domingo, 25 de maio de 2014

A Sociedade Ético-Política


O homem é um fim, não um meio, para a concretização de uma dignidade universal e única e, simultaneamente, o lugar exclusivo da eticidade. A pessoa é, desde logo, uma realidade ética, o centro da irradiação dos valores morais e, na sua transmissão, cada sujeito humano é, também, um elo da corrente intersubjetiva que, num comportamento de reciprocidade, proporciona a difusão dos princípios fundamentais da convivência humana.
A ética é, seguramente, a base normativa da tarefa do homem-ser-homem, inviolável, intimamente pessoal, a que nenhuma autoridade terrena tem acesso. A ética, como disciplina normativa do foro íntimo de cada ser humano, subordina a si todas as demais disciplinas práticas e, tanto mais, quanto mais íntima e direta é a relação destas com o humano.
Mas o homem é, também, um ser-com-os-outros, numa atitude dialógica permanente e, como tal, protagonista de inúmeras atividades, especificamente humanas. A atividade política é, nesse contexto heterogéneo, uma vertente ou dimensão do homem que, não o globalizando, nem o substancializando, não deixa, porém, de ser uma componente importante, na caraterização do seu todo.
A política radica no aspeto social do homem e constitui a síntese da ação e instituição, em ordem à convivência social no seu mais alto nível, referenciada ao Poder. A comunidade política existe para fomentar o Bem-comum, no qual está a sua plena justificação, sentido e legitimidade.
Sendo a política uma dimensão eminentemente humana, então o homem é o seu núcleo fundamentador e difusor, centro da comunidade política e, perante esta, o homem torna-se cidadão, com obrigações e responsabilidades, paritariamente, com direitos, em que os interesses particulares se devem submeter ao interesse geral, consubstanciado no Bem-comum.
O Poder Político é oriundo do homem, o vínculo natural que garante a coesão do corpo social e, como tal, também ele justificado, desde que organizado para corporizar o Bem-comum, este, essência inalienável da legitimação daquela. A comunidade política, como realidade histórica, assume diversas formas na sua estrutura, podendo distinguir-se nela três aspetos fundamentais: o Bem-comum, o Direito e a Autoridade que, no seu conjunto, definem o Estado.
Sinteticamente, pode-se aceitar que o Bem-comum é a finalidade última do Estado; o Direito objetiva e define o poder político, através da Lei à qual devem obedecer a Administração e os particulares; o livre exercício das atividades sociais, garantido pelas leis, é fiscalizado pelas autoridades, as quais resultam da organização do Estado, no seu aspeto material, enquanto que, como valor, a Autoridade reveste-se de uma exigência imanente da comunidade política.
Através da Autoridade podem-se coordenar os esforços dos cidadãos, em ordem ao Bem-comum, porque a Autoridade funda-se na natureza humana, pertence, segundo alguns, à ordem fixada por Deus e, assim, constitui dever de qualquer cidadão, colaborar na eleição livre do seu governo e a determinação do regime político, mais adequado à prossecução do Bem-comum.
A Política e a Ética não podem, em situação alguma, incompatibilizar-se na fundamentação de uma dinâmica sociomoral, que ao homem cabe promover. Na verdade, as relações politica-ética podem ser analisadas numa perspectiva puramente histórica, e então poder-se-á afirmar que na origem da ética política está a cultura greco-romana, na simbiose da filosofia grega com o direito romano, de resto, já em Platão se verifica uma primeira síntese da teoria política.
Nem sempre foram de igual forma as relações entre a ética e a política: tendo uns, defendido o primado daquela (Platão, Santo Agostinho); enquanto outros, preferem dar primazia à política (Aristóteles, Maquiavel); finalmente, ainda há aqueles que, ecleticamente, pretendem conciliar as duas posições, ou seja: o social e o político são reduzidos às fronteiras do humano e do secular, sem qualquer abertura a Deus e ao Seu projecto (Hobbes, Rousseau). Mais recentemente, Kant manifesta-se a favor da Lei Moral, como imperativo categórico, que determina no homem a vontade à ação, independentemente de todos os motivos materiais.
Nos dias de hoje, coloca-se, também, a questão de se saber se o progresso moral e espiritual acompanha a evolução técnico-material. Com efeito, a descoberta de técnicas que ainda há bem poucas décadas seriam uma utopia, e a consequente aplicação prática, revelam até que ponto pode a grandeza do homem chegar, todavia, tal grandeza será ela por si só dignificante do homem como pessoa, ou pelo contrário, conduzirá à escravidão e humilhação do mesmo homem que a desenvolve? Esta é que é a questão fulcral que se coloca face a este manancial tecnológico, que se vem construindo ao longo das últimas décadas e continua imparável.
Naturalmente que tais posições pessimistas e derrotistas são contrárias ao otimismo cristão, pelo qual se pode responder com uma atitude de valorização da tecnologia e do progresso material, acompanhando-os, em igual dimensão, da praxis ética, colocando em relevo as virtualidades dos atos moralmente bons, positivamente apoiados na certeza da consciência moral, defendendo constantemente os mais elementares direitos naturais e valores humanos, concretamente: o direito à liberdade de consciência e de religião; o direito de livre escolha da educação dos filhos; o direito de associação, entre outros.
O progresso técnico-material será sempre uma conquista do homem e que se deseja em crescendo, desde que em ordem ao Bem-comum, resolvendo as situações dos mais desfavorecidos.
A relação entre a Ética e a Política parte, também e desde sempre, da família, núcleo anterior a todo o Direito positivo, célula fundamental da constituição e manutenção da sociedade. A Ética na família deve sobrepor-se à política na família, quando tal política colide com os princípios éticos, isto é, quando a natureza daquela é puramente ideológico-material, porque afinal é na família de hoje que residem o Governo e a Autoridade de amanhã, e são os homens responsáveis do presente que devem preparar os dirigentes do futuro.
Numa apreciação política e sob o ponto de vista ético, pode-se salientar a importância da Ética sobre a Técnica, na medida em que parece que grande parte das atuais estratégias políticas, pretendem fundamentar na técnica as suas medidas, procurando reduzir ao projeto tecnológico toda a dimensão dos interesses do homem, fomentando-se muito uma nova mentalidade tecnocrata, ou seja, fazendo girar à volta dos técnicos todas as panaceias para os males da modernidade.
É nesta confusão mental que residiram os grandes conflitos do século XX, a maior parte dos quais já passaram para este novo século XXI. Jamais poderá haver progresso tecnológico em ordem ao Bem-comum sem os suportes da Ética e da Política, cimentados numa cultura ocidental (desejavelmente, cada vez mais interculturalmente universal) de defesa da suprema dignidade da pessoa humana. 

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo 

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domingo, 18 de maio de 2014

A Sociedade Mítico-Religiosa


Contrariamente aos restantes animais, que apenas possuem um território, o homem vive aberto a um cosmos ilimitado, ecumenicamente organizado em sociedade, modo natural da convivência humana. Esta necessidade de viver em sociedade, prende-se com a fragilidade física do ser humano, frente aos animais que com ele coabitam o espaço terrestre, assim como para melhor poder enfrentar os fenómenos da natureza, que por vezes lhe são adversos.
Na pluralidade de formas da sociedade humana, no que respeita à vida social de cada indivíduo, correspondem vínculos sociais que têm a sua origem numa convivência direta, desde logo se destacando a família, integrada numa comunidade, a sociedade religiosa ou Igreja, a sociedade política ou Estado.
Começa, então, por haver uma ligação homem-mundo, que é uma relação constitutiva, porque o homem deve viver em contacto com o mundo, transformá-lo e humanizá-lo. O mundo sem o homem seria impensável, careceria de sentido, seria fechado em si mesmo, sem história, por isso, nesta relação, o primado vai para o homem, cujo sentido de vida não se esgota nesta relação com o mundo o qual, por sua vez, está perante o homem como realidade independente dele, possuindo um dinamismo formante.
Não se esgotando o sentido da vida do homem, na relação que tem com o mundo, a comunidade, na sua razão de ser, impõe aos seus membros certos deveres de colaboração na obra de todos, ou de abstenção de atos prejudiciais ao Bem-comum e, portanto, qualquer grupo social, consciente da sua existência como tal, tenderá a preservar, a aperfeiçoar e progredir em ordem à melhor estabilidade, desenvolvimento sócio-económico e político-cultural, procurando garantir a própria existência e atingir, eficazmente, os seus fins.
Tanto quanto permite a capacidade intelectiva de recordar no tempo, julga-se saber que o mito teria sido a primeira manifestação racional do homem, e que através desta mentalidade mítico-simbólica, o ser humano procurava uma explicação para tudo o que o rodeava, inclusive para a sua origem.
O homem vivia ligado aos deuses, e não era então possível cortar o cordão umbilical desta união e fazê-lo regressar à mãe natureza, e desta partir para a autocrítica desmitologizadora. O seu lugar era um ponto demiúrgico, a sua mentalidade fechada, redutora da realidade concreta, amedrontada pela omnipotência divina.
A realidade era o mito e fora deste esquema mental nada tinha significado nem justificação. Assim: «… o mito para o homem da mítica não é o mito mas a própria verdade pois ele está ligado ao conhecimento inicial que ele tem de si mesmo e do seu ambiente, é uma estrutura deste conhecimento.» (GUSDORF, s.d.:11). Fora do mito não existem, nessa época, outras verdades.
O mito foi tão necessário no tempo primordial como imprescindível se torna hoje a religião e, tal como esta, também o seu complexo estrutural se compunha de partes importantes, e decorria em tempos diferentes e distintos: «O tempo sagrado no qual se inscreviam as festas periódicas e que pela sua própria natureza era reversível, indefinidamente recuperável, repetível, tempo circular que o homem integra periodicamente pela linguagem dos ritos e dos símbolos; o tempo profano no qual decorrem os actos privados da sujeição religiosa, irreversível e suscetível de paragem pela inserção por meio dos ritos, é um tempo histórico.» (Cf. ELÍADE, s.d. 81-85). Pode-se inferir que o pensamento originário se compõe do mito, do rito e da magia.
Evidentemente que o mito é tanto mais profundo, quanto mais forte é o símbolo que o significa. Os símbolos são condição da nossa pertença ao mundo, à linguagem simbólica, como uma certa ingenuidade primeira, a partir da qual se parte para a explicação, desta para a ontologia e para a inserção no mundo. A mentalização e meditação sobre os símbolos sobrevêm a uma certa movimentação da reflexão, responde a uma certa situação da Filosofia e talvez da cultura moderna.
Sabe-se que é extenuante a fuga atrás do pensamento, em busca da primeira verdade e, fundamentalmente, da procura de um ponto de partida radical. Uma meditação sobre os símbolos, parte de uma linguagem plena e do sentido desde sempre lá. «Os símbolos míticos são muito mais articulados, comportam a dimensão da narração com as personagens, dos lugares e dos tempos fabulosos e recontam o Começo e o Fim desta experiência.» (Cf. RICOEUR, s.d. 283-284).
Estes símbolos míticos distinguem-se dos símbolos primários, que constituem a linguagem elementar, que mostram claramente a estrutura intencional do símbolo, porque: «O símbolo é um signo, que como todo o signo visa para lá de qualquer coisa e quer por isso qualquer coisa. Mas nem todo o signo é símbolo; o símbolo encobre na sua mira uma intencionalidade dupla: (…) supõe o triunfo do signo convencional sobre o signo natural, constituindo a nódoa, o desvio; sobre esta intencionalidade primeira edifica-se uma segunda que através da nódoa material, da experiência da carga, visa uma certa situação do homem no sagrado.» (Cf. Ibid).
O sagrado é um fenómeno central da religião, qualquer que ela seja, uma categoria nuclear, objetivação primeira da vivência religiosa, da relação ao absoluto e tudo o que é sagrado fica separado do não-divino, do profano, por isso o homem sempre teve a religião como uma necessidade suprema, através da qual se liga a Deus e com Ele procura resolver diversas situações: sejam de natureza espiritual; sejam no contexto material, da vida concreta no mundo.
Obviamente que a origem da religião pode ser abordada sobre diversos prismas, fundamentos ou interpretações: desde a naturalista redutora, em termos antropomórficos, psicológicos e sociológicos, que é muito antiga; até uma outra mais recente, que põe em evidência o tempo, como sendo um fator essencial da racionalidade humana, porque é pela consciência do tempo que a humanidade se vai apetrechando, na luta pela existência.
Qualquer teoria sobre a origem da religião: seja a posição racionalista; seja a posição positivista; o evolucionismo materialista; a protestante liberal, etc., terá sempre de ser testada pelos testemunhos mais antigos, isto é: terá de ser confirmada pela tradição e pela arqueologia.
Poder-se-ia dizer que a religião se opõe à anarquia da magia, por uma atitude de dependência, que consiste num ato intencional, na medida em que pressupõe sempre uma certa conceção do seu objeto. No fenómeno da religião está sempre em jogo a conexão entre o homem e uma realidade superior ao mesmo, que escapa ao controle da vontade humana e a todas as forças da natureza, como igualmente está inacessível à ciência e à técnica.
A atitude mágica procura assenhorear-se do sagrado para usar o seu poder; pelo contrário, a religião admite a atração respeitosa pelo sagrado, sem nunca o manipular, aceitando a dependência.
A Igreja e os pensadores cristãos sempre consideraram a dimensão religiosa como conatural e essencial ao homem, vendo em todas as religiões, sobretudo nas menos deturpadas moralmente, uma revelação implícita de Deus e, não obstante o secularismo, existem sinais de retorno ao sagrado, há como que uma nova fome e sede de transcendência e do divino, por isso se deve abrir o caminho para a dimensão religiosa, do divino ou do místico e oferecer aos homens deste tempo, os preâmbulos da Fé, porque o homem é problema para si mesmo e só Deus pode dar-lhe a plena e última resposta, aliás, segundo uma certa mentalidade da cultura ocidental.
Esta componente da sociedade é extremamente importante e complexa, para ser ignorada numa reflexão sobre Violência e Autoridade, na medida em que o ser religioso é parte fundante do homem. 

Bibliografia

ELIADE, Mircea, (s.d.). O Sagrado e o Profano: A Essência das Religiões”, Trad. Rogério Fernandes, Lisboa: Edição Livros do Brasil.
GUSDORF, Georges, (s.d.). Mythe et Metaphisique. Paris: Flamarion
RICOEUR, Paul, (S.d.). Hermeneutique et Critique dês Ideologies – L’Ideologie et l’Utopie, s.l., s. Ed. 

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

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domingo, 11 de maio de 2014

Dilemas do Professor/Formador


Salvo raras e dramáticas exceções, onde a força das armas foi utilizada para, alegadamente, defender direitos fundamentais da humanidade, violados por minorias elitistas (Iraque/Kuwait, Indonésia/Timor, Jugoslávia/Kosovo, Síria, entre outros) estará inequivocamente provado que terá de ser pela força da razão, do diálogo, da democracia e da solidariedade que o Homem resolverá os problemas mais prementes.
Trata-se de um caminho difícil, de paciência, de persistência, de cedências recíprocas, mas que, indubitavelmente, nos conduz à sublime dignidade de podermos ser, finalmente, “pessoas humanas civilizadas”.
Não é nada fácil, a um qualquer cidadão, optar por caminhos tão complexos e assumir papéis públicos e privados em coerência com as metodologias que são indispensáveis aplicar para, ao fim de um determinado tempo e percurso, podermos vislumbrar alguns resultados, por pequenos que eles sejam. Sim, porque o resultado final há-de ser, sempre, um produto inacabado, ainda que em constante aperfeiçoamento.
Ao longo desta caminhada, cada um de nós, terá de assumir-se, inequivocamente, como um paladino dos princípios, valores e sentimentos que deverão nortear as sociedades modernas, onde, de resto, quase nada de material nos falta, mas, também, onde reina, infelizmente, muita discórdia, onde os espíritos não sossegam e vivem em profunda e quase permanente ansiedade.
Em termos de estratificação etária, gostaria que me permitissem, na perspectiva do aprofundamento desta reflexão, tendo em consideração os estudos sociais, quanto à esperança de vida, sugerir uma sequência simplificada da progressão do Homem, este integrado numa sociedade em desenvolvimento.
Consideraria, então, quatro períodos ou fases importantes da vida de todos nós: 1) período de preparação para a vida ativa; 2) fase da vida produtiva, 3) etapa de passagem de testemunho; 4) espaço de preparação para uma outra existência transcendental, quaisquer que sejam as nossas convicções teleológicas.
 No primeiro período, a sociedade, com todas as suas instituições: família, escola, igreja, política, tem a obrigação de preparar o jovem para assumir um papel no seio da comunidade; num segundo percurso, o “jovem-adulto; integrar-se-á, numa sociedade complexa, ativa competitiva, desenvolvendo uma atividade profissional produtiva, contribuindo para o aumento da riqueza material, mas também, paralelamente, para o enriquecimento intelectual e espiritual dessa mesma comunidade, intervindo sempre que possível, nos diversos setores da vida societária; numa terceira fase, na qual, este homem que gostaríamos pudesse vir a ser o cidadão do futuro, carregado de experiências, dotado com uma maturidade consolidada, cauteloso, previdente, moderado, tolerante e cooperante, possa, pelo seu exemplo, pela sua sabedoria, transmitir, compartilhar, estimular, precisamente, todos aqueles adolescentes e jovens da primeira idade da vida e, finalmente, no espaço temporal que lhe restará, segundo a esperança de vida e em condições normais, consciencializar-se para um fim biológico próprio da dignidade da pessoa humana e iniciar toda uma meditação e preparação para uma outra existência.
Resumiríamos, na medida do possível, quantificando, aqueles 4 períodos ou fases, os quais compreenderiam: o primeiro até aos 23/25 anos; o segundo dos 23/25 aos 60/65; a terceira fase entre os 60/65 até cerca dos 80 anos e finalmente a última fase prolongar-se-ia até à morte física, podendo haver entre aquelas idades, pequenos períodos de cerca de 2/3 anos de transição.
Todos somos necessários e úteis em qualquer idade, é isto o que pretendo provar com a teoria que acabei de expor nestes parágrafos, porque temos a obrigação de desenvolver um projeto de vida privada e pública, enquanto possuidores das capacidades físicas, inteletuais e éticas, adequadas a tais projetos e à sociedade.
Sabemos ser difícil abdicar, quando necessário ao bem comum, de posições individualistas; custa-nos, por vezes, perder privilégios que obtivemos com algum esforço próprio, mas, nem sempre, por processos legítimos, transparentes e não prejudiciais a terceiros.
Agimos, em certas circunstâncias, a partir de velhos e desajustados preconceitos. Exercemos, em certas situações, o autoritarismo para dominarmos e humilharmos aqueles que podem obstaculizar os nossos projetos egoístas, individualistas, hipócritas e desmesurados, em prejuízo de terceiros. Contribuir para a mudança, também é função do professor/formador.
A idade, o percurso efetuado nas primeiras etapas desta breve “corrida” pelo mundo terreno em que nos encontramos, dão-nos a possibilidade de, pelas experiências vividas, com maior ou menor intensidade, com maior ou menor sucesso, podermos, a partir de agora, e como refiro nesta reflexão, iniciar, com proveito para a sociedade, a terceira etapa. Na meu caso em concreto, estou disponível, estimulado, determinado e preparado, ainda que minimamente, para passar este testemunho, repleto de vivências, atitudes, valores e princípios, aos “atletas” da primeira etapa.
Assim, pretendo justificar o meu interesse, empenhamento e dedicação com uma metodologia muito simples mas objetiva: primeiro, conseguir, pelos estudos que venho fazendo nos últimos trinta anos, alcançar mais uma pequena “meta-volante” desta etapa; segundo, manter-me e envolver-me mais profundamente no ensino, educação e formação profissional como atividades nobres, úteis e motivantes para mim e para a sociedade que, em cada momento e lugar, vou fazendo parte; terceiro, continuar a participar na vida ativa comunitária, seja ao nível politico-institucional, seja no âmbito sócio-profissional, seja no quadro das coletividades e organismos intelectuais, culturais, mutualistas, humanitários e de solidariedade social, preferencialmente.
Este desígnio terá a garantia da minha determinação na implementação de um projeto de vida que possa ser útil, ainda que simbolicamente, à sociedade em geral, mas e fundamentalmente, às comunidades de língua portuguesa e, nesta linha, tentarei sempre ser fiel à língua, à história e à cultura dos povos que adotaram como pátria a língua lusitana.
Nenhum sistema político-constitucional, nenhum Governo, nenhum cidadão, têm o direito de excluir da vida ativa da sociedade, aqueles que, independentemente de terem ou não frequentado estabelecimento de Ensino Superior, se prepararam também na universidade da vida, porque sabemos o suficiente para aceitarmos sem reservas, que, atualmente, o conhecimento científico, as técnicas e tecnologias, os paradigmas, não são absolutos e imutáveis, bem pelo contrário, a transitoriedade, a insuficiência, o desconhecido e o misterioso, provocam-nos tal ansiedade e insatisfação que, para além dos princípios e valores imateriais e espirituais, pouco, muito pouco, poderá ser definitivamente seguro e estável.
É aqui e por isso mesmo que entram atitudes, princípios, valores, sentimentos, direitos e deveres que a universidade da vida nos ensina. A impetuosa generosidade e voluntarismo da juventude; o calculismo, a objetividade inconfessável e o materialismo que ainda adultos ativos, procuram justificar certas atitudes e comportamentos, devem ser moderados, caldeados, temperados com esta prudência sábia que se adquire ao longo da vida e que deve ser transmitida, incutida, estimulada em toda a sociedade e a todos os níveis etários, porque afinal, ninguém estará isento de erros, de atitudes menos boas, incorretas e injustas, de comportamentos menos exemplares, por isso, todos seremos poucos para melhorarmos a convivência entre cidadãos desta mesma pátria ecuménica que todos habitamos.  

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
 
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domingo, 4 de maio de 2014

Mãe: Uma Dádiva Divina


Todos os dias do ano, das nossas vidas e da história, serão sempre muito poucos para enaltecer e homenagear as múltiplas e profundas dimensões da mulher porque, paulatinamente, com o decorrer dos séculos, a sua influência benéfica tem vindo a fazer-se sentir, bem como o desejo para que ela se posicione no lugar, a que por mérito próprio, tem direito no seio da sociedade, é cada vez mais evidenciado, principalmente por todos aqueles que, sem preconceitos, com toda a humildade e gratidão, reconhecem a insubstituabilidade daquele ser humano maravilhoso.
A Mulher vem assumindo, com espírito de tolerância, também de firmeza, a posição merecida de, em todos os domínios, estar ao lado do Homem, partilhando valores, sentimentos, emoções e funções profissionais, numa sociedade muito exigente, extremamente competitiva, todavia ainda muito dominada por um certo setor masculino que, receando perder prerrogativas, continua, de forma muito sub-reptícia, algo velada e envergonhada, a conceber normas jurídico-legais, para controlar os sistemas: político, religioso, empresarial e ainda familiar, em muitos lares, para evitar a justa ascensão da Mulher.
Entre as muitas e sublimes dimensões que a Mulher assume na sociedade, provavelmente a sua condição de Mãe (quando realmente o deseja e consegue) será, porventura, o seu, ou pelo menos, um dos seus expoentes máximos, porque para além das inúmeras tarefas, difíceis e, quantas vezes, incompreendidas, que quase sempre tem de desempenhar, ela é a única pessoa a poder atingir tão grande felicidade: gerar e dar à luz um filho, com sofrimento, alegria e amor, mas também como resultado da sua entrega generosa a um homem que igualmente ama (ou já amou). Impossível igualar uma relação tão profunda.
Ser Mãe em toda a sua plenitude de Mulher, verdadeiramente humana, em todo o seu esplendor, é uma condição que algum outro ser poderá igualar ou substituir porque, em bora verdade, não só a constituição biológica como a sensibilidade sentimental, são caraterísticas que existem genuinamente na Mulher e, além disso, ela comporta uma intuição muito apurada para a proteção do/s seu/s filho/s, tornando-se pouco credível que ela possa ser substituída a partir da conceção e aplicação de leis.
Importa refletir: positivamente, sobre a importância, que em nossos dias, significa ter Mãe; interessa meditar, profundamente, no contributo que a Mulher-Mãe dá à humanidade, no sentido da criação, educação e formação que ela proporciona aos sues filhos, em vista da necessidade de uma sociedade equilibrada: em princípios, valores, sentimentos, emoções e desenvolvimento harmonioso da pessoa humana.
Mas também é necessário que se valorize, se proteja e se concedam às Mulheres condições para que elas possam exercer o seu papel maior, que é ser Mãe porque, afinal, a Mãe é, por um conjunto de qualidades, capacidades, virtudes, valores e sentimentos, o centro da família, a moderadora, a protetora, a administradora, a educadora, a apaziguadora, a única que, paciente e generosamente, sabe escutar, harmonizar posições dos restantes elementos da família, encobrir quando é necessário amparar.
A família, sendo a base e a principal célula da sociedade, será tanto mais responsável por um mundo justo, quanto melhor for a preparação dos seus elementos constituintes, sendo certo que a figura maternal, quando verdadeira e humanamente existe, é decisiva para a interiorização, realização e consolidação de valores e boas práticas comunitárias, precisamente a partir da intervenção sensata e amorosa da Mãe.
O poder matriarcal, no seio da família, será um fator de estabilidade, uma garantia de compreensão e tolerância, perante situações anormais provocadas, ou não, por algum elemento do agregado familiar, será fonte de amor, de carinho e de aconchego, finalmente, significará o poder moderador, conciliador e solucionador de conflitos. O poder da Mãe impõe-se pelas suas virtudes, valores e sentimentos naturais, não é conquistado pela força, nem pelo divisionismo da família, e muito menos pela intervenção e intromissão de elementos estranhos.
Conhece-se bem o papel da Mãe na criação, educação e preparação para a vida dos seus filhos, pelos quais tudo faz, até ao limite dos maiores sacrifícios. A credibilidade da Mãe e o reconhecimento da sua necessidade formal e prática são de tal maneira visíveis e aceites que, em grande parte das separações matrimoniais, quando há filhos, estes são entregues à guarda da Mãe, naturalmente, com algumas exceções bem fundamentadas.
Igualmente se julga saber que o abandono dos filhos, por parte do pai, é muito maior do que pela Mãe, como também parece um dado adquirido que, na maior parte das situações, são os avós maternos que apoiam a mãe na criação e educação dos filhos, podendo-se inferir que, em regra, os pais, aqui reportados aos homens, são menos responsáveis do que as mães, em muitas situações, designadamente: por imaturidade, por egocentrismo, por não serem capazes de abdicar de certos vícios e formas de vida.
É indiscutível que há muitas e boas exceções, como também é verdade que existem mães que se revelam incapazes para cuidar dos seus filhos, nalguns casos, porém, sem terem qualquer culpa, porque são surpreendidas por homens e/ou jovens sem quaisquer princípios, valores e sentimentos humanos.
O exercício das funções de Mãe, quando assumido em todas as suas dimensões, enfrentando diferentes e complexas dificuldades, revela bem a grandeza desta condição sublime da Mulher-Mãe, eminentemente feminina, e que por tudo isto deveria ser mais respeitada, mais protegida, mais reconhecida nos seus direitos, enquanto Mulher, Cidadã e Trabalhadora.
Não é nada fácil ser Mãe, ainda que a análise parta de um homem, na medida em que ao longo da história da humanidade, a Mãe tem arcado com as maiores responsabilidades na família e na sociedade porque: em primeira instância, é ela que prepara homens e mulheres para o mundo; é ela que ensina as primeiras palavras, as boas-maneiras, os bons hábitos.
Quem não se sente honrado, feliz e abençoado por ter a Mãe presente, sempre do seu lado, nas alegrias e nas tristezas, nos sucessos e nos fracassos, na saúde e na doença? Quantas pessoas em geral, e quantos filhos, em particular, suspiram pela sua Mãe, ou porque ela faleceu, ou porque teve de abandonar o lar, por razões que nem sempre serão da sua exclusiva responsabilidade? A Mãe, em toda a sua plenitude, é indispensável.
Quantas vezes ao longo da vida recorremos à nossa Mãe: para nos ajudar, material e/ou espiritualmente; quantas vezes ela nos negou a sua ajuda? Quantas vezes nós nos interrogamos, profundamente ansiosos: Mãe, onde estás? Ajuda-me! Não me abandones, Mãe!
É muito difícil refletir-se e escrever-se sobre a Mãe, em geral; e sobre a nossa Mãe, em particular, sem que os sentimentos de amor, de saudade ou até de arrependimento, pelo que de errado tenhamos feito, contra a nossa Mãe, nos chamem à razão, nos alertem para a riqueza que temos, ou perdemos, ou ainda que maltratamos.
De facto, ter Mãe é a maior riqueza que se pode obter neste mundo, e quando a nossa Mãe se nos revela com todo o seu amor, sem limites, nem julgamentos e condenações prévios, nem exigências de nenhuma natureza e que, simultaneamente, nos defende, nos elogia, nos projeta para a vida e para a sociedade, então consideremo-nos as pessoas mais felizes e mais ricas do mundo, porque é impossível uma felicidade maior do que termos a nossa Mãe.
Reconhecendo-se como insubstituível as funções de Mãe, numa sociedade civilizada, defensora e praticante dos mais elementares valores do amor, da dignidade e da felicidade, é tempo de se engrandecer a Mulher, nesta sua dimensão ímpar, concedendo-lhe as condições necessárias para que ela tenha um papel mais ativo e decisivo na formação das mulheres e dos homens que, num futuro próximo, nos vão governar, porque cada vez mais se faz sentir a necessidade de uma sociedade mais humana, mas justa e fraterna.
As Mães de todo o mundo transportam nos seus ventres e lançam para a luz do dia crianças que carecem, não só enquanto tais, mas durante toda a vida, dos valores e sentimentos que suas mães lhes podem e, certamente, transmitem. Nota-se muito bem uma criança que está sob a proteção e amor de sua mãe, daquela que não tem ou nunca teve essa bênção divina.
Como é triste ouvir os choros lancinantes de uma criança, ou até de um adulto, a chamar pela sua Mãe, a pedir-lhe socorro, a pedir-lhe comida, agasalho, proteção e amor. Como estas situações penetram bem fundo na consciência de quem sabe o que é ter uma Mãe, o sorriso carinhoso da Mulher que primeiro se ama na vida, a doçura de um beijinho, a suavidade de uma carícia terna e meiga e, também de uma “palmadinha” para nos chamar a atenção das nossas traquinices.
Como é bom ter a Mãe do nosso lado, sem condições, nem exigências, e sempre junto de nós, qual baluarte de defesa das nossas fragilidades! Com é imenso o amor de Mãe que pelos seus filhos é capaz de vencer tudo e todos. Como é essencial o acompanhamento de uma Mãe, ao longo das nossas vidas. Como o mundo seria melhor se nós ouvíssemos os sábios conselhos das nossas mães, os valores e sentimentos que elas nos transmitem.
E como será bom para uma Mãe receber dos seus filhos o respeito, a admiração, o amor incondicional. E, quando necessário, tal Mãe poder contar com o filho, igualmente, do seu lado e com ele resolver os problemas da vida. Como será gratificante para uma Mãe saber que o seu filho lhe proporcionará as melhores condições de vida, que a visitará frequentemente, ou que a terá junto de si, se a vida lhe permitir porque, em quaisquer situações, a Mãe saberá sempre compreender o filho e enquanto puder, mesmo na velhice, mesmo privando-se de bens essenciais à sua vida e saúde ela, essa Mãe extremosa e amorosa, continuará a velar pela felicidade do seu filho e, quantas vezes, dos netos.
Seria muito significativo e revelaria boa formação e sentimentos nobres, toda aquela pessoa que, sendo detentora de um qualquer poder, especialmente os líderes: políticos, legislativos e executivos, bem como de todas as atividades, se adotassem medidas justas, humanas e adequadas à proteção das famílias em geral, e das Mães em particular.
 Afinal foram, continuam a ser elas, as nossas Mães, que nos ajudaram a chegar até onde estamos, a elas devemos muito dos nossos sucessos, do nosso conforto e felicidade. Sem as nossas Mães do nosso lado, sem o seu amor, carinho, tolerância e auxílio, provavelmente, não passaríamos de vulgares criaturas, sem valores, sentimentos e, eventualmente, sem rumo na vida.
Por tudo isto, e não é nada pouco, governantes, que também são filhos, protegei as vossas Mães, as nossas Mães, defendei as Mães de todo o mundo, porque sem elas, seríamos incompletos. Amemos as nossas Mães, respeitemo-las através do Amor, da Doação, da Ética, da Gratidão, da Lealdade e da Honestidade. É o mínimo dos mínimos que por elas podemos fazer.
Mãe Querida, onde quer que estejas, um beijo, com imenso amor, do teu filho.

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo 

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