domingo, 30 de março de 2014

Pode-se Confiar em Alguém?


A convivência em sociedade, hoje como sempre, é uma tarefa complexa, de difícil equilíbrio, onde prevalecem interesses de diferentes natureza, dimensão e intensidade; individuais, de grupo e coletivos. Criou-se a mentalidade, adotaram-se práticas, estratégias e objetivos para cada pessoa tentar sobreviver: umas, não abdicando de princípios, valores, sentimentos e emoções; outras, com alguma dignidade; outras, ainda, não olhando a meios para atingirem os fins a que se propõem, porque, para estas, mais importante do que “Ser”, é “Ter”.
Nas três situações, admite-se e respeita-se, concordando-se, ou não, com as atitudes coerentes com aquelas posições, embora existam explicações para os respetivos comportamentos, mais ou menos criticáveis, pela positiva ou pela negativa, respetivamente, em função dos métodos utilizados por cada pessoa e, também, dos valores poderem ser idênticos ou díspares.
Tem-se por adquirido, em largos setores da sociedade, desde logo, em alguns nichos da política, dos negócios, do trabalho, de que é importante, quantas vezes decisivo, “saber-conviver-com-os-outros”, aliás, uma das quatro formas do saber: Saber-ser, Saber-estar e Saber-fazer. Sim, é importante, mas é apenas uma parte da grandiosidade das diversas dimensões humanas.
Claro que, como em tudo na vida, existem regras, mínimas que sejam, uma ética que pode ser moral, religiosa, profissional, empresarial, política, de entre outras; princípios que devem ser atendidos, desde logo, o respeito, a consideração, a reciprocidade e também algumas máximas, desde já, a Kantiana, segundo a qual: “Não faças aos outros o que não queres que te façam a ti”. É evidente de que o princípio de que nem sempre “vale tudo” deve-se ter bem presente, principalmente quando estão em causa a dignidade humana, a solidariedade, a amizade, a lealdade, a confiança, a consideração e estima.
Mas, na verdade: não vale tudo, quando determinadas pessoas assumem comportamentos que colidem com interesses superiores, aos que a pessoa pretende atingir, por processos duvidosos ou mesmo condenáveis; não vale tudo, quando se desrespeitam as mais elementares regras da decência, da coerência, da consideração, da estima, da honra e do bom-nome de outras pessoas e instituições; não vale tudo, quando se pretende humilhar, desprezar, vilipendiar e efetivar ataques pessoais, com o objetivo de denegrir a imagem, a reputação, enfim, a dignidade de alguém.
É sabido, todavia, que nos tempos difíceis que correm, a palavra de ordem é sobreviver, conseguir o máximo do “Ter”, negligenciando o “Ser”, dominar o seu semelhante através de um qualquer poder; demonstrar que se é o melhor; obter notoriedade, quantas vezes a qualquer preço, mas sempre com o objetivo de sobreviver e, se possível, com a maior dimensão económica, profissional, social, científica e técnica; corre-se atrás da fama, do culto da personificação individual, do ego mais exacerbado, quiçá, inconsciente. Vale tudo, para muito “boa gente”, desde que se consiga atingir determinados fins.
Mas, certamente, em circunstâncias muito especiais da vida de uma pessoa, por vezes, vale quase tudo, porém nunca vale tudo, por exemplo, mesmo quando se luta pela vida, pela saúde, pela salvação da alma, numa vida espiritual eterna, para os crentes. E em situações-limite, será que vale tudo: maltratar, injuriar, difamar, desprezar, humilhar, roubar, matar? É muito difícil dar uma resposta, mas é certo que cada pessoa decide em função da circunstância do momento, ou de antecedentes acumulados.
Há uma expressão muito interessante, que se utiliza com muita frequência, para justificar certos comportamentos: “o que importa é levar a vida”, “dar-se bem com todos”, como diz a sabedoria popular: ”dizer amem, com Deus e com o Diabo”, ideia que, de alguma forma, tem implícita a atitude do “vale tudo”, seja nas relações laborais, também na política, nos negócios e, deploravelmente, nas relações pessoais. Mas ainda há quem defenda uma tal posição.
É claro que quem assim procede, deverá saber que, mais tarde ou mais cedo, acabará por enveredar por práticas ambíguas, descredibilizadas e que, tais pessoas, acabam por perder o respeito e a confiança que nelas ainda se depositava, na medida em que quem pratica vários “jogos”, em simultâneo, corre o risco de os perder todos. Mais vale um amigo para a vida, do que mil para nos bajularem, quando de nós precisam ou em conjunturas especiais, para eles.
A confiança em alguém só se adquire quando se tem a certeza de que, quaisquer que sejam as circunstâncias, se pode contar, firme e inequivocamente, com essa pessoa, para o bem e para o mal, na alegria e na tristeza, nos sucessos e nos fracassos, na felicidade e no infortúnio.
É difícil confiar numa pessoa, quando ela se relaciona muito bem com outras pessoas que nos são particularmente indesejáveis e que nos deixam desconfortáveis. É verdade que toda a gente tem, pelo menos, uma pessoa, supostamente, amiga, ou até muitas outras alegadas amizades, que cada amigo, por sua vez, tem outro amigo, e que numa relação alargada haverá alguém que não é meu amigo, mas amigo do meu amigo, ou vice-versa!
Se por um lado devemos aceitar o princípio, segundo qual: “o amigo do meu amigo, meu amigo é”, correlativamente, o contrário também devemos adotar, isto é: “O amigo do meu inimigo, meu inimigo é”. Então como se deverá proceder? Pode-se confiar num amigo que por sua vez é amigo de um nosso inimigo, ou pelo menos num nosso adversário, concorrente? Muito difícil de resolver, não é?
O “Saber-conviver-com-os-outros” implica regras, críticas, escolhas, assertividade. Ao longo da vida sempre haverá “faturas para pagar”, precisamente em função do que adquirimos, no mundo das relações humanas. Obviamente que se nos colocarmos do lado dos “gregos”, ficamos contra os “troianos”; mas se tentamos ajudar aos dois, e ambos vêm a ter conhecimento da nossa posição, o mais certo é sermos indesejados por eles e jamais obtermos a sua confiança.
 Igualmente, ficaremos com a certeza de que nunca vamos poder beneficiar de algum favor de um dos lados, porque, uma vez mais, não se pode favorecer o amigo do meu adversário. A solidariedade, a amizade, a lealdade e a reciprocidade, em relação a uma das partes, revela: coerência, confiança, honradez, caráter, verticalidade e dignidade.
Neste ponto da reflexão, a questão central que se nos coloca é saber em quem podemos confiar? Pode-se confiar em alguém, ao ponto de se divulgar a nossa vida, os n ossos valores, sentimentos, emoções, desejos, projetos, problemas, até os mais íntimos, com a certeza de que as informações, os desabafos, ficam com esse alguém que, em princípio, consideramos, por exemplo, o nosso único, especial e maior amigo?
Existem, de facto, amigos íntimos, verdadeiros, incondicionais em quem possamos confiar? Em situações-limite, em que há interesses idênticos, em beneficiar de uma determinada oportunidade, pode-se contar com o apoio claro desse amigo, que consideramos verdadeiro? Ou, pelo contrário, haverá situações muito complexas, que nem ao nosso “amigo especial” se pode dar a conhecer?
Bom, das duas, uma: ou se tem um amigo verdadeiro, puro, incondicional, especial, e nele se pode confiar totalmente; ou apenas temos um amigo que o é enquanto lhe convier e que, em certas circunstâncias, abandona o amigo para se relacionar com outros alegados amigos, para obter determinados proveitos, ficando, praticamente, contra o primeiro!
Nesta última hipótese, este é o “amigo” em quem não se pode confiar, porque nos troca, sempre que a situação lhe convém. O amigo autêntico, solidário, leal, que está permanentemente do nosso lado, aquele que por nós tem um genuíno “Amor-de-Amigo”, é o mesmo que sabe colocar todas as situações no seu devido lugar e que, até espera do amigo todo o apoio quando precisa de resolver algum problema mais complicado, incluindo aspetos do foro íntimo.
Rejeitar um amigo, trocando-o ou substituindo-o por outros interesses, situações e pessoas, não é próprio de quem se diz amigo e pode conduzir, inclusivamente, a grande dor, sofrimento, desgosto e morte de quem é vítima da deslealdade de uma pessoa em quem se confiou tudo, em quem se acreditou, de quem se gostou sinceramente.
A vida em sociedade, cada vez mais, pressiona as pessoas para terem de conviver com todas as outras, se quiserem ter algum sucesso, numa qualquer atividade, quantas vezes, até para manter um relacionamento que convém, para se atingir determinados objetivos. Infelizmente, o “Saber-conviver-com-os-outros” pode transformar-se numa perigosa hipocrisia, em complicadas deslealdades, em faltas de solidariedade e numa pseudo-amizade, de inaceitável conveniência. Então e uma vez mais, em quem podemos confiar?
Devemos acreditar que temos capacidade, e vontade, para sermos verdadeiros amigos de outras pessoas, e que estas, de igual forma, podem retribuir, com a mesma sinceridade, amabilidade e consideração, incondicionalmente, a nossa amizade, assumindo atitudes de clara, inequívoca e permanente solidariedade, amizade, lealdade, confiança e disponibilidade constante para estar ao nosso lado, com valores, sentimentos, atitudes, objetivos e métodos idênticos, tal como nós nos revelamos e procedemos para e com essa pessoa. Funciona o princípio da reciprocidade voluntária.
O mais importante, hoje em dia, é termos um Amigo do Coração, especial, responsável por promessas de “Amor-de-Amigo”, para sempre, juras de solidariedade, de amizade, de lealdade, do: “estar do seu lado” e nunca do lado do “Amo e do Servo”, ou “em cima do muro”, por isso, desejamos muito este amigo exclusivo, verdadeiro, incondicional. Mas esse amigo existe e todos nós poderemos ter a oportunidade de ganhar um amigo assim, o que é um privilégio, diria mesmo, uma Dádiva Divina e que, por isso mesmo, tudo, mesmo tudo, deveremos fazer para nunca o perder.
Como é maravilhoso, então, podermos ouvir de uma pessoa que consideramos nossa verdadeira amiga, frases como: «Querido Amigo, a minha amizade por si continua a mesma, não estou do lado de Deus e do Diabo ao mesmo tempo, estou sempre do mesmo lado (Deus), em particular do seu, poderá sempre contar comigo, seja a nível pessoal, familiar ou profissional em projetos futuros. Também lhe lanço um desafio, aguardo que no próximo ano lance um Manual de Ciências Sociais (por um especialista em CS)! Aguardo este manual e outros livros que venha a comunicar! Obrigado pela sua amizade pura, sincera e incondicional. Muitos beijos para um amigo especial!».
É de um amigo puro que precisamos. Um amigo, com as dimensões já identificadas, é suficiente para sermos felizes no campo da amizade. Quem conseguir conquistar e consolidar um amigo destes, não morrerá sozinho no hospital, nem na cadeia, nem no infortúnio e terá as dificuldades da vida muito amenizadas.
Eu quero um amigo destes! Onde encontrá-lo? Onde estás amigo especial? Eu sei onde está: tal amigo reside em quem me quer bem, em quem me é solidário, naquela pessoa que me tem amizade, que me é leal, que confia em mim e que, inequivocamente, está incondicionalmente do meu lado, tanto: na alegria, na felicidade, na prosperidade; como na tristeza, na adversidade e nas contrariedades da vida. Esse amigo existe, certamente, e eu acredito nele.
Podemos e devemos confiar em quem acredita em nós, em quem nos pede opiniões, em quem nos dá sugestões, em quem partilha connosco as alegrias e tristezas, êxitos e malogros, projetos, conhecimentos, relacionamento aberto, sincero e que, acima de tudo, não pactua com quem nos ofende, com quem nos humilha, com quem nos explora, enfim, com quem não é por nós desejado, estimado e considerado.
Queremos confiar em quem nos critica para nos corrigirmos e para nos defendermos dos “lobos disfarçados de cordeiros”. Queremos confiar em quem se preocupa connosco: na saúde/doença, no trabalho/desemprego, na riqueza/pobreza. Queremos confiar em quem nos incentiva para o sucesso, em quem acredita nas nossas potencialidades, em quem nos confia sonhos, aspirações, projetos, dificuldades, problemas, os mais íntimos, ao nível da família mais restrita, mas também noutros contextos.
Queremos confiar em quem nos pede que façamos parte da sua própria família, sem reservas. Queremos confiar em quem temos estima, consideração e amizade sincera. Queremos confiar em quem nos dirige uma palavra de carinho, um sorriso de ternura, um gesto solidário, leal, amigo. Nestas condições é possível confiar em alguém, sim.
 
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo 

Portugal: http://www.caminha2000.com  (Link’s Cidadania e Tribuna)

domingo, 23 de março de 2014

Sinais de Gratidão


Os “pequenos-grandes” sinais dos verdadeiros amigos (daqueles que nos são solidários; nos têm sincera e carinhosa amizade; nos são leais e estão incondicionalmente do nosso lado), que se podem receber ao longo da existência terrena, também se revelam em momentos, datas e períodos importantes da vida: um simples telefonema, um e-mail, um “bilhetinho”, uma carta, um singela flor do campo, uma prendinha, um abraço afetuoso, um beijo terno, de verdadeiro “Amor-de-Amigo”, enfim, um gesto de consideração, de estima, de simpatia, que faz toda a diferença, entre quem é conhecido, colega, ou amigo muito especial. (§ 1).
Ao longo da vida, vamos experienciando de tudo um pouco: desde a amizade sincera, de um ou outro amigo, verdadeiramente solidário, leal, apoiante, cúmplice e grato; também surgem aquelas outras pessoas que, num dado momento, parecem realmente nossas amigas mas que, mais tarde, quando já não lhes servimos para coisa alguma, nos desprezam e, eventualmente até nos criam um ambiente de insuportável desconforto psicológico, pessoal, moral e social, para, finalmente, termos de conviver com aquelas que por nós nunca nutriram qualquer tipo de simpatia, amizade ou um sentimento específico. (§ 4).
Por isso, em cada etapa da nossa vida, é da mais elementar coerência fazermos um balanço retrospetivo e uma antevisão do que desejamos para nós, para a nossa família, para os nossos verdadeiros amigos e para a sociedade, cabendo-nos, em relação ao passado: a) retirar as ilações de tudo o que de bom e de mal foi feito; b) refletirmos no presente, todavia, este sempre em movimento para o futuro; c) o que deveremos projetar, por forma a conseguirmos viver numa sociedade mais humana, mais tolerante, mais justa, no respeito pelas opções e dignidade da pessoa humana que connosco, afinal, continuará a conviver. (§ 7).
É tempo, portanto, de deixar aqui, publicamente, sem anonimatos, nem receios e muito menos vergonha, o meu testemunho de gratidão para com todas as pessoas que, ao longo da minha vida, me têm ajudado, em diferentes momentos e circunstâncias desta já madura existência, bem como da vida da minha família e de uma/um ou outra/o amiga/o verdadeira/o, seja com bens materiais, seja através da palavra amiga e sincera, seja, também, pela compreensão das minhas posições em diversos contextos. (§ 9).
Nesta breve resenha de agradecimentos, não vou privilegiar qualquer hierarquia axiológica, nem todas individualidades ou instituições. Felizmente: são tantas e tão boas as referências que me têm sido feitas que não posso deixar de me sentir razoavelmente realizado (e não é vaidade ridícula, mas o prazer de deveres cumpridos e reconhecidos); uma grande satisfação por constatar que, afinal, vale a pena sermos trabalhadores, dedicados, verdadeiros, humildes, serenos e, acima de tudo, educados: mesmo com os nossos defeitos e virtudes, porque estas duas dimensões existem em todos nós. Ninguém é perfeito e quem se julgar que o é, poderá ser, provavelmente, o mais imperfeito. (§ 10).
Considerando, portanto, o inestimável apoio, fornecido através de gestos, atos, comportamentos, palavras, princípios, valores e sentimentos, que ao longo destas décadas da minha vida me foram sendo revelados, por quem desejou ser realmente minha/meu amiga/o, de verdade, com total solidariedade, amizade incondicional, lealdade inequívoca, inteira confiança e inquebrantável cumplicidade, que comigo e com quem me quer bem, manteve uma sadia e, inclusive, alguma intimidade, fica aqui, para todo o sempre, o “grito” bem alto e sincero da minha gratidão. (§ 14). 
Mas a vida vai prosseguindo e, como se costuma dizer: “contra ventos e marés”, o rumo está traçado. A “viagem” é curta, e por muito longa que alguém pense que seja, de facto são “nadas” se compararmos com a idade geológica da terra e “nadas de nadas” em relação a uma eternidade celestial. Não vale a pena ilusões, quando estas têm por objetivo, magoar, humilhar, fazer sofrer o nosso próximo, o nosso semelhante, que é tão pessoa quanto nós. (§ 15).
Como é possível, que numa sociedade pretensamente civilizada, onde se proclamam valores essenciais à dignidade das pessoas, como quem lança pregões para vender um qualquer produto, numa praça pública e, ao mesmo tempo, se proceda com uma crueldade tamanha, que já nem se respeitam as pessoas mais velhas, que deram uma vida por ideais, que ajudaram a construir um país, que custearam as despesas para formar aqueles que, agora, dizem que é preciso retirar aos mais velhos para a sustentabilidade dos mais novos? (§ 16).
Caminhando nós para o “fim da linha da vida física”, haverá para os crentes, uma possibilidade de esperança, numa outra dimensão, a espiritual, para a qual nos poderemos, e deveremos, preparar nesta vida terrena, através da prática das virtudes que são exclusivas do ser humano, pelo menos tanto quanto se pode saber. Há, portanto, um outro projeto a preparar, um outro rumo a seguir. (§ 24).
Tudo o que aqui fizermos, poderá, então, refletir-se nesse outro projeto, beneficiar a caminhada num rumo bem melhor. Os crentes, os praticantes, devem ser os primeiros a dar estes bons exemplos. Neste caminho para o transcendental, há virtudes que importa, rapidamente, tentar exercer e, nesse sentido, podem, em local próprio, transcrever-se algumas que se tornam fundamentais para a nossa boa convivência, neste rápido percurso. (§ 25).
Rodeemo-nos, para já, das pessoas em quem possamos confiar, que claramente estão connosco, que comungam dos mais nobres valores que, igualmente, nós defendemos; façamo-nos acompanhar de quem nos possa motivar e incentivar para o bem; para o exercício de excelentes comportamentos, boas-práticas, pensamentos e virtudes excelsas, com elevação, com educação e dignidade, porque só assim a nossa vida terá sentido, superioridade e, neste nível seremos reconhecidos, respeitados, credibilizados. (§ 25.06).

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Portugal: http://www.caminha2000.com  (Link’s Cidadania e Tribuna)

domingo, 16 de março de 2014

FAMA


Ao longo da vida sempre haverá um ou outro período em que o ser humano procura conquistar o seu “pedacinho” de fama, porque ele deseja alcançar o reconhecimento, a notoriedade, o protagonismo e o estatuto de figura pública, mesmo que à custa da privacidade da vida pessoal, individual e/ou familiar. É como que atingir o pico da satisfação das necessidades.
O estatuto de “famoso” é cobiçado por muitas pessoas, que tudo fazem e se sujeitam a situações, por vezes, de difícil compreensão e aceitação públicas, porque ser famoso pressupõe a possibilidade de abertura de oportunidades diversas, seja para um emprego, seja para participar em eventos interessantes, seja para mover influências.
É claro que a fama tem as suas vantagens e também inconvenientes, mas para quem a procura, certamente que do seu ponto de vista, os benefícios superam os prejuízos, de resto, “tudo tem um preço na vida” e “não há bela sem senão”. A fama alimenta, desde que moderadamente utilizada, a auto-estima, pode contribuir para: treinar, aprofundar, rentabilizar e consolidar certas faculdades humanas, proporcionando um crescendo de potencialidades que ampliam a projeção da pessoa.
Concorda-se que a fama implica responsabilidades acrescidas para a pessoa famosa, desde logo assumir exemplarmente um conjunto de regras, princípios, valores e sentimentos que, na vida prática, devem ser exercitados, na medida em que a análise que resulta da opinião pública em geral, e da família em particular, tanto pode elogiar e defender a pessoa famosa, como o destronar do pedestal para que foi elevada. Os olhos da família, dos amigos, de uma instituição, de uma população, do mundo, ficam fixados na pessoa  famosa, à espera de a ver confirmar o mérito da fama ou a desilusão que o comportamento dela, em determinada altura, provoca.
Crê-se, portanto, que é essencial ser-se famoso, notável, considerado, estimado e querido, na Família, na Amizade, na Meditação e na Ação. Estas quatro vertentes da vida humana, constituem a sigla “FAMA”, porque é sobre esta fama que se pretende refletir e, seguramente, que se alguém conseguir desenvolver, corretamente, aquelas dimensões humanas, considerar-se-á famoso e a notoriedade, a respeitabilidade o prestígio serão reconhecidos nos seus correspondentes contextos.
A fama que aqui se deseja abordar, talvez não seja a que é pretendida por muitas pessoas, talvez seja a que mais importa à felicidade individual e coletiva, porém, esta fama é muito mais difícil de se conseguir, porque as quatro vertentes necessárias, obviamente, muitas outras possíveis, não são acessíveis a todas as pessoas, porque para se ser famoso, objetivamente, na família, na amizade, na meditação e na ação, torna-se indispensável aceitar, demonstrar, defender e praticar um elevado número de princípios, valores e sentimentos.
A primeira letra da sigla “FAMA”, vamos, então, aplicá-la à “Família”. Ser famoso no seio da família é extremamente complexo e exigente. Partindo do princípio, segundo o qual, todos temos e pertencemos a uma família, seja nuclear, extensa ou monoparental, é verdade que, no mínimo, já pertencemos a uma instituição milenar e que, nesse quadro, nos foram pedidas responsabilidade, no cumprimento de deveres, mas também na fruição de direitos e que, em função do nosso comportamento e resultados, assim fomos avaliados.
A família, sociologicamente considerada, será, porventura, o embrião da sociedade. Na família se praticam as melhores e as piores ações; se alcançam bons e maus resultados; tanto somos amados como odiados. Na família podem ocorrer as mais incríveis situações, tal como na sociedade. Há quem afirme que: “Quem não é na família; não é na sociedade”, ou seja, um mau filho, pai ou qualquer outro parentesco, assim se poderá refletir na sociedade.
Evidentemente que, na perspectiva pessoal do autor, a família é uma instituição que urge preservar a todo o custo, à qual se deve dedicar toda a atenção, prestar os maiores apoios, nestes se incluindo um forte incentivo à natalidade. Atendendo ao já prolongado e crítico tempo de crise, pode-se afirmar que são as famílias que estão a suportar a sobrevivência de muitos dos seus membros: pais que ajudam filhos desempregados, doentes e em situações difíceis; avós que custeiam despesas dos netos e vice-versa.
A solidariedade familiar em particular e a sensibilização da sociedade para auxiliar os mais carenciados, têm sido a “almofada” financeira do Estado, apesar deste não contemplar medidas concretas no seu programa de ação, para atenuar tanta e tão injusta austeridade que, realmente, atinge as famílias de menores rendimentos, precisamente as que nem conseguem defender-se.
Ser famoso no seio da família é um grande feito, porque isso implica estar disponível para assumir diversas responsabilidades, a começar na amizade/amor familiar, a ajudar em todos os domínios, a proteger, a preocupar-se com a saúde, como o trabalho, com a habitação, com a educação dos familiares, a contribuir para um mínimo de dignidade, de auto-estima e de valorização da pessoa humana. É muito difícil ser-se famoso com tantas e complexas exigências, disponibilidade permanente para a abertura, para a entrega, para a dádiva generosa, espiritual e material para com os familiares.
Na perspectiva da “Amizade”, segunda letra da sigla FAMA é, igualmente, um requisito que envolve um dos mais nobres sentimentos humanos. Ser famoso na amizade, entendida como o amor, este nas suas diferentes naturezas –conjugal, paternal, filial, enfim, parental, mas também entre amigos, profissionais, colegas e, ainda, noutros contextos da vida societária.
O amor, qualquer que seja a sua natureza, envolve imensos princípios, regras e valores, designadamente: solidariedade, lealdade, frontalidade, crítica construtiva, opiniões, conselhos, reciprocidade. O verdadeiro amigo não esconde os seus pensamentos, as suas críticas, as sugestões, a compreensão e a preocupação pelo bem-estar e felicidade do seu amigo. Este amigo partilha êxitos e fracassos, alegrias e tristezas, desejos, ansiedades, receios, inquietações e projetos. O verdadeiro amigo cuida, envolve-se, defende, está sempre do lado do amigo., no limite, ama com incondicional “Amor-de-amigo”.
Como é gratificante ser-se famoso por via dum sentimento tão maravilhoso como é a Amizade, mas também como é difícil alcançar, honestamente, a fama pelo reconhecimento, pela retribuição da amizade dos amigos, de forma inequívoca, espontânea, com generosidade e gratidão. Como é importante para se alimentar o “ego”, a alegria e a felicidade, porque ter pelo menos um amigo verdadeiro, já é uma vitória inestimável que nos torna famosos.
A pessoa verdadeiramente humana, normal, não é acéfala, nem amorfa, nem estática. A pessoa, enquanto ser superior, tem um dos mais poderosos instrumentos que, querendo, pode (e deve) colocar ao serviço da sociedade, desde que para o bem-estar da humanidade, mas não deve utilizar esta faculdade para o mal, para a destruição do seu semelhante. Pelo pensamento reflexivo, meditação, concentração sobre um determinado assunto, a pessoa humana tem a capacidade de analisar, discutir e encontrar soluções para muitas situações, desde: a saúde ao trabalho; da educação à formação, passando pela aplicação de regras e valores na vida prática.
A palavra “Meditação”, justamente a terceira letra do vocábulo Fama é fundamental para desenvolvermos e aplicarmos o produto do pensamento e, por esta via, também alcançarmos a fama, na medida em que a capacidade criativa e resolutiva nos eleva, mais ou menos, na sociedade.
Meditar exige um grande “esforço”. Não é por acaso que, frequentemente, se ouvem expressões do género: “Não tenho paciência para pensar no assunto”, ou, “Não quero pensar nisso”, ou ainda, “Pensar faz doer a cabeça”. É possível sermos famosos pelo pensamento e a comprová-lo analise-se a vida e obra dos intelectuais, dos grandes pensadores que já vêm da antiguidade, de resto, pensar até proporciona melhor saúde, porque a meditação é o alimento do espírito, tal como determinadas regras alimentares e físicas garantem boas condições na saúde corporal e física das pessoas.
A fama, acabada de descrever a partir da Família, da Amizade e da Meditação ficaria incompleta sem a ação, quarta letra daquele vocábulo que aqui constitui uma sigla importante na vida das pessoas. Com efeito, pela Ação, pela atividade humana, é possível construir a fama, aqui na perspectiva de colocar em prática o que aprendemos de bom na família, pelo sentimento da amizade, nas relações interpessoais que sempre se desejam excelentes, recorrendo à meditação sobre o que é bom ou mau, útil ou desnecessário, oportuno ou inconveniente, enfim, o que se deve ou não deve fazer.
Seremos, seguramente, famosos pelas ações que praticamos, neste caso, pelas boas ou más, pelo altruísmo, pela filantropia, pelo humanismo ou pelo crime, pela desordem, pelo abuso e humilhação dos nossos semelhantes. É inquestionável que nesta reflexão se defende o exemplo de boas ações, que se leve à prática as boas reflexões, porque enquanto pessoas, genuinamente humanas e benignas, não se pode aceitar outras alternativas.
FAMA, sigla de Família, Amizade, Meditação e Ação, deverá ser o nosso grande objetivo, é a partir destes pilares, brilhantes, que devemos procurar ser famosos, porque na verdade: “O homem pensa, Deus quer e a obra nasce”. Temos imensas potencialidades, conhecimentos, recursos e determinação para sermos famosos, num período da nossa vida, durante a nossa vida toda, numa determinada dimensão, com o reconhecimento público e a valorização pessoal.
 
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo 

Portugal: http://www.caminha2000.com  (Link’s Cidadania e Tribuna)

domingo, 9 de março de 2014

Potencial Humano


Ao longo do processo evolutivo da humanidade, e tanto quanto a ciência e a técnica têm avançado, hoje é possível colocar a pessoa no centro do mundo e, mais do que nunca, o paradigma Antropocêntrico, (pretendendo aproxima-se do Teocêntrico) é uma evidência que, dificilmente, se poderá ignorar, mas também é necessário ter-se a humildade de que seria demasiada arrogância e orgulho o homem querer “endeusar-se”.
Com efeito, o potencial humano está longe de atingir os objetivos que, então, serão surpreendentes, sendo plausível que se possa acreditar nas infinitas capacidades da pessoa e, a partir destas, ter-se a esperança num mundo bem melhor, a todos os níveis: social, económico, financeiro, laboral, entre outros aspetos, onde pontifiquem os valores cívicos da dignidade deste ser maravilhoso, ser que é a criatura, verdadeiramente humana.
No percurso histórico-cultural da humanidade, parece oportuno destacar as superiores faculdades do ser humano que, segundo o nível em que se encontra o estado da ciência e da técnica, não se afigura poder afirmar-se que haverá outros seres, no planeta Terra, que possam superar a pessoa humana, de resto, o mundo está cada vez mais controlado por este sujeito incontornável que é a figura humana, pesem, embora e ainda, algumas situações por resolver.
Continuam por esclarecer fenómenos naturais que escapam à compreensão e ao controlo humano, porém, muito se sabe e avançou no conhecimento e resolução de problemas, até há poucos séculos, considerados insolúveis, designadamente, nos domínios: da medicina, das engenharias e da natureza do próprio planeta, entre outros avanços científicos já consolidados.
É verdade que no que às ciências exatas e à tecnologia, muito se tem investigado, que poderá contribuir para a melhoria das condições de vida de toda a humanidade. Recusar a importância e a imprescindibilidade das ciências é regredir na evolução do mundo, considerado este nas suas vertentes positivas, seguramente no domínio dos valores que caraterizam e diferenciam a espécie humana, por isso, a aposta no investimento científico e tecnológico é uma primeira grande estratégia, que os responsáveis dos diversos setores da sociedade têm que ter em atenção.
E se ao nível das ciências exatas o desenvolvimento tem sido impressionante, principalmente no último século, outro tanto, e com o mesmo otimismo e certeza, não se pode afirmar em relação às ciências sociais e humanas, designadamente no que respeita à aplicação de conhecimentos que visem o respeito pela condição de vida digna das pessoas.
É difícil entender como, apesar de todo o potencial das pessoas, ainda existem em todo o mundo graves e devastadoras situações, que reduzem a pessoa humana à condição mais vil e degradante que se possa imaginar: conflitos, miséria, fome, violências diversas e morte prematura.
Culpabilizar apenas governantes, empresários, cientistas e técnicos constitui uma alienação das responsabilidades individuais que a cada pessoa cabem. Em bom rigor, todos, sem exceção, podem e devem dar o seu contributo válido, para que a soma dos potenciais de cada pessoa se transforme numa fórmula para um mundo mais racional, justo, afetivo e de paz.
Mesmo as pessoas, que por uma qualquer deficiência física ou psico-mental, parecem impedidas de participar no projeto universal de dignificação da sociedade, elas têm um papel importante: chamar a atenção para quem está na posse das suas faculdades naturais e, desta forma, merecerem o respeito, a dignidade e o conforto a todos os níveis, de resto, a que indiscutivelmente têm direito.
A sociedade carece, mais do que nunca, de uma maior preocupação das ciências sociais e humanas, no sentido em que devem contribuir para a revolução das consciências, tendo por objetivo a elevação da pessoa humana à condição máxima da sua superioridade, no que respeita ao bem-estar comum e também à felicidade, pela segurança, pela certeza do direito, pela esperança num mundo mais justo, mais atento às dificuldades individuais, mais respeitador da dignidade da pessoa, porque é necessário: «Combinar exigências, rigor, conciliar conhecimento tradicional com a ciência, a técnica e os novos produtos e conceitos que estas proporcionam.» (cf. CUNHA, et al., 2010:30).
O potencial humano tem de ser colocado ao serviço de todos e não apenas de alguns, ou seja: a inteligência humana não pode servir para aumentar injustiças, sofrimento e morte miserável de muitos, em favor do conforto, do domínio e da felicidade de alguns. É possível todos estarem bem, considerando-se, certamente, os méritos e deméritos de cada pessoa, na medida em que a responsabilidade de contribuir para o bem-comum é de todos, em função das respetivas capacidades e determinação em colaborar num projeto que interessa à humanidade – dignificação da pessoa humana.
É certo que não existem duas pessoas exatamente iguais; é verdade que muitas pessoas não se preocupam o suficiente com o seu próprio bem-estar e, por vezes, até demonstram querer levar a vida com o menor esforço e o maior proveito, portanto, em nada contribuindo para o bem-comum. Estas não têm qualquer razão para se queixarem da sociedade.
Quem assim se comporta não terá legitimidade para exigir o mesmo que aqueles que realmente trabalham, estudam, esforçam-se e economizam, até porque todos têm capacidades inatas e/ou adquiridas, que as devem colocar ao serviço da comunidade, obviamente, também com benefícios próprios, porque de contrário cair-se-ia numa outra injustiça, ou seja: esforçam-se uns para outros que em nada cooperam, nem sequer auxiliam para a melhoria dos objetivos coletivos.
No mundo difícil em que atualmente se vive, no seio das sociedades complexas, algo materialistas, consumistas, em alguns casos, dir-se-ia, perdulárias, cabe aqui, sim, uma intervenção de quem detém alguma forma de poder: político, religioso, económico, financeiro, empresarial, laboral, científico, técnico, no sentido de se unirem pelas: educação, formação, interiorização e boas práticas de valores verdadeiramente humanos, a fim de se conseguir uma maior equidade.
Os exemplos devem partir de quem possui poder, colocando a experiência, a sabedoria, a prudência, os valores e os meios disponíveis ao serviço de projetos que contribuam para uma sociedade equilibrada, sustentável, com as melhores condições de vida, em todos os estádios da existência de cada pessoa.
Continuar a desperdiçar o imenso, ou mesmo infinito, potencial humano para alimentar poderios, estratégias e conseguir resultados da subjugação de muitos, por uns tantos, é o mesmo que equiparar o ser humano à mais retrógrada barbárie. Toda a pessoa tem o dever de colaborar para o bem-comum, é verdade; mas também é justo que lhe assista o direito de beneficiar do produto da sua colaboração e receber ao longo da vida os benefícios para os quais contribuiu.
É uma insensibilidade social inaceitável retirar benefícios a quem lutou e se sacrificou, durante décadas, por eles, na convicção de que, na velhice, por exemplo, teria alguma estabilidade, conforto, tranquilidade e felicidade. Colocar o potencial humano, de quem toma decisões contrárias àqueles objetivos, é o mesmo que se querer equiparar a uma outra espécie animal qualquer, que não a humana! Por isso se considera que a sociedade humana tem todos os recursos, desde logo a começar nos seus constituintes, para ser superior, digna e feliz, em relação a quaisquer outras conhecidas até este momento.
O potencial humano, em todas as suas vertentes: científica, técnica, social, política, religiosa, económica, financeira e axiológica, entre outras, é inigualável e ilimitado, por isso deve ser orientado para a felicidade humana, individual e coletiva, desde que todos contribuam com as suas capacidades, porque em boa verdade acredita-se que: «A felicidade não acontece automaticamente, não é uma graça que um feliz sortilégio possa espalhar sobre nós e que um revês da fortuna nos possa tirar; depende só de nós. Não nos tornamos felizes numa noite, mas à custa de um trabalho paciente elaborado dia-a-dia. A felicidade constrói-se, o que exige trabalho e tempo. Para ser feliz, o próprio indivíduo precisa saber mudar.» (LUCA & CAWALLI-SFORZA, in RICARD, 2005:9).
Chegou o tempo, a partir da verificação da existência de situações dramáticas, de se aplicar todo o potencial humano ao serviço de objetivos altruístas, de dignificação de toda a pessoa humana. Insistir na utilização das capacidades humanas, na construção de um mundo bélico, numa sociedade de minorias detentoras de poderes ilimitados, em domínios de controlo e subjugação das maiorias, continua a revelar-se desastroso para a humanidade e, ainda que esporadicamente, a verdade é que se tem assistido ao derrube violento daqueles que, ao longo da vida, humilharam, exploraram e quiseram controlar, pela força das armas e do poder, aqueles outros que, mais tarde ou mais cedo, sentiram-se injustiçados e reagiram, também, pela força.
O potencial humano de uns e de outros tem resultado, muitas vezes, em mais sofrimento e morte. A pessoa humana acaba por mostrar que, afinal, em certas circunstâncias, não é inteligente, não usa as suas capacidades para o bem de todos e, obviamente, para o seu próprio bem, para a sua felicidade e dos que lhe são queridos. O potencial das pessoas, no exercício dos diversos papéis que desempenham ao longo da vida, tem sido utilizado, muitas vezes, para satisfação de interesses individuais e de grupos restritos, com um egocentrismo perigosamente exacerbado, que apenas conduz ao desastre social.
A sociedade, através dos seus elementos constituintes, tem de iniciar um novo caminho, adotar um novo rumo, demonstrar que o elemento humano tem, de facto, todas as condições para se constituir com dignidade, com respeito pelos seus semelhantes, com o mais elevado nível de conforto e bem-estar, erradicando as maiores chagas que a envergonham, como sejam as desigualdades sociais, as injustiças, as prepotências e arrogâncias de alguns contra muitos, os atentados aos mais elementares direitos sociais e humanos, adquiridos pelo trabalho, pelo estudo e pela poupança, por uma cultura de valores que muitos defendem legitimamente.
Aqui sim, quem tem responsabilidades legislativas, executivas, fiscalizadoras e judiciais, bem como as de natureza: política, religiosa, científica, técnica, económica e financeira tem, agora, mais do que nunca, de colocar os potenciais da inteligência e axiológico, ao serviço do bem coletivo.

Bibliografia

CUNHA, Miguel Pina, et. al., (2010). Manual de Gestão de Pessoas e do Capital Humano. 2ª Edição. Lisboa: Edições Sílabo, Ldª.
RICARD, Matthieu, (2005). Em Defesa da Felicidade. Trad. Ana Moura. Cascais: Editora Pergaminho, Ldª.
 

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo 

Portugal: http://www.caminha2000.com  (Link’s Cidadania e Tribuna)

sábado, 8 de março de 2014

A Mulher em todo o seu Esplendor


São muitos os dias nacionais e internacionais que ao longo do ano se evocam e festejam, com a pompa e circunstância que são possíveis. Para cada tema, a efeméride celebra-se no dia que, consensualmente, tem sido aceite, embora, também, já se tenham verificado alterações, como por exemplo em relação ao dia da mãe, todavia, a maioria das comemorações, nos respetivos países e/ou em todo o mundo se mantenha em data fixa.
Estabeleceu-se, internacionalmente, o dia oito de Março, para se festejar a importância da Mulher em todo o mundo, para que todos os seres humanos rejubilem e prestem homenagem às Mulheres, elas próprias incluídas nas homenagens que lhes são, justamente, dirigidas, elas mesmas o centro de todas as atenções, naquele dia.
Paradoxalmente, aquele dia não é universalmente vivido, sentido e festejado, porque a Mulher, infelizmente, ainda não ocupa o lugar, no seio da sociedade que, por mérito próprio, tem direito, reconhecendo-se, entretanto, que, ainda que timidamente, tem havido alguma evolução favorável ao reconhecimento da sua dignidade.
Numa visão generalista, e de muito fácil entendimento, pode-se admitir, como regra universal, que a Mulher é a pessoa que primeiro se ama, por quem se tem um grande carinho, a quem se pede refúgio, que dela se recebe amor incomensurável, proteção incondicional, compreensão e tolerância sem limites. Esta Mulher, que a maioria dos seres humanos começa a amar, e por ela a ser amado, é o primeiro porto-seguro, a nossa fonte de alegria, o nosso primeiro e grande amor, é a nossa mãe.
Esta função, este elevado e nobilíssimo estatuto, sublime e inigualável, só a ela pertence, é como que uma bênção divina, uma dádiva do Criador, a notabilíssima missão de ser mãe, por isso, mas não só, se deveria reconhecer, na Mulher, o seu papel insubstituível, a premente necessidade do reconhecimento da sua importância e da sua dignidade, a Mulher que pelo seu “sexto sentido” consegue, quantas vezes, evitar as piores desgraças e resolver, carinhosamente, problemas extremamente complexos, no seio da família e da sociedade.
Dia internacional da Mulher, pelo qual, em todo o mundo civilizado, os valores do amor, do matrimónio, da maternidade, da dádiva total, se festejam, com mais ou menos autenticidade, sinceridade, respeito e reconhecimento. A Mulher-Filha, a Mulher-Esposa, a Mulher-Mãe, afinal, a Mulher, como que glorificada, merecidamente, afirme-se, desde já, porque ela, que gosta e respeita os pais, que ama o seu companheiro, a mãe extremosa, que gerou e transportou o filho no seu ventre, a Mulher-Trabalhadora que, no limite das suas forças, é capaz de dar a vida por aqueles que verdadeiramente ama. A Mulher em todo o seu esplendor.
Mas a Mulher, enquanto filha, é importante para os seus pais, seguramente, para a sua mãe, também esta Mulher, que ouve da filha todos os seus choros, tristezas, alegrias, aspirações, dificuldades. Como esta Mulher-filha ama a sua mãe, como que numa simbiose de amor, a ela está, demiurgicamente, ligada, mesmo quando a vida é adversa, ela procura na mãe, ou esta na filha, uma interpretação, os conselhos, ensinamentos e compreensão, porque esta filha sabe muito bem que um dia também poderá vir a ser mãe e conhece o aforismo popular, segundo o qual: “Filha és, mãe serás, como fizeres, assim receberás”.
Existe, na maior parte das pessoas, uma espécie de cumplicidade entre estas duas mulheres: mãe e filha, e/ou vice-versa. Em oito de Março festeja-se o dia da Mulher, não o dia da mãe, nem o da filha (haverá o dia da filha?), não o dia da esposa, não o dia de avó ou de qualquer outro parentesco, o que se comemora é o dia da Mulher, em todo o seu esplendor, na plenitude das suas capacidades, dos seus valores, dos seus direitos e deveres, dos seus sentimentos, sem dúvida.
É a mulher que está em nossas vidas, mais ou menos profundamente, mais ou menos amada, querida, desejada, protegida, acarinhada, mas também ela protetora, vigilante, trabalhadora, rainha dos nossos corações. Mulher com letra grande, que sabe perdoar, que quando ama se entrega totalmente, sem reservas, com esperança e determinação em conceder a maior felicidade ao ser amado. Mulher que se revela em toda a sua plenitude.
É impossível conceber o mundo sem a mulher, também ela na sua qualidade de esposa, companheira indefetivel e amante do seu marido, cúmplice, na vida externa como na intimidade do leito conjugal, conhecedora das dificuldades mais íntimas do seu cônjuge, compreensiva, tolerante nos fracassos e incentivadora para vencer obstáculos.
Mulher que ao lado do seu amor conjugal, com ele enfrenta as adversidades da vida, com ele soluciona a maior parte dos problemas e com ele tanto vive as alegrias, quanto as tristezas, Mulher que não está atrás nem à frente dos êxitos do seu companheiro, mas está sempre ao seu lado, com os mesmos méritos, com idênticas capacidades, com iguais possibilidades de vitória. Mulher que é capaz de dar a vida por quem ama verdadeiramente.
É esta Mulher, enamorada, esposa, companheira que, ao lado do seu ente amado, enfrenta o mundo, sem medos, com firmeza, com amor e com sentimentos nobres. É esta Mulher que sabe guardar, num “cantinho do seu coração”, os mais profundos, quanto notáveis e sublimes sentimentos, que jamais praticará qualquer ato de deslealdade contra a pessoa que, autentica e intimamente ama ou, ainda, que admira, gosta, acarinha ternamente a quem ela sabe que lhe quer bem, que também aprecia e ama com respeito e preocupação.
A Mulher de sentimentos profundos, de sensibilidade extremamente apurada, que tem o seu próprio e salutar orgulho, para o bem, como também para a sua defesa, quando se sente ou é atacada por quem quer que seja. Mulher que no fundo da sua alma, quantas vezes sofre, em silêncio, ferida no seu próprio amor, na sua dignidade, precisamente por quem não tem quaisquer motivos para a agredir e seja qual for o tipo de agressão.
Admiremos a mulher que, mesmo perante um amor proibido, ou não correspondido, consegue sofrer em sossego ou, quando sabe que é amada, não pode corresponder, contudo, tem a generosidade de sorrir, de compreender, de tolerar, aceitando, mesmo assim, com respeito pelo seu legítimo cônjuge, uma amizade muito sentida, de um amigo muito especial. Que grandeza de alma.
O mundo, na sua componente masculina, parece que ainda não acordou para reconhecer a Mulher como uma pessoa insubstituível, indispensável e presente em tudo o que respeita ao bem-comum, ao amor, à felicidade e à paz. A natureza dotou o mundo com dois seres, feitos para se “encaixarem” um no outro: a fêmea e o macho; o feminino e o masculino; a Mulher e Homem, porque o equilíbrio resultará, precisamente, da harmonia dos contrários.
Dia oito de Março, dedicado, universalmente, à Mulher, em todas as suas dimensões: filha, namorada, esposa, mãe, companheira mas, certamente, trabalhadora incansável, quantas vezes desempenhando diversos papéis, quase em simultâneo, acumulando trabalho, responsabilidades, enfrentando dificuldades que derivam da organização, gestão e conforto do lar, no qual, frequentemente, é ela a única a zelar por tudo e por todos, quase sempre, com um sorriso, com um semblante de alegria, de felicidade e, carinhosamente, auxiliadora.
Qualquer pessoa, minimamente informada sabe que: «Uma das principais dificuldades das mulheres que trabalham é equilibrar a carreira e a família numa escala de interesses e prioridades em que, se uma pode ser mais importante do que a outra, se uma pode em determinado momento exigir maiores atenções do que a outra, sem ambas a realização não é plena.» (DUARTE, in CANHA, 2010:74).
Neste dia mundial, especial e meritoriamente dedicado à Mulher, compete-nos, de uma vez por todas, reconhecer-lhe a grandiosidade dos seus valores, a profundidade dos seus sentimentos, as dimensões em que ela é capaz de se desdobrar, pensando e agindo em favor dos mais carenciados, dos mais frágeis, daqueles que ela verdadeira e intensamente ama.
Hoje, alguém que se preze da sua boa-formação não pode continuar a discriminar, negativamente, a Mulher, independentemente do seu estatuto pessoal, social, profissional e cultural. Hoje, já em pleno século XXI, é tempo de colocar a Mulher ao lado do Homem, reverenciar todas as suas capacidades e esplendor. O mundo seria um espaço de trevas, de insensibilidade e, eventualmente, em certas circunstâncias, de selvajaria, se a mulher não existisse.
Mas a Mulher não se circunscreve, apenas, aos papéis de filha, namorada, esposa, mãe, companheira. A sua intervenção, na sociedade, tem outra vertente, igualmente, essencial à construção de um mundo melhor, mais abastado e confortável, porque ela também produz, contribui para a riqueza da família, da empresa, da instituição, do país.
Ela exerce, atualmente, profissões que, até há pouco tempo, estavam reservadas aos homens e, tanto quanto provam os estudos científicos, com resultados idênticos, aos daqueles, na maioria das atividades em que se envolve. Evidentemente que não há regra sem exceção, mas também é bom recordar que: «A compatibilização da vida pessoal com a profissional é um dos principais desafios que têm de enfrentar as mulheres que apostam numa carreira – e, fruto da alteração de mentalidades, os homens também, justiça lhes seja feita.» (Ibid.:85).
A título, meramente ilustrativo invoquem-se alguns bons exemplos de profissões exercidas por Mulheres, que, inequivocamente, revelam as suas capacidades inteletuais e também físicas, incluindo aquelas atividades que, desde sempre, desde logo na antiguidade, época medieval até, praticamente, aos nossos dias, estiveram reservadas aos Homens, como as Forças Armadas e de Segurança, medicina, magistraturas, construção civil, pescas, entre muitas outras que, agora, seria exaustivo elencar.
Recorramos, então, a algumas reflexões, provenientes de quadrantes profissionais do ensino e formação, embora de domínios do conhecimento diferentes, dos dois sexos, relativamente à igualdade de género para ficarmos com uma ideia sobre a importância da Mulher no mundo atual.
«Analisando a evolução da sociedade portuguesa a situação das mulheres melhorou e muito, globalmente houve mudanças que devem ser consideradas como altamente positivas para a situação das mulheres, mas em comparação com a situação dos homens, em algumas áreas, ainda existe muita desigualdade de oportunidades (quer no género, no acesso ao emprego, na evolução da carreira, igualdade salarial, articulação vida profissional e vida familiar.» FERNANDES, 2010, in http://igualdadegenero2010.blogspot.pt/, consultado em 03.03.2013).
«O grande desafio do século XXI é sem dúvida o estabelecimento do mainstreaming, ou seja, a criação de uma cultura política e administrativa onde os princípios de igualdade sejam colocados em prática e não apenas aceites ou promovidos. É vital promover, defender e resgatar os direitos da mulher, buscando garantia de igualdade no exercício de direitos e deveres, principalmente aumentar os níveis de representatividade política, articulando os meios que favoreçam a inserção da mulher na sociedade civil organizada, elevando a cidadania.» (NASCIMENTO, 2010, in http://igualdadegenero2010.blogspot.pt/, consultado em 03.03.2013).
 «Não só as mulheres maltratadas como, muitas vezes, as/os filhas/os também são maltradas/os. O desrespeito e a humilhação levam à vontade de não ir à escola, levando ao consequente abandono escolar. (…) Estando inseridos numa sociedade que discrimina em termos de igualdade de género, a escola desempenha um papel muito importante na construção de um espaço generalizado para, assim poder acabar com este problema de desigualdade contínua e evolutiva.» (RAMALHOSA, 2010, in http://igualdadegenero2010.blogspot.pt/, consultado em 03.03.2013).

«O futuro do mundo passa, igualmente, pelas mulheres e pelos homens. Ninguém poderá afirmar, com rigor científico, qual dos géneros vai ter mais influência e/ou importância, sabendo-se, contudo, que ambos vão ser decisivos para o bem ou para o mal. As instituições públicas e privadas ao não praticarem a discriminação sexista só terão a ganhar, como de resto já afirmaria ROMÃO, (2000:32): “Ao difundir que a sua empresa pratica uma política de igualdade estará a aumentar as possibilidades de atrair uma gama mais vasta de candidatos/as qualificados/as e de conservar o seu pessoal. Tornar-se-á também mais competitiva, porque reduzirá os custos de recrutamento e formação inerentes a uma grande rotação de pessoal.”» (BÁRTOLO, 2010, in http://igualdadegenero2010.blogspot.pt/, consultado em 03.03.2013).

Hoje a Mulher não se circunscreve, apenas, ao mundo, com todas as suas faculdades e exuberância, em todo o seu esplendor e carisma, cada vez mais acentuado. Podemos considerar, a partir de agora, que a Mulher pertence, efetivamente a uma elite, no sentido em que: «Uma elite é constituída por pessoas que pelo seu valor, pelo seu trabalho, pela sua inteligência, se notabilizam e se diferenciam das restantes. Têm uma autoridade, não um poder.» (BALDAQUE, in CANHA, 2010:214).


Bibliografia.

BÁRTOLO, Diamantino Lourenço Rodrigues de, (2010). Liderança Feminina Empresarial, in http://igualdadegenero2010.blogspot.pt/, consultado em 03.03.2013.

CANHA Isabel, (2010). As Mulheres Normais Têm Qualquer Coisa de Excepcional, histórias inspiradas de vidas extraordinárias, Lisboa: Bertrand Editora

FERNANDES, Cecília Manuela Gil Carrondo, (2010). Profissões têm sexo?, in http://igualdadegenero2010.blogspot.pt/, consultado em 03.03.2013.

NASCIMENTO, Sílvia Castro Paço, (2010). A Mulher na Política, in http://igualdadegenero2010.blogspot.pt/, consultado em 03.03.2013.

RAMALHOSA, Rui José Gomes, (2010). Educação para a Igualdade de Género, in http://igualdadegenero2010.blogspot.pt/, consultado em 03.03.2013.

ROMÃO, Isabel, (2000). A Igualdade de Oportunidades nas Empresas. Gerir para a Competitividade. Gerir para o Futuro. Lisboa: Comissão para a Igualdade e para os Direitos das Mulheres – Presidência do Conselho de Ministros. Coleção Bem-estar, Nº 1

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Portugal: http://www.caminha2000.com  (Link’s Cidadania e Tribuna)