A escola do futuro, qualquer que seja o seu nível,
e que tenha por objetivo educar e formar o cidadão do mundo, não pode continuar
a rejeitar o professor crítico, reflexivo, caraterizado por três tipos de
desenvolvimento: pessoal, profissional e organizacional, produzindo a
transformação da cultura escolar, que inclui a implementação e consolidação de
novas práticas participativas e de gestão democrática.
Além disso, necessita de analisar as condições de
produção do seu trabalho, tendo em conta as circunstâncias sociais, políticas e
económicas, que interferem na sua prática pedagógica, porque numa sociedade
étinico-intercultural é essencial a reflexão sobre a dimensão política do ato
educativo, na medida em que: «Sobre a
educação para o século XXI é apontada a necessidade de educação para a
diversidade e para a cidadania, assumindo o sistema educativo a
responsabilidade de preparar cada pessoa para esta participação mostrando-lhe
os seus direitos e deveres, mas também desenvolvendo as suas competências e estimulando
o trabalho em equipa na escola.» (GUEDES & MIRANDA, 2005:19).
Neste sentido estratégico revela-se de fundamental
importância uma metodologia de trabalho centrada na prática, partindo de
problemas que se apresentam na sua situação concreta, contribuindo para o
desenvolvimento profissional enquanto professor, permitindo um maior
envolvimento para aprofundar a capacidade de análise crítica e das condições em
que exerce a sua actividade, procurando a cumplicidade da escola, gerando assim
mais e melhor conhecimento.
Uma tal estratégia, suportada na dupla metodologia
investigação-acção e observação-participação, é incompatível com tarefas
meramente administrativas e rotineiras que, por vezes, as escolas exigem aos
seus professores que assim se tornam funcionários administrativo-burocráticos.
Deixe-se ao professor a difícil, mas muito
importante, tarefa da investigação, pois só assim poderá aumentar ou
interpretar os conhecimentos. Para isso é essencial que ele tenha condições de
grande envolvimento, porque a técnica da observação-participante: «Consiste
na inserção do observador no grupo observado, o que permite uma análise global
e intensiva do objecto de estudo.» (ALMEIDA
& PINTO, 1995:105).
Formar o cidadão do
mundo, para a mudança que se vem operando ao longo dos séculos, que no período
de transição para o século XXI se fez sentir com uma extraordinária velocidade,
exige professores/formadores/educadores exclusivamente ao serviço dos objetivos
educacionais, em ordem à construção de um mundo mais humanizado, em todos os setores
das diversas atividades humanas.
Impõe-se aos responsáveis
pela organização do sistema educativo que criem todas as condições, necessárias
e bastantes, para que se possa beneficiar do trabalho do professor que pensa: «Professor reflexivo, que medite sobre as
suas próprias práticas, apoiando-se na experiência, na investigação, noutros
recursos disponíveis e importantes para a avaliação do seu desenvolvimento
profissional, nomeadamente no seu próprio projecto de formação, desenvolvendo
competências sociais e profissionais, numa perspectiva de formação ao longo da
vida, participando em projectos de investigação relacionados com o ensino,
aprendizagem e desenvolvimento dos alunos.» (SILVA, 2005:25).
Discute-se, atualmente, um pouco por todo o mundo,
o sistema educativo ideal ou, pelo menos, o mais perfeito possível. Alteram-se
processos de avaliação, introduzem-se novos conteúdos programáticos, exigem-se
professores competentes, dedicados, em regime de exclusividade na escola onde
estão colocados, e determina-se que executem tarefas que seriam melhor
realizadas por outros profissionais.
Por outro lado, quando os resultados das avaliações
nacionais são, globalmente, fracos, procura-se, sempre, encontrar alguns
responsáveis pelo setor, ou seja, os agentes intervenientes no sistema
educativo, ficando o insucesso a dever-se ao Ministério, aos alunos, aos pais e
aos professores, esquecendo-se que, a sociedade, no seu todo, é igualmente
culpável. Em todo o caso, é com muita frequência que, parte significativa do
insucesso, se atribui aos professores, quantas vezes, injustamente.
É uma situação que não pode ser aceite e há fortes
razões para se concordar com o seguinte raciocínio: «Os professores vivem numa encruzilhada (…). Alguns chegam a apelar
para que os professores deixem de assumir a posição, se é que ainda têm, de que
são os detentores da verdade científica, humanística e artística e adoptem uma
atitude socrática: humildade perante a vastidão e a constante criação do saber;
quando se trata de definir as novas funções dos professores sucedem-se as
ideias de que estes devem ser catalisadores da procura do conhecimento;
gestores da informação; mediadores entre o aluno e o mundo caótico da
informação; auxiliadores na estruturação da diversidade das experiências;
mestres no sentido socrático, isto é, partes activas na procura do saber, tendo
como única certeza as limitações do seu próprio saber.» (ARAÚJO,
2005:RIT-8).
As preocupações avolumam-se ainda mais quando a
reflexão envolve a própria instituição Escola, na medida em que se verifica,
com relativa frequência, um manifesto desinteresse, quando confrontada com atividades
materialmente lucrativas. A mentalidade que parece imperar, em grandes círculos
da sociedade, afigura-se ir no sentido do abandono escolar, a favor das atividades
que proporcionam remunerações substanciais e enriquecimento rápido e
significativo.
Eventualmente, a Escola não tem sido capaz de
cativar jovens e adultos. Na verdade: «Quando
pensamos nas nossas escolas não apenas como instrutivas do raciocínio lógico ou
das capacidades linguísticas, concluímos que há urgência de as tornar
educativas, motivadoras e sedutoras. (…) Desta forma há necessidade de novas
tentativas centradas na orientação dos percursos individuais no saber, na
facilitação da aprendizagem personalizada, mas também em redes interactivas e à
distância» (MOREIRA, 2000:180-81).
Impõe-se, cada vez com mais acuidade, uma Escola
educativo-formativa no sentido de educar e formar cidadãos com: princípios e
valores, determinados por objetivos coletivos, sem prejuízo das legítimas
aspirações individuais, com a salvaguarda de não colidirem com os superiores, bem
como, igualmente, legítimos interesses de todos, onde, afinal, o indivíduo se
inclui e é parte integrante, portanto, beneficiário dos progressos que afectam
o todo.
Pode-se concordar, sem grandes dificuldades, com a
seguinte análise, justamente, de quem tem longa experiência de vida
profissional docente: «As desigualdades,
as tensões inter-étnicas, a competição desenfreada, a sobrevalorização dos
valores materiais têm promovido um abandono escolar crescente, sistemático e
localizado nos grandes centros urbanos e naqueles que são economicamente
excluídos. As respostas educativas dadas nas últimas décadas apontam,
essencialmente, para: a) alargamento progressivo da escolaridade obrigatória
básica; b) Desenvolvimento de novas atitudes e processos de educação para todos
e formação ao longo da vida; c) Defesa dos valores da tolerância e de
envolvimento cívico.» (ROCHA, 2005:2).
Reconhecendo-se, muito embora e respeitando outras
opiniões, que por muito bem elaborados que estejam os programas de formação
inicial de professores, também se pode admitir que a preparação académica já
não confere, por si só, um saber total, que se possa utilizar ao longo de toda
a carreira.
Pelo contrário, o professor para uma Nova Escola e
para formar este cidadão do mundo, vai ter que prosseguir os seus estudos,
realizar quantitativa e qualitativamente a investigação inerente aos domínios
que pretende transmitir e orientar, até porque o conhecimento, a ciência e a tecnologia
estão a progredir de tal forma que já é difícil acompanhar a sua evolução.
Hoje, mais do que nunca, uma das finalidades das
formações: inicial e contínua do professor é incrementar neles as qualidades de
natureza ética, intelectual e afetiva. Tal como o médico, o advogado, o arquiteto
e outras profissões liberais, também o professor, até por maioria de razão e
motivos óbvios, tem de se manter, permanentemente, atualizado, porque é ele que
vai ministrar a formação inicial, exatamente, àqueles profissionais liberais.
Bibliografia
ALMEIDA, J. F., PINTO, J.
M. (1995). A Investigação nas Ciências
Sociais (5ª ed.). Lisboa: Editorial Presença.
ARAÚJO, M.
I. (2005:Rit-8). Novas tecnologias nas
Escolas. Vila Nova de Gaia: ISPGaya – Instituto Superior Politécnico Gaya.
(Curso ISC: 3º ano. “Projectos e
Tecnologias Educativas”)
GUEDES, J.
A. D. e MIRANDA, M. R. (2005). A
Capacidade de Auto-aprendizagem do Professor, no domínio da Formação e
Desenvolvimento Profissional dos Professores. (Curso de Pós-Graduação em
Administração Escolar). Vila Nova de Gaia: ISPGaya – Instituto Superior
Politécnico Gaya.
MOREIRA, V. (2000). Escola do Futuro, Sedução ou Inquietação? As
Novas Tecnologias e o Reencantamento da Escola. Porto: Porto Editora.
ROCHA, A. F. S. (2005). Abandono Escolar: Respostas Educativas. (Curso de Pós-Graduação em Administração Escolar).
Vila Nova de Gaia: ISPGaya – Instituto Superior Politécnico Gaya. (Não
publicado)
SILVA, E. D. M. (2005) O Professor Reflexivo. (Curso de Pós-Graduação em Administração Escolar). Vila Nova de Gaia:
ISPGaya – Instituto Superior Politécnico Gaya.
Diamantino
Lourenço Rodrigues de Bártolo
Blog
Pessoal: http://diamantinobartolo.blogspot.com