domingo, 24 de novembro de 2013

Caráter Nobre: Simplicidade. Humildade


As pessoas verdadeiramente humanas, educadas e formadas nos valores fundamentais, que a caraterizam como um ser superior, portanto, acima das minudências mesquinhas da vida egocêntrica, por vezes, excessivamente materialista e, aparentemente, alheia às preocupações e dificuldades da família e dos amigos, certamente que se revelam pelos seus gestos, palavras, atitudes, e comportamentos simples, como sendo, afinal, próprios de caráteres bem-formados, generosos, tolerantes e magnânimos.
De facto: é nas muitas e pequenas coisas da vida quotidiana que melhor se compreende a estrutura ético-moral e psicossocial de uma pessoa; não tanto nas grandes e várias intervenções, esporádicas, por vezes, muito bem elaboradas, calculadas no tempo, no espaço e nas circunstâncias mais propícias à admiração, ao elogio, à tentativa de rotulagem altruísta, que alimentam o ego, a vaidade e a ideia de importância, no seio de um determinado grupo societário.
Naturalmente que são muito importantes e, em algumas situações, a prática de atos verdadeiramente corajosos, altruístas, benevolentes, inimitáveis, e que as pessoas que os praticam com honestidade intelectual e ético-moral, despojadas de quaisquer interesses materiais, que ocorrem e se destinam, exclusivamente, a um bem-comum, ou mesmo particular, no sentido de proporcionar uma situação melhor, à que vigorava antes de tal ato, então, nestas circunstâncias, o correspondente comportamento é louvável e deve ser objeto da mais elevada consideração, estima e até amizade para com a pessoa que assim procede.
Certamente que também se conhece, por outro lado, que há pessoas que, ao longo da sua vida, no seu dia-a-dia, praticam atos, proferem palavras, assumem atitudes que, passando, inclusivamente, despercebidas aos olhos da maioria, por serem simples, humildes e discretas, que pouca importância se lhes atribui, porém, revelam, inequivocamente, o bom caráter destas pessoas, a sua apreciação, afeição e, eventualmente, amizade e respeito pelos seus semelhantes.
No decurso da vida exercem-se múltiplas funções, envolvemo-nos em diferentes relacionamentos, convivemos em diversos contextos e, em todas as situações, temos sempre a oportunidade de sermos verdadeiros, genuínos e simples, aplicarmos com sinceridade os nossos valores e sentimentos, deixarmos as nossas emoções fluir, sem complexos. Tudo isto é possível, e quanto mais caminhamos pela “estrada da vida”, e nos aproximamos do seu fim, mais vulneráveis ficamos, porque a sensibilidade como que se refina, na aprendizagem que vamos adquirindo na Universidade da Vida.
Com efeito: «A escola da vida é que nos está dando oportunidade de aprendermos a nos tornarmos melhores pessoas, mais sábias, inteligentes, menos carentes, mais autênticas e maduras. Estamos procurando ter mais consideração, dignidade, honra, respeito e liberdade. E aplicá-los na prática com sabedoria, seja na família, na sociedade ou no mundo corporativo.» (CARVALHO, 2007:13).
Como é bom recebermos a: atenção, consideração, estima e carinho de pessoas simples, que têm atitudes nobres, com autêntica humildade, em que um sorriso e um brilho nos olhos, nos transmitem sentimentos de verdadeira amizade, de grande simpatia; como é bom termos essas pessoas, incondicionalmente, do nosso lado, solidárias e leais, que nos protegem, nos apoiam em pequenos e grandes projetos que, generosamente, nos compreendem e toleram, sempre com imensa ternura e afabilidade; como é importante sabermos preservar, com afeição, cumplicidade, confiança e gratidão, estas pessoas que revelam por nós um verdadeiro “Amor-de-Amigo”, sem reservas nem suspeições.
Que bom que é usufruirmos de uma relação de profunda afeição com estas pessoas simples, tímidas, mas com um caráter magnânimo. Todos caminhamos pela “linha irreversível da vida”, e a maior gratificação que se pode obter é, sem dúvida alguma, sabermos que não estamos sós.
Tudo indica que: «Com a idade, poderá encontrar-se rodeado de amigos e pessoas que se preocupam genuinamente consigo, que proporcionam toda a segurança que resulta de ser amado e tratado com dignidade e respeito. Esses amigos, essas pessoas, tornam-se então a sua verdadeira família. Essas pessoas também podem partilhar os seus valores espirituais.» (BRIAN, 2000:103).
A simplicidade comportamental implica uma grande complexidade nos relacionamentos, na medida em que postula a recusa de princípios, valores, sentimentos e emoções inverdadeiros. Sabe-se que a autenticidade das nossas palavras, atos e atitudes têm de garantir previsibilidade, confiança e seriedade.
Talvez devido a uma tal dificuldade é que muitas pessoas se revelam extremamente flexíveis que: tanto afirmam estar do lado de uma pessoa e situação; como, quase em simultâneo, demonstram, exatamente o contrário. Nestas circunstâncias é muito difícil confiar em tais pessoas, e só uma grande amizade pode atenuar a incerteza, como igualmente é muito problemático deixarmo-nos apossar por valores e sentimentos que, mais tarde, nos fazem sofrer, apanhar desgostos, eventualmente, para o resto da vida.
Haverá pessoas que pela sua simplicidade, humildade, generosidade, sinceridade, respeito e vergonha, que são verdadeiramente amigas, manifestam sempre, através de “pequenas-grandes” coisas, que são genuinamente confiáveis, em quem podemos acreditar, ter a certeza que nunca nos vão enganar, que não nos vão magoar, defraudar, no limite, desprezar.
São estas pessoas simples, a tocar as fronteiras da ingenuidade, da pureza e da virtude que nos garantem estabilidade relacional, nos entusiasmam, nos incentivam e nos defendem em todas as situações. São elas que nos respeitam, a nós, aos nossos familiares e amigos. São estas pessoas que nunca se aproveitam das nossas fragilidades, desorientação e infortúnios da vida. São estas pessoas que tudo fazem pelo nosso sucesso e felicidade: familiar, profissional e social. São estas pessoas as nossas verdadeiras amigas.
Pessoas humanas simples, descomplexadas nos seus princípios, valores, sentimentos e emoções, profundamente preocupadas com o nosso bem-estar, que se revelam, diariamente, possuidoras de um espírito virtuoso, sempre disponíveis para nos escutar, aconselhar, orientar. A pessoa simples, facilmente se torna amiga, porque nela, praticamente, tudo é puro, não há intenções inconfessáveis, porque ela sabe e deseja partilhar as suas ansiedades, desejos, projetos, sucessos e fracassos. Ela quer estar inequivocamente do nosso lado.
São estas pessoas simples, que por vezes se tornam nossas verdadeiras amigas, e que até podem ser ignorantes, na perspetiva das pessoas complexas, difíceis, calculistas e intelectualmente desonestas. Claro que: «Existem pessoas que não sabem ficar sozinhas, que precisam de alguém com quem interagir. Basta um ouvidor: elas mesmas perguntam e respondem, têm revelações sem que o outro explicitamente tome parte – a propósito, essa é a função do amigo.» (NAVARRO, 2002:81).
A sociedade vive dias conturbados (2013). As relações interpessoais, familiares, institucionais e sociais nem sempre decorrem com: harmonia, respeito e dignidade. Em vez de se simplificarem as atitudes e os comportamentos, parece que até há uma preocupação e um grande prazer em se dificultar a vida às pessoas, eventualmente, com objetivos de notoriedade, a qualquer título, e daqui resultar alguma influência em proveito próprio.
Os comportamentos “sofisticados” “afetados” ou demasiado liberais, aqui no sentido da aparente boa convivência com “gregos e troianos”, sabendo-se que se forem autenticamente imparciais, justos e assertivos, não existem condições para uma tal “polivalência relacional”.
De resto, as pessoas envolvidas em certas atividades, conseguem um tal “equilíbrio” que não corresponde à sinceridade, lealdade, amizade e solidariedade, revelando assim um caráter do qual teremos de nos dissociar, sob pena de perdermos a nossa credibilidade, dignidade e respeito por nós mesmos.
Quando se abordam a simplicidade, humildade e lealdade das pessoas, tal não significa que nos estejamos a referir a um qualquer estatuto, mais ou menos importante e influente. Não estamos a privilegiar a: sabedoria e/ou a ignorância; riqueza e/ou pobreza; letrado e/ou inculto, aqui na perspetiva elitista, porque, antropologicamente, todos temos uma cultura e nela somos cultos.
É, facilmente, demonstrável que existem pessoas simples, modestas, humildes e leais em todos os: estratos da sociedade, classes sócio-profissionais, escalões etários, gerações, dimensões político-económicas, ético-morais e religiosas. Por isso não se pode estigmatizar as pessoas, porque são difíceis, complexas e calculistas, por causa de um qualquer estatuto, conhecimento, experiências, na medida em que o contrário também será possível.
O que aqui importa é enfatizar a atitude simples, a palavra, o gesto, o comportamento habitual, que assentam, essencialmente, nos valores caraterísticos da naturalidade, como: a humildade, a modéstia, a sinceridade, a assertividade e também em intervenções que, normalmente, revelam timidez, uma respeitável vergonha na exposição, no exibicionismo, ou seja: pessoas que são, por natureza, recatadas, algo austeras e disciplinadas.
Viver a vida com simplicidade ajuda à harmonia, à alegria, ao entusiasmo, à generosidade. Simplificar o discurso oral e escrito, a intervenção social, política, profissional, religiosa e empresarial, é um caminho possível para se: melhorar as relações interpessoais; exercerem, eficazmente, os mais nobres e positivos valores, numa cultura universal para a: paz, bem-comum e felicidade dos povos e das nações.
Simplicidade combina com humildade. Daqui pode-se inferir que: «A humildade favorece a força de carácter: o humilde toma as suas decisões consoante o que achar ser justo e assim se mantém. Sem se inquietar com a sua imagem ou a opinião de outrem. (…) Exteriormente é meigo.» (RICARD, 2005:169).

Bibliografia

BRIAN L. Weiss, M.D. (2000). A Divina Sabedoria dos Mestres. Um Guia para a Felicidade, alegria e Paz Interior. Trad. António Reca de Sousa. Cascais: Pergaminho.
CARVALHO, Maria do Carmo Nacif de, (2007). Gestão de Pessoas. 2ª Reimpressão. Rio de Janeiro: SENAC Nacional.
NAVARRO, Leila, (2000). Talento para Ser Feliz. 10ª Edição. S. Paulo: Editora Gente. Direitos Cedidos para Edição portuguesa à Editora Pergaminho, Ldª., 1ª Edição. Cascais, 2002
RICARD, Matthieu, (2005). Em Defesa da Felicidade. Trad. Ana Moura. Cascais: Editora Pergaminho, Ldª. 

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

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domingo, 17 de novembro de 2013

Confiança. Segurança. Felicidade


A infelicidade humana será um estado de espírito que, em última análise, afeta, gravemente, a produtividade de quem sofre deste mal e reflete-se, certamente, na competitividade das instituições empresarias, públicas e privadas, nas associações de vária natureza e fins, porque a motivação para o trabalho profissional e para a intervenção cívica, praticamente, desaparecem. As pessoas perdem a Confiança nos seus dirigentes, em si próprias e no futuro.
Com efeito: «A Confiança é reconhecida como um fenómeno emocional que predispõe as pessoas a se entregar e se abrir para trocas, o que fomenta a cooperação e a transferência do saber, encoraja-as a dizer o que pensam e experimentar sem medo de ser punidas, o que favorece a inovação; derruba barreiras defensivas e colabora com o fluir da organização. Ela pode ser a chave para navegar através da complexidade e incerteza de novos cenários organizacionais.» (NAVARRO & GASALLA, 2007:67).
Admite-se que a pessoa confiante, nas suas capacidades, nos seus projetos, nos seus princípios, valores e sentimentos, tem mais possibilidade de sucesso e, correlativamente, ainda que numa atitude relativamente materialista, ser mais feliz, porque de contrário, se pensar que é infeliz, perde a Confiança e isso pode provocar consequências negativas para as organizações, tais como: «Apatia e desinteresse; alto nível de absentismo; aumento do número de acidentes; pouca integração e cooperação entre áreas e pessoas; aumento da resistência às mudanças; pouca lealdade para com a chefia e empresa; imagem negativa interna e externa.» (RESENDE, 2000:133).
A pessoa verdadeiramente humana torna-se tanto mais confiante quanto mais Segurança sente nas diversas dimensões da sua vida: pessoal, familiar, profissional, associativa, social e axiológica. É claro que Confiança gera Segurança e Felicidade, mas para que tal aconteça é importante o domínio, mais ou menos profundo, de conhecimentos e possuir experiência de vida, através do estudo, do trabalho e da formação ao longo de toda a existência.
Em boa hora foi decidido, por exemplo, incorporar no Código do Trabalho Português a obrigatoriedade de formação profissional que estabelece: «No âmbito da formação contínua, o empregador deve: Promover o desenvolvimento e a adequação da qualificação do trabalhador, tendo em vista melhorar a sua empregabilidade e aumentar a produtividade e a competitividade da empresa; (…) O trabalhador tem direito, em cada ano, a um número mínimo de trinta e cinco horas de formação contínua, ou sendo contratado a termo por um período igual ou superior a três meses, um número mínimo de horas proporcional à duração do contrato nesse ano.» (Código do Trabalho, Artº 131º, in CUNHA, et. al., 2010:390-391).
As três vertentes humanas, em título: Confiança. Segurança. Felicidade, que também se podem equiparar a um estado de espírito, muito propício ao sucesso, não sendo as únicas, constituem um bom princípio para ter uma vida excelente que, por sua vez, abre portas para novas e melhores oportunidades, nos vários contextos em que a pessoa está envolvida na sociedade. Aqui chegada, toda a pessoa tem fortes possibilidades de assumir cargos mais importantes, com mais responsabilidades, mas também com estatuto sócio-profissional e remuneratório muito mais aliciante.
Numa linha de ascensão profissional é desejado, pela maior parte dos trabalhadores, atingir a categoria máxima possível, dentro da organização, designadamente a de líder, responsável por um determinado departamento, chefiando a/s respetiva/s equipa/s de trabalho. Ora, um primeiro passo para ganhar a Confiança dos seus superiores, colegas e subordinados é ter humildade.
Pode-se aceitar que a Humildade é uma: «Atitude associada à competência cumplicidade. Infelizmente, é muito comum encontrar profissionais pouco maduros, que relacionam humildade com debilidade, quando na verdade a humildade tem mais a ver com fortaleza de caráter. Numa organização a atitude de humildade implica assumir os próprios erros, reconhecer dificuldades e compartilhar sentimentos.» (NAVARRO & GASALLA, 2007:79).
Acredita-se que a Humildade fortalece a Confiança, a Segurança e a Felicidade, porque ela implica uma exposição reveladora de uma auto-avaliação que transmite aos colaboradores a falibilidade da pessoa e dos sistemas e, portanto, ninguém é perfeito, absoluto e insubstituível, bem pelo contrário.
Com esta atitude de humildade, que se pretende verdadeira (o excesso de humildade pode assemelhar-se à vaidade encapuzada), fica-se mais próximo da sociedade complexa onde os erros humanos grassam nas pessoas e nas instituições porém, nem sempre assumidos por quem os pratica.
Confiança e Segurança são duas poderosas alavancas para um progresso sustentável: quer na vida pessoal, familiar social e profissional; quer noutros domínios da intervenção humana na sociedade, designadamente na política e na religião, mas é preciso demonstrar, não só pela retórica mas, principalmente, pela práxis, de que estamos confiantes e seguros para assumir determinadas responsabilidades.
Tem-se por adquirido que: «Um dos principais desejos das pessoas no trabalho é poder mostrar seus conhecimentos, aptidões, habilidades e competências ainda que nem sempre saibam manifestar isto, clara e completamente para suas chefias e lideranças. Estas, por sua vez, não possuem o preparo necessário para lidar de forma mais ampla e eficaz com aptidões, habilidades e competências dos seus comandados. A consequência inevitável disto é que as pessoas se sentirão frustradas e nunca – se a situação não mudar – estarão plenamente satisfeitas em relação à execução das suas tarefas.» (RESENDE, 2000:136).
E se a Confiança e Segurança se vão adquirindo ao longo da vida, pelo estudo, trabalho e experiência, também é verdade que a sociedade, as organizações e as pessoas, estas individualmente consideradas, nos possibilitem as oportunidades para demonstrarmos do que somos capazes, porque de contrário nunca sairemos do “anonimato”, ou seja: terá sempre de haver uma primeira vez, a partir da qual, e caso a nossa intervenção seja positiva, iniciarmos, com Confiança e Segurança, novas atividades.
A autoconfiança, a autossegurança e a Felicidade social conquistam-se paulatinamente, testam-se frequentemente e acabam por ser reconhecidas pela sociedade, todavia, é muito perigoso qualquer excesso daquelas atitudes, porque pode conduzir à exacerbação da própria auto-estima, manifestada em egocentrismo, narcisismo e vaidade despropositada que, por sua vez, levam, muitas vezes, à arrogância, ao orgulho e ambição desmedida, enfim, à prepotência e subjugação dos mais fracos.
Ao longo da vida podem demonstrar-se e exercer-se, honesta e solidariamente, várias atitudes, que geram Confiança, Segurança e Felicidade, não só em nós próprios como nas outras pessoas, e isso é muito importante e positivo, quaisquer que sejam as nossas atividades sociais, profissionais e cívicas.
A título de informação, invoque-se, por exemplo, a Generosidade. Na verdade: «A generosidade com as pessoas nos faz perceber as suas limitações, tolerar as suas dificuldades e ter paciência com o seu ritmo de crescimento; nos faz aceitar o outro como legítimo outro, o que é uma forma de amor. Se queremos receber algo do próximo, devemos primeiramente dar-lhe algo. É pena que tão frequentemente o orgulho e as razões do ego nos impeçam de fazê-lo.» (NAVARRO & GASALLA, 2007:79).
Efetivamente, ao sermos generosos, estamos a revelar ao nosso semelhante: que nos preocupamos com o seu bem-estar; que desejamos para ele uma vida melhor; que viveremos sempre do seu lado, nas mais difíceis circunstâncias da vida; que ele pode contar connosco, com os nossos valores e sentimentos; com as nossas virtudes e qualidades, mas também com os nossos defeitos, erros e imperfeições; que estamos disponíveis para suportar o infortúnio e partilhar a felicidade. A nossa generosidade não terá limites e este comportamento, seguramente, vai gerar Confiança, abertura, entrega e cooperação recíprocas.
Portanto, a Confiança, a Segurança e a Felicidade, constituem um primeiro tripé para o sucesso pessoal e, nesse sentido, é crucial abrirmo-nos aos outros, àqueles em quem realmente confiamos, que nós sabemos que têm igual comportamento connosco, porque a partilha de ideias, aspirações, desilusões, sofrimentos, desgostos, mas também de alegrias e felicidade, torna-nos mais fortes, mais motivados para concretizar projetos e dividir sucessos.
Realmente: «Se confiar é uma utopia, bendita seja. Por ela vale a pena fazer esforços e correr algum risco. A recompensa, afinal, é um mundo melhor. Mas, como qualquer outra coisa na vida, a confiança será um tema importante desde que cada um creia nisso. Eis o caminho: ir buscando e encontrando os benefícios que nos incentivam a confiar cada vez mais uns nos outros.» (Ibid.:114).
É claro, numa perspetiva cética ou, se se preferir, de grande prudência, admitir-se que há certos setores em que confiar nos outros é muito perigoso, e desde já talvez não seja pejorativo apontar o mundo dos negócios, a atividade política, o envolvimento em concursos com determinados objetivos: um emprego, uma adjudicação de um trabalho, eventualmente, pormenores da vida mais íntima, aqui no contexto de um relacionamento pessoal que, não sendo bem aceite pela sociedade será, porventura, do agrado e em consonância com valores, sentimentos e emoções muito profundos, entre duas pessoas.
No limite, é necessário analisar bem em quem podemos confiar, que tipo de assuntos, acontecimentos e projetos poderemos, realmente confessar, salvaguardando-se sempre a solidariedade, a amizade, a lealdade, a consideração e a gratidão para com as pessoas que já revelaram confiar em nós. Em relação a estas, será do mais elementar bom-senso e justa retribuição que a elas confiemos, igualmente, tudo o que nos faz bem partilhar, que ajuda a consolidar a nossa Confiança, Segurança e Felicidade.

Bibliografia

CUNHA, Miguel Pina, et al., (2010). Manual de Gestão de Pessoas e do Capital Humano. 2ª Edição. Lisboa: Edições Sílabo, Ldª.
NAVARRO, Leila e GASALLA, José Maria, (2007). Confiança. A Chave para o Sucesso Pessoal e Empresarial. Adaptação do Texto por Marisa Antunes. s.l., Tipografia Lousanense.
RESENDE, Enio, (2000). O Livro das Competências. Desenvolvimento das Competências: A melhor Auto-Ajuda para Pessoas, Organizações e Sociedade. Rio de Janeiro: Qualitymark. 

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

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domingo, 10 de novembro de 2013

Alavancas da Motivação


O mundo do trabalho encontra-se em profunda transformação, a vários títulos, com objetivos bem determinados e alterações significativas nos valores que são adotados pelas Instituições empregadoras. Tradicionalmente tem-se atribuído grande importância ao perfil intelectual e à formação académica a esta se associando o prestígio da Escola onde se obteve uma determinada formação.
Importante para a obtenção de trabalho/emprego era o Curriculum Vitae com referência às escolas de renome nacional e/ou internacional frequentadas, indicação de testes psicométricos com altas percentagens de QI (Quoeficiente de Inteligência).
Outra mudança de relevo, do paradigma até agora vigente, verifica-se no facto de em vez de se dar mais importância às características do cargo, ou do trabalho, passou-se a dar mais destaque às características das pessoas que fazem bem o trabalho. Nesse sentido: «Precisam estar atentos para esta nova realidade os profissionais que actuam em administração de recursos humanos, os gestores de pessoas (gerentes, chefes, supervisores) assim como quem orienta carreiras profissionais e ainda, e de modo especial, os próprios profissionais que cogitam de planejar ou rever suas carreiras.» (RESENDE, 2000:16).
Uma das principais teorias da motivação humana, elaborada por Abraham Maslow, é construída na lei da necessidade cujo percurso se pode indicar a partir das necessidades ou carências, ações, objectivo/satisfação das necessidades. As pessoas procuram, sempre que podem, satisfizer uma ou mais das necessidades fisiológicas, segurança, sociais, estima ou afeto e realização. Pelo atendimento às necessidades, as pessoas procuram conforto, manifestação dos seus anseios e sentimentos, progredir na vida, prosperidade, poder, sabedoria, paz e felicidade.
Quaisquer que sejam as atividades profissionais, as disciplinas que as estruturam, os meios que se utilizam e as técnicas implementadas, o objetivo fundamental é atingir-se um resultado, expresso numa quantidade, com qualidade e num contexto de crescente competitividade.
Hoje, tanto ou mais do que academismos, teorizações, ilustração, exige-se uma valência que vem aumentando de importância e se torna indispensável às organizações públicas e privadas, independentemente da área de intervenção e atividade desenvolvida sendo referida como requisito essencial, na maioria das ofertas de emprego: COMPETÊNCIA.
A necessidade, determinação, imposição ou urgência de se alcançarem objectivos: materiais, morais, políticos, religiosos, éticos e quaisquer outros, em todas as atividades, sugerem uma atitude cada vez mais pragmática, no sentido de se ser prático, concreto, determinado.
O avanço da ciência, da tecnologia e da globalização, que em muitos setores profissionais e no domínio da economia já se verificam, impõe comportamentos de rigor, de produtividade, de concorrência, de flexibilidade, de mobilidade, e, mais recentemente, de “flexigurança”. Para vencer este surto desenvolvimentista, pessoas, organizações e sistemas têm de ser competentes.
COMPETÊNCIA – Vários são os conceitos de competência como por exemplo: «Capacidade de quem é capaz de apreciar e resolver certo assunto, fazer determinada coisa»; «Atributos pessoais que distinguem pessoas de altas performances de outras, num mesmo trabalho»; «Pessoas competentes são aquelas que obtêm resultados no trabalho, nos empreendimentos, utilizando conhecimentos e habilidades adequados». Em síntese, pode-se aceitar uma conceptualização mais alargada e enriquecedora: «Competência é a transformação de conhecimentos, aptidões, habilidades, interesse, vontade, etc., em resultados práticos. Ter conhecimentos e experiencia e não saber aplicá-los em favor de um objectivo, de uma necessidade, de um compromisso, significa não ser competente, no sentido aqui destacado.» (Ibid.:30-32).
Na mudança de paradigmas em curso, verifica-se que o que ontem era verdade absoluta ou até dogmática, hoje pode não o ser, pelo menos com tanta certeza, ou convicção inabalável, em relação a algumas delas. Têm-se notado profundas e universais mudanças de paradigmas, em todos os domínios, da atividade humana e organizacional: a) fusão de empresas, antes rivais; b) unificação de países em grandes blocos económico-políticos; c) convivência de ideologias económicas opostas – socialismo-capitalismo; d) evolução do amadorismo para o profissionalismo; e) mudanças nas características e relações de trabalho.
Justifica-se, agora, a valorização da competência que terá profunda influência nos destinos das organizações, nas carreiras das pessoas e, neste contexto, o conceito paradigmático de competência assume uma nova dimensão e significado: a) a competência será mais prestigiada do que a erudição; b) a competência será o atributo mais importante das pessoas; c) as referências mais importantes para a remuneração ou promoção das pessoas nas organizações não serão mais tempo de casa (antiguidade) ou escolaridade, mas sim competências e habilidades; d) as expressões: competência emocional, competência espiritual e competência de cidadania, por exemplo, são novas formas de ver e conceituar estas maneiras de ser, manifestar e agir das pessoas, em quaisquer situações da vida em sociedade.
Evidentemente que a formação teórico-académica, ao mais alto nível, não pode ser descurada, bem pelo contrário, as habilitações académicas, a investigação e as tecnologias são imprescindíveis para melhor se estruturarem e aplicarem racional e eficazmente os conhecimentos, ajudar a criatividade e a inovação e rentabilizar os recursos disponíveis, respetivamente.
O que se pretende transmitir é a ideia de que, de ora em diante, ninguém pode viver o resto da vida rodeado pela auréola de um diploma, de um qualquer curso superior, sem se manter em permanente formação científica e técnica. Entre as diversas aspirações das pessoas, uma delas é dispor de oportunidades para crescer, desenvolver suas carreiras profissionais e por isso, de um modo muito especial, as pessoas querem saber como e o que precisam fazer para evoluir em suas carreiras.
Por outro lado, também se conhece que as organizações que têm feito um pouco mais e melhor, em favor do planeamento e administração de carreira, são as empresas mais evoluídas em gestão de recursos humanos, ainda que fiquem bastante aquém do que seria desejável, principalmente, porque: a) Teme-se as consequências salariais das carreiras; b) Políticas e critérios frágeis de promoção de pessoal; c) Excesso de paternalismo gerencial; d) Falta de instrumentos mais precisos para avaliação do potencial (competências e habilidades); e) Despreparo dos profissionais da área de Recursos Humanos nessa matéria.
Atualmente as pessoas passam entre oito a dez horas diárias no trabalho e, por essa razão, precisam se empenhar na busca da satisfação através das suas atividades profissionais. Indivíduos, profissionais e empresas precisam desenvolver condições e recursos para saberem identificar e ajustar suas competências às das atividades que desenvolvem, e assim garantirem o sucesso dos seus objectivos de vida e negócio.
Uma boa referência para orientar as pessoas a compatibilizarem os seus interesses e características pessoais às atividades profissionais e empreendimentos é a teoria de “Âncoras de Carreira”, acreditando-se que a maioria das pessoas se poderá enquadrar numa delas, e que, na medida do desenvolvimento do seu autoconceito ou autoconhecimento, elas poderão harmonizar melhor os seus talentos, motivos e valores. Consideram-se por isso as seguintes Âncoras de Carreira: 1. Segurança e estabilidade; 2. Autonomia e Independência; 3. Criatividade e capacidade empreendedora; 4. Competência técnica e profissional; 5. Aptidão ou habilidade administrativa.
Cada vez mais as novas organizações de trabalho nas empresas estão requerendo que as pessoas sejam multifuncionais ou polivalentes, que exerçam atividades com uma dimensão mais abrangente e com associação a diferentes especialidades: «O ser humano tem inato o potencial de ser versátil e adaptativo. Com treino e prática, não haverá dificuldade para ser mulfifuncional. Ainda que se possam estabelecer diferentes graus de polivalência. (…) Porém, mesmo sendo multi-especialistas ou multifuncionais, sempre haverá uma âncora principal que deve ser considerada para que as pessoas se realizem melhor e se satisfaçam mais no trabalho.» (Ibid.:118).

Bibliografia

RESENDE, Enio, (2000). O Livro das Competências. Desenvolvimento das Competências: A melhor Auto-Ajuda para Pessoas, Organizações e Sociedade. Rio de Janeiro: Qualitymark
 
 
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
 
 
Portugal: http://www.caminha2000.com (Link’s Cidadania e Tribuna)

domingo, 3 de novembro de 2013

Participação Cívica


Ao longo dos séculos, o ser humano sempre revelou a sua dimensão política e, integrado nos mais diversos regimes, vem desenvolvendo esta sua capacidade ao serviço do bem-comum, pelo menos este seria o objetivo, admitindo-se, contudo, que nem sempre será assim, porquanto, às vezes, outros interesses, marginais à nobreza da política, interferem de forma negativa, ou seja: em benefício do agente político e/ou dos seus grupos, logo, em prejuízo da população a quem se destina a atividade política.
De entre os muitos e relevantes valores que caraterizam a cidadania: tolerância, solidariedade, coragem, abertura, Lealdade, Verdade, a Participação é um dos que, para além do mais, implica o cumprimento de um dever, mas também o exercício de um direito, que é o de participar na vida pública, nas diversas instituições. É uma tarefa em que todos deveriam estar envolvidos, com dignidade, naturalmente, ao serviço dos restantes concidadãos, com o objetivo de contribuir para o bem-estar da população, independentemente de estatutos, ideais, convicções, etnias, credos e filosofias de vida.
Participar é, portanto, intervir ativamente nos contextos cívico-político, educativo-profissional, sociocultural, desportivo-recreativo, filantrópico-beneficente, económico-financeiro e tantos outros. Importa, nesta breve reflexão, abordar a participação na vida pública comunitária, a partir dos instrumentos político-legais que a democracia coloca ao serviço dos cidadãos, na circunstância, fazendo parte de listas partidárias ou de cidadãos independentes, quando a lei o permitir, para a eleição de um determinado cargo, num dos diversos órgãos do poder, seja este: central, regional ou local.
Pretende-se, aqui, definir uma lógica de algum profissionalismo na política, na medida em que parece necessário, e importante, que se adquiram diversos conhecimentos, sobre as funções para as quais o cidadão se submete a sufrágio, e também significativas regras ético-deontológicas, que são imprescindíveis: para se lidar com os cidadãos em geral; com os adversários políticos, também com os utentes do organismo para o qual a candidatura se destina e, ainda, para a credibilização da política e de alguns dos seus agentes diretos.
Pensa-se que a participação na atividade política, com o mero objetivo de alcançar o poder, e a partir daqui exercê-lo em proveito próprio, ou para desenvolver ações em ordem a tirar desforras, realizar perseguições, vinganças e levar os adversários à humilhação e subjugação, é uma postura condenável. Esta não é a participação que se deseja, pelo contrário, quem assim vier a proceder, deve refletir muito bem sobre as consequências que, certamente, resultam de uma conduta tão irracional, quanto incorreta, injusta e antidemocrática.
A participação política e a disputa eleitoral envolvem regras fundamentais que devem ser observadas, quer pelos agentes políticos, quer pelo eleitorado, de tal forma que, em pleno século XXI se torna inadmissível quaisquer estratégias de difamação, ataques pessoais, conivência com pessoas e/ou com grupos de maledicência contra os adversários, intromissão na vida privada dos concorrentes e todo um conjunto de “esquemas” antidemocráticos e de política “rasteira”. Trata-se, portanto, do recurso à desonestidade, à falsidade, ao “Vale Tudo”. 
Por outro lado, quem se propõe participar na vida política ativa, deve preparar-se muito bem, conhecer razoavelmente as instituições que pretende dirigir, que recursos ela possui: humanos, financeiros, técnicos; a situação económica, o historial, para que desta forma possa evitar fazer promessas que depois não consegue cumprir e desculpar-se com o “esfarrapado” argumento de que: “afinal a situação era diferente”.
O candidato que assim procede, desculpando-se com a situação que não conhecia e devia saber minimamente, portou-se incorretamente perante aqueles que nele acreditaram e, sendo assim, começa logo por revelar alguma incompetência e imaturidade, demagogia e irresponsabilidade, não vai ser compreendido. Pessoas desta natureza não interessam à boa governação e muito menos aos proveitos legais, legítimos e justos de um povo.
A participação ativa, competente, responsável, honesta e eficaz é desejável, a todos os níveis, sem dúvida. Nesse sentido poder-se-á afirmar que não será qualquer pessoa, por muito boa vontade que tenha, que reunirá condições satisfatórias para assumir com dignidade, credibilidade e transparência o exercício de um cargo público, porquanto, outros requisitos, aliás, já mencionados são, igualmente, importantes e decisivos para a boa gestão.
 É por isso que aqui se invoca, como boa-prática, que um candidato a um determinado cargo passe, primeiro, por outras tarefas, imediatamente inferiores àquela a que se está a candidatar e, se possível, no âmbito de um mesmo poder, por exemplo, o poder local, para o qual existem três eleições: Assembleia de Freguesia (de cuja lista vencedora, sai o Presidente da Junta de Freguesia); Assembleia Municipal e Câmara Municipal. Este poderia ser o percurso aconselhável, não, necessariamente, obrigatório.
Realmente, a experiência é importante, a idade também, todavia, não serão critérios exclusivos, nem eliminatórios, até porque, por vezes, muito traquejo num determinado cargo, poderá conduzir ao aparecimento de vícios em quem exerce um cargo público durante muitos anos: acomodação, estagnação, rotina, favorecimentos, influências, entre outros. O ideal seria sempre a conjugação da idade com a experiência; a inovação, a criatividade e o entusiasmo dos mais novos, até para: por um lado, não haver quebras de qualidade e eficiência na governação; por outro lado, colocar em prática novas ideias, projetos mais desafiadores e objetivos mais arrojados.
A participação na vida pública não pode, portanto, ser um ato isolado, de uma só pessoa, por muito inteligente, experiente e madura que ela possa ser. O envolvimento na vida política, através de equipas bem constituídas, que saibam trabalhar com objetivos, claramente definidos, aplicáveis e realizáveis no tempo e no espaço será, porventura, a melhor solução, a que servirá com mais sucesso os interesses de um povo, independentemente das ideologias que possa defender.
Claro que em qualquer equipa haverá um líder, que para o efeito terá de possuir caraterísticas muito especiais, qualidades acima da média, valores consentâneos com uma democracia participativa mas também com uma cultura, com usos, costumes e tradições, que devem ser apoiados e respeitados.
Caberá a este líder constituir a sua equipa e aqui destaca-se uma primeira qualidade, que deve possuir e exercer: escolher pessoas que pelo seu perfil possam dar credibilidade e segurança à equipa e transmitir uma ideia de confiança, competência, empenhamento e tolerância. Uma equipa de pessoas moderadas, educadas, consensuais, leais para com as restantes equipas, na circunstância, para com as oposições.
Depois, o líder deverá ser realmente democrático, despojando-se, liminarmente, de todo e qualquer preconceito negativo, resistir às tentações da repressão, da perseguição e da vingança contra os adversários, todavia, será legítimo e mesmo desejável que não ignore os seus apoiantes, vencedores e vencidos, porque foi somatório das partes que ele chegou ao poder, além de lhe terem sido solidários, terem “dado-a-cara” por ele e pelo seu projeto.
Deverá, igualmente, saber ouvir, compreender, admitir, aceitar, respeitosa e humildemente, a crítica, porque é fundamental que esteja disponível para resolver os problemas de quem lhos apresenta, independentemente de serem pessoas das suas simpatias político-partidárias, ou até de nele, presumivelmente, não terem votado, porque a partir do momento da eleição, aquele líder, se foi o vencedor, passa a ser o presidente de toda a comunidade eleitoral em que está integrado, no território que vai governar.
A cidadania enquanto: “Adaptação da consciência para o exercício de deveres e de direitos, em liberdade e com responsabilidade”, implica uma participação coerente com os valores da democracia e da dignidade humana. A cidadania não se exerce pela violência caluniosa, nem pelo escrutínio das vidas privadas dos adversários e das famílias. A Cidadania pratica-se pela participação ativa com ideias, projetos, crítica construtiva, no sentido do bem-comum.
Torna-se imprescindível que haja coerência,  e esta, em parte, resulta do caráter das pessoas, na circunstância, do líder e de toda a equipa que o acompanha. Será na coerência das ações que o líder melhor e mais seguramente se revela. É certo que a pessoa de caráter tem profundas preocupações éticas, morais, cívicas, democráticas, o que lhe permite granjear respeito, consideração e obediência, por partes dos seus concidadãos.
A participação cívica isenta, esclarecida e competente, proporciona a possibilidade de se atingirem objetivos realistas, gera uma adesão, praticamente, incondicional. As pessoas sentem-se confiantes e seguras e, ao mesmo tempo, empenhadas em colaborar com o líder. É sabido que: «Para obter o respeito que a liderança exige, necessita ter uma ética inquestionável. Um líder não só fica acima da linha entre o certo e o errado, como fica bem longe das áreas cinzentas.» (MAXWELL, 1999:5).
A vida contemporânea é muito exigente e, por vezes, para ultrapassar certas dificuldades, tenta-se “viver com todos”, o que implica que não se consegue ser, objetivamente, verdadeiro em muitas das situações e com todas as pessoas, porque cada uma tem as suas opiniões, diferentes e até antagónicas de outras posições, logo, é difícil concordar com todas elas.
 É muito complicada defesa do “sim” e do “não” o que leva à posição mais fácil e ambígua que é o “talvez, só que, mais tarde ou mais cedo, este tipo de cinzentismos, acaba por revelar o caráter da pessoa, que assim procede, que é do género: “Maria-vai-com-as-outras”; ou ficar, indefinidamente, no “meio da ponte e saltar, depois, para o lado do oportunismo que, nem sempre, é o mais seguro. Um líder com tais características está condenado ao fracasso, ao descrédito e ao desrespeito e revela o seu verdadeiro caráter.
Igualmente se aplica a quem se envolve na participação cívica. Os ideais de cada pessoa serão sempre o ponto de partida e de referência ao longo do processo interventivo. Os meios/recursos para se concretizarem os ideais podem variar, e desde que se utilizem com transparência, com retidão e eficácia, então todo o esforço de participação acabará por produzir bons resultados, os seus mentores e responsáveis saem do processo respeitados, credibilizados e apoiados sem reservas.
Todo o cidadão que tem um projeto para a sua comunidade, deve apresentá-lo às entidades que o podem ajudar, sem quaisquer preconceitos ideológicos, porque os superiores interesses da comunidade estão acima das querelas político-partidárias, sendo de louvar os esforços de quem assim procede.
Participação cívica é entrega a causas nobres, para solucionar problemas que afetam o bem-comum. Requer integridade, competência, disponibilidade, compreensão, tolerância, sinceridade, lealdade e coragem, para com todos os agentes intervenientes. A intervenção cívica com intuitos “revanchistas”, de “acertos de contas”, “vinganças” revela a formação ético-moral da pessoa que assim procede, e que, portanto, não interesse á comunidade.
A ação firme, justa e coerente revela o caráter das pessoas. O objetivo principal da participação cívica é conseguir melhorar o nível de vida das pessoas, sendo válidos todos os meios legais, legítimos e justos. Quem está disponível para participar num projeto de melhoria das condições de vida de uma população, não pode ficar preso a fundamentalismos e tem de procurar as melhores ofertas para realizar o seu projeto.
Tem de ser superior aos mesquinhos e, quantas vezes, invejosos comentários de quem nunca participou em nada. Tem de ser superior aos “profetas da desgraça”, aos “velhos do Restelo”. A crítica construtiva é que importa a uma boa Participação Cívica, tudo o resto não passa de obstrução de quem defende o princípio de “quanto pior, melhor”.
A política através da participação cívica ativa, competente, determinada e solidária, é tanto mais sublime, quanto melhor atinge objetivos de resolução dos problemas de quem mais precisa em particular, as pessoas mais fragilizadas pela vida e pela sociedade: as crianças, os jovens, os desempregados, os idosos, os excluídos de qualquer situação, dever ou direito. 

Bibliografia

MAXWELL, John C., (1999). As 21 Indispensáveis Qualidades de um Líder. 1ª Edição Portuguesa, 2010.Trad. Paula Alexandra. Lisboa:SmartBook. 
 
 
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
 
Portugal: http://www.caminha2000.com (Link’s Cidadania e Tribuna)