É, praticamente, um lugar-comum as pessoas dizerem:
“Não tenho tempo”, “Quanto tiver tempo eu
…”, “Agora estou ocupada/o”, “Vou ver se consigo um tempinho para…”. Sempre
a eterna desculpa da “falta de tempo”, quando na verdade o que se deveria dizer
é que: “Ainda não consigo gerir o tempo equilibradamente” ou, com toda a
humildade, pedir desculpa, quando devido à desorganização reinante, no que
respeita à gestão do tempo, não se consegue respeitar os compromissos
assumidos.
Com efeito, sabe-se que pelas mais variadíssimas
razões e diferentes circunstâncias, o tempo é um bem escasso, que não é
suscetível de alterar o seu curso inexorável, porque: “tempo que passa é tempo que não volta”, ele é irreversível,
irrepetível e linear, sempre numa sequência lógica de unidades: milénios,
séculos, anos, meses, semanas, dias, horas, minutos, segundos. Por isso se atesta,
com frequência: “Tempo é Dinheiro”.
Afirmações como: “Recuperar o tempo perdido”, “Ganhar tempo”, “Perder tempo”, “Gerir o
tempo”, ouvem-se imensas vezes, e até se tenta executar tal estratégia no
sentido de se aproveitar o tempo. Convém notar que a gestão do tempo, em função
do que ele representa na vida de cada pessoa, é muito importante e então
pode-se dizer que sempre haverá tempo para o que se desejar, certamente que de
harmonia com o que se pretende da vida, tendo em conta as prioridades fixadas.
Administrar o tempo é tarefa complexa se não se
utilizarem estratégias e metodologias, precisamente depois de se estabelecer
prioridades, estas, certamente, em consonância com as exigências da vida
moderna e num contexto de imensas solicitações e afazeres, bem como os
objetivos que se desejam alcançar, ao longo da existência humana
É sabido que uma incorreta gestão do tempo provoca
transtornos e, quantas vezes, graves e irreparáveis prejuízos, não só para quem
é responsável por essa má administração do tempo, como também para quem
depende, por exemplo, da pontualidade de outra pessoa.
Refletir sobre a inadequada gestão do tempo, no
contexto organizacional, seja numa empresa, numa instituição de qualquer outra
natureza, família incluída, afigura-se um exercício necessário e pertinente,
porém, antes disso, uma breve abordagem sobre a má gestão numa relação entre
pessoas.
Na verdade, verifica-se que a má gerência do tempo,
pode provocar dificuldades no relacionamento entre duas pessoas que se querem
bem, que são amigas de verdade (bom, aqui se realmente há amizade sincera,
sempre haverá tempo para dispensar à pessoa que consideramos genuinamente
amiga).
Com efeito, se na verdade temos amizade autêntica,
se gostamos incondicionalmente de outra pessoa e sabemos que essa mesma pessoa
também é nossa amiga, só em muitíssimas poucas circunstâncias é que, transitoriamente,
não teremos tempo para estarmos com ela, para a contatarmos, por uma qualquer
via. A má gestão do tempo, neste contexto, pode levar à quebra de confiança, à
dor, ao sofrimento, ao desgosto, à destruição da amizade da pessoa que sofre
esta situação, vinda da parte da/o alegada/o amiga/o.
Muito embora haja a tentação de se chegar atrasado
a determinados eventos, presumivelmente porque é “chique”, a verdade é que na
maioria das situações o atraso é consequência direta da inadequada gestão do
tempo. Esta dificuldade, que muitas pessoas têm, provoca, em determinados
âmbitos, desde logo, laborais, grandes prejuízos ao nível, por exemplo, da
produtividade.
Sabe-se que: «A
perda de produtividade não é o único resultado da falta de pontualidade. As
consequências sobre a produtividade de colegas que dependem da pessoa atrasada
também devem ser incluídas (…). Devem também ser ponderados outros impactos
menos visíveis como: a) as reações negativas de empregados e clientes que
esperam (e.g., irritação; menor cooperação; conflitos); b) a imagem de negligência
e desrespeito que passa para outros empregados e clientes; c) propagação e
incentivo a uma cultura de impontualidade. Alguns outros fazem ainda notar que
os atrasos podem ser um dos primeiros passos para outros comportamentos
negativos, como o absentismo e a rotatividade.» KOLOWSKY, et al., 1997, in
CUNHA, et al., 2010:796).
O incumprimento de diversas obrigações, a ausência,
ou a chegada tardia a locais e eventos de vária natureza, porque a gestão do
tempo não foi a mais apropriada pode, em certas conjunturas, revelar
desconsideração e falta de respeito por quem teve de esperar. O tempo é um
recurso natural, cuja boa utilização proporciona a resolução de imensos
problemas, (ou agrava situações, quando mal gerido) de resto até se costuma
dizer que: “o tempo tudo resolve, tudo
cura, que é preciso dar tempo ao tempo”.
Igualmente grave é quando, alegadamente, por falta
de tempo, se deixa de conviver com as pessoas que nos querem bem, levando a
atitudes que em nada contribuem para o bem-estar e, pelo contrário, por vezes,
até prejudicam.
É certo que se vive a um ritmo acelerado,
procurando-se fazer várias coisas ao mesmo tempo, assumindo-se compromissos que
não se tem a certeza de poderem vir a ser cumpridos, promete-se executar
determinadas tarefas, realizar diversos projetos, todavia, como depois nem tudo
é feito e cumprido, surge a “tábua de salvação”, abusivamente denominada por: “falta de tempo”. Das duas, uma: ou se
assumem compromissos e estes são cumpridos; ou não se deverá comprometer com o
que honestamente, e à partida, se sabe ser impossível de concretizar.
Muitas são as teorias para ensinar a gerir o tempo.
Ministram-se cursos com tal finalidade. Elaboram-se técnicas de boas-práticas.
Há um conjunto muito grande de instrumentos para utilização eficaz do tempo.
Compreende-se que seja difícil, de um momento para o outro, corrigir hábitos
culturais, porém, compete a cada pessoa saber escolher prioridades, regras,
valores e interesses.
A boa gestão do tempo proporciona melhor qualidade
de vida, na medida em que facilita a realização do que se deseja. Possibilita
melhores relacionamentos pessoais, sociais e profissionais. Ao nível pessoal,
que melhor se pode desejar do que uma conversa tranquila, com tempo, com um
amigo? Que mais se pode querer do que conviver, direta e presencialmente, com
as pessoas de quem se gosta sinceramente, sem ter a violência do cronómetro?
O tempo, bem administrado, vai chegando para tudo o
que se considera importante, urgente e necessário. As futilidades também
poderão ter o seu tempo, quando os compromissos assumidos estão cumpridos,
quando as relações pessoais, especialmente as de amizade, estão satisfeitas,
quando as tarefas familiares e profissionais estão realizadas.
O argumento de que não se tem tempo, para com um
amigo de verdade, é próprio de quem deseja romper com uma relação pessoal e que
pode revelar, também, desprezo e indiferença, para com tal amigo. A má gestão
do tempo não deve servir para humilhar ninguém. O tempo, bem gerido, é um dos
grandes recursos, a par do capital humano e conduz ao sucesso e à felicidade.
Bibliografia
CUNHA, Miguel Pina et. al., (2010). Manual de
Gestão de Pessoas e do Capital Humano. 2ª Edição. Lisboa: Edições Sílabo, Ldª.
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
Blog Pessoal: http://diamantinobartolo.blogspot.com