domingo, 23 de fevereiro de 2014

Sentimentos. Emoções. Valores. Razão


Considerar a pessoa humana, como um ser superior, constituída pelo binómio Corpo-Alma, não prejudica a linha científica, nem dificulta a posição espiritual, pelo contrário, as duas componentes até podem aceitar-se como uma evidência da grandeza da espécie humana. Alimentar uma polémica sobre qual a componente mais importante, ou interessante, ou fundamental à vida, parece não ser assim tão relevante.
É certo que a ciência tem muitas explicações para grande parte dos fenómenos, reações, consequências de certas situações, graças, ainda, à fragmentação do próprio conhecimento científico, nas muitas especializações que vai descobrindo e desenvolvendo. São factos indiscutíveis e irrefutáveis.
Hoje é possível à ciência diagnosticar, explicar e resolver muitos problemas, em quase todos os domínios do conhecimento, entrando, também na execução de determinadas soluções a tecnologia, cada vez mais avançada e sofisticada, tem uma intervenção importante. É uma verdade inquestionável que ninguém, minimamente esclarecido, e de boa-fé, pode colocar em dúvida, porque os resultados, em muitas áreas, estão à vista e podem ser comprovados.
Duvidar do poderio da ciência é regredir no tempo, no espaço e no conhecimento. Determinados fenómenos humanos são racional e logicamente explicáveis, se necessário, resolvidos, porque no quadro das ciências médicas, por exemplo, com toda a panóplia de especializações, é possível tratar situações patológicas do foro psicológico, psiquiátrico e neurológico, incluindo certos sintomas relacionados com a personalidade, com a tristeza/alegria, através de exames técnico-científicos, muito específicos.
O isolamento, o choro, a angústia, entre outros indícios, podem explicar uma depressão, que não sendo uma doença física, que afeta sob a forma de uma dor, um determinado órgão, ou tecido corporal, é possível de tratamento e até de cura. Recusar à ciência os méritos que lhe são devidos poderá significar desconhecimento e, eventualmente, algum fundamentalismo em relação a outros domínios do foro subjetivo, alternativo e, talvez, um pouco isotérico. Portanto: “à ciência o que é da ciência; à técnica o que é da técnica”.
A racionalidade humana permite às pessoas refletirem e agirem de acordo e em função da objetividade de situações concretas, visíveis por todos, compreendidas logicamente, defendidas com argumentos e contra-argumentos. Existindo todo um raciocínio coerente, ou não, ele desenvolve-se, aplica-se em casos concretos, resolve, relativamente bem, problemas que se colocam no dia-a-dia, nas mais diversas situações da vida real.
Mas a pessoa humana está dotada de uma outra componente, inefável, materialmente invisível, mas que é sentida, que conduz a situações, por vezes, inexplicáveis pela ciência tradicional, não resolvidas pela técnica, que nos leva a reações, quantas vezes ditas irracionais, que causam, inclusivamente, grandes tragédias: homicídios, suicídios, vinganças, perseguições, entre outras.
Acontece que nem tudo é dramático, irremediavelmente perdido e, ao longo da vida, experienciam-se situações que nos proporcionam alegrias, tristezas, mágoas, dor, sofrimentos e desgostos, que se relacionam com valores não exercidos, e/ou traídos, e com sentimentos, aliás, o aforismo popular sentencia que: “Quem não se sente não é de boa gente” ou seja, temos sentimentos, valores diversos, alguns dos quais não podem ser maltratados.
Os fenómenos sentimentais, que geram emoções, nem sempre são controlados pela racionalidade, pela realidade objetiva, por uma avaliação pertinente e adequada às possíveis consequências das reações que provocam, resultando situações que, posteriormente, se aceitam e consideram desejadas ou, pelo contrário, causam graves e, algumas vezes, irreversíveis prejuízos morais e materiais, que temos dificuldade em admitir.
E se para um racionalista os fenómenos ditos do “coração” são considerados como próprios de pessoas ”fracas”, “incultas” e “líricas”, para um romântico, sentimental e apaixonado, também os racionalistas serão pessoas insensíveis, frias, calculistas, escravas da razão. É claro que em muitas circunstâncias da vida, qualquer uma das posições parecerá a mais correta, como para outras tendências, a regra ou avaliação “salomónica”, segundo a qual, “no meio está a virtude”, é que será a mais justa.
Defendo que existem pessoas sentimentais, românticas e apaixonadas, que são racionais, equilibradas e firmes; como igualmente se verifica que em pessoas racionais também existem valores, sentimentos e emoções, que são generosas, carinhosas, verdadeiras amigas e que, por uma boa afeição, também “esquecem” a racionalidade, para darem lugar ao “coração”.
A verdade, apesar do respeito que ambas as posições merecem, é que o ser humano é diferente de todas as restantes espécies conhecidas, porque revela e exerce determinadas faculdades: umas, suficientemente estudadas e demonstradas; outras, nem tanto, que são inigualáveis e inimitáveis, designadamente certos sentimentos e emoções, que constituem realidades que não se podem escamotear e muito menos ignorar.
Admite-se que por via dos sentimentos e emoções e consequentes reações, a pessoa humana cometa erros, se prejudique, mais a ela própria do que a outras, que na perspectiva científica, e até civilizacional, revele alguns distúrbios e cometa atos condenáveis, mas também não se pode ignorar que a mesma pessoa pratica ações de grande nobreza, imbuídas de valores verdadeiramente humanos, como a solidariedade, a amizade, a lealdade, a ajuda, a coragem.
Pensa-se que muitas pessoas preferem lidar com a pureza, espontaneidade e autenticidade de verdadeiros sentimentos e emoções do que sujeitar-se a certas racionalidades, insensibilidades e situações dramáticas que, muitas vezes, se criam contra a própria dignidade das pessoas. Vive-se muito no dilema, na dicotomia que caracteriza o ser humano.
Provavelmente, os ideais, os absolutos, existem em teoria, porque na prática, talvez o ser humano, dada a sua imperfeição, jamais os consiga realizar. Evidentemente que no domínio das hipóteses, de facto, o ideal seria termos a capacidade de desenvolvermos e praticarmos bons sentimentos – racionais e emocionais – ajustados a uma sociedade civilizada ou, se tal for compreensível, incrementarmos uma racionalidade sentimental, uma lógica emotiva.
O ser humano é tudo aquilo que as circunstâncias lhe permitem, sendo certo que as componentes constituintes da sua superioridade se revelam através da sua racionalidade lógica e dos seus sentimentos e emoções, seguramente, com a observância possível aos princípios, valores e normas sociojurídicas, que regem a civilização em que se insere.
As pessoas não devem, nem têm que se envergonhar, nem inibir-se de revelarem os seus sentimentos e emoções, entendidos na sua vertente nobre, eventualmente, com alguma irracionalidade, se resolvem situações que a positividade das leis, dos instrumentos científicos e técnicos não conseguem.
A tetralogia, verdadeiramente única e humana dos Sentimentos, Emoções, Valores e Razão configura um património difícil de igualar por quaisquer outros seres e, ao considerar-se a componente racional, então sim, a pessoa, verdadeiramente humana, torna-se nobre, superior e inigualável, tanto mais sublime, quanto mais generosas são as suas ações.
O mundo moderno, onde se movimenta uma sociedade complexa, poderia (e deveria) ser um local paradisíaco, a partir do momento em que todos os seres humanos saibam e queiram conjugar a racionalidade, a lógica dos seus conhecimentos, técnicas e potencialidades, com os sentimentos, as emoções e os valores. Pode-se “construir” a pessoa, a família, os grupos, as comunidades e a sociedade global com aqueles ingredientes que são específicos da espécie humana.
A sociedade humana não pode estar sujeita, nem se equipara, a uma selva irracional, a um território onde os “animais” mais fortes e, em algumas espécies, mais inteligentes, subjugam os mais fracos, os menos dotados. Pretende-se um mundo gerido por pessoas providas de razão e de sentimentos, onde o meio-termo, suportado pelos valores mais humanos, seja uma forma de vida digna, para todos, sem exceções.
A supremacia que advém da condição humana é, justamente, fundamentada nas duas grandes dimensões que caracterizam toda a pessoa verdadeiramente humana: razão e espírito; objetividade e subjetividade; sentimentalidade e emoção; valores, lógica e boas práticas.
É possível exercermos e revelarmos os nossos sentimentos, com sentida emoção, dentro de uma racionalidade humanista, com uma lógica verdadeiramente axiológica, ao serviço da solidariedade, da amizade, da lealdade, da paz e da felicidade. Os sentimentos, emoções e valores são tão necessários à dignidade da vida humana, como a ciência, a técnica e a razão.

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo 

Portugal: http://www.caminha2000.com  (Link’s Cidadania e Tribuna)

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Amar: Felicidade e Sofrimento


No âmbito do contexto humanista, pode-se afirmar que, de entre os mais diversificados e até contraditórios sentimentos, que caraterizam toda a pessoa humana, o amor é, porventura, aquele que mais desejamos receber e oferecer. Pelo exercício claro e incondicional dos sentimentos, nos elevamos ao mais alto nível da dignidade humana, ou submergimos nas profundezas da depravação, sordidez, enfim, crueldade.
De uma forma muito genérica, sabemos que a força dos sentimentos vence os mais complexos e difíceis obstáculos, e contribui para a união das pessoas, aliás: «A conexão entre as pessoas só é plenamente exercida quando a intimidade é vivida pela expressão clara dos sentimentos. Elas não eram capazes de experimentar a intimidade sem uma maior clareza no coração.» (BAKER, 2005:130).
Num mundo “apressado” em que nos movimentamos aceleradamente, nem sempre temos tempo para valorizar os nossos sentimentos mais nobres, pelo contrário e, infelizmente, por vezes, preocupamo-nos em como colocar em prática os mais mesquinhos, no sentido de prejudicarmos alguém, por uma qualquer “razão” e/ou objetivo: humilhação, vingança, perseguição. É nestas circunstâncias que o ódio toma conta do nosso comportamento, com consequências frequentemente imprevisíveis e irreparáveis.
É, portanto, num labirinto de sentimentos, dos mais belos aos mais hediondos que surge o Amor, seja qual for a sua natureza e intensidade: conjugal, fraternal, maternal, paternal, filial, “Amor-de-Amigo”, entre outros. Amar é, por conseguinte, uma faculdade humana, de inegável grandeza, de inigualável generosidade, de total entrega à pessoa que amamos e que, quando nos retribui este amor tão puro, quanto incondicional, nos leva a um determinado prazer que afinal é a felicidade de sermos amados.
Sabemos bem que: «A felicidade não acontece automaticamente, não é uma graça que um feliz sortilégio possa espalhar sobre nós e que um revés da fortuna nos possa tirar; depende só de nós. Não nos tornamos felizes numa noite, mas à custa de um trabalho paciente, elaborado dia-a-dia. A felicidade constrói-se, o que exige trabalho e tempo. Para ser feliz, o próprio indivíduo precisa de saber mudar.» (LUCA e FRANCESCO CAVALLI-SFORZA, in RICARD, 2003:9).
De igual forma, amar alguém, gostar verdadeira, incondicional e imensamente de outra pessoa, afigurar-se-á uma tarefa que nunca estará concluída, bem pelo contrário, exige empenhamento permanente, renovação constante, ultrapassar situações de aparente conforto, para resolver conflitos, sofrer o desgosto de nem sempre sermos correspondidos, ainda que acalentando a esperança de que um dia, finalmente, venhamos a ser recompensados pela retribuição da pessoa que sempre amamos.
O sentimento do amor, para quem o possui, revela-se a mais poderosa “arma” para vencer muitos obstáculos que a vida nos coloca neste mundo, porque na verdade: «Viemos cá para estarmos em comunhão, para aprendermos sobre o amor com outros seres humanos que estão no mesmo caminho que nós, que aprendem as mesmas lições. O amor não é um processo intelectual. É sim uma energia dinâmica que entra em nós e flui todo o tempo através de nós, estejamos nós conscientes desse facto ou não. O fundamental é aprendermos a receber amor, assim como a dá-lo. Só podemos compreender a energia envolvente do amor na comunhão com os outros, nas relações, no serviço.» (BRIAN, 2000:64).
Por vezes, experienciamos na vida situações que nos marcam, indelevelmente, para todo o sempre, que até nos provocam receios, pânico e escapatórias para a frente, como que fugindo de um passado que não queremos recordar e, muito menos repetir, provocando-nos bloqueios de diversa ordem.
É muito natural que um amor intenso, uma relação extremamente apaixonada, um “impulso” afetuoso, que terminam abruptamente: ou por causas que ofendem os nossos princípios, valores, sentimentos, e emoções; ou por mero capricho de uma das partes; ou, ainda, por imponderáveis da natureza e da vida, nos provoque uma mágoa excessiva, um desgosto profundo e uma atitude de desconfiança para o futuro, que realmente nos impede de tentarmos uma outra oportunidade para sermos felizes, através de um novo amor.
Qualquer pessoa que venha de uma situação desta natureza, obviamente, quando procura a felicidade, através de uma nova relação, ou da renovação da afinidade que fracassou, os cuidados a ter serão redobrados, principalmente, por quem se aproxima da pessoa sofrida, ou então por ela mesma, quando é causadora do seu próprio sofrimento e/ou vítima da que lhe deu origem. É aqui que uma e outra devem pronunciar a palavra “Amo-te”, se realmente já estão conscientes que estão a experienciar este digno sentimento.
Compreender, demonstrar e vivenciar certos sentimentos é quase sempre muito difícil, considerando que a constituição biofísica e espiritual da pessoa humana é extremamente complexa, que escapa às mais elementares regras de quaisquer ciências exatas e tecnologias mais avançadas, por isso, e muito embora se espere de certas pessoas alguma previsibilidade, em determinadas circunstâncias, o que acontece com mais frequência é, precisamente, alguma instabilidade, insegurança, medos, também atitudes de coragem, esperança e decisões: umas vezes certas; outras erradas. A Vida faz-se assim mesmo.
Amar alguém é diferente de gostar, porque o amor, quando autêntico, incondicional, para a vida, implica uma inequívoca exclusividade, dedicada à pessoa que se ama, abnegação, sofrimento, desgosto, como também solidariedade, alegria, lealdade, entusiasmo, proteção, confiança, cumplicidade, companheirismo, gratidão e felicidade.
Em boa verdade: «A pessoa que sabe vivenciar e exercitar o amor com todos os contornos salutares, dessa inquestionável energia tonificante, transbordando paz, exercitando com desprendimento o carinho, entendendo com compreensão humilde os homens para saber perdoar as suas fraquezas e falhas, é evidente que jamais deixará escapar de suas mãos o sabor extraordinário que lhe oferece a experiência da felicidade.» (FRANCESCHINI, 1996:167-8).
Gostar incondicionalmente de uma pessoa significará: manifestar-lhe atitudes de elevada consideração, carinho, respeito; demonstrar-lhe solidariedade quando entender conveniente; ajudá-la, sempre que necessário, em tudo o que for possível e para tal existam recursos adequados; conviver com ela, partilhar princípios, valores, alguns sentimentos e emoções.
Amar uma pessoa é um sentimento bem diferente do gostar. O amor, quando autenticamente sentido e vivido, implica, desde logo: entrega total, apaixonada, amorosa; com uma intensidade, por vezes, incontrolável; os atos que lhe estão subjacentes envolvem uma intimidade inigualável, tal como: o olhar afetuoso, o beijo na boca; os desvelos carinhosos nas mais diversas partes do corpo e, finalmente, a relação sexual amorosa. É uma dádiva sem condições.
Ao abordarmos o amor no contexto matrimonial, então aqui deve-se procurar atingir a plenitude, em todas as dimensões relacionais, que ao casal lhe estão reservadas, que são incentivadas por esse sentimento tão nobre e altruísta como é o amor, por isso, a partilha em tudo e de tudo, na vida do casal deve ser a regra de oiro, sem o que, muito rapidamente, as condições para um casamento e/ou união de facto, de singular felicidade, passa a ser uma utopia.
O amor no qual se deve sustentar uma união, não concede qualquer supremacia de um, em relação ao outro membro do casal, porque ambos devem estar vinculados por aquele sentimento, independentemente do modo como o exteriorizam e exercitam. A reciprocidade deve existir sempre, seja qual for a natureza do relacionamento: matrimónios, namorados ou simplesmente amigos, neste caso, no “Amor-de-Amigo”.
Concorda-se, defende-se e assume-se aqui que: «A mulher não é escrava do homem, sem direitos nem privilégios (…) nem tão pouco um brinquedo para preencher as horas livres do homem (…). Por mais que o homem se empenhe em afundá-la até às raízes e a converta numa mulher da rua, sem categoria humana, ninguém nem coisa alguma a derrubará do pedestal de “mãe”. (…) A mulher não é um objeto de comodidade material do homem (…). É companheira com os mesmos direitos e as mesmas obrigações.» (GUERRERO, 1971:99).
Inegavelmente, o que acima se transcreve para a mulher, também vale, pela inversa, para homem, apenas se substituindo o género e a palavra “mãe” pelo vocábulo “pai”. Homem e mulher, quando verdadeiramente se amam, são um só corpo, uma só alma, com um só destino, caminho comum aos dois.
O amor, quando verdadeiramente existe, não discrimina os géneros, homem e mulher têm, obviamente, deveres e direitos idênticos, de resto o rumo a seguir, para o Porto Seguro da Felicidade, também, algumas vezes do Sofrimento, estabelece reciprocidade, partilha, coesão, tolerância e perdão, porque não existem pessoas perfeitas, que ao longo da vida não tenham cometido erros, que não guardem um ou outro segredo: muito pessoal, muito íntimo, que não desejam divulgar nem dividir com mais ninguém, seja por vergonha, por receio a uma eventual censura ou até por temor de perder uma pessoa amada.
A vida quotidiana, nos tempos conturbados que correm, não é nada fácil. Muitas são as contrariedades que, ao longo de um dia de trabalho, nos surgem (para quem tem a sorte de ter um emprego) e que no final da jornada laboral nos deixam exaustos, quase sem disposição para mais nada, a não ser a vontade de descansar, física e mentalmente, compreendendo-se, por isso mesmo, que um ou outro conflito possa surgir no seio do casal, mesmo amando-se, porque amor também é sofrimento e, acreditem, como dói enfrentar tais situações.
Quando não se ama, não se sofre com as situações mais difíceis. Tais pessoas “passam ao lado”, porque não amam incondicionalmente, preferem satisfazer os seus egoísmos, fugir das suas responsabilidades, partindo para as diversões, encontros com os “amigos da borga”, prazeres extraconjugais, adultérios, traições e humilhações para com aquela pessoa que verdadeiramente nos ama e merece, no mínimo, respeito.
É claro que, como diz o povo: “não se manda no coração”, por vezes pode acontecer que, em pessoas mais vulneráveis, mais sentimentais, elas sejam demasiado sensíveis e agarrarem-se a amizades, que depois se transformam num amor sincero, incondicional, sem limites, não obstante saberem que não será correto, se outros compromissos já existirem. Mas estas situações, fazem parte das fragilidades do ser humano e as pessoas envolvidas certamente tudo farão para as corrigir.
Inequivocamente que o amor é, hoje em dia, a solução para muitos conflitos. Ele tem de existir com cedências, com compreensão, com tolerância, com perdão, quando e sempre que necessário, porque: «Alguém precisa de nos encorajar a não pormos de lado aquilo que sentimos, a não termos medo do Amor e do sofrimento que ele gera em nós, a não termos medo da dor. Alguém precisa de nos encorajar para o facto de esse ponto macio em nós poder ser desperto e, ao fazermos isso, estaremos a alterar as nossas vidas.» (CHODRON, 2007:117).
Lutemos, então, para aumentar, engrandecer, preservar e consolidar o amor que sentimos pela pessoa que amamos incondicionalmente, para que ela, por sua vez, também nos retribua com este maravilhoso sentimento. Saibamos ser generosos, humildes e amantes.
Esforcemo-nos por conservar a amizade da/s pessoa/s que sabemos ser/em verdadeiramente nossa/s amiga/s e rejeitemos toda/s a/s aquela/s com a/s qual/ais não nos deveremos identificar, porque o/s seu/s comportamento/s, atitude/s é/são incompatível/eis com os nossos princípios, valores, sentimentos, emoções, reputação, dignidade e que, em certas circunstâncias, até prejudicam a nossa relação com outras pessoas amigas e, no limite com a pessoa que amamos.
Escolher as companhias, as amizades, os interesses, os projetos que desejamos, que possam vir a contribuir para a nossa felicidade, em partilha com a pessoa que amamos e também com mais algumas, poucas, muito poucas, pessoas, que nos são autenticamente amigas, será sempre a grande orientação que deveremos ter na vida, porque o Amor e a Amizade, quando incondicionais, são sentimentos que nos proporcionam: alegria, prazer, serenidade, confiança e felicidade; mas também tristeza e sofrimento dolorosos, quando não retribuídos. Mas vale a pena AMAR.
 
Bibliografia

BAKER, Mark W., (2005). Jesus o Maior Psicólogo que já Existiu.Trad. Cláudia Gerpe Duarte. Rio de Janeiro: Sextante.
BRIAN L. Weiss, M.D. (2000). A Divina Sabedoria dos Mestres. Um Guia para a Felicidade, alegria e Paz Interior. Trad. António Reca de Sousa. Cascais: Pergaminho.
FRANCESCHINI, Válter, (1996). Os Caminhos do Sucesso. 2ª Edição, Revista e Ampliada. São Paulo: Scortecci.
GUERRERO, José Maria, (1971). O Matrimónio Hoje, à Luz do Vaticano II, Trad. José Luís Mesquita, Braga: Editorial Franciscana.
RICARD, Matthieu, (2005). Em Defesa da Felicidade. Trad. Ana Moura. Cascais: Editora Pergaminho, Ldª. 

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

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sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Namorar Toda a Vida


Todos os anos, por esta época, festeja-se um evento que se pode considerar dos mais belos, no que respeita a sentimentos, na circunstância, amorosos. Com efeito, no dia catorze de fevereiro, comemora-se o “Dia de S. Valentim” que é considerado o protetor dos namorados, daí também se designar este acontecimento como o “Dia dos Namorados”, conforme reza a História que, ao longo de séculos é recordado e vivido pelos casais apaixonados.
É claro que este dia é especialmente consignado aos namorados, todavia, nada impede que seja extensível a todos os casais que continuam enamorados, qualquer que seja a faixa etária, solteiros, casados ou em união de facto, porque o Amor não escolhe idades, nem estatutos, nem sexo, nem posição social. O Amor é o mais belo sentimento da pessoa humana, e deve ser vivido com verdade, intensidade e lealdade entre os enamorados.
O Dia dos Namorados poderá (deveria) ser mais um dia para revermos nossas amizades, para nos reconciliarmos com o passado, para nos redimirmos de quanto magoamos a quem nos quis e quer tão bem. Neste dia, em que o Amor é o sentimento predominante, entre quem autenticamente está apaixonado, também o podemos invocar junto das pessoas para com as quais devemos ser solidários, amigos, leais, cúmplices e gratos.
Enaltecer este dia, como um símbolo do amor, nas suas diferentes vertentes e intensidades, é uma exigência que se deve colocar à sociedade dos valores, dos sentimentos, das emoções, das paixões, genuinamente, arrebatadoras, até à tranquilidade de um amor consolidado por décadas de comunhão de felicidade que ele proporciona, a par de alguns períodos de dor, sofrimento e desgosto. O Amor faz parte dos altos e baixos da vida.
Naturalmente que a condição de namorar pode, à partida, não significar qualquer sentimento de amor mais profundo, mais sério, mais incondicional, mas tão só, o início de um romance (por vezes de uma aventura leviana) que, a partir de atitudes de simpatia recíproca, se foi desenvolvendo, intensificando, para se elevar ao nível de uma grande amizade entre duas pessoas. Este sentimento de amizade sincera, pode conduzir a uma forma de amor que, não sendo idêntico ao de muitos casais será, porventura, tão puro e profundo, quanto incondicional que proporciona, também ela, grande felicidade.
Vivenciar o “Dia dos Namorados” com sentimentos nobres, junto da pessoa alvo da nossa amizade, pode revelar-se como um primeiro passo, ou mais um indício no sentido de demonstrar à pessoa de quem gostamos, que queremos tê-la connosco, no caminho da felicidade, independentemente dos elementos que venham a contribuir para este bem supremo que é o Amor.
Tudo deve partir de nós e com este princípio aceita-se que: «A Felicidade vem de dentro. Não depende de fatores externos ou de outras pessoas. Você fica vulnerável e é tão fácil magoar-se quando os seus sentimentos de segurança e de felicidade dependem dos comportamentos e das ações das outras pessoas.» (BRIAN, 2000:66-67).
Neste dia, tão importante para quem verdadeiramente está apaixonado ou, pelo menos se gosta muito, todas as manifestações de carinho, de atenção, gentileza e, sobretudo, de inequívocas: solidariedade, amizade, lealdade e gratidão, nunca serão demais, pelo contrário, são necessárias.
Naturalmente que não deveria ser apenas no “Dia dos Namorados”, portanto, uma vez por ano, mas sim todos os dias, porque sentimentos tão dignificantes, quanto maravilhosos, são para serem revelados, exercitados à/e para a pessoa de quem se gosta, que se ama e, igualmente, se possível, vice-versa, porque a retribuição de um amor, é como uma bênção que se deseja receber da pessoa que se ama.
Na verdade, a dimensão sentimental da pessoa humana será tão importante e necessária quanto a sua faculdade racional. A relação interpessoal que deve existir no seio da sociedade é um fator de estabilidade, mas antes dessa grandeza societária, determinados valores e sentimentos têm de estar em nós, partir de nós para os outros e nestes, a começar na família, porque é nesta instituição que se funda a sociedade, com tudo o que ela comporta.
Com efeito: «A conexão entre as pessoas só é plenamente exercida quando a intimidade é vivida pela expressão clara dos sentimentos. Elas não eram capazes de experimentar a intimidade sem uma maior clareza no coração (…). A intimidade que vem de um coração puro é essencial no relacionamento de um casal.» (BAKER, 2005:130).
Viver este dia consagrado aos Namorados consiste em assumir atitudes de quem, por exemplo, pela primeira vez faz juras de “amor eterno” formulação e/ou renovação de promessas e, no caso de amigos íntimos, o compromisso de reforçar a amizade, demonstrar que realmente queremos estar com a pessoa de quem sinceramente gostamos e que, igualmente, desejamos a sua retribuição.
 
 
Bibliografia

BAKER, Mark W., (2005). Jesus o Maior Psicólogo que já Existiu.Trad. Cláudia Gerpe Duarte. Rio de Janeiro: Sextante.
BRIAN L. Weiss, M.D. (2000). A Divina Sabedoria dos Mestres. Um Guia para a Felicidade, alegria e Paz Interior. Trad. António Reca de Sousa. Cascais: Pergaminho.
 
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
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domingo, 9 de fevereiro de 2014

O Preço da Teoria SAL


É normal, desejável e aconselhável que qualquer pessoa, ao longo da sua vida: se esforce por construir a sua própria imagem, a sua personalidade, o seu caráter; que adote e pratique princípios e valores; que não se envergonhe de exteriorizar os seus sentimentos e emoções, mesmo que outras pessoas pensem que tudo isto são sinais de fraqueza, lamechices, designadamente quando existentes num homem que, ainda segundo certas mentalidades, deve transmitir e revelar comportamentos ditos e tidos por virilidade, coragem, força, superioridade e outras adjetivações próprias, também, de um certo culto masculino de forte personalidade, assim considerada quando reúne aqueles qualificativos.
Quando se reflete sobre princípios, valores, sentimentos e emoções, gestos, atitudes, comportamentos, e se pretende adotá-los para construir uma identidade cívico-profissional e ético-moral, entre outras dimensões da constituição da pessoa verdadeiramente credível e respeitável, pensa-se numa perspectiva civilizacional moderna, irredutivelmente humanista, em ordem ao bem-público e, legitimamente, em benefício próprio e de todo um agregado familiar e coletivo.
 É claro, e ninguém prova o contrário, por nenhum recurso técnico-científico, político-religioso, ético-moral e sócio-profissional que é totalmente perfeito ou, que é o que parece e vice-versa, por muito boas que sejam as opiniões públicas e/ou a opinião publicada a nosso respeito, porque durante a vida aprende-se que, por circunstâncias diversas, em muitos casos incontroláveis, alteramos, conscientemente, a nossa própria imagem, embora tal modificação não seja percetível à análise de qualquer pessoa.
No decurso da nossa existência, de facto vamos construindo uma imagem que vai sendo aceite, valorizada, credibilizada, apontada, quantas vezes, como exemplo a seguir. Conquistam-se amizades, a boa reputação vai-se consolidando, as pessoas confiam cada vez mais e até, eventualmente, nos convidam para determinadas funções que aceitamos, ou não.
Daqui podem nascer, presumivelmente, pelo menos, duas novas identidades, que até podem ser mitigadas por uma terceira: ou nos tornamos vaidosos, egocêntricos, arrogantes, prepotentes e insensíveis perante situações sociais, dificuldades diversas que as pessoas, algumas das quais até seriam nossas amigas, e começamos a agir como se de repente o mundo tivesse de girar à nossa volta, convencidos de que somos os melhores do planeta; ou então adotamos comportamentos de humildade, que por vezes até se configuram como próximos da auto-desvalorização, baixa auto-estima, rejeitando honrarias, benefícios e convites aliciantes, ainda que, possivelmente, rentáveis do ponto de vista material e no contexto de uma sociedade complexa, nem sempre justa, frequentemente inverdadeira. Acredita-se que é possível o meio-termo.
É muito provável que uma forte imagem de dignidade impoluta, de credibilidade irrefutável, de sociabilidade agradável, de competências diversas reconhecidas, construídas ao longo de décadas venham a ser alteradas, precisamente porque este SAL da vida, cuja sigla significa: Solidariedade, Amizade e Lealdade, seja perturbado e nos leve a cometer atos contrários à auréola que nos tem envolvido, e nos colocava no pedestal dos insuspeitos, do que quer que seja de criticável e até de condenável.
Com efeito, pode acontecer que para mantermos certos princípios, valores, sentimentos e emoções, perante uma dada situação, pessoa, grupo ou instituição, optemos por comportamentos incorretos, para com outras pessoas, sempre que estas atentam, precisamente, contra a dignidade, honra, reputação, bom-nome e profissionalismo de nós próprios, dos nossos amigos, grupos e instituições, porque nós sentimos e exercemos, naturalmente, solidariedade, amizade, lealdade (o tal SAL da vida), bons e nobres sentimentos.
Em tais circunstâncias a imagem credível, da boa exemplaridade, de nobres valores, de excelentes colegas em quaisquer atividades, acaba por ser prejudicada e, paradoxalmente, até com notória ingratidão, pelas opiniões das pessoas, grupos e instituições, em relação aos quais nós nos vinculamos solidariamente. Ou seja: para que os princípios, valores, sentimentos e emoções sejam verdadeiros, em relação a uma dada pessoa, grupo ou instituição, deixamos de ter o mesmo comportamento para com as pessoas que de alguma forma molestam ou prejudicaram aquelas com quem nos solidarizamos.
Novamente resultam, pelo menos duas posições: ou continuamos fiéis para com as pessoas, grupos e instituições, com quem nos solidarizamos e afastamo-nos de todas as outras que lesaram, ou são hipócritas para com os nossos amigos, grupos e instituições e assumimos as consequências; ou então fazemos um jogo duplo com todo o mundo, traindo, simultaneamente, todas as pessoas que sobre nós formularam e divulgaram uma opinião positiva.
Por vezes, o “preço” a pagar pelo exercício de determinados valores, pela dádiva generosa de sentimentos, pela demonstração permanente e humilde de algumas emoções, é muito alto porque: as pessoas, grupos e instituições, com quem nos solidarizamos e apoiamos, incondicionalmente, incompatibilizando-nos com outras, acabam por nos abandonar, a tal ponto de: por um lado, nem sequer quererem saber da nossa situação, ao nível da saúde, trabalho, família, projetos e situação financeira; por outro lado, a nossa própria consciência, acaba por nos julgar, por vezes com assertivas e máximas bem justas e acertadas.
Coloca-se então a questão: teria valido a pena indispormo-nos contra determinadas pessoas, grupos e instituições, para mantermos a nossa solidariedade, amizade, lealdade e sentimentos com outras, verificando-se, depois, que estas, quando julgam que já não precisam de nós, nos afastam e nos trocam e/ou se mantêm ligadas e, eventualmente, interagindo, paradoxalmente, ou não, com as que estiveram na origem das nossas tomadas de posição, justamente para mantermos a consideração, a estima e o respeito por elas?
Afigura-se, cada vez com mais evidência, que é difícil desenhar-se uma personalidade de exemplaridade positiva, de bons princípios, valores, sentimentos e emoções, isto por vários motivos: primeiro, todos nós somos extremamente vulneráveis a situações que não controlamos, seja no âmbito racional, seja no quadro emocional; segundo, porque nos enganamos, frequentemente, em relação a quem demos todo o SAL da nossa vida – Solidariedade, Amizade e Lealdade – da nossa própria imagem, construída, quantas vezes, ao longo de uma vida; terceiro, porque com muita facilidade certos interesses, situações e pessoas conseguem influenciar, contra nós, aqueles por quem tudo demos, a quem tudo confiamos e que, pensando eles que somos humildes, aparentemente fracos, que não temos nenhum tipo de influências sócio-materiais, já não servimos para mais nada, passam-nos, então, para o grupo dos indesejáveis, descartáveis.
Quando alguém é contemplado com avaliações positivas, gerais e/ou específicas, isso não quer dizer que a pessoa beneficiária de tal apreciação seja perfeita, que não tenha cometido erros, que seja inatacável. As opiniões favoráveis até podem ser amplamente consensuais, mas haverá sempre alguém que sabe, eventualmente, que aquela pessoa tem falhas, seja na família, nas amizades, no trabalho, nos estudos, na sociedade, mas também poderá ser verdade que tais falhas e erros se ficam a dever, justamente, ao preço do tal SAL – Solidariedade, Amizade e Lealdade – que essa mesma pessoa sabe que foi por causa dela, que a primeira cometeu erros, porque de resto, a pessoa aureolada com uma boa imagem pessoal, pública ou privada é merecedora deste prestígio.
Se pensarmos o seguinte: Se uma determinada pessoa é muito querida na sociedade, no seu círculo de amigos, de colegas de trabalho e na família, é porque ela tem manifestado e exercido princípios, valores, sentimentos e emoções que justificam o seu prestígio, mas eu sei que por minha causa, tal pessoa traiu parte do seu comportamento cordial para com outras pessoas, para poder estar sempre do meu lado, solidária, amiga, leal, então eu devo expressar-lhe, em quaisquer circunstâncias e tempos da vida, amizade, consideração, estima e iguais valores, bem como a minha ilimitada gratidão.
Quando assim não acontece e alguém nos quer mal e conhece esta nossa fragilidade, de facto pode destruir uma imagem de respeito, credibilidade, honorabilidade, reputação, bom-nome e dignidade. Então é este o “preço” elevadíssimo que se paga quando somos solidários, amigos incondicionais, leais e cúmplices, aqui no bom sentido, mesmo que tenhamos de violar comportamentos gerais e alterar uma excelente personalidade que fomos construindo ao longo da vida, precisamente para estarmos sempre do mesmo lado, na circunstância, da mesma pessoa, grupo ou instituição.
Como corolário, talvez se possa admitir que: primeiro, somos merecedores de apreciações positivas, apesar da imperfeição de que estamos “inquinados”, da subjetividade de quem as produz e da inacessibilidade à verdade por parte da opinião pública geral; segundo, porque ao tomarmos uma posição solidária, de amizade e lealdade para com alguém, não temos condições objetivas para igual procedimento para com quem é prejudicial à pessoa que nós defendemos (não se pode estar ao mesmo tempo com o amigo e o inimigo do meu amigo); terceiro, somos o que em dado momento as circunstâncias da vida nos impõem, porque em situações-limite temos de decidir, e nenhuma tomada de posição agrada a “gregos e troianos”, quando uma das partes não se identifica com os fundamentos da decisão.
Ignorar que há sempre alguém que conhece factos, sentimentos, atitudes, erros, ilegalidades e situações diversas, ocorridos em nossas vidas, que não abonam favoravelmente a nosso favor, é uma imprudência e revela alguma ingenuidade, ou então um excesso de aparente firmeza, que só tem paralelo nos comportamentos arrogantes e mesquinhos.
Como muito bem refere a sabedoria popular: “toda a gente tem, pelo menos, uma telha de vidro no seu telhado”. Significa, portanto que todos temos algo a esconder, todos temos um ou mais segredos, e que sempre haverá alguém que conhece um bocadinho das nossas vidas. Então sejamos cuidadosos, humildes e tolerantes quando estamos a fazer juízos de valor.
É verdade que este SAL - Solidariedade, Amizade, Lealdade -, se “paga”: pela positiva, com a reciprocidade e gratidão, por quem dele é beneficiário; pela negativa, por quem dele se sente prejudicado e não tem a capacidade de separar as diversas situações, retribuindo com valores negativos, como: a injúria, a difamação, a ofensa, a vingança, a perseguição, quantas vezes até à destruição da personalidade e da própria vida, de quem não abdica de ser solidário, amigo e leal, de quem faz deste SAL, um ideal e uma orientação de vida.
Como diria Jesus: “Este é o Caminho, a Verdade e a Luz”, isto é, sermos compreensivos, tolerantes, abertos ao nosso próximo, ao mundo e a Deus é o procedimento justo, todavia sem abdicarmos dos nossos princípios, valores, sentimentos, honra, bom-nome e dignidade e, quem nos quer bem, quem é verdadeiramente nosso amigo, aceita e retribui esta nossa posição, com amizade, carinho e respeito e até nos ajuda neste rumo de nobreza.

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo 

Portugal: http://www.caminha2000.com  (Link’s Cidadania e Tribuna)

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Combater o Erro


Ao longo das nossas existências fazemos coisas certas e erradas, praticamos o bem e o mal, desejamos a felicidade para nós e, quantas vezes, a desventura para os outros, somos agradecidos e ingratos, prometemos e nem sempre cumprimos, fazemos amigos e inimigos, amamos e odiamos.
Praticamente, tudo nos acontece na vida: certas situações, porque as provocamos; outras, nem tanto e, ainda outras, sem sabermos porque acontecem, embora suspeitemos, sem provas (o que também é erro) de onde e porque razões, podem surgir.
A complexidade da pessoa humana e da sociedade em que ela se enquadra, e faz parte é, muitas vezes, incompreensível e não nos possibilita encontrar soluções adequadas para as usufruir e/ou resolver determinados problemas. Dir-se-á que “errar é próprio do ser humano” e ainda bem que assim é, porque sempre se aprende alguma coisa com os erros.
O resultado do erro, em princípio, faz parte do passado, e ainda que premeditado, na verdade, as evidências podem surgir num presente que, quase simultaneamente, passa a pretérito, e as suas consequências, prolongam-se durante muito tempo, são como que um futuro previsível para, em muitas pessoas, se tornar para sempre, eventualmente, sob a forma de remorso, arrependimento e sofrimento, quando se errou, mesmo que involuntariamente, ou então não se consideram rigorosa e conscientemente os malefícios do erro.
Persistir num determinado erro, sabendo que tal atitude provoca uma qualquer situação desagradável noutra pessoa, seja de natureza material, ou psicológica, ou espiritual é um comportamento muito grave, inaceitável e que poderá revelar, inequivocamente, a formação interior, distorcida, de uma determinada pessoa.
Habitualmente, o erro também provocará, quando involuntário e em pessoas de boa-formação ético-moral, não só o arrependimento, como a decisão de, rapidamente, reparar os prejuízos, principalmente em quem mais os sofreu, incluindo, muitas vezes, a própria pessoa pela prática desse erro. Certamente que quem assim procede, demonstra a sua humildade, seriedade e boa-formação.
Praticar o bem: “sem olhar a quem”, como se afirma na sabedoria popular, naturalmente, revela qualidades humanas acima do normal, como a manifestação do reconhecimento, por parte de quem recebe esse mesmo bem, igualmente demonstra boa-formação, e não é necessário dizer-se todos os dias, “muito obrigado”, e, muito menos, sentir-se inferiorizado por receber um determinado bem, um favor, uma atenção, uma palavra de carinho e de estima.
Mas entre o dar e o receber, o erro também poderá estar subjacente, fazer parte de uma estratégia pseudo-altruista, se depois de verificar-se que, afinal, o objetivo era bem diferente da pura intenção de, francamente, ajudar alguém, porque prestar apoio, fazer bem, apenas deve ter por finalidade facilitar a resolução de um problema, contribuir para que alguém se sinta um pouco mais feliz, aliviar algum tipo de sofrimento, colaborar para uma vida digna da pessoa que recebe auxílio de outra. Se assim não acontecer, então a dádiva, o apoio, são um erro, porque interesseiros, inconfessáveis os seus desígnios.
Claro que também se erra quando recebemos um qualquer bem, que sabemos que é praticado, oferecido por pessoa bem-intencionada, que nos quer muito bem, que se sente feliz com o nosso bem-estar, que connosco se preocupa permanentemente, mas que nós não sabemos, ou não queremos valorizar, que não reconhecemos e que apenas nos limitamos a um bem-educado, “obrigado”, pronunciado quase por favor, então, nestas circunstâncias, também estamos a errar, consciente e, eventualmente, com orgulho e arrogância.
Quem pratica o bem, desinteressadamente, não vai exigir, de quem o recebe, uma gratidão eterna, embora a expressão “eternamente grato”, seja muito frequentemente e, muitas vezes, proferida com profunda sinceridade e sentimento inquestionável de gratidão.
Ser-se grato, reconhecer e valorizar os atos bons para connosco, revela, claramente, humildade, respeito, consideração, estima e, em certas circunstâncias amizade e carinho. É claro que todos nós gostamos de sermos contemplados com algum tipo de reciprocidade mas, à partida, não é condição para se deixar de praticar o bem.
As pessoas até podem estar fisicamente muito distantes, podem pensar que nunca mais se encontram, todavia, as manifestações de atenção, apreço e afeto, como formas, também, de gratidão, por que não, de amizade são sempre possíveis de se manifestar
Hoje, com as tecnologias e outros meios mais simples, é muito fácil não esquecermos quem nos fez e/ou ainda nos faz bem e, nesse sentido, um simples telefonema, um postal, um e-mail, um encontro para tomar uma bebida, enfim, mil gestos que valem o que de melhor pode haver no mundo, e que se chama consideração, estima, carinho, revelam, justamente, a nossa gratidão por quem está sempre do nosso lado.
Esquecer quem nos faz bem será um erro, que provoca um grande sofrimento e desgosto na pessoa que tanto se preocupou e/ou ainda preocupa connosco, com quem, afinal, a ignora, a rejeita e se afastou depois de estar servida. Ninguém gosta de, injusta e incompreensivelmente, ser ignorado e humilhado, por quem recebeu solidariedade, amizade, lealdade.
A indiferença, a rejeição, o orgulho, são atitudes que doem profundamente e fazem sofrer, dolorosamente, quem os recebe. Quem utiliza tais comportamentos, tem de saber que está a errar, e tanto mais gravemente, quanto a pessoa para com quem se tem estas atitudes, foi e/ou é sua amiga. Pequenos gestos, algumas palavras, escritas e/ou orais, simples mas sinceras, fazem toda a diferença e caraterizam a pessoa de bons sentimentos e gratidão carinhosa.
É claro que ninguém é perfeito, mas seria desejável que todos procurássemos a perfeição, mesmo sabendo que, possivelmente, jamais a alcançaremos. Também, é certo que muitos erros que cometemos são premeditados ou então, depois de os percecionar em nós, reiteramos a sua prática, porque com tal comportamento estamos, eventualmente, a prosseguir num caminho que conduz ao objetivo da satisfação de projetos mesquinhos, do tipo: “A vingança serve-se fria, em bandeja de prata” ou ainda para exercer represálias, demonstrações de poder, de autoritarismo e outros propósitos, inequívoca e confessadamente, maldosos.
O erro é, de facto, uma inesgotável fonte de dor e de sofrimento, e quando praticado, conscientemente, com essa mesma intenção maligna, será uma arma poderosíssima que, paulatinamente, vai destruindo as pessoas vítimas de quem erra com a intenção do “mal pelo mal”.
Ter a consciência plena de que se está a errar, e que deste erro resultam prejuízos graves, irreversíveis que, no limite, até podem conduzir à morte física e/ou mental da/s vítima/s, revela, claramente, a formação da pessoa que, reiteradamente, comete tal erro, uma organização interior que poderá tocar os limites de uma patologia que deverá ser convenientemente tratada.
Em pleno século XXI, em sociedades com uma civilização alegadamente humanista, não se vislumbram, por enquanto, melhorias significativas, nesta estratégia sibilina de provocar dor, sofrimento e desgosto, precisamente, e quase sempre, em pessoas boas que, frequentemente, fazem o bem, sem exigir nada de material em troca, apenas aspirando, legitimamente, alguma reciprocidade, sob a forma de consideração, estima e amizade, por esse bem praticado. Como é possível que ainda existam pessoas tão insensíveis, tão “superiores”?
O relacionamento humano entre as pessoas poderia ser tão diferente, obviamente, para muito melhor, se todos tivéssemos um pouco mais de consideração, de estima, de carinho, uns pelos outros! Como o sofrimento e o desgosto poderiam ser atenuados, ou mesmo eliminados, se soubéssemos repartir um pouco mais os nossos bons valores, sentimentos e afetos! Como seriamos felizes se evitássemos o erro, e/ou então, não o cometêssemos, com o objetivo de humilhar, vingar, perseguir, odiar, fazer sofrer o nosso semelhante!
Com boa-vontade e generosidade compreenda-se o erro involuntário, não desejado e desde que sejam, rápida e eficazmente, reparados os seus prejuízos, pelo menos os materiais, já que no que respeita a danos morais, éticos, psicológicos e até físicos, estes são de difícil indemnização, porque há marcas que ficam para o resto da vida e, algumas delas, até se projetam na família, por vezes, ao longo de várias gerações, constituindo como que um estigma maldito.
Utiliza-se, frequentemente, o argumento: “errar é humano” e, em contraciclo, também se riposta: “as desculpas (por erros cometidos) não se pedem, evitam-se”. São frases que servem: ou para nos autojustificarmos; ou para chamar a atenção de que não devemos errar, respetivamente. Claro que se compreendem estas posições, mas na verdade a solução está em não errar, e se por qualquer motivo o erro surge, por nossa culpa, então é inevitável que assumamos a responsabilidade e retifiquemos, rapidamente, a nossa atitude.
A falta de consideração, de estima, de respeito, ou até de carinho para com as pessoas, das quais temos recebido atitudes simpáticas e destas sentimos, os seus efeitos benéficos, bem como a prática reiterada de atos bons, constitui um erro que, realmente, magoa, faz sofrer intensamente e provoca um profundo desgosto em quem não se sente valorizado pelos seus atos bons.
Por outro lado, aquelas atitudes e ausência de sentimentos nobres, por parte de quem não os quer ter, e revela isso mesmo no seu dia-a-dia, conduz, também, à indiferença, ao afastamento, à rejeição que, por sua vez, agrava ainda mais a dor, o sofrimento e o desgosto de quem é atingido por estes comportamentos injustificados e, eventualmente, premeditados.
Poder-se-iam colocar algumas questões, como por exemplo: vale a pena fazer bem? A quem se deve fazer bem? E o erro, premeditado, com o objetivo de prejudicar o nosso semelhante, será que vai perdurar para sempre? Não haverá um processo que possa eliminar, ou pelo menos tentar evitar o erro premeditado? Valerá a pena retribuir o bem recebido, com a desconsideração, a indiferença e a rejeição? Teremos de ser insensíveis, exclusivamente, racionalistas, técnicos, cientistas, para nos afirmarmos no seio da sociedade?
Sejam quais forem as respostas, é bom acreditar no bem e praticá-lo, os atos bons, a manifestação permanente e reiterada de atitudes de consideração, estima e reciprocidade, conjuntamente com sentimentos de afeição e carinho, tudo envolvido nos valores da solidariedade, da amizade, da lealdade, da compreensão e da entrega, sem reservas, a quem nos quer e nos faz bem. Este é que parece ser o rumo certo, honesto, humilde e pleno de gratidão.
Este poderá ser o caminho que conduz ao melhor relacionamento interpessoal, ao sucesso, à paz e à felicidade que, sem qualquer dúvida, a maioria das pessoas deseja. Não poderá haver outra estratégia se queremos conviver com dignidade, com a superioridade civilizacional que tanto merecemos. Evitemos, então, o erro, especialmente, o erro premeditado e conciliemo-nos para o BEM.
Tal como acabou de afirmar Sua Santidade o Papa Francisco: “Não tenhamos medo à bondade, à generosidade, ao amor, à gratidão”. Acrescentaria para sermos solidários, vivermos na amizade, com lealdade e agradecimento, essencialmente para com todas as pessoas que connosco têm idêntico comportamento e, quanto às restantes, tenhamos a coragem de compreender os seus erros. A ingratidão para com as pessoas que nos fazem bem, pode revelar arrogância, desdém, indiferença e tentativa de falsas superioridades.  

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
 
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