domingo, 26 de janeiro de 2014

Harmonia de Género


A sociedade moderna (2014) vive um período complexo, com novos valores, a todos os níveis: individuais, familiares, comunitários e globais. O que hoje se critica como “errado”, amanhã poderá estar “certo”. Existe como que uma instabilidade axiológica que, por vezes, conduz a juízos de valor injustos, infundamentados e imorais. O que ontem era “verdade”, hoje poderá ser “mentira”. O contrário também se poderá colocar. Vive-se o momento presente com a maior intensidade possível, “não vá o mundo acabar”.
Corre-se atrás de um certo materialismo que, após obtido, sem se olhar a meios, rapidamente satisfaz a voracidade de alguns em prejuízo das necessidades mais elementares de muitos outros. Mulheres e Homens, crianças e idosos, sofrem as consequências deste turbilhão de incertezas, de vicissitudes e incompreensões.
De facto o mundo é da humanidade, que está acompanhada de outros seres animais e vegetais, mas são as Mulheres e os Homens que comandam o planeta que habitam, pelo menos enquanto não se conhecem outros seres mais poderosos, excluindo aqui, obviamente, a Natureza.
Evidentemente que, para os objetivos desta reflexão não se consideraram outras forças poderosíssimas e os fenómenos que delas emanam. O equilíbrio entre todos os habitantes da terra constitui um imperativo, sendo certo que o contrário prejudica quem se envolve em comportamentos imprudentes.
Circunscrevendo-se este pensamento à Mulher e ao Homem, na verdade também entre estes dois seres racionais, nem sempre se tem verificado a harmonia necessária, frequentemente com prejuízo para a Mulher. Poderá haver, para alguns, uma complementaridade e desde que um casal, uma equipa, ou qualquer outro conjunto de pessoas funcionem para determinados objetivos, com bons resultados, então dizem que tudo decorreu na perfeição; para outros, importará mais o equilíbrio e/ou a harmonia, podendo-se, assim, chegar a idênticos resultados, sejam só mulheres, ou apenas homens que estão envolvidas/os no projeto, incluindo o matrimónio.
Será importante refletir na harmonia de género, na perspectiva e/ou a partir da igualdade que deverá existir entre uma Mulher e um Homem e aqui sim, a partir dessa identidade poderá afirmar-se que são possíveis todos os projetos, parcerias e destinos comuns. É sabido que ao longo dos séculos a Mulher não tem sido considerada como uma parte imprescindível ao bom funcionamento da humanidade, precisamente devido ao domínio masculino, que em todas as frentes se tem verificado.
Numa certa perspectiva aponta-se para o: «Conceito que significa, por um lado, que todos os seres humanos são livres de desenvolver as suas capacidades pessoais e de fazer opções, independentes dos papéis atribuídos a homens e mulheres, e, por outro, que os diversos comportamentos, aspirações e necessidades de mulheres e homens são igualmente considerados e valorizados.» (CIDM 2004:162). Provavelmente, um entre outros fatores que poderão estar na turbulência mundial é, justamente, esta situação de desvalorização do papel da Mulher e da dignidade que, enquanto pessoa, lhe deve ser, inequivocamente, reconhecida.
A sociedade masculinizada não terá nada a perder, bem pelo contrário, só ganhará quando assumir a determinação de abrir-se à Mulher, integrando-a, plenamente, em todos os domínios. Aliás, até parece um paradoxo, o facto de a Mulher estar no mundo, em maioria, e ainda não ter querido e/ou conseguido impor-se, o que revela, afinal, a sua imensa grandeza e generosidade axiológicas.
Por outro lado, a situação que se tem vivido, com a predominância do Homem nos mais diversos setores, em nada abona a sua posição no mundo. Este domínio resulta de estudos científicos, na área da política: por exemplo, em Portugal, nas eleições autárquicas de 2001, das 308 Câmaras Municipais, apenas 16 eram presididas por Mulheres (5,2%). (cf. CIDM, op. cit.:104).
Quando se aborda a harmonia de género, a partir da igualdade entre mulheres e homens, obviamente que não se pretende uma igualdade absoluta, nem tal seria possível e/ou desejável, desde logo devido a fatores de constituição física e biológica. Também a igualdade formal, a que resulta da aplicação da lei, poderá, em certas circunstâncias, ser pouco praticável e/ou pelo menos de difícil realização, na medida em que não se pode tratar de igual modo o que é diferente. Por exemplo, no domínio da justiça haverá critérios que se aplicam diferentemente a mulheres e a homens, designadamente no cumprimento das penas, quando a Mulher tem filhos pequenos à sua guarda, entre muitas outras situações.
A harmonia e compreensão entre mulheres e homens há-de resultar da aceitação de determinados princípios, um dos quais, segundo a juíza conselheira de S. Tomé e Príncipe, «A verdadeira igualdade consiste em tratar desigualmente indivíduos desiguais e na proporção dessa desigualdade. Assim, os fracos terão direito a um regime de protecção, e os fortes, protegidos por suas riquezas, contentar-se-ão com um regime de liberdade. A igualdade ordena que cada um seja tratado de acordo com o que ele é e que haja tratamentos diferentes. Sem dúvida não é uma tarefa sem graves dificuldades e organizado da justiça distributiva.» (CARVALHO, 1990:79).
O que acima está citado para a justiça, pode-se aplicar no que respeita à mulher e ao homem, quando se reflete em situações de violência contra a mulher praticada pelo homem. Certamente que neste contexto a mulher, na maior parte das vezes, é a parte mais fraca.
Tudo leva a crer que a Mulher e o Homem, nas suas especificidades, são essenciais em partes iguais, pese embora a maioria, ainda que pouco relevante, em que se encontram as mulheres, para a resolução dos inúmeros problemas que afetam a humanidade. Não pode, portanto, a Mulher ficar de braças cruzados sempre que o homem dificulta a sua participação, seja qual for a área de intervenção que, como já foi referido, não podia deixar de fora a própria justiça, esta aqui considerada um serviço difícil, mas também altruísta para todos os que têm de a aplicar.
Respeitar, sem tibiezas, as decisões justas que vão sendo proferidas pelos responsáveis das diversas instituições, quando, antecipadamente, se sabe que elas vão contribuir para a harmonia de género e para o bem-estar da humanidade, afigura-se, desde já, um comportamento responsável e meritório.
A Mulher e o Homem, em igualdade de participação, segundo, certamente, as suas diferenças naturais, resolvem a maior parte dos problemas, eventualmente, no seio das próprias famílias de que fazem parte. Impõe-se, portanto, derrubar as mentalidades das “superioridades”, sejam elas masculinas, sejam, num ou noutro caso, femininas.
A sociedade, ainda fortemente masculinizada, tem de compreender o papel cada vez mais relevante da Mulher, cada vez em mais domínios de intervenção, não adiantando nada colocar “barreiras” a este avanço justo que ao longo das últimas décadas a Mulher vem conseguindo. Pelo contrário, a humanidade só terá a ganhar com a união de esforços dos dois géneros, tendo por objetivo o bem-comum.
Além disto ninguém pode ignorar o papel crucial da Mulher quando ela assume, verdadeiramente, a função mais nobre que qualquer ser humano pode conseguir na vida: gerar no seu próprio ventre outro ser que vem dar sentido à vida dela e do seu parceiro progenitor e, depois, ao enriquecimento da família.
Na verdade: «Com efeito a intimidade da relação mãe-criança é tão estreita que poderemos considerá-la a unidade básica do sistema social a que chamamos parentesco. O segundo ponto é que, durante os primeiros anos, pelo menos, a relação como o pai parece ser de importância secundária. É importante para a segurança e a saúde mental da mãe, e, através dela, da criança, que possa contar com o apoio e a segurança de um homem.» (GOLDTHORPE, 1977:87).
Verifica-se, assim, que nem a Mulher pode prescindir do Homem nem este daquela. Apesar desta evidência, parte significativa da comunidade masculina, não conseguiu, ainda, ultrapassar certos preconceitos que herdou do passado, o que tem dificultado as boas-práticas de procedimentos de igualdade de género.
Vem chegando à opinião pública, e às escolas, algumas iniciativas, ainda tímidas, quanto à formação dos cidadãos para esta temática, reconhecendo-se, todavia, existirem muitas resistências que, nesta sociedade, dita pós-moderna, já não fazem sentido.
A solução para as situações do não reconhecimento da igualdade de género, no que é possível, passa, em primeira instância, pela educação/formação, o mais cedo possível, na vida de cada pessoa; também pela especialização de professores/formadores; pela elaboração e disponibilização de material didático a utilizar nas diversas idades; pelas boas-práticas no seio das famílias.
Ainda que haja quem pretenda menosprezar as funções da família, devido a várias circunstâncias, desde logo as imensas dificuldades que se colocam aos jovens, a verdade é que: «É ao grupo família que cabe um dos primeiros lugares, porque, no quotidiano, são os membros da família que asseguram, desde a mais tenra infância, a continuidade do nosso desenvolvimento.» (ANGERS, 2003:56).
Significa isto que o desenvolvimento para a igualdade de género, entre outras características, deve passar pela família, no seio da qual, mulheres e homens, serão tratadas/os de igual forma, apenas se respeitando as suas especificidades biofísicas.
A harmonia de género nasce, portanto, neste núcleo coeso que é (ou deve ser) a família e que, posteriormente, quando cada elemento assume a sua liberdade individual, irá preparado para respeitar o género oposto. Dificilmente se obterá a harmonia por outro processo.
Claro que a harmonia de género passa, necessariamente, por outras exigências, nomeadamente a igualdade de oportunidades. Discriminar, preconceituosamente, no acesso a uma determinada atividade, quaisquer outras pessoas, pelo facto de serem do género feminino ou masculino, é uma atitude, no mínimo, inaceitável, injusta e ilegal.
O acto discriminatório verifica-se mais durante o processo de recrutamento: «As entrevistas com as candidatas a um emprego assumem uma grande importância. Não é raro que as mulheres tenham de se defender ao longo da entrevista, contra os preconceitos que decorrem da repartição tradicional dos papeis entre os homens e as mulheres, ou de outros preconceitos que revelam que os responsáveis põem em dúvida a importância dada pelas mulheres à sua vida profissional, quando não mesmo a própria competência das mulheres para assumirem certos postos e funções.» (ROMÃO, 2000:63).

Bibliografia

ANGERS, Maurice, (2003). A Sociologia e o Conhecimento de Si. Uma outra maneira de nos conhecermos graças à Sociologia. Trad. Maria Carvalho. Lisboa: Instituo Piaget.
CARVALHO, Maria Alice Vera Cruz de, (Juíza Conselheira de S. Tomé e Príncipe), in FÉRIA Maria Teresa; ESTRELA, Isabel; FERRO, Gracinda, (1990). Os Direitos à Igualdade, I Encontro de Mulheres Juristas dos Países Lusófonos, 12, 13, 14 de Outubro de 1990, Lisboa: Centro de Estudos judiciários.
CIDM, (2004). A Igualdade de Género em Portugal, 2003. Lisboa: Comissão para a Igualdade e para os Direitos das Mulheres. Presidência do Conselho de Ministros.
GOLDTHORPE, J. E., (1977). Sociologia e Antropologia Social: Uma Introdução. Trad. Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Zahar Editores.
ROMÃO, Isabel, (2000). A Igualdade de Oportunidades nas Empresas. Gerir para a Competitividade. Gerir para o Futuro. Lisboa: Comissão para a Igualdade e para os Direitos das Mulheres – Presidência do Conselho de Ministros. Coleção Bem-estar, Nº 1

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Portugal: http://www.caminha2000.com  (Link’s Cidadania e Tribuna)

domingo, 19 de janeiro de 2014

Desconsideração: Sequelas


A existência humana nunca será totalmente autónoma, porque cada vez mais a interdependência de pessoas, povos e nações é uma realidade, a que alguém se poderá furtar, na medida em que é impossível suprir, individualmente, todas as necessidades, sejam de natureza: física, psicológica, axiológica e sentimental. Haverá sempre uma carência, cuja satisfação não depende da própria pessoa, por isso, a importância de se estabelecerem laços interpessoais, que devem ser fortalecidos, constantemente melhorados e consolidados.
Ao longo da vida, vamos encontrar diversas situações, as quais, deveremos entender, resolver o que for necessário, assumir as responsabilidades que elas impõem, compreender as oportunidades que nos podem oferecer, eliminar tudo o que não nos diz respeito, sempre com o cuidado de não prejudicarmos, sob qualquer forma, quem está direta, ou indiretamente, envolvido, porquanto e no que respeita às pessoas, toda a atenção é pouca.
O relacionamento interpessoal ocorre desde o nascimento até à morte. Durante o período de vida física assume diversas dimensões e intensidades. Desde os pais, irmãos e restante família, amigos, passando pelos colegas de catequese, escola, trabalho, lazer, associativismo.
Nas muitas e diferentes modalidades, conquistam-se, estreitam-se, consolidam-se abandonam-se e também se destroem valores, sentimentos, afinal, relações mais ou menos verdadeiras, solidárias, leais, enfim, íntimas, estas no sentido mais profundo de um amor, seja com finalidade conjugal, seja de pura amizade de amigo, se se quiser, um grande “Amor-de-Amigo”, pelo qual se procede e desenvolve uma enorme confiança e cumplicidade recíprocas, em que os amigos são muito mais do que parentes muito próximos, ou colegas de uma qualquer atividade.
É muito normal que duas pessoas, ao longo de uma convivência profissional, associativa ou outra, durante um certo período de tempo, iniciem, aprofundem e, desejavelmente, consolidem uma amizade que, inicialmente, começará por gestos de boa educação, amabilidade, convívios mais a sós, projetos em comum, conversas mais íntimas, olhares, gestos e comportamentos mais cúmplices, em que os impulsos de maior aproximação surgem, até atingirem um patamar de relacionamento pessoal que já envolve carinho, meiguice, contactos físicos mais íntimos.
Chegados até este nível, as pessoas apenas desejam estar próximas, muito unidas, solidárias, conversarem e agirem com total lealdade, sempre preocupadas com o sucesso e o bem-estar do amigo, por ele tudo fazendo, tudo dando, com grande generosidade e entusiasmo, para lhe agradar e manifestar um grande “Amor-de-Amigo”. As partes comprometem-se a respeitar outros valores, eventualmente, relacionados com uma vida familiar, com um cônjuge, filhos, pais.
A fronteira entre o “Amor-de-Amigo” e o amor conjugal, por exemplo, está no respeito que é devido aos cônjuges, quando eles existem e então, das duas, uma: ou se decide por uma separação conjugal e tenta-se refazer a vida, com a pessoa por quem se tem sentimentos de amor; ou se mantém o matrimónio, sem contudo se abandonar os sentimentos e atitudes relativamente ao amigo, não ultrapassando, nunca, a linha que separa as duas situações, ou seja: a relação assente naquele amor manter-se-á nos moldes em que foi estabelecida, vivida de comum acordo, consolidada a um nível que não prejudica a felicidade conjugal, antes pelo contrário, acrescenta mais ventura, em termos de carinho, consideração e estima bem como o tal “Amor-de-Amigo”. Uma felicidade paralela.
Ter um amigo, assente num sentimento tão nobre, quanto puro, como é o “Amor-de-Amigo”, constitui, nos dias de hoje, um privilégio que, de facto, não está acessível a mentes preconceituosas, a personalidades mesquinhas, a pessoas que se deixam conduzir pela inveja, aversão e hostilidade aos relacionamentos íntimos. Este novo sentimento é um grande passo para as boas e sinceras relações humanas.
Note-se que o relacionamento íntimo entre dois amigos, de sexos opostos, que se amam, nada tem a ver com a relação matrimonial, própria dos casais que, estes sim, atingem e desfrutam, reciprocamente, de um outro amor, que vai da paixão à entrega total, em circunstâncias únicas, que se verificam e culminam na relação sexual amorosa e apaixonada, na defesa e proteção dos filhos e na construção de um projeto de vida familiar, ou seja: o amor na dimensão mais direcionada para a construção e manutenção de um casamento e do respetivo lar, com tudo o que esta situação implica: axiológica, psicológica, profissional e material.
Como em tudo na vida, importa que se assumam as: promessas, compromissos, valores, sentimentos e emoções, sem medos, com clareza, honestidade, na defesa das causas em que acreditamos, na assunção serena e firme das responsabilidades pelos nossos atos, tanto mais verdadeiros, quanto mais convictas são as nossas atitudes, para com um parceiro que conquistamos e elegemos como nosso amigo especial.
A partir de um certo período de tempo, durante o qual se estreitam relações, se aprofundam e exercem sentimentos, que conduzem à prática de um comportamento muito atencioso, corroborado com manifestações reiteradas de gestos carinhosos, com a troca de cumprimentos e saudações mais afetuosos, onde se podem incluir o abraço e o beijo, próprios de um grande “Amor-de-Amigo”, ficam criadas as condições para uma amizade eterna, que deverá ser defendida e preservada pelos valores da solidariedade, lealdade, reciprocidade, cumplicidade, confiabilidade, verdade e honestidade.
Nestas circunstâncias, foram criadas profundas expectativas e alimentado um projeto de vida que terá por objetivos: o desenvolvimento de uma inequívoca parceria para a construção de uma nova e desejável felicidade, que tanto pode ser única, como paralela e enriquecedora de outra que, por via do matrimónio e respetiva família – cônjuge e filhos -, já existia, que se deseja manter, ou então se pretende terminar, porém, em qualquer dos caos, aquela parceria, firmada num autêntico “Amor-de-Amigo”, deverá manter-se e ser sempre melhorada.
Os comportamentos, estratégias e métodos que, a partir de determinada altura, um dos parceiros começa por utilizar, em ordem a destruir um grande “Amor-de-Amigo”, sem que para isso a outra parte tenha contribuído e/ou desejado, poderá configurar uma injusta e inaceitável traição aos princípios, valores, sentimentos e emoções, desde sempre manifestados pelo amigo, agora enganado, o que será considerado como uma profunda crueldade, e suscitar a dúvida sobre se, realmente, por parte de quem assim procede, alguma vez foi, realmente, solidário, amigo e leal.
Quem é vítima de tamanha deslealdade, seguramente que fica, indelevelmente, magoado, talvez para o resto da vida, o sofrimento e o desgosto apoderam-se da pessoa agora humilhada, quem sabe se hostilizada, maltratada pela indiferença, rejeição, falta de estima, consideração e carinho, pelo até então considerado amigo especial que, pensando que já não mais precisa daquele que sempre esteve e, eventualmente, continua a estar do seu lado, afastando-se, agora, desumanamente.
As sequelas de uma tal desfeita, materializada em atitudes de indiferença, desconsideração e rejeição, são incalculáveis e, contingentemente, irreversíveis. A pessoa que confiou tudo noutra, a quem tudo deu, do que tinha e não tinha, que manteve um relacionamento de sincero “Amor-de-Amigo”, que manifestou intenso carinho, ternura sem limites e inequívocas: solidariedade, amizade e lealdade, quando se sente afastada, por quem julgava ser seu amigo especial, pode, inclusivamente, cometer alguma loucura porque a humilhação, a indiferença, a deslealdade e a rejeição aniquilam: psicológica, espiritual e fisicamente.
O mundo e a vida reservam-nos imensas surpresas e, mais tarde ou mais cedo, o “Tribunal da Nossa Consciência”, não nos negará Justiça. É possível que o arrependimento surja, os remorsos nos atormentem, porque o passado ficará para sempre inscrito na nossa memória, dele não vamos escapar enquanto tivermos conhecimento da nossa identidade existencial.
O sofrimento e o desgosto são tanto mais dolorosos quando partem, precisamente: das pessoas de quem mais gostamos; por quem tínhamos um sincero e inequívoco “Amor-de-Amigo”; a quem nós, confiantemente, nos entregamos; a quem nós confessamos os nossos desejos, dificuldades, problemas, alegrias, tristezas; a quem mais dedicamos total solidariedade, amizade, lealdade e dádiva dos nossos valores, sentimentos e emoções. Quando assim acontece, sentimo-nos traídos, vexados e uns joguetes nas mãos de quem nos utilizou, com tanta impiedade e desumanidade.
A vida não poderá correr bem a quem atraiçoa princípios, valores, sentimentos e amigos. Tem de haver uma forma de se fazer justiça, independentemente da vontade das vítimas. É certo que quem sempre esteve de boa-fé num relacionamento, quem tem bons princípios, valores e sentimentos puros, verdadeiros e nobres, nunca será inimigo daquelas pessoas que, agora, nos desconsideram, nos humilham e nos afastam de suas vidas, mas a mágoa, a dor, o sofrimento e o desgosto ficam para sempre e, realmente, podem conduzir a alguma situação irreversível.
Por vezes, incompatibilizamo-nos com outras pessoas, justamente para sermos fiéis, solidários e leais àquelas por quem temos uma amizade muito profunda. Acontece, inclusivamente, recursarmos trabalhar com pessoas que ofendem, que desvalorizam e que, injustamente, comprometem o trabalho de quem nós tínhamos por amigos, porque não se pode, nem deve, ser amigo de quem não é amigo do nosso amigo.
Assumam-se, portanto, comportamentos que sejam solidários, que revelem que estamos firmemente do lado de quem gostamos, se preciso for, contra tudo e contra todos. Ora, quando esta nossa dedicação é desvalorizada e aquelas pessoas, por quem demos tudo, afinal, continuam a conviver, a pactuar, com as que as prejudicaram, isso revela querer conviver com todos, atraiçoando os nossos valores de solidariedade, amizade e lealdade.
 
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
 
Portugal: http://www.caminha2000.com  (Link’s Cidadania e Tribuna)

domingo, 12 de janeiro de 2014

Uma Interpretação da CRISE


Tanto quanto se julga saber, analisando a História da Humanidade e, dentro desta, alguns dos seus pilares como os: económico, social, político, religioso, militar, institucional, axiológico, entre outros, é possível chegar-se à conclusão que, ao longo dos vários séculos e milénios, sempre houve crises: umas, mais globais; outras, mais regionais, com mais ou menos acentuada gravidade, conforme afetam, em maior ou menor profundidade, a vida das pessoas, nas diferentes dimensões da existência humana.
Podemos analisar a palavra Crise no seu conceito habitual, como sendo uma situação difícil, seja para uma pessoa, família, instituição ou país que, normalmente, tem repercussões negativas na qualidade de vida das pessoas. Também entendida como rutura de um sistema, político, económico, financeiro, religioso. Uma nova situação que vai conduzindo a outras dificuldades e/ou agravamento das já existentes. Um período de evolução perigosa, enfim, uma situação que, não é desejável por quem detém um determinado “status” de conforto, prestígio, segurança.
A palavra CRISE, também poderá ser entendida como a sigla de um conjunto de situações, valores e sentimentos que, atualmente, segunda década do século XXI, em início do ano de 2014, no mundo em geral, mas com particular acutilância em Portugal, se fazem sentir, nomeadamente quanto aos valores das: Consideração, Respeito, Integridade, Solidariedade e Estima, aqui direcionados para a população, tanto mais sofrida, quanto mais idosa, fragilizada e atemorizada, no fim dos seus últimos dias da vida físico-biológica, neste mundo terreno, instável e atormentado.
A sociedade, em todas as suas vertentes, vem sendo “governada”, “conduzida”, “dominada” e, em muitas das suas dimensões, profundamente alterada, concretamente, na sua axiologia, verificando-se que as diferentes gerações, dos diversos poderes instituídos, têm visões que vão da coincidência à divergência, quanto ao que consideram ser melhor, ou pior, para a humanidade e os objetivos a atingir para confirmar as respetivas teses, obviamente, também são diversas, assim como as estratégias e métodos.
Com efeito, atravessam-se tempos muito difíceis, complexos, de tal forma que, em boa verdade, parece que ninguém se entende, fica-se com a sensação de que vale tudo, a qualquer preço, mesmo que este signifique a destruição, miséria, fome e morte dos mais fracos, desprotegidos e, facilmente, atacáveis.
Eles, os agora mais fracos, já deram tudo, ou quase tudo, o que ao longo de décadas lhes foi exigido, quantas vezes, coerciva e unilateralmente imposto, pouco mais lhes restando do que míseros rendimentos, para os quais contribuíram, na esperança de que um dia usufruiriam dos sacrifícios que então tiveram de passar.
Assiste-se, atualmente, à mais incompreensível falta de Consideração por todos aqueles que, em várias frentes, estiveram ao serviço de um ideal, de um futuro, para eles e para as gerações vindouras. Foram os Seniores de hoje que, ao longo das suas vidas, contribuíram, generosamente, com esperança, com boa-fé, para que os seus filhos, netos e todas as gerações para o futuro, pudessem vir a ter uma melhor vida, com mais conforto e dignidade.
Foram eles, os Seniores que, quantas vezes, privando-se de bens essenciais, de algum lazer, trabalharam incansavelmente, pouparam até aos limites da avareza e investiram em muitos daqueles que hoje governam: seja através da atividade política, empresarial, religiosa ou associativa.
Consideração por aquelas pessoas é um valor e uma atitude que, tudo indica, está a ser insensivelmente afastado por alguns eleitos que, hoje, ocupam lugares proeminentes, em parte por mérito próprio; em parte por influências e, em grande parte, por quem lhes proporcionou uma educação e formação necessárias, para ascenderem aos mais altos cargos dos diversos poderes.
Onde está, pelo menos, a Consideração devida a estas pessoas, a quem, hoje, se lhes retiram direitos adquiridos, para os quais contribuíram com grandes sacrifícios. Mas é claro que a falta de Consideração para com quem nos faz bem, infelizmente, até parece que “está na moda”, que se exibe como sinónimo de autonomia, de poder que, em alguns casos, se aproxima da arrogância, própria de quem se julga superior, e não mais necessitar de quem, no passado, os ajudou com grande generosidade, simpatia, amizade e boa-fé.
O que é a Consideração para tais pessoas? Será que quem hoje está num qualquer poder, pensa que jamais vai precisar do apoio dos seus semelhantes? Entenderão tais pessoas que quem as ajudou, afinal já não tem qualquer importância e influência na sociedade? É evidente que a falta de Consideração se equipara à ingratidão e esta atitude revela bem o caráter de quem é mal-agradecido.
Deve-se parar um pouco para refletir, porque: «É preciso sempre ajudar os fracos, mesmo sabendo, antecipadamente, que aqueles a quem se faz o bem não agradecerão. Sabei que, se aquele a quem prestastes um benefício esquecer o bem que recebeu, Deus o levará mais em conta do que se tivésseis sido recompensados pelo reconhecimento do vosso beneficiador.» (KARDEC, 2010:278).
 Nesta linha de pensamento e numa apreciação objetiva, que parece oportuno fazer-se, também importa referir que a falta de Consideração devida à comunidade Sénior, em certa medida, conduz a uma outra atitude, que se pode considerar por falta de Respeito, porque isso é bem patente nos procedimentos legais, não, necessariamente, legítimos e muito menos justos, que os detentores do poder estão a manifestar contra aqueles que, precisamente, os elegeram, com esperança, acreditando na palavra dada, consubstanciada nas promessas feitas quando buscavam, desesperadamente e a todo o custo, o poder.
Respeito é a segunda letra da sigla CRISE e, dia-após-dia, este superior valor que remete para um comportamento próprio das pessoas bem-formadas, tudo indica que está a diluir-se nos interesses individuais de quem tem poder para tomar e aplicar, unilateralmente, as mais violentas decisões, porque não respeita a dignidade dos seus semelhantes e que deve caraterizar toda a pessoa humana, isto é: todos os cidadãos nascem livre e são iguais em dignidade e direitos.
Quem governa, seja o que for, é porque detém poder e vice-versa: quem detém poder, pode governar, seja o que for. O Respeito é um valor, um comportamento, uma deferência, que deverá ser pluridirecional, recíproco mas, eventualmente, deve partir de quem está melhor preparado e ocupa posições de maior responsabilidade, de resto, como aconselham as boas normas de conduta social, ou seja: “os bons exemplos devem partir de cima”.
É inaceitável que pessoas com formação superior, em especial, mas também quem não possui tal preparação, ocupando cargos importantes, não tenham Respeito pelos seus semelhantes em geral, e por aqueles que, em parte, lhes proporcionaram educação, formação e estatuto.
É bom não ignorar que grande parte das pessoas, se tem formado à custa do erário público, para o qual todos contribuem, através de enormes cargas fiscais, incluindo os que durante toda a vida foram tributados e, agora, extemporaneamente, depois de terem cumprido com todas as suas obrigações fiscais, para auferirem um rendimento que lhes permita um fim de vida digno, continuam sufocados com tantos impostos.
Os Seniores são, mais uma vez, convocados, coerciva e injustamente, para colaborarem no seu próprio empobrecimento, precisamente pelos detentores do poder que, tendo beneficiado dos contributos daqueles, os maltratam agora e humilham, porque os encontram fragilizados e depauperados. Haja Respeito pelas pessoas, por aquelas que tudo deram na vida, para proporcionarem o melhor às novas gerações, mas também para terem um final tranquilo, confortável e digno, porque é justo, legítimo e legal que assim seja.
O Respeito, que é devido às gerações que agora se aproximam do fim do seu ciclo de vida terrena, não é compatível com processos e procedimentos ofensivos da dignidade destas pessoas. É claro que para além de outros interesses, o Respeito encontra-se sempre, nas pessoas humanas de bem, com boa formação e estas assertivas confirmam-se, claramente.
Na verdade, tudo indica que: «O verdadeiro homem de bem é aquele que pratica a Lei da justiça, de amor e de caridade na sua maior pureza (…). O homem de bem é humano, é bom e benevolente para todo o mundo, sem distinção de raças, nem de crenças, porque vê irmãos em todos os homens (…). O homem de bem, enfim, respeita nos seus semelhantes todos os direitos …» (Ibid.:332-34).
A Integridade física, moral, ética e psicológica das pessoas deve ser escrupulosamente respeitada, porque constitui uma componente fundamental e única no ser humano, que não se encontra em mais nenhuma outra criatura, tem um “valor” inestimável e inegociável e, em circunstância alguma, ela não deverá ser posta em causa, pelo que quaisquer decisões, atitudes e comportamentos que atentem contra a integridade, nas suas diferentes, mas complementares vertentes, devem ser rejeitadas liminarmente.
A terceira letra da sigla CRISE, entre outras possibilidades, remete-nos para este valor universal da pessoa humana que é a sua Integridade, também a Idoneidade e por isso, quem quer que, por algum meio, processo ou “esquema” tente negá-la, atacá-la e destrui-la, certamente, não será uma pessoa de bem, revelará profunda falta de consideração e respeito para com a pessoa humana que, em nenhum momento da sua vida, se poderá ver privada deste valor ecuménico, que é também parta da sua dignidade.
Realmente, a crise que se vive, sendo económica, financeira, laboral e social, não será, todavia, a principal porque, o que efetivamente se verifica é, sim, uma profunda crise axiológica. Numa sociedade pretensamente civilizada, onde todos dias se proclamam a defesa dos direitos humanos, bem como algumas louváveis iniciativas nesse sentido, paralelamente, numa dimensão incomensurável, assiste-se à prática de uma grande insensibilidade para o exercício dos comportamentos e boas-práticas, principalmente por parte de quem tem o dever ético-moral e institucional de executar esse valor, para com todas as pessoas que estão a sofrer as crueldades de decisões injustas e ilegítimas, por vezes, também ilegais/inconstitucionais.
Exigir Consideração, Respeito, Integridade, a que se deve adicionar a quarta letra da palavra CRISE, que corresponde ao valor da Solidariedade para com as pessoas em geral e, particularmente, em relação aos mais desprotegidos na vida, por várias razões: idade, doença, desemprego, rendimentos exíguos, baixo estatuto, auto-estima, praticamente, inexistente, é quase um lugar-comum, mas a verdade é que a Solidariedade, a par de outros valores, contribui para a denominada “felicidade social”, a que todas as pessoas têm direito, e pela qual lutam uma vida inteira.
Com efeito: «A pessoa fica feliz ao ajudar outro ser humana a ser feliz (…). A felicidade social é a expressão máxima de saúde relacional social. (…) Tolerância, solidariedade, compaixão, sabedoria e não-violência fazem parte da felicidade social. Os grandes guias religiosos foram as suas expressões máximas.» (TIBA, 2003:72).
Portanto, há valores que são devidos e exigidos para com os mais desfavorecidos, vulneráveis e que, inexoravelmente, se aproximam do fim da sua passagem pela Terra. Tais pessoas, que já cumpriram parte das suas principais obrigações, têm o direito à Consideração, ao Respeito, à Integridade e à Solidariedade, porque também elas foram solidárias: primeiro, para com os seus antepassados; depois, e como que por antecipação, com as gerações vindouras, que ajudaram a subir ao poder, e que agora são tão mal tratadas, precisamente, por aqueles que deveriam ser os primeiros a ser solidários para com esta geração Sénior.
Ao que parece, a gratidão de algumas pessoas é um valor utópico, até em relação aos seus próprios parentes mais chegados, os seus progenitores, os seus avós, amigos, entre outros. Que falta de Solidariedade e de sensibilidade reina na mente de tantas pessoas, que se julgam “importantes” por que pensam possuir um determinado estatuto ou atributo mas que, afinal, revelam uma incómoda jactância que em anda as dignifica. (Entenda-se a jactância, no seu conceito mais comum, isto é: quem tem atitudes e age com arrogância, ações e hábitos de gabarolices, conduta de quem vive a manifestar fanfarrices).
Abordar a sigla CRISE quanto ao seu último carater, leva-nos a pensar no valor e comportamento da Estima. Sem dúvida alguma que sentirmo-nos estimados, e que sabemos ser próprio de quem nos quer bem, mas também pelos nossos semelhantes, constitui um forte “alimento” na elevação da nossa auto-estima, (que tão maltratada tem sido ao longo dos primeiros anos da segunda década deste novo século XXI), para continuarmos a pensar que ainda temos amigos, que estão do nosso lado, sempre disponíveis para nos ajudar.
 A Estima a par da Consideração é muito importante para a manutenção da nossa afirmação como pessoas, verdadeiramente humanas, que nos leva a pensar que ainda somos queridos, que a nossa existência com os respetivos princípios, valores, sentimentos e emoções são apreciados e aprovados.
Não haverá ninguém, ou então, muito poucas pessoas, que não desejará ser estimado, querido, desejado, acarinhado e apoiado, sendo certo que aquele valor, o da Estima, também envolve um comportamento bem específico e transparente, nas pessoas que genuinamente gostam de nós.
Interpretar a CRISE, adoptando a palavra como uma sigla de valores e comportamentos,  não é mais nem menos do que exigirmos: à sociedade em geral, e a quem, por uma cirucunstância qualquer nos superintende, que manifestem Consideração, Respeito, Integridade, Solidariedade e Estima, porque o que está em causa é a ausência destes e doutros valores, princípios, sentimentos e emoções, por parte de quem tinha a obrigação de se comportar na comunidade com gratidão, compreensão, tolerância e respeito.
Quando: se ataca, discriminada e negativamente, determinados setores da sociedade e, dentro destes, as pessoas, grupos e instituições mais fragilizadas; se afirma, e decide, que é preciso adotar certas medidas, que afetam, desumanamente, sempre as mesmas pessoas, classes e grupos etários mais avançados, sabendo-se que tais decisores, possivelmente, nunca passaram por situações de muitas privações e que, eventualmente, têm garantidos, inclusivamente, a nivel nacional e internacional, o seu próprio futuro, de seus familiares e amigos, então sim, esta é que é a verdadeira CRISE. Uma crise de: princípios, valores, sentimentos e emoções verdadeiramente humanos. 

Bibliografia

KARDEC, Allan, (2010). O Evangelho Segundo o Espiritismo: contendo a explicação das máximas morais do Cristo, sua concordância com o Espiritismo e sua aplicação nas diversas situações da vida. Trad. de Albertina Escudeiro Sêco. 4ª Edição. Algés/Portugal: Verdade e Luz – Editora e Distribuidora Espírita.
TIBA, Içami, (2003). Quem Ama, Educa! Lisboa: Pergaminho.

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo 
Portugal: http://www.caminha2000.com  (Link’s Cidadania e Tribuna)

domingo, 5 de janeiro de 2014

Melhor Vida


Muitos são os princípios, valores e sentimentos que podem contribuir para uma vida melhor, não tanto na perspetiva material mas, principalmente, no âmbito superior e sublime que é o espiritual, onde os mais secretos desejos, as maiores desilusões, os projetos mais íntimos e as cumplicidades se escondem do mundo complexo, por vezes perverso, também, em algumas circunstâncias, muito específicas, quanto ao exercício da solidariedade e generosidade.
A vida moderna impõe padrões de intervenção que, quantas vezes, contrariam a própria natureza e maneia de ser das pessoas. Hoje, (2014) a necessidade, qualquer que ela seja: material, social, política, estatutária, poder em geral, ergue-se muito acima do racional e moralmente aceitáveis, porque a pessoa só é importante enquanto detém alguma forma de influência, algum tipo de decisão, num determinado setor e/ou assunto.
A verdade, contudo, é que a vida é curta, muito rápida na sua trajetória terrena e, tendo em atenção esta realidade, facilmente se pode inferir que é muito importante tudo se fazer, para que a nossa passagem por este mundo seja o mais agradável possível, por vezes com alguns exageros, não se olhando a meios par se atingirem determinados fins e, pior do que isso, desconsiderando, humilhando e prejudicando outras pessoas, nos seus mais elementares direitos ao respeito, à estima, à dignidade.
Desenvolver atitudes comportamentais que visem proporcionar uma qualidade de vida digna da superior condição humana pode, desde já, ser um primeiro caminho a percorrer, porque é essencial estarmos de bem connosco, antes de nos envolvermos em quaisquer atividades na sociedade onde nos encontramos inseridos, ou seja: procurarmos tudo fazer para que possamos ter uma tranquilidade espiritual que influencie as nossas relações interpessoais pela positiva.
Qualquer noção de vida melhor deve começar na própria pessoa, porque só ela conhece, e quando conhece, as suas dificuldades, os seus anseios, os seus projetos. Pertence à pessoa avaliar o seu nível, por exemplo, de auto-estima, a partir da noção do próprio estado de espírito e, neste caso: «Auto-estima é a vivência de sermos apropriados à vida e às exigências que ela faz. Mais especificamente, auto-estima é: 1) Confiança em nossas capacidades para pensar e enfrentar os desafios da vida; 2) A confiança em nosso direito de ser feliz, a sensação de sermos merecedores, dignos, qualificados para expressar nossas necessidades e desejos e desfrutar os resultados de nossos esforços.» (NATHANIEL BRANDEN, in CLARET, s.d.:13).
A velha máxima Socrática do “Conhece-te a ti próprio” é aqui muito importante, na medida em que: qualquer relacionamento pressupõe um mínimo de conhecimento do outro, para ter sucesso; todavia, é indispensável que as pessoas se esforcem para se determinarem perante os seus semelhantes, a partir do que sabem de si mesmas, porque melhor poderão avaliar o nível da relação.
Aceita-se, sem grandes reservas, que para uma vida melhor, entre muitos fatores materiais e imateriais, o valor, ou, se se preferir, uma atitude de compreensão, justamente a partir do “Conhece-te a ti próprio” é, seguramente, uma boa postura, considerando, inclusivamente, um dos muito conceitos de compreensão.
Pode-se aceitar que: «O exercício da compreensão é como um bálsamo agradável e salutar para eliminar todas as feridas prejudiciais ao ser humano. Também a compreensão é muito importante para o melhor equilíbrio energético e, em consequência, favorecer o descortinar dos mais sadios e positivos caminhos para uma comunicação paranormal, sempre mais eficaz» (FRANCESCHINI, 1996:126).
É claro que compreender não significa abdicar de princípios, valores, sentimentos e emoções, que constituem parte da nossa personalidade, que integram o nosso caráter, que sustentam a nossa honra, bom-nome e dignidade. A compreensão, por exemplo, não poderá ser compaginável com atitudes desencadeadas pelos nossos semelhantes, quando visam denegrir e negar aqueles valores a que temos direito.
Não confundir compreensão com tolerância é essencial, porque: quer uma, quer outra, pressupõem limites, no sentido em que tudo se poderá compreender e tolerar, mesmo que outros princípios, valores e sentimentos sejam negados. Compreensão e tolerância, sem prejuízo de deveres e direitos de terceiros. Ninguém deve ser ilimitadamente compreensivo e tolerante, prejudicando outras pessoas e/ou a si próprio, porque então toma-se o caminho da parcialidade e da injustiça.
Compreende-se, e aceita-se, que qualquer pessoa desenvolva todas as suas capacidades, mova influências e se entregue totalmente a um objetivo, procurando alcançar os melhores resultados, porém, sem colocar em causa idênticos direitos de seus semelhantes, sem prejudicar, de alguma forma ou por um qualquer processo, os legítimos e legais interesses de eventuais concorrentes. Aqui deve funcionar a lealdade, o respeito, a correção e boa educação e, sempre que necessário, a solidariedade e, por que não, a amizade.
A sociedade complexa que atualmente se enfrenta, envolve situações, por vezes, dramáticas, para partes significativas das populações, mas também condições muito favoráveis para outros extratos mais pequenos. Verifica-se que os princípios, valores e sentimentos não são necessariamente idênticos, porque os objetivos são diferentes e os meios a utilizar para alcançar os melhores resultados também são diversos.
Aceita-se, como verdadeiro, que qualquer pessoa goste, minimamente, de si própria e que, por isso mesmo, faça alguma coisa para usufruir do melhor nível possível na vida. Admite-se que em cada indivíduo exista: alguma, razoável, muita ou excessiva auto-estima, que é necessária para se ter sucesso na vida, porque se trata de uma auto-avaliação que conduz a um maior ou menor nível de confiança em si próprio, nas suas capacidades.
Com efeito, tudo indica que: «Hoje, experiências comprovam que, ao agir como se fossem dotados de elevada auto-estima, os indivíduos acabam desenvolvendo um melhor sentimento sobre si mesmos. No mundo do futuro, em que o ser humano é cada vez mais valorizado, o domínio dos mecanismos que levam à felicidade será prioritário e percebido como um verdadeiro fator crítico de sucesso de vida. Nestes novos tempos, ser bem-sucedido estará intrinsecamente vinculado a ser feliz.» (VIANA & VELASCO, 1998:143).
É claro que para uma vida melhor, afigura-se indispensável haver um permanente equilíbrio entre as dimensões material e espiritual, da pessoa humana, porque ambas são necessárias para que a convivência harmoniosa, a estabilidade no conforto e a segurança quanto ao futuro se conjuguem, permanentemente, em todas as fases da vida, com especial acuidade na parte final da existência humana.
Importa, aqui e agora, desenvolver uma ideia que parece pretender denegrir todos aqueles que, trabalhando uma vida inteira, cumprindo com todas as suas obrigações que lhe eram impostas e que, acreditando nas instituições, como sendo pessoas coletivas de bem, objetivamente, o Estado, composto pelos seus governantes, tais pessoas tenham projetado um final de vida tranquilo, relativamente confortável, enfim, tenham nesta fase das suas existências, uma vida melhor, mas que agora, são confrontadas com a negação dos seus direitos.
E uma vida melhor não significa apenas ter uma reforma, pode e deve ser muito mais do que isso. Uma vida melhor também se identifica com atividade, participação, reconhecimento, utilidade, de um conjunto de pessoas, muito válidas, experientes e que detestam a ociosidade, que pretendem continuar a ser produtivas, não só para elas, como para a sociedade, significando esta posição uma forma de vida melhor, o processo, afinal, para a vida boa.
É sabido que, por exemplo: «Na cultura indígena, assim como em outras, a idade traz uma experiência que é usada em benefício das comunidades. Limitar a ação das pessoas por seu tempo de vida é aniquilar as informações que elas carregam. Essas informações, se não forem usadas, tornam-se verdades que, dentro dos corações delas, ficam ultrapassadas por meio de uma visão fragilizada de desprezo ou descaso com relação às suas existências como terceira geração.» (ROMÃO, 2000:171).
Quando se reflete sobre uma vida boa, ou melhor vida, pretende-se que este conceito seja abrangente a todas as faixas etárias dos escalões societários mais desfavorecidos, que são a maioria das pessoas, porque um bom nível e qualidade de vida são essenciais para se viver numa sociedade mais justa, onde o futuro não se constitua em incertezas, em perdas de direitos conquistados ao longo de uma vida de trabalho. Que um futuro desejado e merecido não seja de pesadelo, mas com uma esperança e realidade de melhor vida.

Bibliografia

CLARET, Martin, (s.d.). O Poder da Auto-Estima. São Paulo: Editora Martin Claret
FRANCESCHINI, Válter, (1996). Os Caminhos do Sucesso. 2ª Edição, Revista e Ampliada. São Paulo: Scortecci
ROMÃO, Cesar, (2000). Fábrica de Gente. Lições de vida e administração com capital humano. São Paulo: Mandarim.
VIANA, Marco Aurélio Ferreira, & VELASCO, Sérgio Duarte, (1998). Futuro: Prepara-se. Cenários e Tendências para um Mundo de Oportunidades. 3ª Edição. São Paulo: Editora Gente.
 
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

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quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Ano Novo: Esperança Renovada


Concluído que está mais um ano, extremamente difícil, mas que, desejavelmente, até poderá vir a fechar um ciclo de alguns anos de imensos sacrifícios, injustiças, incompreensões, ilegitimidades, designadamente nos domínios político-social, económico-financeiro e laboral que, de forma intensa, atingiu os portugueses em geral e, principalmente, os mais vulneráveis: desempregados, idosos, pensionistas e reformados, trabalhadores dos diferentes setores de atividade económica: sejam independentes, sejam por conta de outrem. Todos sentiram a “mão de ferro” de uma austeridade imerecida e brutal, que não seria necessária, que não tinha de ser assim, que não atingiu na mesma proporção pessoas, grupos e organizações.
É verdade que vamos quase com seis anos de sofrimento, de perdas de direitos adquiridos, porque contratualizados de boa-fé, seja com entidades privadas, seja com o próprio Estado, este, sabe-se bem, não tem honrado os compromissos assumidos, designadamente com os seus servidores e, dentro destes, com os mais vulneráveis, que já não podem defender-se, na medida em que os principais instrumentos de reivindicação, tais como as greves de nada lhes serve, estão à mercê de um Estado que não é totalmente sensível aos dramas sociais e muito menos para com aqueles que o servem atualmente.
Durante a quadra natalícia, que decorreu recentemente, ouviram-se muitas mensagens de esperança, muitas alusões a dias melhores, estatísticas favoráveis no sentido de que os principais indicadores económicos estão a melhorar, a dar sinais de uma lenta mas consolidada recuperação, apontando-se para o vislumbre de uma “luzinha ao fundo do túnel”, como, ao que afirmam, não se via há muito tempo. É saudável dar-se o benefício da dúvida e fazer-se um esforço generoso, para se acreditar, de que realmente, a situação vai melhorar.
Pensar-se que é tempo de “arrepiar caminho”, em relação a diversas medidas, entretanto insinuadas, de mais austeridade, é uma atitude correta, na medida em que não podem ser sempre os mesmos a pagar as faturas dos descalabros de quem tem responsabilidades na gestão dos recursos nacionais. É tempo, a partir de agora, de serem outros a suportar o pesado fardo de uma carga brutal de impostos, taxas, derramas e todos os outros instrumentos que, afinal, não passam de processos injustos, de retirada de rendimentos às famílias.
Afirmar-se que se deve fazer um balanço sério do que ao longo destes anos foi feito contra a maioria das pessoas, não é exigir nada que possa ofender quem quer que seja, mas apenas pretender-se dar um contributo para que haja mais equidade, mais proporcionalidade, mais equilíbrio entre pessoas que devem ser todas consideradas de uma só categoria: portuguesas, não de primeira, de segunda ou terceira, mas apenas, portuguesas.
O novo ano que agora se inicia já vem “pré-prestigiado” como podendo vir a ser o início da “independência económica”, das retomas mais acentuadas, uma espécie de “liberdade condicional” (financeira), mas que, por isso mesmo, ainda se enfrentará vários obstáculos que todos temos de vencer, sabendo-se, contudo, que ninguém vence o que quer que seja, sem saúde, sem trabalho, sem educação/formação, sem poder de compra, porque é pela riqueza que se promove o consumo, que tudo funciona e se desenvolve positivamente e jamais pelo empobrecimento das pessoas, do país e das nações. A lógica que tem vindo a ser seguida, não parece adequada ao progresso sustentado.
Apesar das tremendas dificuldades sentidas durante os últimos anos, pese, embora, fazer-se passar a mensagem de que certos sacrifícios, perdas de direitos e imposição de medidas injustas, ilegítimas e, eventualmente, ilegais, se não fossem previamente analisadas, serão necessárias para se ultrapassar uma alegada situação económica muito complicada, de que a esmagadora maioria do povo não é responsável, é tempo de se inverter a irracionalidade e injustiça seguidas, e adotar políticas verdadeiramente humanistas, socialmente compatíveis com a dignidade humana a que todos temos direito.
Vamos, portanto, iniciar mais um ano imbuídos de um novo espírito, no sentido de acreditarmos que, finalmente, será possível restituir tudo o que, sob a capa de uma austeridade, dita necessária, nos foi retirado nestes últimos anos, porque a “receita” aplicada falhou, na medida em que não é pelo caminho da miséria, do desemprego, da retirada de direitos adquiridos e da redução drástica do poder de compra que se vai dinamizar a economia, o consumo, o investimento e a atração de novos empreendedores.
É muito difícil aceitar-se participar em “desafios” lançados por pessoas e/ou entidades responsáveis, quando os direitos essenciais para os enfrentar e vencer nos são retirados e/ou reduzidos, designadamente aqueles que dependem dos decisores, destacando-se, objetivamente cinco desses direitos: a) saúde; b) trabalho; c) educação/formação; d) salários/reformas; e) poder de compra, já que muitos outros não dependem, exclusivamente, dos poderes legitimamente constituídos, por isso, a esperança de que repostos todos os direitos, será este o caminho que nos deve animar e assim apoiarmos todos os projetos, enfrentarmos os desafios que promovam e consolidem aqueles cinco instrumentos para o desenvolvimento e bem-estar de toda uma população.
Todo o mundo sabe que os portugueses, ao longo da sua quase milenar História, deram provas de inteligência e coragem para vencer em todos os domínios das atividades humanas. Possuímos uma das melhores “mão-de-obra” do mundo, um grande espírito de abnegação, uma indiscutível capacidade de adaptação às mais diferentes e até hostis situações. Temos “massa cinzenta” espalhada por todo o mundo e também dentro de portas. Somos os melhores de entre os melhores. Precisamos, apenas, dos recursos materiais: financeiros, técnicos, infraestruturas, entre outros.
O ano que agora se está a iniciar, logo no seu primeiro dia, simboliza o “Dia Mundial da Paz”, como já vem acontecendo desde 1968, que foi instituído pelo Papa Paulo VI em 08 de Dezembro de 1967. É importante que consigamos adquirir a nossa própria paz interior, para a podermos transmitir aos nossos semelhantes. A paz interior também se promove e consolida com o conforto a que temos direito, com a segurança e a estabilidade dos nossos deveres e dos benefícios adquiridos, com um nível e qualidade de vida que a superior condição humana postula.
O povo anónimo espera sinais de confiança no futuro, indicações verdadeiras, seguidas das respetivas medidas, de que este será o ano de nos devolverem os direitos que, ilegitimamente, nos suprimiram, porque não se pode, nem se deve rasgar contratos, que foram subscritos de boa-fé, que se acreditou em pessoas e entidades, como gente/instituições de bem.
 Esta prova tem de ser dada já este ano e, certamente, que se fará tudo para que assim seja, porque de contrário não haverá quaisquer condições para continuarmos a acreditar em quem confiamos a nossa esperança, em quem nos prometeu um futuro melhor, em quem, de boa-fé, apostamos tudo.
A esperança, diz o povo, é a última a morrer. Vamos, portanto, continuar a acreditar, a partir deste primeiro dia do ano de dois mil e catorze. Para o efeito, comecemos, então, por pacificar o nosso espírito, construamos com solidariedade, amizade, lealdade e gratidão o novo edifício de uma comunidade fraterna, onde cada irmão português, bem como todos os que escolheram Portugal como sua nova e/ou segunda pátria, se sintam bem em sua própria casa, reconhecidos, valorizados e incentivados para um futuro de autêntico e irreversível progresso.
Vamos dar, mais uma vez, o benefício da dúvida a todos aqueles irmãos que têm responsabilidades no Governo desta grande casa chamada Portugal, e peçamos a Quem os possa ajudar para que lhes ilumine a inteligência, sensibilize os corações e os fortifique espiritualmente, para tomarem medias acertadas, justas, legítimas e legais, no sentido de honrarem os compromissos assumidos quando se dirigiam aos restantes irmãos, prometendo-lhes respeito, conforto, segurança, estabilidade, trabalho, equidade e dignidade.
Todo o ser humano é falível. Não existem pessoas insubstituíveis. Todos somos iguais perante as leis dos homens e Divinas. É tempo, mais que tempo, para que todos os responsáveis passem a dar-nos alegrias, a proteger-nos da lógica mercantilista, das ambições financeiras para lá do que é legítimo e justo.
A vida é efêmera, passa muito rapidamente e mesmo quando se pensa numa sucessão de gerações, à frente dos grandes negócios mundiais e das instituições, nada garante que tais gerações venham a usufruir do que os seus antepassados lhes deixaram. Ninguém tem a vida nem o destino nas mãos.
Adote-se, portanto, a lógica de uma justiça distributiva, equitativa, legal e segura. Assuma-se que é necessário proteger os mais fracos, aqueles que já não têm recursos físicos, intelectuais e etários para assegurarem um conforto para o qual e de boa-fé apostaram ao longo da vida.
Estimule-se o trabalho para as gerações mais novas. Consolide-se o emprego para os ativos e reintegrem-se todos aqueles que perderam um dos maiores bens que se pode ter, de entre outros, obviamente: o trabalho. Faça-se tudo pela dignidade, por um futuro promissor a que todos temos direito, porque, no limite das exigências naturais, só queremos: saúde, trabalho, justiça, paz, felicidade e a Graça Divina.
 
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo 

Portugal: http://www.caminha2000.com  (Link’s Cidadania e Tribuna)