domingo, 29 de setembro de 2013

Sinais de Gratidão

 
Os “pequenos-grandes” sinais dos verdadeiros amigos (daqueles que nos são solidários; nos têm sincera e carinhosa amizade; nos são leais e estão incondicionalmente do nosso lado), que se podem receber ao longo da existência terrena, também se revelam em momentos, datas e períodos importantes da vida: um simples telefonema, um e-mail, um “bilhetinho”, uma carta, um singela flor do campo, uma prendinha, um abraço afetuoso, um beijo terno, de verdadeiro “Amor-de-Amigo”, enfim, um gesto de consideração, de estima, de simpatia, que faz toda a diferença, entre quem é conhecido, colega, ou amigo muito especial. (§ 1).
Ao longo da vida, vamos experienciando de tudo um pouco: desde a amizade sincera, de um ou outro amigo, verdadeiramente solidário, leal, apoiante, cúmplice e grato; também surgem aquelas outras pessoas que, num dado momento, parecem realmente nossas amigas mas que, mais tarde, quando já não lhes servimos para coisa alguma, nos desprezam e, eventualmente até nos criam um ambiente de insuportável desconforto psicológico, pessoal, moral e social, para, finalmente, termos de conviver com aquelas que por nós nunca nutriram qualquer tipo de simpatia, amizade ou um sentimento específico. (§ 4).
Por isso, em cada etapa da nossa vida, é da mais elementar coerência fazermos um balanço retrospetivo e uma antevisão do que desejamos para nós, para a nossa família, para os nossos verdadeiros amigos e para a sociedade, cabendo-nos, em relação ao passado: a) retirar as ilações de tudo o que de bom e de mal foi feito; b) refletirmos no presente, todavia, este sempre em movimento para o futuro; c) o que deveremos projetar, por forma a conseguirmos viver numa sociedade mais humana, mais tolerante, mais justa, no respeito pelas opções e dignidade da pessoa humana que connosco, afinal, continuará a conviver. (§ 7).
É tempo, portanto, de deixar aqui, publicamente, sem anonimatos, nem receios e muito menos vergonha, o meu testemunho de gratidão para com todas as pessoas que, ao longo da minha vida, me têm ajudado, em diferentes momentos e circunstâncias desta já madura existência, bem como da vida da minha família, seja com bens materiais, seja através da palavra amiga e sincera, seja, também, pela compreensão das minhas posições em diversos contextos. (§ 9).
Nesta breve resenha de agradecimentos, não vou privilegiar qualquer hierarquia axiológica, nem todas individualidades ou instituições. Felizmente, são tantas e tão boas as referências que me têm sido feitas que não posso deixar de me sentir razoavelmente realizado (e não é vaidade ridícula, mas o prazer de deveres cumpridos e reconhecidos), uma grande satisfação por constatar que, afinal, vale a pena sermos trabalhadores, dedicados, verdadeiros, humildes, serenos e, acima de tudo, educados: mesmo com os nossos defeitos e virtudes, porque estas duas dimensões existem em todos nós. Ninguém é perfeito e quem se julgar que o é, poderá ser, provavelmente, o mais imperfeito. (§ 10).
Considerando, portanto, o inestimável apoio, fornecido através de gestos, atos, comportamentos, palavras, princípios, valores e sentimentos, que ao longo destas décadas da minha vida me foram sendo revelados, por quem desejou ser realmente minha/meu amiga/o, de verdade, com total solidariedade, amizade incondicional, lealdade inequívoca, inteira confiança e inquebrantável cumplicidade, que comigo e com quem me quer bem, manteve uma sadia e, inclusive, alguma intimidade, fica aqui, para todo o sempre, o “grito” bem alto e sincero da minha gratidão. (§ 14).  
Mas a vida vai prosseguindo e, como se costuma dizer: “contra ventos e marés”, o rumo está traçado. A “viagem” é curta, e por muito longa que alguém pense que seja, de facto são “nadas” se compararmos com a idade geológica da terra e “nadas de nadas” em relação a uma eternidade celestial. Não vale a pena ilusões, quando estas têm por objetivo, magoar, humilhar, fazer sofrer o nosso próximo, o nosso semelhante, que é tão pessoa quanto nós. (§ 15).
Como é possível, que numa sociedade pretensamente civilizada, onde se proclamam valores essenciais à dignidade das pessoas, como quem lança pregões para vender um qualquer produto, numa praça pública e, ao mesmo tempo, se proceda com uma crueldade tamanha, que já nem se respeitam as pessoas mais velhas, que deram uma vida por ideais, que ajudaram a construir um país, que custearam as despesas para formar aqueles que, agora, dizem que é preciso retirar aos mais velhos para a sustentabilidade dos mais novos? (§ 16).
Caminhando nós para o “fim da linha da vida física”, haverá para os crentes, uma possibilidade de esperança, numa outra dimensão, a espiritual, para a qual nos poderemos, e deveremos, preparar nesta vida terrena, através da prática das virtudes que são exclusivas do ser humano, pelo menos tanto quanto se pode saber. Há, portanto, um outro projeto a preparar, um outro rumo a seguir. (§ 24).
Tudo o que aqui fizermos, poderá, então, refletir-se nesse outro projeto, beneficiar a caminhada num rumo bem melhor. Os crentes, os praticantes, devem ser os primeiros a dar estes bons exemplos. Neste caminho para o transcendental, há virtudes que importa, rapidamente, tentar exercer e, nesse sentido, podem, em local próprio, transcrever-se algumas que se tornam fundamentais para a nossa boa convivência, neste rápido percurso. (§ 25). 

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Portugal: www.caminha2000.comm  (Links Cidadania e Tribuna)

domingo, 22 de setembro de 2013

Eleições para a Prosperidade


A vida humana apresenta-se, ao longo de todo o seu percurso, como uma imensa rede de relações diversas, as mais importantes das quais poderão situar-se aos níveis: religioso, familiar, profissional, político e interrelacional, cuja gestão implica: conhecimentos, experiência, sensibilidade, princípios, valores, sentimentos e emoções diferentes, boas-práticas, complementaridade das múltiplas dimensões que caraterizam a pessoa humana.
Na sociedade contemporânea, ainda no primeiro quarto do século XXI, verificam-se grandes mudanças, em relação ao que nos descrevem a História nas suas múltiplas especialidades e muitas outras disciplinas das Ciências Exatas e das Ciências Sociais e Humanas. De facto, dir-se-á, ainda que simbolicamente: “o mundo gira a uma velocidade estonteante”.
Já quase ninguém acompanha o ritmo das ciências e da tecnologia, podendo-se afirmar, com alguma ironia subjetiva, que até parece que estamos a regredir nos conhecimentos, justamente porque cada dia que passa, surgem novas teorias, experiências, soluções, problemas, práticas, invenções, enfim, resolvem-se umas situações à luz dos conhecimentos e ensinamentos experienciados, mas outros enigmas, conflitos e situações, com mais ou menos dramatismo, emergem na vida da humanidade.
Entretanto, no que à dimensão axiológica se verifica é que: por um lado, os grandes valores universais, na maioria da população mundial persistem, como a: saúde, família, trabalho, paz, justiça, felicidade, (independentemente do conceito que esta possa merecer), Graça Divina; por outro lado, diversos valores parecem relativamente esquecidos, ou pelo menos pouco lembrados e, eventualmente, envergonhados na sua práxis como o: respeito, amizade/amor, gratidão, solidariedade (este valor, felizmente, muitas pessoas o exercem com grande alegria, entusiasmo e generosidade), lealdade, dignidade, entre outros.
Apesar das muitas dificuldades que diversas sociedades atravessam, a portuguesa incluída, ainda vai havendo imensa sensibilidade do povo anónimo e de algumas instituições, públicas e privadas, para o exercício de valores fundamentais, para que muitas pessoas consigam viver com um mínimo de dignidade e conforto material, embora o número dos mais vulneráveis e carenciados tenha vindo a aumentar de forma preocupante, sem que se vislumbrem soluções efetivas, de alteração para melhor, de imensas situações de pobreza, que não só existem como se afigura estarem a aumentar. (Vejam-se as reportagens televisivas na SIC na semana de 15 a 21 de Abril de 2013 sobre a miséria e a fome em Portugal).
O valor Prosperidade, progressiva e sustentável, não só ao nível objetivamente material, mas também subjetivamente, no âmbito da: educação, formação, criação de condições para o aumento e valorização da auto-estima. Claro que se concorda com uma prosperidade material, de conforto e bem-estar, de trabalho, complementada e em reciprocidade com uma prosperidade de auto-afirmação com: dignidade, mérito próprio, dentro de regras, princípios legais e legítimos, valores, sentimentos e emoções.
Como seria interessante, inédito e corajoso que alguém, individualmente, ou em grupo e, neste caso, constituísse lista para uma “Assembleia Nacional da Defesa da Dignidade e Prosperidade da Pessoa Humana”! É evidente que esta ideia não passa de uma utopia, até porque tem imensos argumentos contra, desde logo constitucionais, leis e regulamentos específicos, aos próprios programas político-partidários e projetos eleitorais, só que, tudo isto parece de difícil execução e muitas normas da lei fundamental nem sequer passam do papel, como se de uma carta de boas intenções se tratasse.
Sem a prosperidade de um povo não há desenvolvimento, e sem este não se atinge aquela. É um círculo vicioso do qual parece não se sair. Não é como o empobrecimento galopante que se carateriza, precisamente, pelo oposto da prosperidade, que se consegue atingir um nível razoável de conforto material e de realização pessoal.
Não é castigando o povo trabalhador, os reformados e pensionistas, com medidas fiscais de grande intensidade, com cortes injustos, retroativos (eventualmente imorais e inconstitucionais) que se proporcionam condições e capacidade de aquisição de bens e serviços. Não é com retaliação institucional que, na verdade, atinge os mais fracos, que se chega à prosperidade e à felicidade que ela pode comportar e/ou acrescentar.
A promessa eleitoral, por exemplo, para aumentar, sustentavelmente, a prosperidade, poderia ser um grande desígnio nacional, regional e local, nem seria necessário mais nenhuma promessa, para se vencerem eleições, todavia, um tal compromisso que, por outras palavras, até já tem sido anunciado, nunca foi cumprido, por isso, também daqui resulta que a prosperidade para alguns povos, grupos, famílias e pessoas não passa, ou não tem passado de uma utopia, bem pelo contrário, o empobrecimento e a miséria é que são a realidade.
Com efeito, é fundamental que as populações tenham um nível e qualidade de vida sustentáveis por um desenvolvimento equilibrado, para se entrar num círculo de prosperidade progressiva e, nesse sentido, é necessário que o poder de compra aumente gradual e irreversivelmente. É urgente estabelecer uma verdadeira prioridade nacional, que se coloquem todas as sinergias ao serviço da criação de riqueza (não de empobrecimento), de produção de bens e serviços da melhor qualidade.
Ora, isso consegue-se com a maior taxa de empregabilidade para todas as faixas etárias (ninguém pode ficar de fora de um projeto nacional, regional e local de produção de riqueza), com salários que permitam aos trabalhadores e suas famílias um grande poder de compra, porque o consumo estimula a produção, o lucro dos investidores, a modernização das empresas, o reinvestimento, a criação de mais postos de trabalho, melhores salários, mais exigentes qualificações o que leva à educação e formação. Trata-se de uma “espiral progressiva para a prosperidade”.
É possível criar-se, um “PPP – Partido para a Prosperidade Progressiva”, o qual poderá ser constituído por todos os cidadãos que queiram um futuro promissor, para eles próprios, para as famílias, para as empresas, para o país e para as gerações vindouras, (ou então adotar-se aquelas palavras como lema para qualquer movimento interessado na defesa do povo em geral e dos mais fracos em particular).
A experiência de vida ensina que a dignidade humana se conquista pelo: estudo, formação, trabalho, poupança e reinvestimento, e não vale a pena insistir em receitas de laboratório, porque a pessoa humana não é um objeto qualquer, uma cobaia para exercícios académicos, quantas vezes realizados por pessoas que nunca passaram pela privação de um simples prato de sopa, pela exclusão social, pela iliteracia, descendentes de pobres ou não terem um estatuto social de prestígio, porque tais pessoas, por mérito próprio, mas também por ajudas que tiveram, hoje estão bem na vida e não podem ignorar os milhões de cidadãos que vivem na miséria, que passam fome, que não têm um abrigo condigno, que são autênticos “farrapos humanos”.
No Partido para a Prosperidade Progressiva devem participar todas as pessoas, sem quaisquer discriminações negativas, em que cada cidadão desempenhe as funções que melhor sabe e gosta de fazer. Como em qualquer organização, terá de haver líderes, orientadores, que possuam não só os títulos académicos e os currículos internacionais, mas também a experiência que a vida real, no terreno das dificuldades, no seio do povo podem proporcionar, e com estas credenciais, há fortes possibilidades de grande sucesso.
Como seria estimulante que, acima das organizações político-partidárias, movimentos cívicos e instituições diversas, de todas as forças políticas, se constituísse esse grande Partido para Prosperidade Progressiva, precisamente com os responsáveis mais qualificados, segundo os critérios anteriormente insinuados, Que grande adesão popular um tal partido teria! Que entusiasmo se geraria na sociedade. Como a Democracia seria autêntica e estimulante.
É muito fácil fazerem-se experiências com a vida dos mais necessitados; é muito prático impor, com invulgar violência e insensibilidade, medidas de austeridade, quando não se está na situação dos mais fragilizados, embora, muitos destes já tenham dado um contributo substancial para a sociedade, que indiretamente já contribuíram para que muitos chegassem ao lugar onde estão.
O que mais interessa a todas as pessoas de bem, que felizmente é a esmagadora maioria da sociedade, é verem garantidas algumas medidas que contribuam para a saúde, trabalho, educação, formação e uma velhice merecidamente tranquila, confortável e digna. A segurança de usufruírem, sem receio de os virem a perder: todos os seus direitos, não só adquiridos, como contratualizados; o que mais importa é eliminar o sofrimento físico, psicológico e moral, resultante da falta de trabalho, de comida, de futuro.
Mas a esperança não deve morrer, e para que isso não aconteça, o Partido para Prosperidade Progressiva que, como é bom de ver, trata-se de um ideal que toda a sociedade deveria interiorizar: governantes e governados; empresários e trabalhadores; professores e alunos; crentes e não crentes. Este ideal em nada prejudica a participação cívica dos cidadãos: quer enquanto independentes; quer integrados em forças políticas.
Nunca ninguém pode ignorar que, pelo facto de, em dado período da vida, ter estado muito bem, não fique sujeito, num futuro mais ou menos próximo, à miséria envergonhada, à exclusão social. Tudo é possível na vida, embora se tenha a ideia de que algumas pessoas, possuam como que um escudo protetor, constituído por outras pessoas que, alternadamente, se entreajudam, revezadamente trocam de posições, sempre conseguem um bom futuro para elas, familiares e amigos, em qualquer parte do mundo, todavia, ainda assim, de vez em quando, ocorre uma qualquer ação que destrói, completamente, uma pessoa, uma família, um grupo, enfim, um império. Todos os pedestais são suscetíveis de derrube, mais ou menos violento.
A esperança num futuro de prosperidade não pode morrer. Interiorizemos todos de que: é preciso trabalhar arduamente, poupar, investir, pagar impostos justos para nos autodesenvolvermos; cumprirmos com os nossos compromissos, porém, sem imposições desumanas; assumirmos as nossas responsabilidades é um dever das pessoas e sociedades honradas; é essencial negociar humanamente o respetivo encargo; é necessário que tenhamos condições condignas para produzir e consumir os nossos produtos.
É possível ultrapassarmos as dificuldades normais, mas acrescentar mais obstáculos implica uma redução das capacidades “anímicas” para a participação na criação de cada vez mais prosperidade, de forma sustentada e irreversível.
É profundamente injusto e extremamente perigoso nivelar-se tudo e todos por baixo e, pelo contrário, pelo menos que se sensibilize quem muito já tem, a doar um pouco mais, a quem cada vez menos tem, está mais pobre. Isto não só é prosperidade como também solidariedade.
E se a solidariedade, a amizade, a lealdade, a consideração, a estima, o respeito, a reciprocidade e toda a axiologia protetora da dignidade humana são fundamentais nas relações interpessoais, então para o sucesso do coletivo societário serão, igualmente, essenciais, mas para isso é necessário fixar, a partir de “ontem” o grande ideal humanista, traduzido no objetivo de se alcançar a Prosperidade Progressiva Sustentável.
Trata-se de um ideal que está acessível ao coletivo, porque as faculdades humanas quase não têm limites, as capacidades, a todos os níveis, são imensas e a determinação para vencer obstáculos naturais também já tem sido demonstrada.
A estratégia para se alcançar a Prosperidade Progressiva Sustentável é muito simples: criar as condições mínimas para que todos, sem exceção, possam trabalhar, produzir, consumir e os resultados positivos, rapidamente, surgirão, portanto, “mãos-à-obra” caros concidadãos: governantes e governados; empresários e trabalhadores; professores e alunos; crentes e não-crentes. Todos.

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo 

Portugal: http://www.caminha2000.com (Link’s Cidadania e Tribuna)

domingo, 15 de setembro de 2013

Dever de Reconhecimento



Como é possível, que numa sociedade pretensamente civilizada, onde se proclamam valores essenciais à dignidade das pessoas, como quem lança pregões para vender um qualquer produto, numa praça pública e, ao mesmo tempo, se proceda com uma crueldade tamanha, que já nem se respeitam as pessoas mais velhas, que deram uma vida por ideais, que ajudaram a construir um país, que custearam as despesas para formar aqueles que, agora, dizem que é preciso retirar aos mais velhos, para a sustentabilidade dos mais novos?
Que país é este, onde alguns responsáveis já tencionam colocar os pais no “monte com uma manta velha, uma côdea de pão duro e uma garrafa suja com água choca?” Pode-se, circunstancialmente, concordar com a seguinte reflexão: «Quantos pais são infelizes com seus filhos, porque não combateram suas más tendências no princípio! Por fraqueza ou indiferença, deixaram se desenvolver neles os germes do orgulho, do egoísmo e da tola vaidade que secam o coração; depois, mais tarde, recolhendo o que semearam, se espantam e se afligem pela sua falta de respeito e ingratidão» (KARDEC, 2010:72).
Que país é este onde já não se respeita quem está doente, atacando a fragilidade que os afeta, que não se lhes dirige uma palavra de confiança, votos de melhoras? Que não há uma palavra de esperança para os excluídos! Onde os desempregados desesperam por um futuro melhor! Onde estão os valores do Humanismo?
Este não é o país daqueles que lutaram pela Democracia, que sofreram os horrores das guerras coloniais, ofereceram, generosamente, às gerações vindouras, aos seus filhos, a liberdade que agora usam contra pais e avós. Este não é o país dos “3 D’s”: Descolonizar; Democratizar, Desenvolver. Este não é o país da Esperança, da Fraternidade, dos brandos costumes. Este não é o Portugal de Abril.
Mas a verdade, e ainda bem, é que todos nos vamos aproximando do “fim da linha”, e quem pensa que pelo facto de hoje ter trinta, quarenta ou mesmo cinquenta anos, ainda vai ter muito tempo para concretizar projetos, satisfazer ambições, por muito legítimas e justas que sejam, quando se aperceberem, estarão realmente a entrar na “Adolescência da Envelhescência”, período de vida que poderá ir dos 45 aos 65 anos, durante o qual muitas portas se começam a fechar, desde logo, no acesso ao trabalho, designadamente em Portugal.
É aqui que deve começar a primeira proteção das pessoas. A tomada de medidas para prevenir com segurança e qualidade de vida a velhice que, mais rapidamente do que se deseja, nos bate à porta. É durante este período que também se torna necessário que cada pessoa, reforce, se possível, o contributo para a sustentabilidade do seu futuro. São vinte anos que, ao abrigo de um Estado Social Solidário, se ele existir, se pode garantir a dignidade de quem trabalha e de quem já cumpriu com as obrigações que lhes foram impostas.
A partir daquela idade, poderíamos, ainda, estabelecer mais dois períodos, que se designariam por “Idade de Ouro” até aos 75 anos e depois, a partir daqui, se quisermos, a “Idade de Diamante". Qualquer uma delas, plena de experiências, de sabedoria, de prudência, de “sonhos que ainda podem ser realizados” estes sim, com a ajuda das novas gerações que, em vez de “escorraçarem” da sociedade os mais velhos, os devem acarinhar e respeitar.
Infelizmente, assiste-se, cada vez com mais e lamentável frequência, ao fenómeno da rejeição, da indiferença, do afastamento de pessoas que, tendo servido os nossos interesses no passado, hoje já nada representam, precisamente porque entendemos que somos donos do poder e do mundo, que não precisamos de tais pessoas, até porque em alguns casos começam a ser idosas, ou acometidas de várias doenças, ou ainda que perderam toda a influência. A ingratidão, o egoísmo e o esquecimento, são o denominador comum de uma grande parte da atual sociedade.
É bom acreditar que quem hoje está a ser vítima do desprezo, da humilhação, do afastamento coercivo: das amizades, da vida pública política, social, profissional ou outra, ainda poderá ter novas oportunidades de se erguer e concretizar os seus projetos, ainda poderá vir a ser solicitado por quem hoje os hostiliza. Como sempre tem sido afirmado: “O mundo tem muitas esquinas” e “A vida muitos espinhos”, o que significa que poderemos ser sempre úteis em qualquer idade, basta sabermos gerir bem os recursos humanos que temos.
Em pleno século XXI, é urgente que a sociedade, no seu todo, e os diversos agentes que nela atuam, nos diferentes setores, tomem consciência de que todas, mas mesmo todas, as pessoas “estão de passagem” e, como diria alguém: “Para a outra margem”, cuja ponte será tanto mais segura quanto melhor nós a soubermos percorrer, ou seja, envolvidos num espírito de profundo respeito uns pelos outros, com boas práticas axiológicas, apoiadas pelas virtudes que todos possuímos, algumas das quais, bem clarificadas.
É tempo, sempre é tempo, desde que nascemos até à morte, de nos prepararmos para, independentemente de crer ou não, ter fé ou não, em ”Algo Diferente”, do que estamos habituados a ver e a conhecer, enfrentarmos um “outro” futuro, que será bem mais longo e para o qual levaremos apenas e tão só, as nossas ações, as boas e as más, que fomos praticando nesta vida.
Quero, portanto, e neste contexto, afirmar aqui, não como uma premonitória despedida, mas como uma atitude de reflexão bem profunda, que ao longo das dezenas de anos da minha existência, nunca, mesmo nunca, intencional, premeditada e pejorativamente agi contra quem quer que fosse. Procurei sempre pautar a minha vida com educação, lealdade, gratidão, sem conflitos e no respeito pelas pessoas, independentemente das suas ideias, convicções e atitudes. Fui sempre amigo de quem quis ser meu amigo sincero.
A nossa vida é frágil, mesmo muito débil, e há que saber aproveitá-la, porque também é muito curta. Nesse sentido, o que mais nos honrará, o que nos tornará distintos, superiores e inolvidáveis são as nossas ações, as quais, por sua vez, constituem como que uma boa (ou má) herança que deixamos aos nossos descentes que, certamente, se sentirão orgulhosos (ou envergonhados) de tudo o que os seus antepassados fizeram nesta vida de fragilidades.
Na vida, só tem saudades quem alguma vez foi feliz, seja qual for o conceito de felicidade: «Em tese geral, pode-se afirmar que a felicidade é uma utopia, na busca da qual as gerações se lançam sucessivamente sem poder jamais alcança-la; porque se o homem sábio é uma raridade neste mundo, o homem absolutamente feliz nele se encontra menos.» (Ibid.:88), então, nesta perspetiva, em muito poucos momentos seremos felizes, logo, há que os procurar e conservar o mais tempo possível, não nos perdermos em comportamentos que, mais tarde, nos trazem amargura, dor, sofrimento, desgosto e arrependimento, pelo menos, para que é bem-formado.
Preparar o nosso futuro, com calma, serenidade de espírito, em paz com a sociedade, connosco e com Deus. De facto, o melhor bálsamo para vivermos com elevação e termos uma vida digna, passa por sermos gratos a quem nos faz bem e, dada a precaridade da nossa existência, é isto mesmo que o autor destas meditações pretende aqui deixar para todo o sempre.
Por isso, fica aqui o meu muito obrigado a todas as pessoas que generosamente, com amizade e consideração me têm ajudado. Sei que compreendem a minha dificuldade na elaboração de uma extensa lista de relações de amizade e agradecimentos. É bom sermos reconhecidos pelas nossas qualidades, trabalho e modo de estar na vida. É ótimo termos a certeza que, no limite, teremos, pelo menos, um amigo solidário, leal, em quem possamos confiar, porque: «Fácil é ser colega, fazer companhia a alguém, dizer o que ele deseja ouvir. Difícil é ser amigo para todas as horas e dizer sempre a verdade quando for preciso. E com confiança no que diz.» (Carlos Drummond de Andrade, in http://pensador.uol.com.br/frases_sobre_amigos/4/, consultado em 10.09.2013).
Pretendo, por fim, com estas Meditações, realçar a ideia de que somos humanos, em permanente aprendizagem, desde logo pelo método: “tentativa-erro; tentativa-erro” e assim sucessivamente. Não é verdade que: “só não erra quem não faz nada”. É verdade que: “quem não faz nada, comete o erro de nada fazer”. Saibamos, por isso, colocar ao serviço de todos nós os valores e as virtudes que nos distinguem e enobrecem em relação aos restantes seres vivos. Não vale a pena andarmos permanentemente a atacarmo-nos.

Bibliografia

KARDEC, Allan, (2010). O Evangelho Segundo o Espiritismo: contendo a explicação das máximas morais do Cristo, sua concordância com o Espiritismo e sua aplicação nas diversas situações da vida. Trad. de Albertina Escudeiro Sêco. 4ª Edição. Algés/Portugal: Verdade e Luz – Editora e Distribuidora Espírita.


domingo, 8 de setembro de 2013

Os Cidadãos: O Partido mais Importante


A Democracia é um regime político que, em princípio, mais se abre à participação dos cidadãos, muito embora apresente diversas fragilidades, desde logo: a dificuldade na organização de equipas, (principalmente a nível do Poder Local das Freguesias) que, concorrentes aos diferentes órgãos do Poder, seja este legislativo e/ou executivo, à partida possam dar algumas garantias de sensibilidade social.
 A título de enriquecimento, inclui-se o Poder Moderador ou Magistratura de Influência, que é exercido, unipessoalmente, pelo Presidente da República. Este Órgão de Soberania, muito discreto, mas fundamental na democracia, para além das responsabilidades nacionais e internacionais, desenvolve ações de promoção de consensos, estabelece pontes, medeia conflitos institucionais, entre muitas outras elevadas e nobres funções constitucionais.
O bom funcionamento da Democracia implica o envolvimento dos cidadãos, integrados em forças políticas, constitucionalmente denominadas partidos políticos, movimentos cívicos, grupos de cidadania, organizações de cidadãos independentes, entre outras designações, para concorrerem aos diversos órgãos do poder colegial legislativo e executivo, no âmbito nacional e europeu.
A única eleição para um órgão do poder unipessoal é para a Presidência da República, para o qual concorrem, isoladamente, cidadãos que reúnam determinadas condições, desde logo a idade que, constitucionalmente, estabelece os 35 anos. Claro que há outros órgãos do poder, como os Tribunais, Provedor de Justiça, Tribunal Constitucional, Supremo Tribunal Administrativo, entre outros, para cujos cargos também há eleições e escolhas democráticas, muito específicas, e nas quais não participam, diretamente, os cidadãos.
Importa, nesta reflexão, concentrar a atenção na disputa dos poderes: presidenciais, legislativo, executivo, autárquico e europeu, porque: quer a organização das listas, quer os objetivos, quer as estratégias e os recursos, para se tentar alcançar a vitória são diferentes; todavia, os decisores que vão contribuir para o êxito de uns e o insucesso de outros são sempre os mesmos: os cidadãos eleitores.
 Indica, portanto, todas as pessoas maiores de dezoito anos, que não estejam impedidas do exercício da cidadania plena, o que significa estarem nas plenas capacidades, legal e psicológica, para exercerem os seus deveres e direitos cívicos. No término, é o povo anónimo que decide o seu próprio destino, nos vários níveis dos poderes democráticos, constitucionalmente consagrados na Lei Fundamental e legislação complementar, reguladora dos respetivos processos eleitorais.
Partindo-se de um “lugar-comum” (principalmente sob o ponto de vista de quem viveu mais de duas décadas num regime totalitário e depois mais de três dezenas num sistema democrático), segundo o qual, não haverá democracia sem partidos políticos, a verdade é que estas instituições são constituídas por pessoas, que têm as suas próprias opiniões, que sabem e querem viver num regime plural (numa perspetiva de uma análise generalista), que possuem, ou não, os seus valores político-ideológicos e, portanto, com posições definidas, é indispensável que nunca se perca o respeito pelos cidadãos: quer sejam considerados individualmente; quer enquadrados nas organizações políticas.
O Poder Político tem de estar sempre ao lado do povo, autonomamente, livre das ideologias dos diversos detentores, estes não devem, em circunstância alguma, servir-se da boa-fé e generosidade do povo para, depois de eleitos, ignorarem as dificuldades de quem os elegeu e/ou, pior do que isto, agravarem, ainda mais, as condições de vida das comunidades, com destaque para aqueles grupos mais vulneráveis, crianças, desempregados reformados, pensionistas, idosos, excluídos da sociedade por um qualquer preconceito ou situação.
Quando assim acontece, ou seja, quando os titulares de cargos públicos, alcançados por votação democrática, não cumprem o que prometeram, ou escusam-se a melhorar as condições de vida dos seus eleitores, no fundo estão: não só a revelar incumprimentos da palavra dada; mas também, a atraiçoar o maior partido que existe em qualquer parte do mundo: Os Cidadãos.
Com esta preocupação e como linha de orientação, considera-se que seria inadmissível dividir a sociedade em cidadãos de primeira, de segunda ou terceira categorias, porque cada pessoa, no pleno exercício das suas prerrogativas cívico-políticas, vale um voto, independentemente do seu estatuto sócio-profissional, político-religioso, cívico-cultural, económico-financeiro. Em concreto e objetivamente, tanto vale: o voto do rico como do pobre; do letrado e do analfabeto; do doutor e do sapateiro; ou seja, o princípio máximo, legítimo, legal e justo será, logicamente: uma pessoa, um voto, logo, porque são os cidadãos que decidem quem os deve governar.
Neste contexto democrático, é essencial que os cidadãos, candidatos ao exercício do poder, num determinado órgão do sistema político, tenham especial cuidado no desenvolvimento de todo o processo eleitoral: desde logo, por respeito aos cidadãos; depois, por uma questão de cumprimento de regras, princípios, valores, projetos.
 Nesse sentido, devem analisar com os eleitores as suas próprias ideias, estratégias, métodos e recursos, porque é tudo isto que se torna verdadeiramente importante, é sobre estes aspetos que os cidadãos têm o direito de ser esclarecidos: com lealdade, com exatidão e com solidariedade.
Compreende-se muito bem, aceita-se dentro de determinadas balizas e deseja-se que os partidos, e outras formações políticas, concorrentes aos diversos cargos, apresentem e defendam os seus projetos, mas exige-se que, depois de eleitos, os cumpram, o mais completamente possível, e/ou expliquem, claramente, por que não os executam, em todo o caso, poder-se-á considerar inaceitável quando os cidadãos, integrantes de uma determinada lista, recorrem à calúnia, ao ataque pessoal dos seus adversários e/ou se colocam, exclusivamente, ao serviço da organização, em prejuízo da comunidade que o elegeu.
Terminada uma campanha eleitoral com o ato eletivo, deve-se respeitar, aliás como sempre, o maior partido, constituído por todos os cidadãos, sem qualquer discriminação negativa, sem quaisquer comportamentos retaliativos contra os cidadãos: sejam estes da linha vencedora; sejam os adversários que perderam a eleição.
A partir da publicação oficial dos resultados e da tomada de posse para os cargos até então em disputa, devem ser guardados todos os símbolos político-partidários e labutar-se pelo bem-estar dos militantes do único partido: O Partido dos Cidadãos, para o qual se deverá trabalhar, ou seja, para todos os Cidadãos, sem exceção, porque este é que é o grande partido.
No limite de todas as estratégias – táticas e técnicas – de um qualquer processo eleitoral, em que estão envolvidas diferentes forças políticas, está o imenso partido dos cidadãos, na circunstância, os Portugueses: quando os processos eleitorais são de nível nacional; depois estão as respetivas populações; grandes e pequenos aglomerados; urbanos e rurais; de um concelho, de uma freguesia, e por isso mesmo os adversários devem respeitar-se e lutar, apenas e tão-só, pelo bem-estar das comunidades onde se integram, porque o resto poderá ser considerado como atitudes irresponsáveis, ataques pessoais, jogo “batoteiro”, enfim, tudo menos transparência, educação, respeito, tolerância e dignidade, que a todas as pessoas são devidos.
A dimensão dos líderes avalia-se, desde logo: pelo seu caráter, aqui entendido como sendo uma postura de vida que respeita o seu semelhante; reagindo com firmeza às injustiças, à desconsideração, à deslealdade, às pressões suportadas em interesses exclusivamente pessoais, às chantagens, à defesa do bom-nome e honra, reputação e dignidade pessoais; e que, ainda assim, tem capacidade para tentar compreender aqueles comportamentos e, se necessário for, ter a coragem de se afastar dos ambientes de falsidade e cinismo, sem prejudicar com isso os superiores, legítimos e legais interesses do coletivo. O bom líder, não persiste na teimosia, apenas para demonstrar o seu poder egocêntrico.
Sendo os Cidadãos, o partido mais importante, numa sociedade democrática, eles não têm condições físicas de espaço, tempo e recursos, para todos serem governantes e governados (neste caso estaríamos numa democracia direta), por isso mesmo é que se organizam em instituições diversas, para desenvolverem e aplicarem projetos que sirvam o interesse coletivo, resultando desta circunstância a necessidade de, entre eles, escolherem aqueles que consideram estar em melhores condições para conseguirem atingir os objetivos, que satisfaçam os justos anseios dos seus concidadãos.
Partindo-se destes princípios básicos, seria incompreensível, e inadmissível, que os escolhidos para os vários grupos que vão disputar o poder, se envolvessem em processos, vulgarmente designados por “baixa política”, ou de “jogo rasteiro”, ou ainda o recurso à intromissão na vida privada uns dos outros, à difamação, à humilhação e atitudes de vária natureza.
Com estes comportamentos estão, afinal, a descredibilizar o grande partido dos Cidadãos, o regime político-democrático, no caso em apreço, estão a faltar ao respeito: aos seus conterrâneos e concidadãos; à sua família e amigos; no limite, a si próprios.
Os líderes em quem se pode confiar são aqueles que utilizam métodos, estratégias, processos e recursos transparentes, com: afabilidade, solidariedade em relação aos mais vulneráveis; amizade no sentido da consideração e estima; lealdade, sem subterfúgios; humildade e tolerância, sabendo escutar, com generosidade, as dificuldades que os seus semelhantes lhes vão apresentando, trocando impressões e ideias, se necessário, com outros líderes, a fim de encontrar e aplicar as melhores soluções.
Antes, durante e depois de qualquer disputa eleitoral para um determinado cargo político, deve-se: por um lado, colocar o símbolo do “interesse coletivo”, do “bem-comum”, porque não haverá muitas outras formas de se credibilizar mais, certas atividades e os seus agentes diretos; por outro lado, cumpre a todos os atores, neste palco da vida, agirem com ética e deontologia profissionais, sim, igualmente com: rigor, princípios, valores, sentimentos e emoções; sempre numa perspetiva positiva, em que as diversas dimensões, verdadeiramente humanistas, sejam os pilares de uma vida digna para todos os componentes deste grande partido: os Cidadãos, que estão primeiro que os números, as estatísticas e outros interesses.

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo 

Portugal: http://www.caminha2000.com (Link’s Cidadania e Tribuna)

domingo, 1 de setembro de 2013

Política com Lealdade


Enquanto valor e atitude, a Lealdade é uma dimensão humana que importa enaltecer e praticar, sistematicamente, em quaisquer contextos da intervenção da pessoa verdadeiramente humana. A Lealdade poderá, também, ser uma virtude, se se considerar que colocada ao serviço do bem-comum produz resultados que, em parte, conduzem à harmonia, à paz e à felicidade entre as pessoas que se querem relacionar de forma saudável, sem azedumes, sem invejas, sem ódios.
Na política, tal como noutras atividades humanas, exige-se valores e comportamentos compatíveis com a dignidade individual e coletiva, respeitadores das ideias, opiniões e intervenções dos adversários, partindo-se do pressuposto que todos são pessoas de bem, com direito inquestionável à honra, reputação e bom-nome. “Até prova em contrário, todas as pessoas são inocentes”.
Na política, como noutras atividades, a Lealdade fará parte, certamente, de um processo, este entendido como o conjunto de boas-práticas, de organização, de aplicação de normas éticas e morais, de transparência e de respeito pelos adversários. Respeito como valor cívico e civilizacional.
O exercício da atividade política implica, por parte de quem se envolve na vida pública, ao serviço da comunidade, a maior isenção e rigor no que respeita ao relacionamento com os cidadãos em geral, e com os adversários em particular. Com efeito, quem se predispõe, voluntariamente, a servir o povo, não pode, nem deve, valer-se da sua posição, do poder que detém e das influências que conquista, discriminar quem não comunga das suas ideias.
Desempenhar uma função política exige qualidades de liderança competente, assertiva e, fundamentalmente, grande nobreza de caráter. É necessário considerar que antes de se ser líder político, possivelmente, desempenharam-se outras tarefas na vida, como simples cidadão e que, certamente, nesta qualidade, não gostaria de ser humilhado, marginalizado e, tão pouco, devassado na sua vida privada.
O cidadão/político que se envolve na “luta” pela conquista do poder, tem consigo toda uma equipa de colaboradores que, evidentemente, tem de liderar, com humildade e segurança, também com firmeza e generosidade: «A verdadeira generosidade não é evento ocasional. Vem do coração e permeia todos os aspetos da vida de um líder, tocando o seu tempo, dinheiro, talento e bens. Os líderes eficazes, o tipo que as pessoas vão querer seguir, não juntam as coisas apenas para si próprios, fazem-no para dar aos outros. Cultivam a qualidade da generosidade nas suas vidas. (…) A generosidade requer que se coloque os outros em primeiro lugar.» (MAXWEL, 1999:62).
O líder político age, portanto, com valores essenciais à dignidade da pessoa humana, independentemente de serem os seus fiéis seguidores ou os seus adversários políticos, religiosos, profissionais ou de quaisquer outras atividades e estatutos e em diferentes contextos.
É, naturalmente, inconcebível e intolerável que, em pleno século XXI, ainda se utilizem “recursos e técnicas” de inaceitável comportamento. O líder que hoje recorre à difamação, ao ataque pessoal e à ofensa da honra, reputação e bom-nome dos seus adversários, amanhã fará o mesmo em relação àqueles que tiverem a infelicidade de estarem debaixo do seu poder, sempre que o contrariarem.
Regra geral, toda a pessoa tem a obrigação de ser educada, correta, amável, tolerante. Em concreto, todo o líder político tem o dever ético-moral de ser generoso, leal e compreensivo para com os seus adversários e, nesse sentido, deve preocupar-se em apresentar, claramente, as suas ideias, os seus projetos, informando e prometendo com verdade o que tenciona realizar, efetivamente, sem demagogias nem populismos ocasionais.
O debate democrático das ideias e dos projetos é o melhor processo para respeitar os adversários e o povo eleitor, de contrário o descrédito da política e dos políticos é a consequência natural e que, rapidamente, se concretizará, para prejuízo de todos. Ao que as sondagens indicam, parece o que está a acontecer um pouco por todo o lado: a difícil aceitação da atividade política e seus agentes.
A lealdade na política pressupõe, portanto, atitudes que sejam entendidas como preocupações que o líder/candidato tem para com a comunidade que, voluntária e generosamente, quer servir. Ações de grande transparência, sinceridade e humildade, nas quais se possa acreditar como sendo próprias de uma pessoa bem-formada, sem preconceitos, de uma qualquer superioridade.
A lealdade não é compatível com intervenções improvisadas, ilusórias e de pura e sedutora duplicidade. A lealdade em política deve, inclusivamente, contribuir para a credibilização, para a dignificação de todos os agentes no processo democrático, em todos os setores da vida das comunidades.
É pela lealdade que se incute a confiança, seja nos concorrentes, seja no povo anónimo. Em princípio, quem não é leal para com os seus adversários, muito menos o será para com os cidadãos comuns, pelo que estes devem estar muito atentos em relação ao que é dito, prometido e exequível de realização, pelos diversos candidatos, a um determinado cargo público.
O líder leal será sempre uma pessoa que procurará a verdade, que sabe esclarecer com clarividência todas as suas posições, que não recorre a métodos que humilham as pessoas em geral, e os seus adversários em particular. O líder leal, assertivo e justo deve apoiar-se na sua própria convicção, acerca de uma ideia, de um projeto, de grandes princípios, valores e sentimentos, até porque este líder deverá ser uma pessoa portadora de diversas dimensões humanas, familiares, religiosas, políticas, profissionais, sociais, entre tantas outras.
A lealdade, em política, paga um preço muito alto, quando confrontada com a deslealdade dos adversários, com os ataques pessoais, vilipendiosos, difamatórios e intimidatórios. Mas o povo é sábio, prudente e justo, pelo que saberá muito bem que se um líder/candidato não é leal para com os seus concorrentes, jamais o será para com a comunidade em geral.
A mentalidade da promessa fácil e enganosa, do sorriso forçado, do cumprimento forçado, do denegrir os adversários para “conquistar” simpatias, entre outros “truques”, tem os seus dias contados, porque, em bom rigor: “Quem hoje me quer mal a mim; amanhã quererá o teu mal”; ou ainda: “Quem é amigo do meu adversário, não pode ser meu amigo, nem estar do meu lado com lealdade”.
O líder que se pauta pela lealdade, preoupa-se com o respeito pelos seus adversários, solidariza-se com eles quando são vítimas de injustiças, de ataques pessoais, de comportamentos que humilham e ofendem. A lealdade na política coloca-se acima de meros interesses político-partidários, egoísmos e oportunismos. A lealdade não é solidária com jogos duplos, nem compatível com posições ambíguas, neutras, de mero comportamento de circunstância. Lealdade implica firmeza, verticalidade, transparência, tolerância e solidariedade.
O líder/candidato a um cargo público, através do voto livre e democrático, tem de ser uma pessoa com formação cívico-institucional e democrática, bem consolidada, porque o respeito pelos valores da cidadania, exercidos pelos adversários e eleitores, é o núcleo central, à volta do qual deve funcionar todo o processo democrático
Com efeito: «Cidadania é um estado de espírito e uma postura permanente que levam as pessoas a agirem, individualmente ou em grupo, com objetivos de defesa de direitos e de cumprimento de deveres civis, sociais e profissionais. Cidadania é para se praticada todos os dias, em todos os lugares, em diferentes situações, com variadas finalidades.» (RESENDE, 2000:200).
Como corolário, pretende-se deixar bem vincado que a lealdade em política passa, necessariamente, pelos valores cívicos, pelos comportamentos democráticos, pelas atitudes corretas, educadas e amáveis, rejeitando, liminarmente, toda e qualquer intervenção que vise devassar a vida privada, profissional, social, cultural, religiosa e empresarial dos adversários, dos seguidores e da população em geral.
O líder leal é o que orienta a sua atividade política dentro dos valores democráticos, no respeito pela dignidade, ideias e projetos dos seus adversários, que é solidário com estes, sempre que forem vítimas de injustiças, humilhações e ofensas. O líder leal terá de ser a pessoa com quem a sociedade pode contar, para o bem e para o mal, confiar e socorrer-se, sempre que seja necessário.
O líder lela e democrático, em circunstância alguma, se for bem formado, recorrerá à injúria, à humilhação, à devassa da vida dos seus adversários, familiares, seguidores e colegas. O líder leal, suscita confiança, estima, consideração, solidariedade e, por que não, amizade, e recebe também idênticos valores e sentimentos de todos os que como ele intervêm na sociedade

Bibliografia

MAXWELL, John C., (1999). As 21 Indispensáveis Qualidades de um Líder. 1ª Edição Portuguesa, 2010.Trad. Paula Alexandra. Lisboa:SmartBook. 
RESENDE, Enio, (2000). O Livro das Competências. Desenvolvimento das Competências: A melhor Auto-Ajuda para Pessoas, Organizações e Sociedade. Rio de Janeiro: Qualitymark 

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

         www.caminha2000.com (Link’s: Cidadania e Tribuna)
         http://www.caminhense.com