a-lado, nas alegrias e nas tristezas, no sofrimento e na felicidade, nos êxitos e nos fracassos, nos projetos, na cumplicidade, sempre com um sincero “Amor-de-Amigos”.
Estes amigos, quando verdadeiramente leais, sinceros, unidos e solidários lutam pela felicidade dos dois, pela prática permanente da reciprocidade, pela comunhão de interesses, pela defesa da dignidade um do outro, manifestam constantemente carinho, ternura, gentileza, educação. Eles satisfazem os, aparentemente, mais insignificantes desejos um do outro, os gostos, as necessidades, sem esperar que seja o outro a pedir, porque esta palavra «pedir» nem deveria existir entre eles.
Os amigos verdadeiros, que realmente se amam com “Amor-de-Amigos”, têm todo o tempo do mundo para se satisfazerem nos mais pequenos pormenores. É por isso que uma amizade assim não está ao alcance de personalidades instáveis, «ditas «fracas», embora por vezes queiram parecer “fortes». A amizade praticada entre quem verdadeiramente se ama, com um sincero e verdadeiro amor, é muito exigente, rigorosa, mas por isso mesmo, indestrutível.
Resistir à tentação de violar os valores sagrados da amizade, como a lealdade, a solidariedade, a sinceridade, a honestidade, a reciprocidade, a cumplicidade, a confiança, a ternura, o carinho, entre outros, para satisfazer situações, interesses e pessoas, cujas causas e desígnios são repreensíveis e efémeros, revela total fragilidade das pessoas que, sob a capa da «firmeza», da personalidade dita «forte», procuram pela humilhação, pela indiferença, pela arrogância, pela agressividade, dominar quem, durante certo tempo, ajudou, quantas vezes, a sair das crises. A amizade sustentada num profundo “Amor-de-Amigo” é indestrutível e eterna; é inegociável, intocável e sagrada.

Bibliografiaa

CHODRON, Pema, (2007). Quando Tudo se Desfaz. Palavras de coragem para tempos difíceis. Trad. Maria Augusta Júdice. Porto: ASA editores.
 
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo 

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domingo, 15 de julho de 2012

Fragilidades Humanas

No decorrer das nossas vidas deparamo-nos com imensas situações que, pela positiva, e/ou pela negativa, nos afetam permanentemente e, quantas vezes, para o resto da existência. Os valores e sentimentos que cultivamos e defendemos são dimensões que tanto podem conduzir à felicidade, como à desventura.
Poderá ser insuficiente, para vivermos felizes, a posse de determinados bens materiais e/ou a realização profissional, a obtenção de um estatuto social de prestígio, títulos e honrarias. Por outro lado, muitos bens imateriais são essenciais para a felicidade e dignidade humanas.
Conquistar e consolidar um amigo verdadeiro, leal, solidário e confidente, pode demorar muito tempo, mas é um bem tão importante que muito dificilmente alguém conseguirá viver feliz sem ele. Perder um amigo, acontece, muitas vezes, em poucos segundos, a partir do momento em que se verifica que já não existe o SAL da vida: Solidariedade, Amizade e Lealdade.
A Amizade incondicional de um amigo é uma riqueza inestimável, eventualmente, a par de outros bens, um dos valores mais personalizados. Por isso, a Amizade de um verdadeiro amigo, devemos preservá-la, lutar com “unhas e dentes”, contra tudo e contra todos que no-la queiram tirar ou diminuí-la.
Uma afeição verdadeira, alicerçada nos valores da Solidariedade, da Amizade, da Lealdade, da Confiabilidade e da Reciprocidade profundas, será sempre muito difícil de destruir, todavia, se tais valores não existem ou deles não estamos seguros, então viver-se-á numa falsa e impostora “amizade”, o que, quando descoberta, provoca profunda mágoa, dor e tristeza. Pode, inclusivamente, conduzir à depressão e, em última instância, ao suicídio da pessoa traída, nos seus valores e sentimentos mais nobres.
A radicalidade de um “Amor-de-Amigo” não é compatível com posições que ofendem aquele sentimento tão nobre, com atitudes e comportamentos de permanente indiferença para o com amigo e agradabilidade sistemática para com aqueles que sabemos terem ofendido o nosso verdadeiro protetor.
Em boa verdade é impossível ser-se solidário com quem não é solidário connosco ou com os nossos amigos, com quem se relaciona com aqueles que nos ofendem, a nós ou ao nosso amigo. Quando existe este duplo posicionamento, infelizmente, vai resultando enquanto as pessoas não se apercebem dele e quem o usa, está a ser desleal para com o amigo verdadeiro.
Por vezes, ganha-se um amigo e com ele convivemos determinado tempo da nossa vida, até que, pelas mais diversas e, eventualmente, fúteis circunstâncias, decidimos abandonar tal amigo, mesmo sabendo que estamos a desconsiderá-lo, magoá-lo e a humilhá-lo, que ele não merece certas atitudes de indiferença, desprezo e até de ódio disfarçado da nossa parte.
Entretanto, encontramos outras pessoas que nos podem ser, num dado e muito específico momento, materialmente mais “necessárias”, para atingirmos determinados objetivos e, estas pessoas, assim “angariadas” e/ou “descidas à terra”, qual “Salvadoras da Pátria”, passam, então, para primeiro plano, enquanto que a/o verdadeira/o amiga/o é atirada/o para a “prateleira dos desprezados”, dos “substituíveis”, enfim, dos “descartáveis”
Mas o mundo é realmente muito pequeno e, a torná-lo cada vez mais uma aldeia de interdependências, está todo o processo de globalização. O mundo começa a estar repleto de “esquinas”. A vida prega-nos partidas e o “destino”, por vezes, é irónico e cruel. Manter os amigos com provas dadas, é uma capacidade que se tem de aperfeiçoar, conscientemente, para evitar vivermos ao sabor das correntes, onde todos navegam e procuram salvar a pele, na hora do naufrágio.
Quando, por qualquer motivo, estamos bem na vida, ou julgamos que o estamos, entendemos que já não voltamos a precisar de quem foi nosso amigo, de quem sempre esteve ao nosso lado, mas que deixou de ter interesse para nós, porque, consideramos, então, que já não precisamos mais desse amigo, eis que, numa reviravolta do “mar da vida”, ficarmos numa situação de grande fragilidade humana, moral, sentimental e material.
Inevitavelmente recordamos aqueles que foram nossos verdadeiros amigos que, durante uma fase da nossa vida, nos ajudaram em tudo o que necessitamos, que estiveram ao nosso lado nas horas boas, mas também nos momentos mais difíceis da vida, mas que, quando julgamos que não iriamos precisar mais deles, os afastamos cruelmente, por vezes através de estratégias meticulosamente calculadas, até com a ajuda da/o/s nova/o/s supostas/o/s amigas/o/s, onde não faltam a injustiça, a ingratidão e a humilhação, para quem as sofre no mais fundo da sua dignidade e dos seus sentimentos.
Podemos viver muitos anos com um estatuto de “superioridade” social, financeira, profissional e até etária, esta em função de uma ainda relativa juventude. Acreditamos que os amigos mais maduros, acabam por “desaparecer” fisicamente, primeiro. Podemos pensar que nunca mais vamos “aterrar” no território dos “comuns e pacatos mortais”, onde “residia” esse amigo.
Somos tentados, então, a agir com, indiferença e insensibilidade contra os mais fracos, mesmo que numa determinada fase das nossas vidas, quando, realmente, estávamos na “mó de baixo” esses tais, amigos verdadeiros, que agora nos parecem frágeis, nos tenham apoiado incondicionalmente, nos tenham aberto os seus corações e entregue os seus mais nobres sentimentos.
Mas, como em tudo na vida, “Não há bem que sempre dure; nem mal que nunca acabe”. Fazem-se grandes “castelos” em cima das areias movediças das ilusões da vida. Trocam-se amizades sólidas, solidárias e leais, por bajulações, aparências e circunstancialismos momentâneos.
Deixamo-nos seduzir por futilidades, por ofertas momentâneas de colaboração (e que nós até precisamos, justamente, dada a nossa fragilidade, ignorando que tais pessoas, que sabem aparecer na hora certa, já nos ofenderam ou ofenderam os nossos verdadeiros amigos), por vernizes, por punhos de renda, que escodem, em muitas pessoas a hipocrisia, a manipulação e a conquista fácil de supostas amizades.
Mas isso acabará um dia. Acordaremos, então, para uma dolorosa realidade que, de fato, não pensamos pudesse vir a acontecer, e logo connosco. Deixamo-nos inebriar pelas aparências, queremos juntarmo-nos às maiorias, mesmo que isso vá contra os mais elementares princípios da nossa dignidade.
Esquecemo-nos que quanto mais tempo permanecermos nesta situação, muito menos hipóteses teremos de sairmos dessa “lama” de umas certas amizades impostoras, dissimuladas, maledicentes e implacavelmente estigmatizantes para o resto da nossa vida.
Ignoramos que, entretanto, os nossos verdadeiros amigos que, em relação a eles, tudo fizemos para, cirurgicamente, os afastar, desconsiderar, ridicularizar, humilhar e magoar, estão sofrendo porque se sentiram traídos, trocados, abandonados. A fragilidade dos nossos valores “bateu no fundo do poço” da incompreensão, da insensibilidade, da ingratidão. Somos muito fracos.
Recordaremos, então, todo um passado de amizade pura e solidária que os amigos agora desprezados, nos proporcionaram. Poderá ser tarde para recuperar os amigos, os princípios, os valores e os sentimentos. Tudo isto faz parte da fragilidade humana, contra a qual teremos de lutar, especialmente se a nossa vida e a nossa relação com o “Outro”, que queremos ter por Amigo, for de Solidariedade, Amizade e Lealdade, SAL da vida.
No fim da existência, e para aqueles que de alguma forma e por circunstâncias diversas connosco conviveram, será feito o balanço, eventualmente transmitido de uns para outros, podendo, chegar, inclusivamente, ao conhecimento daqueles que nos eram mais próximos: pais, cônjuge, filhos, amigos, colegas.
As ações, realmente, ficam com quem as praticou, mas o julgamento, justo ou injusto, será feito, desde logo a começar pelo “Tribunal da nossa Consciência”, ao qual não conseguiremos escapar, porque do passado ninguém consegue fugir.
A sentença ditada pelo “Tribunal da Consciência” será rigorosa, a pena consistirá em receberem, na mesma moeda, tudo o que fizeram, de bom ou de mal, certamente. Este Tribunal colocará, então, a nu, toda a nossa fragilidade e, eventualmente, considerará esta nossa fraqueza, como uma possível atenuante, porém, a culpa, o remorso, o sofrimento, isso não mais nos abandonará para o resto da vida.
Podem os racionalistas, os materialistas os positivistas e todas as pessoas insensíveis a determinados princípios, valores e sentimentos, pensar que isto são teorias, “delírios” de quem alguma vez se sentiu desprezado, traído, humilhado. Mas não devem ignorar que, ao pensarem assim também revelam uma flagrante e indisfarçável fragilidade, encapuzada, nas alegadas atitudes práticas, de uma vida real, concreta e objetiva. São as fragilidades Humanas.

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

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domingo, 8 de julho de 2012

Critérios para a Distribuição Justa da Riqueza

Repartir pela população a riqueza nacional é um ato de justiça social, pressupõe coragem, clarividência e sentido de justiça por parte de quem governa e, portanto, administra os bens que são de todos e não apenas de algumas elites, porque: «A justiça social diz respeito às formas de distribuição de bens sociais. (…) A esfera de bens compreende não só a totalidade de objectos materiais produzidos e distribuídos no interior de uma sociedade, mas também as funções a serem desempenhadas neste processo de produção e as posições a serem assumidas nos jogos sociais de atribuição de identidade. (…) Não só aquilo que possuo é determinado a partir de um conjunto de relações que estabeleço com o restante da sociedade da qual sou membro, mas também, de certa maneira, aquilo que faço e aquele que sou.» (MARQUES, 1999:53)
Vem esta citação a propósito das riquezas imateriais que são transformáveis em riquezas materiais, como por exemplo, o trabalho/emprego, isto é, pelo trabalho, enquanto dimensão e valor exclusivamente humanos, chega-se, ou pelo menos contribui, para alcançar a riqueza material, esta, necessária à vida com qualidade, compatível com a dignidade da pessoa humana.
Partindo desta premissa, o trabalho/emprego, como riqueza imaterial, pode-se avançar para um processo de uma mais justa distribuição da riqueza e uma verdadeira justiça social.
Com efeito, a situação de desemprego, as desigualdades absurdas entre pessoas humanas, os conflitos sociais e certas formas de violência, terão a sua origem nesta injusta distribuição de um bem social como é o trabalho/emprego, porque enquanto certas pessoas, de determinadas elites, acumulam empregos, funções, representações e nomeações sócio-políticas, outras, com idênticas (ou até superiores) capacidades, habilitações e experiências, estão sem trabalho.
No que a Portugal se refere, e tanto quanto este tipo de informação vem a público através dos órgãos de comunicação social, raramente desmentida, a situação de verdadeira e ostensiva injustiça na distribuição de empregos e cargos públicos e privados, envergonha qualquer sociedade que se pretenda digna, democrática e justa.
A distribuição da riqueza imaterial, aqui exemplificada no trabalho/emprego, benefícios, embora por seu intermédio se transforme em riqueza material, na perspectiva de uma genuína justiça social continua a ser, esta sim, uma utopia, ainda muito distante da miragem e, finalmente da realidade.
 Evidentemente que não se defende uma igualdade aritmética, uma igualdade sem critérios, uma igualdade sem deveres, uma igualdade para pessoas iguais, porque não há pessoas iguais.
O que se pretende é aproximar, inicialmente, por critérios proporcionais aos contributos de cada um para o todo nacional, às capacidades, empenho, resultados e mérito que cada pessoa revelar possuir e merecer, respetivamente, porque a igualdade aritmética absoluta, tornar-se-ia numa desigualdade, também ela prejudicial para os próprios beneficiários que, conscientemente, ou não, tudo fariam para manter a situação, concretizada na sua não participação na produção de riqueza, embora auferindo dos respetivos dividendos, iguais aos daqueles que participaram.
Uma tal situação também seria injusta, o que se pode corroborar com a seguinte assertiva: «A proporcionalidade da justiça distributiva dá origem ao problema de um respeito dinâmico pela pessoa: já não se trata só de respeitar em cada um aquilo que ele tem, mas de lhe garantir oportunidades de realização pessoal equivalentes às dos outros. Ora estas oportunidades de realização pessoal equivalentes às dos outros. Ora estas oportunidades dependem estreitamente do desenvolvimento da vida social, a qual pode ser comprometida por uma repartição de encargos que desencorajasse as iniciativas. A noção de justiça é portanto inseparável, apesar do absoluto evocado, de conceção que se adopta da vida em comum e dos seus objectivos.» (BATIFOLL, 1981:98-99)
Acreditando na bondade do ser humano, pode-se pensar que é possível melhorar as condições de vida da maioria das pessoas carenciadas, precisamente a partir de uma redistribuição mais justa da riqueza, inclusivamente com estímulos ao trabalho para aqueles que, por opção anticívica, não querem colaborar no desenvolvimento da sociedade em que se integram e da qual recebem, indiretamente e por via dos impostos que a maioria paga, subsídios e outras regalias, mesmo sabendo que para eles nada contribuíram.
Incentivar (ou punir os que reiteradamente se recusam) ao trabalho produtivo todos os cidadãos, independentemente da idade e estatuto, excluindo-se, naturalmente, aqueles que em razão da idade ou invalidez permanente, já não podem dar o respetivo contributo, é uma estratégia excelente.
Então, os que manifestem essa vontade de continuar a trabalhar, deverão ser apoiados ainda de forma mais substancial, caso os seus rendimentos sejam insuficientes, face às despesas, efetiva e permanentemente, realizadas.
As regras da proporcionalidade e da carência, objetivamente comprovadas, podem ser alguns dos critérios para a atribuição dos recursos financeiros e outros benefícios sociais, em ordem à justa distribuição da riqueza produzida pela sociedade.
Um outro critério, fundamental para uma mais justa e ampla distribuição da riqueza, deverá pressupor a participação concreta de todos os cidadãos, atentas as especificidades e condicionalismos de cada um, na vida comunitária produtiva, gerando riqueza permanente e, na medida do possível, em sentido ascendente.
Quanto mais e melhor riqueza houver para distribuir, mais riqueza se produz, porque o círculo vicioso, aqui no conceito positivo, será favorável para todos, na medida em que quanto mais o cidadão tiver para gastar no consumo próprio, mais vendas se efetuam, logo, a produção terá de aumentar, criando-se mais riqueza.
Portanto é essencial que todos participem no processo produtivo de bens materiais e imateriais, devendo o Estado dar o exemplo, podendo-se aqui aceitar o Estado como o conjunto de cidadãos que vivem num mesmo território, com uma língua e história comuns, com objetivos de ordem, progresso e segurança, idênticos.
Nesse sentido, concorda-se com um princípio, extremamente oportuno e acutilante, segundo o qual: «Todos estão obrigados a participar do Estado, pois todos têm a justiça e sabem os limites (moderação) de seus actos. Não é preciso que todos os homens sejam arquitectos, pintores, ceramistas, médicos, etc., porém a virtude da justiça aplicada à política devem todos possuir.» (PAULA, 2001:117).
Recorda-se que o Estado, organização política democrática, enquanto constituído pelos diversos Órgãos de Soberania e respetivos departamentos, é o representante do Estado-povo, tendo à frente dos seus serviços públicos concidadãos eleitos democraticamente, representantes da vontade da maioria e concidadãos nomeados para as diversas funções, competindo-lhes gerir, com isenção e justiça, as riquezas produzidas por todos.

Bibliografia

BATIFFOL, Henri, (1982). A Filosofia do Direito, 6ª. Ed., Trad. Eugénio Cavalheiro, Lisboa: Editorial Notícias, pp. 98-101.
MARQUES, Edgar, (1999). “Pluralismo Cultural e Justiça Social. Uma Crítica ao Comunitarismo de Michael Walzer” in Reflexão, Campinas: PUC – Pontifícia Universidade de Campinas, N. 73, 53-60, Janeiro/Abril/1999
PAULA, Ricardo Henrique Arruda de, (2001). “Reinterpretando a Ética e a Justiça na Filosofia dos Sofistas”, In Phrónesis, Campinas: PUC-Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Vol. 3 (1), pp. 108-124, Jan/Jun. 2001
 
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

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domingo, 1 de julho de 2012

Linguagem Sobre Deus

O problema de Deus é um grande tema porque extenso, complexo, difícil e muito importante, na medida em que na história do Pensamento Ocidental, ao longo dos tempos, se tem encontrado expressões variadíssimas, opostas e até desdenhosas, relativamente à possibilidade de o homem conhecer Deus, ou pelo menos, provar a sua existência e, neste sentido, há os que afirmam ser impossível provar tal existência; e outros que defendem a viabilidade de se chegar a tais provas, e por conseguinte, a Deus.
Há quem afirme que «Deus é a chave da unidade na visão do mundo do crente monoteísta» e o próprio termo Deus é de natureza religiosa, não podendo ser apropriado pela Filosofia, embora contenha questões que interessem ou afetem o pensamento filosófico, porque o homem, na sua atividade religiosa, se carateriza por descobrir um âmbito sagrado, ao qual se refere com adoração e expetativa de salvação, remetendo para um ponto mais além de todas as manifestações simbólicas ou hierofanias.
Tal ponto é já o Mistério, o que é específico da religião monoteísta e para compreender a sua essência, teremos que colocar o seu Deus único ao lado do Mistério, invocando-se Aquele pelo diálogo da oração, e assim o Deus único do Mistério e o Deus invocado pela oração, resume-se na fórmula do Mistério Agraciante.
Neste primeiro raciocínio sobre Deus, parecem-me importantes as ideias definidoras do termo Deus como sendo de natureza religiosa e, por outro lado, que no âmbito do sagrado, se condense o Mistério Agraciante.
Importa, igualmente, destacar a aproximação dos dois termos básicos no desenvolvimento, e que são: a Razão e Deus, porque se Este, é um termo religioso; aquela, é a capacidade de recolher, ordenar e unificar a realidade, aparecendo Deus como princípio de toda a realidade.
Ora se a Razão tem capacidades tão profundas, é razoável que o homem, através dela, acredite na existência de Deus, na medida em que os seres humanos necessitam de sentido para as suas vidas, sentido que encontram acolhendo-se a uma outra visão do mundo, que dá consistência e unidade às suas condutas.
Mas a Razão que aqui se desenvolve, não é de natureza científica, do âmbito das ciências empírico-positivas e formais abstratas. A Razão que efetivamente nos impele para Deus é uma “Razão Vital”, que penetra a vida do homem e se deixa penetrar por essa mesma vida, é uma razão que supera o sentimento trágico, segundo o qual, Deus não se consegue pela razão científica positiva, o que faz sentir tragicamente o problema.
A Razão Vital é uma Razão Constitutiva do desejo do homem de ter uma certeza sobre a realidade, a partir da adaptação a essa mesma realidade. O homem deseja conhecer Deus, que é uma realidade que se prova a partir de raciocínios e experiências vivenciais. Destas vivências, duas respeitam, exclusivamente, ao homem, sendo designadas por: “Vivências de Fundamento e Vivências de Esperança” (cf. CAFFARENA:1985)
As Vivências de Fundamento, prendem-se com o facto de que tudo quanto o homem faz, fá-lo procurando fundamentar-se a determinados níveis. Assim, o homem encontra, ou não, o fundamento nos seus conhecimentos, no meio social em que se desenvolve, na sua capacidade a afrontar com êxito os desafios da vida. Tal fundamentação serve, também, para a necessidade de, filosoficamente, situar o problema de Deus como “O Ser Fundamental”
Quanto às vivências de esperança, elas dão-nos a vivência de sentido, numa esperança que é tanto mais afetante, quanto mais profundo é o projeto de autorrealização que somos, isto é, “Desejo Constitutivo”. Nesta estrutura vivencial e a este nível, o termo sentido é tirado da orientação espacial, e o ser é orientado pelas suas esperanças. O homem vive de esperanças, e tudo o que faz é com a esperança de obter algo. É neste núcleo vivencial que se situam as vivências morais, amorosas e de liberdade.
Se por um lado, as vivências de fundamento originam uma atitude de espera de salvação, consubstancial à atitude religiosa; por outro lado, as vivências de esperança, ou de sentido, possibilitam um relacionamento com a religião, na medida em que originam atitudes religiosas, tal como a adoração que consiste em viver-se como radicalmente fundamentado noutro ser, de quem se está recebendo o ser existência. É possível que as vivências religiosas tenham sido as mais originais ao longo da história humana.
O desenvolvimento racional em ordem a Deus, comporta duas categorias de provas, a saber: Provas Cosmológicas e Provas Antropológicas. Nas Provas Cosmológicas seguiram-se mais as vivências de fundamento, porque buscam a justificação de toda a realidade, e o argumento-síntese de todas as provas desta natureza poder-se-á expressar, filosoficamente, por uma fórmula silogística: «Se o nosso mundo é constituído por seres limitados e contingentes; ora, não é possível que um mundo assim exista por si mesmo; logo, temos que admitir um fundamento pelo qual tudo existe e que seja transcendente ao mundo». As provas cosmológicas são importantes porque não é possível haver homem sem mundo.
Seguindo o mesmo esquema, as provas antropológicas da existência de Deus, também se podem resumir ao seguinte silogismo: «Se quando vivemos segundo a consciência moral, procuramos realizar o projeto radical, ou admitimos o bem supremo, que é amor originário, ou procedemos de maneira desesperada; ora, admitir este último seria o sem-sentido vital inadmissível; logo, podemos e devemos admitir o bem-supremo, isto é, o amor-originário.»
Nas provas antropológicas, verificamos que predominam as vivências de esperança, ou de sentido, pois pretende-se chegar a Deus como a uma meta última de projeto do homem, como garante da sua realidade. No fundo do argumento, está o desejo estrutural ou radical metafísico do ser, significando que existe algo capaz de satisfazer este desejo.
Os postulados ou hipóteses do tipo metafísico, são exigidos pela radicalidade do próprio ser e a que Kant chama “Fé Racional”. É uma fé enquanto se distingue do simples raciocínio científico, e conserva sempre um certo sentido de Mistério, mas é racional porque é metafisicamente exigível pela radicalidade do ser. Como conclusão será possível, salvo melhor opinião, ficar-se com as seguintes ideias:
1) Deus é um termo religioso, porque se situa no âmbito sagrado, ao lado do Mistério e invocado pela oração, resumindo-se na fórmula: “Mistério Agraciante”;
2) Razão Vital, que constitui a ligação entre a Razão Científica das ciências empírico-positivas e Razão Científica das ciências formais-abstratas, Razão que penetra a vida do homem e se deixa penetrar por essa mesma vida, numa dinâmica vivencial;
3) Vivência ou Experiências Vivenciais: a) “Vivências de Fundamento”, pelas quais o homem se alicerça a determinados níveis, assumindo uma atitude religiosa de “espera de salvação”; b) “Vivências de Esperança”, que dão ao homem o sentido da sua vida, que afeta o seu projeto de autorrealização, e incute-lhe uma atitude religiosa de adoração a um ser do qual se recebe existência;
4) Provas da Existência de Deus: a) Cosmológicas, que partem da realidade mundana. No seu desenvolvimento procuram aplicar o princípio metafísico da Razão Suficiente, ou de que tudo tem que estar fundamentado, para se chegar a Deus; b) Antropológicas, que partem das vivências humanas. Desenvolvem exigências das próprias vivências de sentido, que são o desejo constitutivo de autorrealização e adoração a um ser, do qual se recebe o ser existência.

Bibliografa 

CAFFARENA, José Gómez, S.J. (1985). Lenguaje sobre Dios. Madrid: Fundación Santa María (págs 27-90)

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Portugal: www.caminha2000.com (Link Cidadania)