domingo, 25 de agosto de 2013

Comunicação: Chave para o Sucesso


Entendido o sucesso como a realização positiva dos projetos idealizados e executados, ao longo da vida, seja da pessoa individualmente considerada, ou da instituição, qualquer que seja a natureza dos resultados, materiais e/ou imateriais, preenchendo, portanto, os requisitos constantes dos objetivos, seguramente que nesse êxito, uma parte significativa resulta do trabalho desenvolvido, justamente e também, o trabalho comunicacional.
Pela comunicação se estabelecem contactos, se negoceiam condições, se encontram soluções, novos conhecimentos foram adquiridos, outras relações se estabeleceram. A comunicação sempre esteve presente nas relações que, ao longo do projeto e da vida, foram necessárias e desenvolvidas, implícita ou explicitamente, com objetivos pré-estabelecidos ou alterados e fixados no decurso da comunicação. Sempre, e uma vez mais, a comunicação a conduzir os destinos da humanidade em geral, e do indivíduo em particular.
Toda a pessoa, as instituições e os povos de todo o mundo vivem em permanente conflito, seja consigo próprio, no mais íntimo da sua interioridade, seja com o vizinho, o colega de trabalho, o amigo, a família, as organizações.
A decisão que cada um entender adotar e executar, para resolver um conflito, interno ou externo, implica, por uma lado, assumir a responsabilidade pelas consequências resultantes e, por outro, alcançar o objetivo que se propôs, pelo desenvolvimento e desfecho do conflito, sendo certo que este estado latente de conflitualidade, pode contribuir para clarificação de muitas situações individuais, coletivas, institucionais e organizacionais. Pode-se aplicar aqui o adágio popular: “Do conflito, nasce a luz”.
A comunicação, no sentido mais utilitarista, desempenha na condução de qualquer conflito, um papel nuclear, na busca de soluções. Pelo relacionamento interpessoal e interinstitucional, pela aplicação de regras, métodos e estratégias transparentes, é sempre possível tentar a aproximação das posições.
Um dos segredos para o sucesso comunicacional poderá residir na aplicação de uma ética do diálogo, aqui considerada como uma deontologia, isto é, um conjunto de deveres que os interlocutores devem assumir, como se se tratasse de uma situação profissional. O diálogo profissional, entendido como um conjunto de capacidades e competências, no respeito por deveres recíprocos, na perspectiva assertiva.
Uma das possíveis chaves para o sucesso pode, então, passar por uma atividade comunicacional do tipo relações públicas, com ética, com assertividade, com total comunhão de valores, princípios, regras, deveres e direitos, ou, na impossibilidade de tal convergência, no respeito pelas diferenças. Exige-se que a comunicação seja de nível profissional, com técnicas adequadas e verdadeiras, como se impõe em qualquer atividade e entre pessoas civilizadas.
Adoptar, neste âmbito, os padrões da conduta profissional das relações públicas, pode ser uma boa estratégia para o êxito do diálogo, porque: «Temos o dever positivo de observar os padrões mais elevados na prática das relações públicas. Além disso, temos a responsabilidade pessoal, em todas as ocasiões, de lidar justa e honestamente com o cliente, empresário e empregados, passados ou presentes, com os colegas, com os meios de comunicação e, sobretudo, com o público.» (GARCÍA, 1999:152).
Este padrão de conduta, no quadro das relações públicas, é susceptível de adaptação à comunicação entre vários interlocutores, nos diferentes papéis em que estão investidos e com objetivos estabelecidos para as partes, sem que, necessariamente, alguém perca ou ganhe tudo, mas, pelo contrário, que se verifique um resultado do tipo “ganha/ganha”.
Outra das chaves possíveis para o sucesso, aqui num quadro conflitual, pode passar por uma conduta baseada no interesse, no respeito e na atenção que se manifesta, em relação ao interlocutor que expõe as suas razões, sobre o conflito em análise. Neste caso, o diálogo com base no saber escutar, pode funcionar.
A verdade absoluta é um conceito cuja concretização, ao nível da descoberta, não está totalmente ao alcance do ser humano. Extremar argumentos, sem fundamentação lógica, coerente e verdadeira, é uma prática muito utilizada, que não tem conduzido a resultados genuinamente verídicos, porque são falseados na disputa pela vitória, que cada interlocutor procura a todo o custo, não só para alcançar destaque e protagonismo pessoais, como também para humilhar o seu alegado adversário. Neste tipo de condutas, em que ninguém ouve ninguém, em que a escuta ativa não faz parte do diálogo, certamente que o sucesso das partes fica comprometido, ou nem sequer é alcançado.
A verdade, como a virtude e outros valores, não sendo absoluta para o indivíduo humano, no que respeita à certeza, pode, contudo, encontrar-se no meio-termo, na perspectiva das partes atingirem o máximo consenso, sem vitórias nem derrotas, sem protagonismo nem discricionariedade.
A competência reside no saber escutar o outro, compreender as suas motivações, os seus anseios, as informações potencialmente verídicas que possui, ou não, a emoção colocada no assunto e/ou conflito em discussão, na sua genuína transparência. Se houver uma escuta ativa, atenta, interessada, amiga, se necessário solidária, em cada interlocutor e/ou ouvinte, então, tudo ficará mais fácil, porque mais claro e mais verdadeiro.
 De facto: «Os ouvintes atentos pensam melhor porque sabem escutar e percebem melhor os factos e as opiniões. Porque os ouvintes atentos vêem melhor os problemas e combinam o que aprendem das formas mais imprevisíveis, são mais capazes de ideias surpreendentes. Finalmente, os ouvintes atentos estão em melhor sintonia com o rumo das situações e o modo como os produtos, o talento e as técnicas devem evoluir para o acompanhar. Por isso é especialmente útil adquirir a capacidade de escutar, mas ser um ouvinte eficaz não é tão fácil como parece.» (WILSON, 1993:144). Saber escutar com as características que se citaram é fundamental para o sucesso de qualquer comunicação.
O sucesso da comunicação, elevado ao seu mais alto expoente, pode traduzir-se na obtenção da paz, esta considerada como uma situação que proporciona a cada um, e à comunidade em geral, um bem-estar a todos os níveis da existência humana: bem-estar moral, social, profissional, económico, físico-mental, religioso, político e ambiental, entre outras classificações possíveis.
Uma paz que não é definida pela ausência da guerra, mas uma paz ativa, numa sociedade responsável, constituída por pessoas de valores, princípios e sentimentos, capacitada para anular problemas latentes e resolver conflitos em ato, ou potencialmente em deflagração.
Vai ser pelo respeito dos direitos e deveres de cada um que se poderá alcançar um pouco mais de harmonia, a começar nas atitudes comunicacionais, precisamente a partir da competência de escutar, o que envolve uma grande serenidade de espírito, para não estar preocupado consigo próprio, enquanto deveria estar a ouvir atentamente o seu interlocutor.
Implica, também, lutar contra a tentação de fazer juízos de valor, sobre a pessoa que fala, evitar a todo o custo a preparação, premeditada e intencional, para produzir uma resposta que, objetivamente, vai desrespeitar o interlocutor que discursa e destruir todos os seus argumentos, por mais sérios, corretos e lógicos que estes sejam.
Se a omissão, em certas circunstâncias, é compreensível, nomeadamente em determinado tipo de negócios e competições, porque não provoca prejuízos nem ofende a outra parte, já a mentira, (que implica deslealdade, falta de solidariedade e intransigência), muito dificilmente, será compreendida e aceite, ressalvando-se sempre o conceito quando elevado ao nível do absoluto, porque a omissão e a mentira absolutas, também, tal como a verdade, não estão ao alcance da capacidade humana, existindo, muitas vezes, algum relativismo: o que hoje é verdade, amanhã poderá não o ser; o que ontem era mentira, hoje será verdade; o que foi omisso no passado, poderá ser declarado no futuro.
Sejam quais forem as circunstâncias, as estratégias, os recursos e os objetivos, a comunicação deve revestir as características de: clareza, objetividade, assertividade, escuta ativa, sem preconceitos; sem formulação de juízos de valor; deve utilizar uma linguagem correta, do ponto de vista das regras e simplicidade, para uma boa compreensão.
A formação no domínio da comunicação verbal e não-verbal, deve ser considerada uma prioridade mundial e um investimento altamente rentável, a médio prazo, para o êxito de todas as atividades humanas, inclusive para a obtenção do sucesso de cada um em particular, mas também de quase todos e da paz universal, no sentido em que aqui lhe é dado.
Deseja-se, por tudo o que se expôs, uma elevada competência no comportamento comunicacional para a melhoria das relações interpessoais, na dignificação da pessoa humana, no respeito pelas opiniões diferentes, na compreensão de atitudes e condutas. Nunca perder de vista que o ser humano é altamente falível e como tal: “reação, gera reação”.
Evitem-se, portanto, os confrontos agressivos, vexatórios e persecutórios, bem como todo e qualquer procedimento que ofenda a honra, o bom nome e a nobreza das pessoas. “Esta vida são dois dias”. Tudo é efêmero neste mundo terreno e para a posteridade ficam registadas apenas: as nossas ações: boas e más; as nossas amizades; os nossos princípios, valores, sentimentos e emoções sinceramente sentidos e vividos, conforme a nossa consciência, de cujo julgamento não escapamos, mesmo que tenhamos enganado todo o mundo.

Bibliografia

GARCIA, Manuel Moler, (1999). As Relações Públicas, Trad. Duarte Nuno Bettencourt da Câmara, Lisboa: Estampa (BP)
WILSON, Graham & LODGE, Derek, (1993). Resolução de Problemas e Tomada de Decisão: Inovação, Trabalho de Equipa, Técnicas Eficazes. Trad. Isabel Campos. Lisboa: Clássica. 

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

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domingo, 18 de agosto de 2013

Civismo Eleitoral


A política, enquanto atividade voluntária, ao serviço do bem-comum, não pode sobrepor-se, negativamente, aos mais nobres princípios, valores, sentimentos, emoções, usos, costumes e tradições da sociedade e das pessoas.
A política é tanto mais credível, quanto mais respeitáveis forem os seus agentes diretos, porque a pessoa de caráter não utiliza recursos que colidem com a dignidade dos seus semelhantes, pelo contrário, sabe conviver, observando, com tolerância e compreensão e, se necessário, com solidariedade, as posições e conceitos dos seus opositores ideológicos.
É muito provável que determinados candidatos a um cargo público, no mundo do poder político, recorram a esquemas traiçoeiros para angariação de votos, pela humilhação dos seus adversários.
Uma campanha eleitoral deve pautar-se pelo respeito, atenção, tolerância e, por que não, solidariedade entre os diferentes candidatos, porque é no exercício daqueles valores, a que lhes correspondem atitudes e comportamentos ético-morais e cívico-políticos. Uma campanha eleitoral destina-se a esclarecer, divulgar ideias e projetos, a desenvolver durante o exercício do cargo para que está a concorrer e na eventualidade de ser eleito.
Antes e durante a campanha eleitoral existirá entre as pessoas em geral, e os candidatos em particular, um determinado relacionamento interpessoal, possivelmente, de consideração, de estima e até de amizade, portanto, não faz qualquer sentido e, pelo contrário, poderá revelar que, ao serem desrespeitados aqueles valores e inerentes atitudes, afinal tudo não passava de hipocrisia, de falsidade, de cinismo, porque: princípios, valores, sentimentos, emoções e amigos, são inegociáveis ou, quando verdadeiros, devem ser rigorosamente preservados, evitando tudo o que possa feri-los e violá-los.
A amizade, quando verdadeira e vivida afetivamente, não é compatível com outros interesses que a prejudiquem, por mais legítimos e legais que possam parecer. A amizade entre duas pessoas não pode, em circunstância alguma, ser traída e não há política que justifique uma tal deslealdade (nem entre as pessoas que se querem bem), até porque quase tudo na vida é efémero e muito pouco importante, se compararmos com determinados valores, como, por exemplo: amizade/amor, saúde, família, trabalho, felicidade e a Graça Divina, entre outros.
Quem busca o poder: por processos transparentes; com respeito pelas pessoas em geral, e pelos adversários em particular; com elevação cívica; com ideias e projetos exequíveis; defendendo com convicção os valores essenciais da dignidade humana, acredita-se que tais candidatos são merecedores da credibilidade, da confiança, da consideração e respeito.
Estes candidatos são os que mais e melhores perspectivas e esperanças criam para uma boa governação e é neles que devemos depositar o nosso voto, porque quem hoje me faz bem a mim, amanhã poderá fazer-te a ti. O contrário também poderá ser verdadeiro.
O tempo da violência verbal, física, psicológica, por quaisquer processos e instrumentos, está ultrapassado, ou deveria ser “enterrado”, porque quem procede com violência e desrespeito pelos mais legítimos e legais direitos dos outros, não poderá ser considerado capaz, competente, credível e suficientemente educado para gerir o que quer que seja, e muito menos para desenvolver e consolidar um relacionamento interpessoal verdadeiramente compatível com o cargo e com a dignidade dos governados.
De resto, até se pode partir da vida não política de cada pessoa, e tentar confirmar como ela se comporta: na família, com os amigos, colegas de trabalho, no associativismo, na sociedade em geral, porque lá diz o ditado: “Quem não é na vida privada, também não o vai ser na vida pública”, isto é: conforme uma pessoa se comporta, em regra, numa determinada situação, poderá ter idênticas atitudes noutros contextos, por isso é preciso distinguir muito bem: o “trigo do joio”; a lealdade da traição; o trabalho do ócio; a boa educação/formação das arrogâncias e fanfarronices populistas.
Igualmente é muito importante que ao formar-se uma equipa, com o seu líder à cabeça, se analise muito bem os perfis individuais, as capacidades de cada elemento, o seu histórico ético-moral, sócio-profissional, cívico-axiológico, teórico-prático, porque tais cuidados na seleção resultam, mais tarde, na credibilização da atividade política, e dos respetivos integrantes dessa equipa, para além de uma garantia prévia de que, independentemente dos resultados, dessa equipa ficar no poder ou na oposição, seguramente, dela se pode esperar um trabalho profícuo, competente e sério.
As campanhas eleitorais servem não só para os candidatos apresentarem as suas ideias, projetos, recursos e objetivos a atingir, para o bem-comum, como também para o eleitorado ter tempo de analisar as propostas e os respetivos candidatos, não sendo necessário que estes optem por “esquemas censuráveis” impróprios para uma sociedade que se deseja pacífica e pacificada e, muito menos, que utilizem o ataque pessoal com atitudes atentatórias da dignidade, honra e bom nome dos adversários.
Independentemente da generosidade do povo, da sua tolerância e eventuais simpatias particulares, ou político-partidárias, os candidatos devem-se, reciprocamente, respeito, lealdade, solidariedade perante injustiças e calúnias vindas de outras pessoas e equipas.
Os candidatos têm a obrigação de ser o exemplo de como se deve exercer o poder, isto é: com educação, respeito firmeza, sentido social bem claro, tolerância e espírito de missão porque, a política é nobre quando é superior às atitudes e comportamentos mesquinhos e oportunistas. Em Política, tal como na vida, “Não Vale Tudo”.

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
 
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domingo, 11 de agosto de 2013

Gestão da Comunicação


Gerir a comunicação, competentemente, é uma tarefa de todos, nas suas relações interpessoais e inter-grupais e, mais exigentemente, naqueles que exercem atividades de alguma ascendência sobre todos os outros, sejam subordinados e/ou dependentes. Aqueles que têm a obrigação de comunicar correta e educadamente.
De uma gestão competente da comunicação, podem resultar situações favoráveis para as pessoas abrangidas pela comunicação, desenvolvida no seio de uma organização, qualquer que seja a sua natureza: política, religiosa, social, empresarial, pública ou privada, nacional ou internacional.
Gerir a comunicação é uma condição para o sucesso individual e coletivo, na perspectiva da obtenção de resultados que, na circunstância, equivale, também, a resolver problemas que afetam as pessoas, individualmente consideradas, e as próprias comunidades onde elas se inserem.
Um dos conceitos de gestão, retirado do contexto empresarial, leva à ideia, segundo a qual: «A gestão é um processo que visa obter resultados através de uma melhor utilização dos recursos humanos, financeiros e materiais à disposição da organização e de cada gestor. Por outro lado a gestão preconiza acrescentar valor a esses recursos, sendo que este valor acrescentado depende da competência e do compromisso das pessoas responsáveis pela gestão do negócio.» (ARMSTRONG, 2005:3)
Cada pessoa é gestora de si própria, de tudo quanto idealiza, planifica executa, valida pelos objetivos fixados e atingidos e, correlativamente, responsável pelos sucessos e pelos fracassos. Quanto melhor preparada a pessoa estiver, tanto mais  e excelentes serão as probabilidades de êxito.
Quanto melhor souber aplicar os seus conhecimentos, experiências e emoções, tanto melhor conseguirá integrar-se num determinado contexto sócio-cultural, politico-institucional e técnico-profissional.
Os princípios gerais que se aplicam à gestão empresarial, em geral, podem adaptar-se à gestão da comunicação, em particular. Saber gerir a comunicação, no tempo, no espaço e numa dada situação concreta é, de facto, uma ciência, muito importante nos dias conturbados que as sociedades atravessam e as pessoas sofrem, sem culpa, quantas vezes, sem saberem porquê.
Gerir a comunicação significa: utilizar bem os recursos linguísticos em ambientes de transparência recíproca, isto é: emissores e receptores da comunicação, devem utilizar os mesmos códigos, canais iguais, semânticas idênticas, em contextos reais de relacionamento interpessoal assertivo no ato comunicacional, para se chegar a resultados satisfatórios para os interlocutores.
Num tempo e num espaço que se desejam de profunda harmonia, compreensão, tolerância, solidariedade e paz, desenvolver estratégias que visem resultados do tipo “ganha/perde”, em que uma das partes ganha tudo e a outra perde tudo, poderá não ser a melhor gestão da comunicação, porque o adágio, segundo o qual: “Vencido mas não convencido”, a médio prazo, pode trazer retornos de consequências imprevisíveis.
Vencer o interlocutor com base em argumentos: falaciosos, porque falsificados; agressivos, porque intimidatórios; manipuladores, porque hipócritas; passivos, porque, comodamente, indiferentes e, aparentemente, inofensivos, vão criar novas situações, mais complexas, porque suscita a dúvida, a incerteza, a desconfiança e o sentimento de desforra.
Gerir a comunicação implica um discurso assertivo, um diálogo que conduz a reações positivas no sentido do respeito recíproco. A assertividade começa, portanto, em cada pessoa, por sua livre e intencional vontade: «Ser assertivo significa defender os nossos ideais. Terá que acreditar em si próprio e no que está a fazer, explicando as suas convicções de uma forma confiante e sem hesitações. Trata-se de recorrer à sua capacidade de persuasão.» (Ibid.:28).
Parte relevante da conflitualidade, hoje existente um pouco por todo o mundo, deve-se ao uso, e abuso, de uma comunicação agressiva, demagógica e descontextualizada. Entre outras situações possíveis de serem identificadas, quer ao nível particular, quer no domínio público, verifica-se, em certas atividades, objetivamente na política, que a comunicação pretende e, em muitos casos, consegue, influenciar os cidadãos para a tomada de posições num determinado sentido, favorável ao grupo e/ou candidato que usa a comunicação ambígua e desfasada das realidades: sócio-cultural, económica e profissional, em que é transmitida.
Resultados idênticos acontecem quando a comunicação e o relacionamento interpessoal, deles resultantes, assumem aspectos conflituosos, no sentido mais negativo do termo conflito, dando origem a desentendimentos, a maior confusão e ao sentimento de vingança.
O conflito civilizado é necessário quando ajuda a esclarecer, quando encontra soluções favoráveis ao todo, no respeito pelas diversas partes. A comunicação conflituosa, desde que assertiva, constitui um caminho possível, quando ela resulta, apenas, de pontos de vista divergentes que urge aproximar de uma nova posição consensual, entre as partes em desacordo, o que se consegue democrática, tolerante e compreensivamente.
O princípio da comunicação esclarecedora, formativa, pedagógica e inclusiva dos pontos de vistas consensuais, dos diversos interlocutores, constitui um bom método para a resolução de conflitos, para solucionar problemas que, inicialmente, se apresentavam insolúveis, bem como para obtenção de resultados que favorecem a compreensão e o respeito entre os cidadãos, os quais têm que ser competentes, no relacionamento interpessoal, através da comunicação verbal e não-verbal, para que o resultado final “ganha/ganha” seja alcançado.
Também aqui se exige competência no Saber-ser e no Saber-estar, simultaneamente com este Saber-fazer a comunicação, justamente, no respeito pelas regras que estabelecem o uso da língua, que orientam para os valores essenciais da sociedade democrática, solidária e culta, entendendo-se aqui a cultura no seu sentido antropológico, no respeito pela diversidade das demais culturas.
Nenhuma cultura superior; nenhuma cultura inferior, mas, todas diferentes, todas enriquecedoras e complementares para a formação cívica do cidadão, deste novo e fascinante mundo em que a humanidade vive. Neste sentido também se pode gerir a comunicação e considera-se uma boa gestão quando estes resultados são expressos pelos valores que se acabam de enunciar.
Seria, pelo menos a curto prazo, utópico desejar-se uma comunicação universal consensual. Cada pessoa é um mundo diferente, com valores, princípios, sentimentos, emoções, aspirações e possibilidades diversas, para atingir objetivos idealizados. Obviamente que é manifesta a impossibilidade de conciliar os objectivos individuais e convertê-los em projetos universais, com resultados iguais para todos.
A harmonização da comunicação é, também ela, uma dificuldade praticamente insuperável, mas possível de, minimamente, se compatibilizar com os superiores desígnios universais, ao nível dos grandes grupos nacionais, no contexto das respetivas nações.
A condução deste processo é da responsabilidade de todos os agentes envolvidos: o indivíduo, as instituições e seus sistemas; os responsáveis políticos, religiosos, financeiros, cientistas, técnicos e a comunidade internacional, congregada na sua organização máxima que é a ONU – Organização das Nações Unidas, através dos diferentes Departamentos especializados para as diversas situações.

Bibliografia:

ARMSTRONG, Michael, (2005). Como Ser Ainda Melhor Gestor. Trad. Geraldine Correia e Raquel Santos. Lisboa: Edição Actual Editora
 
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo 

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domingo, 4 de agosto de 2013

Escutar, também é Amar


O relacionamento humano, verdadeiramente sentido, assente em princípios, valores, sentimentos e emoções, é tanto mais profícuo quanto melhor se desenvolver o contacto com quem se deseja conviver, precisamente, a partir de atitudes de respeito, amabilidade, generosidade e atenção máxima, prestada à pessoa que pretendemos para o nosso convívio, de acordo com o contexto em que a relação se desenvolve, sendo certo que a escuta ativa, interessada e reciprocamente partilhada, será sempre um bom começo de conversa e relacionamento duradouro.
É verdade que a consideração e a estima por alguém, com quem se ambiciona iniciar, desenvolver e consolidar uma relação leal, ou manter uma já existente, revelam respeito e também carinho, o que facilita o aprofundamento de uma saudável cumplicidade que, balizada naqueles e noutros valores, manter-se-á, praticamente, indestrutível.
É muito importante dar-se a oportunidade para que alguém possa confiar em nós, demonstrar que somos sóbrios, rigorosos e credíveis, o que se consegue através de uma postura de total entrega, de compreensão e de sigilo de tudo quanto nos é confiado. São uma ética e uma deontologia da amizade.
Sabendo-se que é cada vez mais difícil, conquistar-se e garantir uma amizade sincera, e que depois de a conseguir as manifestações de reconhecimento, de gratidão e dádiva devem ser permanentes, isso implica, de facto, estar-se disponível para prestar todo o apoio, de qualquer natureza, revelar por pensamentos e ações preocupações pelo bem-estar da pessoa com quem desejamos uma relação de convivência, a todos os níveis.
Acredita-se que é possível construir uma relação que conduza a um elevado nível de colaboração, a uma amizade de tal forma intensa que, cada vez mais, as pessoas, assim envolvidas, revelem o seu amor, também através da escuta atenta e carinhosa, porque: «Escutar é uma forma de amar. É um modo de mostrar ao outro que o que ele diz tem valor, que aquilo que comunica não cai no saco vazio, que tem interesse. (…) Quem ama está, em última análise, disposto a escutar o seu par, os seus filhos, os seus amigos e os seus concidadãos. (…) Amar é render-se completamente ao outro, comprometer-se a ajudá-lo, a fazê-lo crescer, e potenciá-lo em todos os sentidos. Amar é cultivar o bem do outro.» (TORRALBA, 2010:143).
Quem não gosta de ser escutado, com respeito, com atenção, com bondade, com paciência e compreensão? Quem não gosta de confidenciar seus problemas, aspirações, sentimentos, alegrias, tristezas, dor e sofrimento, a uma pessoa em quem possa confiar plenamente, que sabemos ser nossa amiga verdadeira? Quem não gosta de enviar/receber uma palavra de conforto, de estímulo, de gratidão, um conselho sincero, um gesto de carinho, uma promessa de ajuda efetiva, um ombro amigo, no qual se possa descansar com segurança?
Onde está a pessoa que, amavelmente, esteja disponível para nos escutar e orientar, quando estamos desalentados, quando somos rejeitados, discriminados, humilhados nos nossos mais nobres e límpidos sentimentos para com outra pessoa que até a tínhamos por nossa amiga?
Pensa-se que o diálogo aberto, sem complexos nem inibições, sem reservas, com aquelas pessoas que ao longo do tempo se mostraram credíveis e confiáveis, será o caminho a seguir para que exista um relacionamento interpessoal sério e frutuoso.
O melhor diálogo, sem dúvida alguma é a escuta ativa e alternada, porque em bom rigor: «Encontrar uma pessoa que sabe escutar as outras é algo maravilhoso. Sem percebermos exatamente a razão, desejamos estar com ela todo o tempo possível. Agrada-nos poder explicar calmamente o que temos no coração, previamente seguros do silêncio e da confiança do outro. É uma felicidade quando somos escutados com atenção, sem azedume nem vontade fiscalizadora.» (Ibid.:11).
Quantos problemas não se resolvem, quantos conflitos deflagram, quantos mal-entendidos se criam e quantas represálias, difamações, ódios, vinganças se desenvolvem, por não sabermos escutar quem deseja conversar connosco, desabafar uma situação incómoda, confidenciar um segredo, pedir um conselho mais íntimo, receber uma palavra de ânimo, perante uma situação de infortúnio, de doença, de infelicidade?
Quantos alegados diálogos se iniciam e, logo de seguida, se interrompem ou terminam, precisamente, porque toda a gente quer falar ao mesmo tempo, colocar as suas ideias em prática, considerando-as melhor do que as dos outros e, ainda, porque, frequentemente, não existe a humildade e o bom-senso de escutar primeiro os outros.
Há uma tendência muito negativa para ostentarmos as nossas pseudo-verdades, para exibirmos os nossos dotes, quantas vezes de pura “vaidade narcisista e balofa” de, a todo o custo, impormos, até com alguma arrogância, os nossos “superiores e atualizados” conhecimentos e não concedemos espaço e tempo para que os nossos semelhantes tenham a oportunidade de divulgar os seus pontos de vista.
Esta terrível tentação, de tudo querermos dizer, como se só nós fossemos importantes, e tivéssemos as ideias e realizações mais brilhantes do mundo, os maiores e inigualáveis sucessos, revela, afinal, uma total falta de respeito pelos outros, uma inaceitável falta de consideração e de estima, no limite, manifesta não ter qualquer tipo de amizade ou mesmo alguma condescendência pelo direito à palavra, que toda a pessoa tem.
Por razões diversas, certamente justificáveis e verdadeiras, acontece, designadamente, numa situação que já se tornou recorrente em muita boa gente, e que também revela inqualificável desconsideração, quando, por exemplo, uma pessoa está a conversar com outra e surge uma terceira a interromper, cortando, abruptamente, raciocínios, conclusões e decisões, que seria possível extrair de uma conversa.
O que é correto, até em termos de boa educação, é saber esperar que lhe seja dada a palavra e, até que esse momento chegue, depois de pedir licença para permanecer e ouvir a conversa em curso, assumir uma postura de escuta atenta e ativa, no sentido de, quando se proporcionar, emitir o seu parecer, dar a sua sugestão, enfim, participar responsavelmente, na discussão do tema, porque saber escutar é o melhor diálogo que se pode desenvolver entre pessoas que se querem muito bem, que se respeitam e que se amam, aqui no contexto de um bem definido amor, por exemplo, de um “Amor-de-Amigo”.
A escuta serena, atenta, participativa e leal, seguramente, também conduz à felicidade dos conversadores. Na verdade, saber escutar similarmente é um gesto de humildade, esta, aqui e agora, considerada como: «Uma atitude essencialmente voltada para os outros e para o seu bem-estar. (…). Paradoxalmente, a humildade favorece a força de carácter: o humilde toma as suas decisões consoante o que acha ser justo e assim se mantém, sem se inquietar com a sua imagem ou opinião de outrem.» (RICARD, 2005:169).
Saber escutar é, portanto, um exercício difícil, talvez uma das virtudes mais complexas de se compreender e aplicar na vida prática, mas o certo é que, normalmente, um bom relacionamento, entre duas ou mais pessoas, tem sempre subjacente um comportamento de escuta humilde, interessada, carinhosa e estimulante para quem tem a necessidade de ser escutado. Consiste na predisposição de ajudar, porque só escutando, com magnanimidade e compreensão, é que se pode interiorizar e entender o que nos está a ser relatado.
Escutar não significa estar indefinidamente calado, durante todo o tempo em que alguém fala para nós, pelo contrário, revela empenhamento da nossa parte para assimilar, corretamente, uma situação, uma informação, uma confidência, e só depois estaremos capacitados para emitirmos uma opinião, darmos um conselho, ajudarmos quem em nós confiou.
Tudo isto é amor, se preferirmos, um amor muito singular, de verdadeiros amigos, porque a amizade sincera não tem parentesco, ela gera-se, desenvolve-se e consolida-se (ou não) entre as pessoas que, quantas vezes, nem sequer se conheciam e que a partir de determinadas situações passam a ser amigas inseparáveis, em que se juram fiéis amigas para toda a vida.
Aceita-se, sem quaisquer complexos, que se confia muito mais rápida e duradouramente numa pessoa que revela por nós consideração e estima, que aprecia a escuta atentamente as nossas conversas, do que uma outra pessoa, extremamente prolixa que, como se costuma dizer: “fala pelos cotovelos”, que fala por ela e pelos outros, porém, quase sempre, utilizando o auto-elogio, a incessantemente procurada notoriedade, protagonismo, porque o seu ego, a sua vaidade, não têm limites.
Tais pessoas, de facto, não sabem, não querem e tudo fazem para não escutarem os outros, porque os problemas destes, para elas, nada significam, por muito dramáticos que sejam, aliás, provavelmente, nem lhes convém escutar, porque assim pensam que se esquivam a dar a sua ajuda, se lhes for solicitada.
Decididamente, estas pessoas, que sempre querem dominar tudo e todas as conversas, muito dificilmente virão a ser amigas verdadeiras de quem quer que seja, manifestar sentimentos de amor para com o próximo, possivelmente, não os terão, porque saber escutar é amar verdadeiramente a pessoa que escutamos.
Hoje, a preocupação é “parecer”, se possível, “parecer importante”, insubstituível, inimitável. Vive-se muito em função de aparências e para darmos suporte a este tipo de “estratégias” e/ou mentalidades, monopolizamos as pessoas, seja por algum poder ou ascendente que temos sobre elas, seja pela palavra, utilizando, quase sempre, o pronome pessoal “eu”, mesmo quando se faz parte de uma equipa.
Hoje, as pessoas não são ignorantes e apercebem-se muito bem de certas situações, no decorrer de uma simples conversa, fica-se com uma ideia de quem está a conversar connosco, porque se a pessoa nos escuta mais do que fala, mas com oportunidade, respeito, bom-senso e sobriedade, acompanha a conversa e, sem ênfases fingidos, emite as suas opiniões, então é provável que estejamos perante uma pessoa que sabe conversar e, se assim acontece, essa pessoa manifesta por nós os valores da consideração, da estima e da interiorização dos assuntos que se vão abordando.
E se a escuta atenta, ativa, interveniente, parte de um nosso verdadeiro amigo, então poder-se-á afirmar que esse amigo gosta mesmo de nós, que ele nos quer muito bem, que aprecia a nossa companhia, que nele podemos confiar, obviamente, depois dos sinais que ele nos vai dando sobre a sua integridade.

Bibliografia.

RICARD, Matthieu, (2005). Em Defesa da Felicidade. Trad. Ana Moura. Cascais: Editora Pergaminho, Ldª.
TORRALBA, Francesc, (2010). A Arte de Saber Escutar. Trad. António Manuel Venda. Lisboa: Guerra e Paz, Editores S.A. 
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
 
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