domingo, 27 de abril de 2014

Ética Mundial para a Paz


Há fases da vida em que toda a pessoa tem legítimas aspirações que, nessas épocas, são consideradas utópicas, porém, ninguém pode garantir que, num futuro mais ou menos remoto, se não possam tornar realidades ainda que, relativizadas, face a uma outra dimensão absoluta que, necessariamente, se busca e, desesperadamente, se reconhece a incapacidade para a alcançar.
Defronta-se a humanidade com uma realidade que lhe é dada pela natureza das coisas, como um fenómeno, que é interpretado segundo os conhecimentos da ciência e da técnica de cada época, mas cujo núcleo mais profundo ainda se ignora, pese embora, e a favor, o facto de se avançar imenso na descoberta e explicação de tais realidades.
O mistério do insondável persiste e até as coisas mais simples: uma árvore, uma pedra, o movimento das águas, a montanha, o vento, o fogo, o ar, os povos nas suas organizações mais rudimentares e primitivas, contêm aspetos que o homem ainda não conhece total e absolutamente.
A sociedade humana, que é uma construção do génio humano, continua, complexa, apesar de toda a evolução da sua estratégica organização, da proliferação e aplicação de regras, complexa, difícil e conflituosa, gerando situações que já não são compatíveis com o estatuto superior que deveria corresponder à dignidade da pessoa humana, numa sociedade que tem a obrigação de se conduzir pelos valores e princípios referenciais desta superior espécie.
O homem (abrangendo, obviamente, os dois géneros: feminino e masculino) que ao longo da sua história, a partir do seu mais remoto antepassado, cientificamente denominado por “hominídeo”, considerando, ainda, a sua evolução nas abordagens filogenética e ontogenética, certamente que tem sido objeto de um progresso, a todos os títulos notável, que nenhuma outra espécie animal terá conseguido.
O novo século iniciou-se com as esperanças que transitaram do século anterior, à cabeça das quais se coloca a paz, podendo esta ser entendida como: «A paz, vale dizer a tranquilidade, nascida da ordem, é o mais elevado desses bens desejáveis, pois inclui todos os outros.» (SIMÕES, 2000:85), a saúde, o trabalho, a felicidade, entre outras, igualmente desejáveis, que se encontram bem identificadas num documento subscrito pela esmagadora maioria dos países do mundo: Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Neste documento universal, resultante do sofrimento provocado por duas guerras mundiais, que marcaram negativamente o século XX, aprovado em 10 de Dezembro de 1948 pela Assembleia-geral das Nações Unidas, estão plasmados, em trinta artigos, os direitos humanos fundamentais, a que lhes correspondem outros tantos deveres, porque cada pessoa que usufrui de um direito tem o dever de proporcionar igual oportunidade ao seu semelhante.
As causas, as soluções e a comprovação dos resultados, para a situação das pessoas, das comunidades e das nações, não cabem no âmbito da presente investigação-reflexão, qualquer que seja a abordagem: científica, técnica, política, social, económica, religiosa, cultural ou outra.
Pretende-se, isso sim, refletir sobre a possibilidade de se instituir ou melhorar uma filosofia dos deveres individuais institucionais, comunitários e universais, com o objetivo de se idealizar e implementar uma “Nova Ordem Ética Mundial”, tal como já se avança para a “Nova Ordem Económica Mundial”, para a globalização do capital, da economia, do comércio e em tantos outros setores das atividades humanas. É preciso divulgar, insistir e incrementar, com boas-práticas, uma nova ordem ética, para a pessoa nos seus vários papéis, para a comunidade e para o mundo.

Bibliografia

SIMÕES, M. C. (2000). Ética e Antropologia em Agostinho. In Phrónesis – Revista de Ética, Campinas: PUC-Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Vol. 2 (1) Jan/Jun. Pp. 75-86

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo 

Portugal: http://www.caminha2000.com  (Link’s Cidadania e Tribuna)

domingo, 20 de abril de 2014

A Cruz da Austeridade na Páscoa Portuguesa


Muito embora a esperança seja, ou deva ser, a última expectativa a morrer, a verdade, porém, é que nesta Páscoa de dois mil e catorze, não haverá muitos motivos para nos sentirmos seguros quanto a uma desejável e legítima estabilidade, em vários domínios da nossa existência e, enquanto cidadãos de deveres e direito, porque, “tragicamente”, quase todos os dias somos “aterrorizados” com notícias devastadoras de esperanças que ainda poderíamos alimentar, quanto a um futuro tranquilo e confortável.
A sociedade portuguesa em geral, e alguns extratos mais vulneráveis, em particular, continuam a sofrer as consequências de situações para as quais não contribuíram, nem são responsáveis. Milhões de pessoas entre funcionários públicos, trabalhadores do setor privado, reformados, pensionistas, desempregados, imigrantes, sem-abrigo, excluídos, idosos vivem no limiar da pobreza, passando fome e frio, com falta de saúde e de perspectivas quanto a um futuro com um mínimo de dignidade humana.
Recentemente, o mais alto Magistrado da Nação, teve a coragem de, em cerimónia pública, na localidade de Azeitão, no passado dia dezassete de Abril deste ano, afirmar que “os sacrifícios exigidos aos portugueses foram excessivos, que existem situações de miséria intoleráveis e que é tempo de parar com tais medidas, que têm sido suportadas sempre pelos mesmos”. Declarou, ainda, que “existem indicadores económicos que apontam para que se pare com tantos sacrifícios”. 
Comemora-se um acontecimento de grande significado para o mundo Católico, mas não só. A Páscoa, que deveria ser um evento de alegria, de ressurreição dos valores que têm vindo a ser ignorados, como: o respeito pelos mais idosos, o trabalho para os desempregados, as reformas/pensões para os que já contribuíram e atingiram a idade para este direito, a inclusão total na sociedade, de todos os marginalizados, enfim, a dignidade de toda a pessoa humana, infelizmente é, para a esmagadora maioria dos portugueses, uma época festiva, talvez e só a nível religioso.
Verifica-se, atualmente, que os valores materiais se têm vindo a sobrepor aos de ordem imaterial, aos sentimentos mais nobres. Tudo gira à volta dos mercados, dos lucros, dos deficits, dos números astronómicos da ganância de alguns contra as mais elementares necessidades das maiorias. Hoje, sentimentos como: a solidariedade, a amizade, o amor, por exemplo, são muito difíceis de se vislumbrarem em algumas elites dominadoras, no entanto, elas, as elites, não podem ignorar que: «O amor é uma energia, a energia mais pura e mais elevada. Nas suas vibrações mais altas, o amor possui sabedoria e consciência. É a energia que une todos os seres. O amor é absoluto e não tem fim.» (BRIAN, 2000:17).
Durante alguns anos, praticamente: têm sido sempre os mesmos a suportar o “fardo” de uma dívida que não contraíram; têm sido sempre os mesmos a serem privados dos direitos que, por contrato escrito, de boa-fé, celebraram com um Estado que deveria ser, sempre, pessoa de bem. É injusto, imoral e, em muitas circunstâncias de duvidosa legalidade, o que se tem vindo a impor a alguns extratos da sociedade portuguesa, precisamente por quem se comprometeu a melhorar as condições de vida da população.
Apesar da situação difícil: há muita vontade em se acreditar em melhores dias; alguma esperança, calada bem no fundo das nossas consciências, ainda não morreu; um certo e tímido otimismo reina nos espíritos daqueles que continuam a sofrer e a lutar por um futuro melhor, mas para que estes sinais não morram é necessário que se anulem, de imediato, aquelas medidas gravosas que têm prejudicado a qualidade de vida de milhões de portugueses.
Mais um período Pascal se está a viver, com milhões de portugueses “crucificados” por: impostos, taxas, sobretaxas, comparticipações extraordinárias, desemprego, fome, exclusão. Idosos que se “arrastam” sem terem a certeza de quanto vão receber de reforma e/ou pensão no mês seguinte; centenas de milhares de cidadãos que procuram, desesperadamente, um trabalho; excluídos que continuam a dormir na rua, com fome, sede, frio e doentes; jovens que abandonam a família, os amigos, o país em busca, no estrangeiro, de uma vida de trabalho e de dignidade a que têm direito, mas que o país lhes recusa; e também, milhares de pessoas que, apesar da idade, ainda poderiam ser úteis à sociedade, com a sua experiência e sabedoria, todavia, são consideradas uma espécie de excluídos especiais, porque: por um lado, não os deixam trabalhar; mas por outro lado, lhes retiram os rendimentos para os quais labutaram e descontaram décadas.
É tempo de se acabar com o sofrimento e fazer descer da “Cruz” todos os portugueses que nos últimos anos têm sido “crucificados”, injusta, imoral e, quem sabe, ilegalmente; é tempo de se cumprirem promessas feitas em contextos reais e que milhões de portugueses acreditaram e colaboram, para que elas fossem executadas; é tempo de nos ser restituído o respeito, a solidariedade, a dignidade devida a pessoas verdadeiramente humanas.
Este ano, a Páscoa, enquanto acontecimento religioso no mundo católico, decorre a menos de uma semana de outro grande evento nacional que é o vinte e cinco de Abril, data para se comemorar a liberdade, a igualdade e a fraternidade. Religião e Política não são incompatíveis, pelo contrário, podem articular-se, cooperar e encontrarem as soluções para que em Portugal se viva com perspectivas de um futuro muito melhor, para que a sociedade portuguesa sinta, definitivamente, que os seus deveres são equitativamente exigidos, mas também os seus direitos integralmente respeitados.
Os Portugueses são credores, em todo o mundo, de grande admiração, respeito e estima, porque são cumpridores, honestos, trabalhadores, humildes, educados e criativos. Tais qualidades devem ser reconhecidas ”cá dentro”, entre todos nós, a começar por quem nos administra e em quem milhões de cidadãos acreditaram, independentemente das opções políticas, religiosas e filosóficas de cada um e dos respetivos estatutos sócio-profissionais. É tempo de “Descrucificar” a população; é tempo de a retirar da “Pesada Cruz” a que foi submetida, injustamente.
Nesta Páscoa, que todos desejaríamos vivê-la com alegria e esperança, num futuro muito melhor, queremos, apesar de tudo, continuar a alimentar o “sonho da felicidade” que se pretende realizar através da segurança, da estabilidade no trabalho, na certeza de um fim de vida confortável, sem receios de cortes nas pensões/reformas. Temos direitos adquiridos por contratos firmados, honestamente, com um parceiro que tem o dever de os cumprir e, se possível, melhorar, pelo menos em benefício dos mais carenciados e desprotegidos.
E se é certo que: «A felicidade aumenta com a intervenção social e participação nas organizações beneficientes …» (RICARD, 2005:217), então é necessário que o Estado se preocupe muito mais com a dimensão social que deve ter para com todos os portugueses, porque temos direito de sermos felizes, em várias dimensões: axiológica, trabalho, segurança social, saúde, educação, formação, habitação e lazer, entre outras.
É tempo de se dizer “basta”, de não se crucificar sempre os mesmos. Convoquem-se aqueles que não sendo funcionários públicos, reformados, pensionistas e trabalhadores do setor privado, mas os outros, aqueles que ocupam posições de destaque, bem remuneradas, porque, seguramente, que estes também estarão disponíveis para darem o seu contributo e, desta forma, atenuarem o sacrifício daqueles que nos últimos anos têm vindo a pagar a fatura de uma “despesa” que não fizeram. Corte-se no que é exagerado, nos bens e benefícios supérfluos.
Páscoa de dois mil e catorze, festa da Ressurreição de Cristo Redentor, que deveria ser de restauração de direitos injustamente retirados, do respeito por todos quantos têm contribuído para que este país seja símbolo do cumprimento dos Direitos Humanos, das Normas Constitucionais, enfim, pela exaltação da dignidade da pessoa humana.
Desejamos a todos os portugueses que nunca mais tenham uma Páscoa tão triste devido à situação em que nos encontramos. Queremos para toda a sociedade nacional que se restaurem os direitos para os quais contribuímos generosamente, sempre de boa-fé. Queremos descer da “Cruz Pesada da Austeridade Injusta”. Queremos Solidariedade, Amizade, Lealdade, Igualdade, Fraternidade, Liberdade. Queremos a nossa Dignidade de Pessoas Verdadeiramente Humanas.

Bibliografia

BAKER, Mark W., (2005). Jesus o Maior Psicólogo que já Existiu.Trad. Cláudia Gerpe Duarte. Rio de Janeiro: Sextante.
BRIAN L. Weiss, M.D. (2000). A Divina Sabedoria dos Mestres. Um Guia para a Felicidade, alegria e Paz Interior. Trad. António Reca de Sousa. Cascais: Pergaminho.

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Portugal: http://www.caminha2000.com  (Link’s Cidadania e Tribuna)

domingo, 13 de abril de 2014

Filosofia: Uma Possibilidade de Vida


O estudo e reflexão sobre as questões levantadas, pertinentemente, pela Filosofia, por vezes, incomodam, principalmente aqueles que nos últimos séculos a têm desvalorizado, menosprezado e tentado eliminá-la, contudo, dois milénios e meio de vida, de intervenção, de intromissão responsável noutros domínios, garantem a sua credibilidade, pelo menos no que respeita à discussão dos problemas que afectam o homem, individualmente considerado e toda a sociedade em geral, independentemente das culturas, das civilizações, das religiões. A Filosofia é transversal à humanidade e, talvez, também por isso mesmo, suscite polémicas, ódios, eventualmente, a sua própria negação.
Num mundo extremamente agressivo, materialista, rápido e praticamente incontrolado, a cultura vigente dos poderes: ter, dominar e ostentar, sobrepõe-se a outros valores e situações de vida e sendo assim: «A Filosofia não enche a nossa carteira, não nos ergue às dignidades do Estado, é até bastante descuidosa destas coisas. Mas de que vale engordar a carteira, subir a altos postos e permanecer na ignorância ingénua, desapetrechado de espírito, brutal na conduta, instável no carácter, caótico nos desejos e cegamente infeliz? A maturidade é tudo. Talvez que a Filosofia nos dê, se lhe formos fiéis, uma sadia unidade de alma. Somos negligentes e contraditórios no nosso pensar. Talvez ela possa classificar-nos, dar-nos coerência, libertar-nos da fé e dos desejos contraditórios.» (DURANT, 1988:7).
Pretender melhorar, significativamente, o mundo apenas com a intervenção filosófica seria uma utopia, que poucos aceitariam, que alguma vez se tornasse realidade; defender a Filosofia como uma espécie de panaceia para todos os males, revelaria uma ingenuidade próxima do ridículo; garantir que a Filosofia pode substituir, com êxito, a Ciência e a Técnica e quaisquer outros conhecimentos, constituiria uma atitude dogmática, incompatível com os valores liberais de humildade, tolerância e de interdisciplinaridade; impor o estudo da Filosofia, nos seus diversos ramos, como um saber unificado e exclusivo para o sucesso da humanidade, revelaria hegemonia filosófica e paralisação do avanço, inovação e progresso das ciências em geral; colocar a Filosofia no centro do Universo, numa posição de absoluto filocentrismo, seria endeusar um conhecimento que reduziria tudo a nada, ou, com um pouco mais de optimismo, tudo lhe ficaria subordinado, inclusive, Deus.
Seguramente que a Filosofia não é nada disto e os filósofos não querem, nunca o manifestaram e pensa-se que jamais o evidenciarão, que se enclausure, numa redoma dogmática, que conduziria à morte intelectual do homem, porque: Filosofia é vida, é contestação, é democracia; liberdade, igualdade e fraternidade. Filosofia enquanto pensamento livre, alternativa, crítica, dúvida metódica.
Filosofia na origem do pensamento visionário, utópico, mas também realidade, pragmatismo e construção ideológica de sistemas, valores e princípios. Filosofia do comportamento ético-moral, da fixação de regras deontológicas. Enfim, Filosofia como companheira da ciência, da técnica, da tecnologia, da religião e da arte. Filosofia como marca indelével da pessoa humana.
A Filosofia enquanto processo para ensinar a pensar, naturalmente que é insuficiente para resolver os diferentes e múltiplos problemas, que afectam a humanidade contemporânea, todavia, o seu contributo, num contexto interdisciplinar, não deve, em circunstância alguma, ser desprezado ou recusado, porque: «Não há Filosofia verdadeira ou falsa, mas todas as filosofias devem aceder a um certo tipo de verdade, oferecerem-se-nos como uma possibilidade de vida.» (MALHERBE e GAUDIN, 2001:156).
A humanidade vive atormentada pelas muitas incertezas que envolvem não só a vida concreta e terrena do homem mas, principalmente, quanto ao seu destino e fim último, para lá da sua vivência material. Diversas situações envolvem, inexplicavelmente, o homem, uma ou mais vezes ao longo da sua existência, sem que ele possa descobrir a origem de tais situações, utilizando os recursos da ciência, da técnica e dos meios mais sofisticados ao seu dispor.
 A angústia, o sofrimento e a doença apoderam-se do ser humano que, sistematicamente, recorre à ciência positivista e a processos de diagnóstico, também estes validados pela ciência e aplicados pela técnica, sem contudo conseguir a cura para os males invisíveis que o conduzem a uma morte lenta, quantas vezes sem cuidar de aprofundar uma reflexão sobre os sintomas que lhe estão mais acessíveis.
O homem tem de acreditar na vida, defender a vida em quaisquer circunstâncias, reflectir nos prazeres e nos sofrimentos que a vida proporciona, afinal, dar um sentido à vida.
Este comportamento não se adquire pelos fármacos, pela ingestão e/ou aplicação de quaisquer produtos químicos e/ou bionaturais, na medida em que: «Todo um esforço da consciência filosófica na busca do sentido das coisas tem, de fato, a finalidade de compreender de maneira integrada o próprio sentido da existência do homem. Portanto, o esforço despendido pela consciência no seu refletir filosófico não é só mero diletantismo intelectual, nem puro desvario ideológico, nem tentativa de representação do mundo para fins pragmáticos. É antes a busca insistente do significado mais profundo da existência humana, sem dúvida alguma para torná-la mais adequada em si mesma.» (SEVERINO, 1999:23).
A vida humana, nas suas múltiplas dimensões existenciais, pragmática e algo misteriosa, principalmente quanto ao seu sentido e fim último, deverá merecer por parte de toda a sociedade uma cuidadosa avaliação, e também uma reprogramação consentânea não só com a dignidade da pessoa, como ainda no que respeita ao exercício de atividades que proporcionem prazer, bem-estar, vida-boa.
É necessário que cada pessoa, cada família, cada comunidade e as diversas sociedades em geral, encabeçadas por responsáveis moderados, verdadeiros defensores dos direitos que a cada indivíduo pertencem, como também executores exemplares dos deveres que, igualmente, cabe cumprir, assumam as tarefas que contribuam para a dignificação da vida humana.
Benefícios-Obrigações, Direitos-Deveres, são os pólos que devem balizar toda a actividade humana, para que uma existência pacífica, feliz e de realizações benéficas seja possível. Para que uma vida humana se concretize plenamente, pela positiva, torna-se imperioso aprofundar hábitos de reflexão, de estudo, de interiorização serena de valores referenciais dos mais altos ideais.
 A vida para uma existência feliz, independentemente, do conceito de felicidade que se defenda, passa, inevitavelmente, entre outras possibilidades, por uma filosofia de vida, no sentido em que estabelece valores, princípios, regras, objectivos e uma avaliação contínua do processo que se implementar, a partir de um projecto existencial humanista.
Um tal projecto não pode ignorar a cumplicidade que se deve estabelecer entre a Filosofia e a Democracia, esta aqui assumida como um sistema político de liberdade, igualdade, fraternidade e justiça social, porque: «Não há democracia sem filosofia (os regimes socialistas impunham uma filosofia e proibiam o filosofar), mas também não há filosofia sem democracia. Isto lembra-nos o facto de que a filosofia não é uma criação ex-nihilo, que procede e depende de um longo processo. Durante toda a sua história, ou seja, combates (não se deve esquecer que Sócrates foi condenado à morte pela cidade), a filosofia não parou de renovar o pacto com e pela democracia.» (MALHERBE e GAUDIN, 2001:164).
E se o binómio Direitos-Deveres é fundamental para a fruição de uma vida digna, baseada no respeito pelos concidadãos, identicamente importante para uma vida responsável e ativa é a harmonia e cooperação entre a Filosofia e a Democracia. Existem sempre as duas faces de uma qualquer situação.
Uma vida equilibrada não dispensa a reflexão, como pressupõe o exercício e a participação na actividade política democrática, no seio do povo, com o povo e para o povo. Praticamente, todos os problemas que afectam a existência humana, coletivamente considerada e/ou individualmente analisada, encontram a solução nas decisões políticas, maduramente ponderadas, refletidas e avaliadas.
Os recursos, os meios, as metodologias encontram-se numa profunda, justa e adequada reflexão sobre cada situação. Filosofia e Democracia devem, pois, continuar a trabalhar em conjunto, visando objectivos racionais, exequíveis de serem atingidos e potencializadores para uma vida-boa.
Tão importante como os bens materiais artificiais, idealizados, fabricados, usufruídos e consumidos pela humanidade – hospitais, escolas, estradas, pontes, edifícios vários, ciência em geral, técnica e tecnologia, equipamentos e riqueza financeira –; são os bens espirituais – tranquilidade, benignidade, virtualidade, santidade, Deus –; os valores imateriais – paz, justiça, dignidade, liberdade, solidariedade – e também os sentimentos que levam às ações mais altruístas - caridade, compaixão, amor, dádiva, abnegação.
Naturalmente que apenas se invocam alguns exemplos, porque o que é verdadeiramente necessário é que: todos em geral; e cada um em particular, tenham consciência que é imprescindível aprofundar e aplicar uma sabedoria prudente do saber-viver-bem, o que, tal como qualquer valor, impõe limites, como por exemplo: o valor liberdade tem limites, porque de contrário, a liberdade de uns só seria exercida quando acabasse a e outros.

Bibliografia

DURANT, Will. (1988). Filosofia da Vida. Os Problemas Filosóficos da Existência Humana, Trad. Monteiro Lobato, Lisboa: Livros do Brasil.
MALHERBE, Michel, e GAUDIN, Philippe, (2001). As Filosofias da Humanidade. Trad. Ana Rabaço, Lisboa: Instituto Piaget, pp. 164-170.
SEVERINO, Antônio Joaquim. (1999). A Filosofia Contemporânea do Brasil, Petrópolis: Vozes.  

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo 

Portugal: http://www.caminha2000.com  (Link’s Cidadania e Tribuna)

domingo, 6 de abril de 2014

Ideias para um Projeto de Vida


Idealizar, implementar, consolidar um projeto de vida e dele beneficiar, positivamente, será um dos grandes objetivos de vida de uma pessoa, de uma família, de um grupo, de um povo e de uma nação. Os ideais são tão necessários como as experiências. Pelos ideais se constroem novos mundos.
Deseja-se passar por este mundo com a melhor qualidade de vida, seja nos seus aspetos materiais, que são legítimos, seja na dimensão imaterial, porque a dicotomia, provavelmente, existe: corpo físico; espírito inefável e, aceitando-se esta possibilidade, então será de bom-senso que se contemplem as duas vertentes na elaboração de um projeto de vida, para o qual importa ter em atenção alguns princípios, valores sentimentos e, certamente, recursos.
Pretender viver, apenas, no mundo da espiritualidade, enquanto seres físicos, carentes de inúmeros bens materiais será, seguramente, uma utopia, uma ilusão, uma impossibilidade, na medida em que a realidade físico-material existe, nem de outra forma seria possível a vida terrestre e não se pode ignorar que mesmo as criaturas que levam uma existência de plena espiritualidade, que almejam a santificação, enquanto envolvidas por um corpo físico, carecem de condições materiais que alimentem e protejam o corpo, para poderem desenvolver as atividades do pensamento e do espírito.
O projeto de vida poderá, então, desenvolver-se em duas dimensões: material e espiritual. Quanto à primeira é essencial ter as melhores condições de sobrevivência e estas implicam, desde logo, saúde, estudo, trabalho, família, habitação, tranquilidade, felicidade e paz e, para quem se deseja completar mais profundamente, a cultura, esta em duas dimensões: antropológica e intelectualizada, e também a participação na vida pública institucional.
Claro que a vivência material, neste mundo é incontornável, e porque assim está estabelecida, então é dever de toda a pessoa contribuir com os seus conhecimentos, trabalho e boa aplicação dos seus proventos, para que a sua vida seja, de facto, um conjunto de sucessos, extensivamente à sua própria família e, por que não, à sociedade em que tal pessoa se insere.
A saúde é, desde já, a primeira condição para uma vida de sucesso material, sendo importante que cada pessoa tenha condições para a usufruir plenamente. E se o direito à saúde deve ser exercício com o apoio irrecusável e substancial do Estado, para o qual o cidadão contribui com cargas brutais de impostos, também é um dever, por parte de toda a pessoa, tudo fazer para preservar a sua própria saúde, evitando práticas que sabe serem prejudiciais à sua boa forma física e mental.
No regime militar democrático, implicitamente na legislação disciplinar, o dever de preservação da saúde é uma norma jurídica cuja violação acarreta para o seu infrator as respetivas sanções. Cuidar da boa apresentação e saúde é, portanto, um dever: «11.º Conservar-se pronto para o serviço, evitando qualquer acto imprudente que possa prejudicar-lhe o vigor ou aptidão física ou intelectual; 44.º Manter hábitos de higiene (…)» (Decreto-Lei n.º 142/77, Artº 4º de 09ABR, com diversas alterações).
O direito à saúde está consagrado na lei fundamental portuguesa: «1. Todos têm direito à proteção da saúde e o dever de a defender e promover. 2. O direito à proteção da saúde é realizado: a) Através de um serviço nacional de saúde universal e geral e, tendo em conta as condições económicas e sociais dos cidadãos, tendencialmente gratuito; b) Pela criação de condições económicas, sociais, culturais e ambientais que garantam, designadamente, a proteção da infância, da juventude e da velhice, e pela melhoria sistemática das condições de vida e de trabalho, bem como pela promoção da cultura física e desportiva, escolar e popular, e ainda pelo desenvolvimento da educação sanitária do povo e de práticas de vida saudável.» (CRP, 2004:Artº 64.º).
Evidentemente que ninguém estará doente por prazer, que ninguém deseja contrair nenhuma doença. Esta postura não está em causa, mas sim, por vezes, o descuido que se verifica em relação à preservação da saúde e, mesmo neste caso, também se deve atender ao facto de o doente ter ou não conhecimentos para cuidar de determinadas situações.
O estudo/educação é uma outra condição para se poder beneficiar de um emprego/trabalho, porque é mais do que sabido que, num mundo de alta competitividade, em todos os setores, a posse de conhecimentos, atualizados, a formação específica e alguma polivalência, adquiridos ao longo da vida, são condições exigíveis para se desenvolver uma atividade profissional, com alguma estabilidade, êxito financeiro, estatuto e pensar-se numa velhice relativamente tranquila, apoiada por uma reforma confortável e pelas economias, entretanto, conseguidas, ainda que por um número reduzido de pessoas.
O direito ao estudo, educação, formação e cultura, está, identicamente, salvaguardado na Lei principal do país. Em bom rigor: «1. Todos têm direito à educação e à cultura. 2. O Estado promove a democratização da educação e as demais condições para que a educação, realizada através da escola e de outros meios formativos, contribua para a igualdade de oportunidades, a superação das desigualdades económicas, sociais e culturais, o desenvolvimento da personalidade e do espírito de tolerância, de compreensão mútua, de solidariedade e de responsabilidade, para o progresso social e para a participação democrática na vida coletiva» (CRP, 2004:Artº 73º).
O trabalho é um bem de primeira necessidade. Pode-se ter muita saúde, muitos estudos, conhecimentos e experiências, mas sem emprego a vida não terá todo o sentido e, provavelmente, será muito difícil. O trabalho dignifica a pessoa humana, é um direito e um dever consagrados nos mais importantes documentos: Bíblia Sagrada, Constituições Políticas, Declaração Universal dos Direitos do Homem, Tratados Internacionais, de resto como todos os outros aspetos focados nesta breve reflexão. É pelo trabalho que a pessoa se realiza, materialmente e culturalmente, porque ele possibilita a aquisição da maior parte dos bens necessários a uma vida com qualidade e com dignidade.
Na verdade, sendo um direito fundamental para a sobrevivência humana condigna, ele está registado na Constituição Política de Portugal: «1. Todos têm direito ao trabalho. 2. Para assegurar o direito ao trabalho, incumbe ao Estado promover: a) A execução de políticas de pleno emprego; b) A igualdade de oportunidades na escolha da profissão ou género de trabalho e condições para que não seja vedado ou limitado, em função do sexo, o acesso a quaisquer cargos, trabalho ou categorias profissionais; c) A formação cultural e técnica e a valorização profissional dos trabalhadores.» (CRP, 2004:Artº 58º).
O direito à habitação está, igualmente, consignado nos documentos já referidos e mais, uma habitação condigna e compatível com o agregado familiar, assim dispõe, por exemplo, a Constituição da República Portuguesa: «1. Todos têm direito, para si e para a sua família, a uma habitação de dimensão adequada, em condições de higiene e conforto e que preserve a intimidade pessoal e a privacidade familiar.» (CRP, 2004:Artº 65º).
Na verdade, verifica-se, hoje, já em pleno século XXI, que numa Europa civilizada, um dos grandes objetivos da maioria das famílias, desde logo, portuguesas, é possuir a sua própria “casinha” e, se possível, ajudar os filhos e até os netos a obterem este bem tão precioso, quanto necessário. Nesse sentido, as pessoas fazem economias, contraem empréstimos para conseguirem dar corpo ao que constitucionalmente está previsto.
Em Portugal, sob o argumento da crise (que não se nega que não exista) está-se a tributar, brutal e cruelmente, todos os cidadãos que, com imensos sacrifícios e endividamento, lutaram para ter a sua própria habitação e agora pagam caro este “sonho”, para liquidar dívidas que o Estado contraiu. Além do mais, o direito à propriedade privada é um direito adquirido, como tantos outros e está defendido constitucionalmente: «1. A todos é garantido o direito à propriedade privada e à sua transmissão em vida ou por morte, nos termos da Constituição.» (CRP, 2004:Artº 62º)
Neste particular, o projeto de vida está a ser injusta e, quem sabe, se ilegalmente, a ser prejudicado. Tem de haver uma consciência social, de verdade, efetiva, por parte de quem legisla e governa, porque estas pessoas também desejam para elas e para os seus, uma habitação condigna.
Constituir família, em Portugal, deveria ser um outro objetivo, claramente apoiado pelas instâncias competentes, porém, ao contrário de um nobre, legítimo e constitucional desígnio é mais do que uma aventura, é um grande risco, porque os apoios às famílias são, praticamente, exíguos, na maior parte dos domínios: saúde, educação, emprego e habitação.
Mas, apesar de toda e qualquer pessoa fazer parte de uma família, também é verdade que os jovens, principalmente estes, desejam, e têm esse direito, constituir a sua própria família, porque é no seio desta instituição que a pessoa humana, verdadeiramente, completa a sua realização pessoal, satisfaz uma das necessidades próprias de todo o ser humano, independentemente da natureza da sua composição, respeitando-se, sempre, a união tradicional, de uma mulher e um homem.
 É na família e a partir dela que a sociedade se constrói e consolida, com os seus valores, incluindo os mais ancestrais usos, costumes e tradições, por isso a importância e o direito de todo o cidadão constituir família está claramente na Lei fundamental: «1. Todos têm o direito de constituir família e de contrair casamento em condições de plena igualdade. 2. A lei regula os requisitos e os efeitos do casamento e da sua dissolução, por morte ou divórcio, independentemente da forma de celebração. 3. Os cônjuges têm iguais direitos e deveres quanto à capacidade civil e política e à manutenção e educação dos filhos. (…)» (CRP, 2004:Artº 36º). 
Também nesta grande dimensão da pessoa humana, ser e pertencer a uma família, a Lei fundamental é bem clara, no direito que assiste aos cidadãos de constituírem a sua própria família: «1. A família, como elemento fundamental da sociedade, tem direito à proteção da sociedade e do Estado e à efetivação de todas as condições que permitam a realização pessoal dos seus membros. 2. Incumbe, designadamente, ao Estado para proteção da família: a) Promover a independência social e económica dos agregados familiares; equipamentos sociais de apoio à família, bem como uma política de terceira idade; c) Cooperar com os pais na educação dos filhos; d) Garantir, no respeito da liberdade individual, o direito ao planeamento familiar, promovendo a informação e o acesso aos métodos e aos meios que o assegurem, e organizar as estruturas jurídicas e técnicas que permitam o exercício de uma maternidade e paternidade conscientes; e) Regulamentar a procriação assistida, em termos que salvaguardem a dignidade da pessoa humana; f) Regular os impostos e os benefícios sociais, de harmonia com os encargos familiares; g) Definir, ouvidas as associações representativas das famílias, e executar uma política de família com carácter global e integrado; h) Promover, através da concertação das várias políticas sectoriais, a conciliação da actividade profissional com a vida familiar.» (CRP, 2004:Artº 67º). 
A dimensão cultural, nas suas duas vertentes: antropológica e intelectualizada, assumem particular importância no projeto de vida, porque ela permite à pessoa humana inteirar-se melhor das diferenças entre pessoas, povos e nações, conhecer mais a fundo as suas origens históricas, o passado e o presente da humanidade, habilita-a a analisar, a criticar, a solucionar mais facilmente as diversas situações que ao longo da vida vão surgindo, contribui para a melhoria da própria auto-estima, reconhecimento e admiração por parte dos seus semelhantes.
Também neste aspeto, existe a garantida e a proteção constitucionais deste direito: «1. Todos têm direito à fruição e criação cultural, bem como o dever de preservar, defender e valorizar o património cultural. 2. Incumbe ao Estado, em colaboração com todos os agentes culturais: a) Incentivar e assegurar o acesso de todos os cidadãos aos meios e instrumentos de ação cultural, bem como corrigir as assimetrias existentes no país em tal domínio; b) Apoiar as iniciativas que estimulem a criação individual e coletiva, nas suas múltiplas formas e expressões, e uma maior circulação das obras e dos bens culturais de qualidade; (…)» (CRP, 2004:Artº 78º).
A participação na vida pública institucional, no desempenho de funções políticas, religiosas, desportivas, beneficentes, filantrópicas e muitas outras, também faz parte do projeto de vida, e até se considera um direito e um dever. Participar, graciosa e competentemente, implica a possibilidade de exercício do voluntariado, para o humanismo, para a solidariedade, para o bem-comum, mas também eleva a pessoa que colabora nestas atividades, dá a oportunidade de colocar ao serviço público, conhecimentos, experiências, boas-práticas e não deixa de ser uma forma de realização pessoal, um alimento para o próprio ego.
Considera-se, de facto, um direito: «1. Todos os cidadãos têm o direito de tomar parte na vida política e na direção dos assuntos públicos do país, diretamente ou por intermédio de representantes livremente eleitos.» (CRP, 2004:Artº 48º), mas importa defender que a participação na vida pública também será um dever, porque só com o contributo de todos é que se poderá construir uma sociedade mais humana, mais justa e promissora.
Quanto à dimensão imaterial da pessoa humana o projeto de vida também envolve outras valências, outras práticas, regras, princípios, valores, emoções e sentimentos. Ninguém pode afirmar que o seu projeto de vida está completo, que foi realizado plenamente, se ele não contemplar os domínios da alma, do espírito, da consciência ou qualquer outra designação que se pretenda atribuir, até porque, a diferença entre a pessoa, verdadeiramente humana, e os restantes seres que existem neste mundo conhecido reside, justamente, em que a primeira, a pessoa, está dotada, desenvolve, aplica e beneficia das duas componentes: material e imaterial, de que é possuidora.
A presente reflexão não pretende desenvolver aqui a importância de todos os valores, mesmo os que sejam considerados principais, no contexto de uma civilização ocidental, porque existem outras civilizações e, no limite, uma civilização universal. Deseja-se, isso sim, deixar a ideia de que é essencial que o projeto de vida integre determinadas regras éticas, por exemplo, mas também princípios de intervenção, valores a defender, boas-práticas, como é suposto existirem, emoções e sentimentos que devem ser totalmente respeitados.
Admitindo-se que a pessoa humana transporta em si dois mundos: o material e o imaterial, então é, praticamente, impossível ignorar, rejeitar, ridicularizar e ofender quem incorpora no seu projeto de vida dimensões distintivas da superior condição humana.
Não se conhece ninguém que não possua algum tipo de sentimentos, por mais negativos e destruidores que sejam, no contexto de uma determinada cultura e/ou civilização e também não se conhece nenhum equipamento ou instrumento físico e eletrónico que possa substituir os valores, emoções e sentimentos humanos, sejam estes genuinamente verdadeiros ou falsos.
Pode-se pensar que os valores, emoções e sentimentos são próprios das pessoas fracas, ingénuas, culturalmente atrasadas, todavia, relata a História que grandes figuras universais possuem aquelas caraterísticas, independentemente de elas serem utilizadas, manifestadas para o bem ou para o mal, porque ninguém é, absolutamente, insensível aos princípios, aos valores, aos sentimentos e às emoções, o que existe, por vezes, é uma certa vergonha em exteriorizá-los e assumi-los.
Um projeto de vida incorporará, com mais ou menos peso, de uma das duas componentes – material ou imaterial -, as duas vertentes, sendo certo que, segundo tanto quanto se conhece, se o desequilíbrio entre aquelas duas componentes for muito grande, a pessoa humana jamais se sentirá realizada e, muito menos, se considerará feliz, porque a felicidade, a paz, a tranquilidade, são outros tantos bens, imateriais, é certo, que a maioria das pessoas deseja em toda a sua vida.
Um projeto de vida nunca será, portanto, obra de uma só pessoa, na medida em que é impossível uma existência terrena solitária e todas, mas mesmo todas, as pessoas, precisam umas das outras, porque todas se encontram, mais tarde ou mais cedo, numa das muitas “esquinas da vida e do mundo”.
É uma verdade incontornável, embora muitas pessoas pensem que não precisam de ninguém, que são totalmente autónomas, em tudo na vida, afinal elas são dependentes da sociedade como quaisquer outras. Que grande ilusão estas pessoas vivem e como, por vezes, elas se tornam arrogantes, prepotentes e mesquinhas porque, em boa verdade, demonstram fragilidades que todo o ser humano possui, porém, há que ter a humildade de reconhecer o quanto somos dependentes uns dos outros.
O projeto de vida passa, naturalmente, por um bom relacionamento entre as pessoas, com respeito, consideração e estima e, se possível, com solidariedade, amizade, lealdade, reciprocidade e confiança. Nunca se pode esquecer a grandeza que somos, mas também as debilidades que nos caraterizam, a todos, sem exceção. Hoje, poderei estar por cima; muito bem na vida, pensar que não preciso de ninguém; amanhã, poderei ser o mais infeliz de todos, cair na desgraça, na miséria, na doença e na morte.
É sinónimo de grande inteligência sabermos construir o nosso projeto de vida, assente em regras, princípios, valores, sentimentos e emoções. Não termos vergonha das caraterísticas que nos tornam superiores aos restantes seres vivos conhecidos, porque somos realmente únicos, inimitáveis, somos pessoas verdadeiramente humanas e, como tal, nos devemos comportar.

Bibliografia

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL (CF/88), in LOPES, Maurício António Ribeiro (Coord.), (1999), 4ª. Ed., revista e atualizada, São Paulo: Editora Revista dos Tribunais.
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA PORTUGUESA, (2004), Versão de 2004. Porto: Porto Editora.
CONSTITUIÇÃO FRANCESA DE 1791. Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 26 de Agosto de 1789, in HAARSCHER, Guy. (1993) A Filosofia dos Direitos do Homem, Trad. Armando F. Silva, Coleção Direito e Direitos do Homem, Lisboa: Instituto Piaget
MINISTÉRIO DA DEFESA NACIONAL, (1977). Regulamento de Disciplina Militar, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 142/77, de 09ABR, com diversas alterações
ONU-ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (1948) Declaração Universal dos Direitos do Homem, Lisboa: Amnistia Internacional, Secção Portuguesa, 1998;

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo 

Portugal: http://www.caminha2000.com (Link’s Cidadania e Tribuna)