domingo, 30 de novembro de 2014

Dimensão Axiológica da Pessoa Humana


Defende-se atualmente, em alguns círculos, alegadamente muito positivistas, que hoje o homem é mais poderoso, que no passado, havendo ainda os que vão mais longe, ao ponto de afirmarem que o homem venceu os deuses, libertando-se destes e das crenças que conduziam à divindade.
Mas também é verdade que, neste mundo, a caminho da globalização, o homem tem vindo a ser destituído de importantes privilégios que a sua condição humana lhe proporcionou, desde logo o seu estatuto que resulta de, numa certa perspectiva, ter sido concebido à imagem e semelhança do seu Criador.
A dimensão axiológica que se prende com o conjunto de valores, princípios e referências, inerentes ao homem, parte da corrente humanista a qual lhe reconhece uma dimensão e uma dignidade específicas.
E se em vários domínios do conhecimento se apoia um projecto inimitável para o homem, é na Filosofia e na Educação que um projecto humanista mais profundamente se defende, na já longa e complexa história da humanidade. Segue-se que todos os valores, princípios e referências não podem ignorar o conceito básico que emana do humanismo: o Homem como princípio e fim de toda a acção, qualquer que seja a sua condição e estatuto social.
Quando se avaliam factos ocorridos no último século verifica-se que: se por um lado, contribuíram para libertar, ainda que parcialmente, o homem da pobreza, da doença, das injustiças, da pena de morte e dos maus-tratos e de outras chagas sociais; por outro lado, também se identificam outros, alegadamente, imputados ao progresso, que conduziram o homem para autênticas indignidades: guerras, perseguições políticas e religiosas, violência e insegurança, campos de concentração, desigualdades sociais e económicas, entre outras aberrações, todas elas imputáveis ao homem “inteligente e racional”.
  O que se progrediu para o bem da humanidade, não foi o suficiente para se eliminar ou ignorar os malefícios noutros domínios. Isto acontece porque os códigos de valores, mesmo diferentes em culturas distintas, no que respeita aos valores referenciais, como a vida, a dignidade, a liberdade, a solidariedade, entre muitos outros, não são respeitados.
Nuns casos porque estão em jogo interesses individuais e/ou de pequenos ou grandes grupos e dos poderes político-económicos; noutros casos, porque o homem ainda não está preparado para aceitar os objectivos do coletivo, principalmente se interferirem negativamente nos seus próprios interesses e privilégios, entretanto conseguidos.
Naturalmente não parece crucial defender exclusivamente o interesse coletivo, porque tal posicionamento contraria os mais elementares direitos individuais, desde logo o direito à dignidade pessoal, à auto-estima, à criatividade, ao produto do trabalho, desde que não se prejudique iguais direitos dos outros semelhantes, o direito à posse e fruição da propriedade privada.
Por que não uma axiologia utilitária de, cada um por si próprio e a partir de si mesmo, contribuir para o todo, mantendo em seu poder o que por direito lhe pertence? O princípio da utilidade, neste caso da utilidade de valores, partindo da sua aplicação individual, certamente que beneficiará o coletivo que, impregnado de uma mentalidade que seja a soma dos ideais individuais, sairá a ganhar.
Por isso se configura de boa estratégia, preparar o cidadão do futuro com uma formação de valorização de tudo o que possa ser considerado útil para a humanidade, assente nas utilidades individuais. Decidir entre o que convém, no sentido da utilidade, e o que não interessa se não serve para nada, sendo que o objetivo último se atingirá na consecução de uma existência condigna.
O conceito de utilidade aqui defendido, não pode violar o princípio segundo o qual o que é útil para um deverá igualmente ser útil para o seu semelhante, ou, conforme a lei kantiana adaptada: que o útil particular se possa transformar em útil universal, reconhecendo-se, embora, que gostos e utilidades, sofrem de um certo relativismo.
Nos tempos que correm a axiologia deverá ser aceite, acarinhada e implementada, como vem sendo a mais sofisticada tecnologia, as ciências exatas e outros domínios técnico-positivistas, porque ela é imprescindível ao progresso, ao desenvolvimento e ao bem-estar da sociedade humana. Neste sentido convém invocar, na perspetiva da formação do cidadão do futuro, alguns valores essenciais:
1) Valores Éticos e Morais, desde logo a começar na vida, enquanto o primeiro e o mais grandioso de todos os valores, de que resulta na defesa intransigente desse bem supremo, quer no que respeita à sua inviolabilidade, quer na própria proteção jurídica. Uma das maiores conquistas da civilização é a dignidade humana. Para os que acreditam num ser supremo, a vida é uma Graça Divina e não se encontra ao dispor do livre arbítrio do Estado, de grupos ou do cidadão. Por isso mesmo e na melhor linha humanista, a oposição à pena de morte constitui um princípio irrevogável, do qual não se abdicará em circunstâncias normais.
2) Valores Sociais, que se identificam com a matriz personalista de base humanista, de forma a constituir-se uma sociedade mais justa e mais solidária, procurando erradicar a pobreza e a exclusão social, assumindo uma oposição frontal ao egoísmo, à competição desregrada, de forma que a pessoa se possa realizar na sua relação com as outras pessoas. A plena realização de cada pessoa deverá passar pelo sentimento da doação, pela vontade de amenizar o sofrimento, de contribuir para a felicidade e bem-estar dos outros, pela partilha. Pelos valores sociais todos se devem empenhar: cidadãos, instituições públicas e privadas, coletividades e organizações em geral. Por exemplo, a solidariedade social não é exclusiva do Estado, nem o poderia ser, devido à sua insuficiência para cumprir cabalmente as obrigações que afinal são de todos os indivíduos.
3) Valores Filantrópicos, porquanto ao longo da história, têm sido as organizações não-governamentais, as instituições privadas de solidariedade social, o trabalho voluntário, entre outros altruísmos, que têm resolvido problemas humanitários graves em todo o mundo. De facto, o trabalho voluntário tem feito verdadeiros “milagres”, nos vários setores e situações em que é realizado: catástrofes naturais; recuperação de pessoas doentes, marginalizadas ou em risco de vida; apoio a crianças e idosos desprotegidos; ajuda a mães solteiras; ação social em bairros degradados e tantas outras intervenções na sociedade.
4) Valores Económicos, a começar no respeito pela propriedade privada, pelo seu uso e transmissão, livre de regras condicionantes à sua valorização, isto é, ao livre exercício dos direitos de propriedade, porque a propriedade privada é um direito inalienável do homem, com uma natureza social, mas que também potencia o crescimento e contribui para o aumento da riqueza. Quanto maior for o número de pessoas proprietárias, mais justa e rica será a sociedade. Nesta perspetiva, não devem repugnar os direitos ao lucro lícito e justo e ao mérito pessoal para aqueles que arriscam, porque é da natureza humana arriscar, jogar, procurar melhores rendimentos através do trabalho, do negócio, do investimento, sem fugir às responsabilidades do cidadão contribuinte.
5) Valores Políticos que, em democracia, são inalienáveis e suportam a organização da sociedade política, perspetivada para a busca do bem, pelo amor ao próximo, para a realização da felicidade individual. O homem desenvolve-se e progride a partir da sua liberdade natural, no exercício do cumprimento de decisões ancoradas nos seus conhecimentos: não só técnico-racionais; mas também numa consciência cívica e democrática, no respeito pelos mais fracos. 

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Telefone: 00351 936 400 689
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domingo, 23 de novembro de 2014

Insegurança do Direito no Estado Democrático


A sociedade, convictamente, democrática, livre e civilizada de hoje está, todavia, conturbada, é muito complexa, difícil e vive desnorteada em relação a certas situações, insensível, materialista e obcecada pelo “Salve-se, quem puder”, não se olhando, por vezes, a meios, eventualmente, os mais cruéis, para se atingirem fins, nem sempre os melhores.
Vive-se, pelo menos a maioria das pessoas: num mundo instável; adotam-se valores que favorecem situações contrárias aos legítimos interesses de uma maioria que, de boa-fé, confiou e teve esperanças num futuro promissor que uma minoria lhes prometeu. Atualmente, segunda década do século XXI, o que ontem era verdade, seguro, adquirido; hoje é falso, inseguro e perdido.
Grandes princípios, valores, normas jurídicas e sociais, consagradas, eventualmente, em documentos religiosos, políticos e cívicos, são “letra-morta”, ou ignorada, ou ainda, substituídos, unilateral e traiçoeiramente, por outros que satisfazem interesses alheios ao bem-estar das populações, de quem realmente trabalha (para quem, ainda, tem o privilégio de um emprego) de quem produz riqueza, de quem tem experiência de vida vivida e sentida, com poupança, sacrifícios, humildade e honestidade.
A estas pessoas, cuja esmagadora maioria, não nasceu em “berço de ouro”, nem teve a ajuda de ninguém, e que, pelo contrário, necessitou de começar a trabalhar aos seis ou sete anos de idade, em vez de brincar, de estudar, a estas pessoas, tudo, mas tudo, lhes vai sendo retirado, possivelmente, sem retorno.
O princípio, segundo o qual: «Direitos adquiridos, não podem ser perdidos», era uma segurança do Direito Consuetudinário, além de que, certos direitos, estabelecidos no designado direito positivo, escrito, concebido pelas pessoas, dotadas de razão, conhecimentos, experiência, sabedoria e prudência, tais direitos, pura e deslealmente, foram subtraídos, inclusivamente àquelas pessoas que para eles contribuíram, financeiramente, pelos impostos pagos, ao longo de uma vida de trabalho, aliás, ao que parece, até se prolongam pela reforma, através de taxas, sobretaxas e sabe-se lá o que virá mais.
A título meramente ilustrativo das injustiças e, possivelmente, das irregularidades, seria certo que: «Toda a pessoa tem direito ao repouso e aos lazeres e, especialmente, a uma limitação razoável da duração do trabalho e a férias periódicas pagas” (DUDH, 1948: Artº 24, in BÁRTOLO, 2012:45). Este preceito universal foi, integralmente, vertido para a Constituição da República Portuguesa, conforme plasmado na alínea d) do Artº 59º (CRP, 2004:35).
A suspensão, em 2012, e os cortes então previstos e concretizados a partir de 2013, inclusive, por exemplo nos subsídios de férias e de Natal, contrariam o espírito de documentos universais, que Portugal subscreveu há 66 anos, bem com a Lei Fundamental Portuguesa, porque se pode admitir que haveria, como acabou por se concretizar, uma evolução positiva, no sentido de, para além das férias pagas, se lhe acrescentar um subsídio, para que os cidadãos gozassem, merecidamente, tal período, assim como no Natal, o mesmo subsídio para que se possa viver este dia da família com um pouco mais de fartura e dignidade. Nunca ninguém prometeu cortar tais benefícios, bem pelo contrário, foi prometido que eles se manteriam.
Estudava-se na disciplina de “Direito Romano”, do curso superior de Direito, que um dos pilares fundamentais do Direito era, justamente, a sua segurança e objetividade, interpretação da letra, mas também do espírito da lei e sua aplicação justa. Por muito complexa que a sociedade de hoje se apresente, as leis não podem ser alteradas, arbitrariamente, de um dia para o outro.
Infelizmente, o que cada vez mais se teme, até por decisões de Órgãos Constitucionais, insuspeitos e competentes é que, sempre que seja necessário para determinadas políticas, o Direito não se cumpre, ou alteram-se, radical e rapidamente, as normas jurídicas que “estorvam” a determinados objetivos e, ainda mais, se tanto for oportuno, até se suspende a Constituição por alguns meses. Seria caso para se pensar que se vive uma “Democracia muito singular”.
É suposto que numa democracia indireta, a maioria da população é representada por uma minoria que, mediante a conceção de um determinado projeto governativo, apresentado aos cidadãos, em campanha eleitoral, depois o execute, conforme prometeu, caso vença as eleições, precisamente por aqueles, cujos nomes constavam das respetivas listas, levadas ao conhecimento do eleitorado. Estes concidadãos, e não outros, em quem a maioria confiou o voto, têm a obrigação de cumprir, clara e lealmente, com o programa sufragado pela maioria, porque é assim que a política se deve realizar.
A política e os políticos são tanto mais nobres, quanto melhor resolvem os problemas das pessoas, e tanto mais credíveis quanto mais solidários e leais se revelam, aliás, é um imperativo ético-moral para com todos os cidadãos. A política e os políticos, num regime democrático, têm de estar ao serviço da população em geral e, em certas circunstâncias, até podem desenvolver a discriminação positiva, relativamente às classes sócio-profissionais e etárias mais desprotegidas, carenciadas e fragilizadas, mas nunca, em circunstância alguma, um ataque sistemático, precisamente aos mais fracos.
A instabilidade jurídica que, modernamente, percorre a vida em sociedade, podendo, em parte, ser provocada pela complexidade de situações sociológicas, económicas, financeiras e axiológicas, não deve, contudo, afetar projetos pessoais, empresariais e institucionais, elaborados na base da confiança entre as partes e nos fundamentos da Lei. Se assim não acontecer, corre-se o risco de ninguém querer investir, trabalhar, economizar para obter bens essenciais à própria dignidade humana., por exemplo, obter habitação própria (preceito constitucional) para depois lhe ser cobrado um imposto que, em muitos casos, até é superior a uma renda de uma casa alugada.
A segurança do Direito deve, sempre, garantir a aplicação da norma, tal como ela foi apresentada e aceite pelas partes, quando se inicia um projeto, uma atividade, o início de uma carreira profissional, um período de aposentação, seja uma reforma, seja uma pensão, não pode ser alterada negativamente, por conveniência de outros interesses, de resto, toda a norma jurídica vale para o futuro e só quando é favorável ao cidadão é que terá efeitos retroativos, aliás, isto mesmo preveem as leis penais.
A vida é como um jogo, que em cada fase e atividade se inicia com determinadas regras, que são cumpridas pelas partes e se não o forem haverá sanções. Tal como em qualquer outra competição, não se pode, nem deve, mudar regras a meio do jogo, exceto se tais mudanças implicarem benefícios para os “jogadores”, na circunstância, para os cidadãos. Se assim não for, poder-se-á estar perante decisões ilegítimas, ilegais e de abuso do poder.
Iniciar uma qualquer atividade com determinadas regras jurídicas, que as entidades públicas, legislativas, executivas e fiscalizadoras obrigam a que sejam cumpridas e que ao longo desse exercício, a pessoa, o profissional, a empresa, as instituições em geral, são obrigadas a cumprir e, em circunstância alguma deve alterar, unilateralmente, aquilo que também, unilateral impôs de início. Há um mínimo de rigor, de lealdade, de confiança e de decência que, ética e moralmente, se exige seja cumprido.
Nesta linha de pensamento, os cidadãos projetam as suas vidas, o seu futuro, também, e ainda que parcialmente, o de seus dependentes e descendentes. A pessoa constrói um projeto de vida em função do que lhe é oferecido, do que lhe é exigido, que ela cumpre rigorosa e pontualmente porque, mais à frente na vida, sabe que vai precisar de determinadas condições, benefícios materiais, que previamente acordou, com a outra parte, vir a receber, por exemplo, na velhice mas, de repente, tudo lhe é retirado, com a alegada “emergência nacional”. Verifica-se, assim, uma quebra de confiança provocada pela parte mais forte: o Estado.
Convém referir que o “estado de emergência” é uma figura constitucional: «2. O estado de sítio ou o estado de emergência só podem ser declarados, no todo ou em parte do território nacional, nos casos de agressão efectiva ou iminente por forças estrangeiras, de grave ameaça ou perturbação da ordem constitucional democrática ou de calamidade pública» (CRP, 1976:Artº 19º), que nada tem a ver com a emergência económica, portanto suspender ou retirar direitos que foram adquiridos, parece uma grande injustiça, para além de, eventualmente, inconstitucional.
A insegurança do Direito conduz às falências pessoais, empresariais, económicas e financeiras. Ninguém vai investir num projeto cujas regras são unilateralmente eliminadas ou substituídas por outras mais severas, injustas e, quantas vezes, irregulares.
Como é possível que a um trabalhador que paga coercivamente os seus impostos, que contribui para uma segurança social, assistência médica e medicamentosa, que desconta para ter outros benefícios, para uma velhice relativamente tranquila, de repente se veja sem esses benefícios que subscreveu, com a outra parte, no início da sua atividade profissional? Não é leal, nem justo “alterar as regras a meio do jogo”, porque isso equivale a um autêntico “logro”, com a agravante da parte prejudicada não se poder defender.
As decisões unilaterais, autoritárias, prepotentes e violentas não são próprias de uma sociedade civilizada, democrática e defensora dos mais elementares direitos humanos e, quando se verifica a imposição do mais forte, regride-se ao tempo das cavernas, em que os mais poderosos têm o domínio completo sobre os mais fracos, que não têm recursos para se defenderem.
A sociedade atual, em muitos países, bem poderá equiparar-se a uma selva, onde a lei do mais forte, do “quero, posso e mando” é a que prevalece, com base na fraqueza de um Direito instável porque, rápida e frequentemente, alterável, em função de interesses alheios ao bem-estar do povo em geral e dos mais fracos em particular, com a agravante de que algumas entidades fiscalizadoras, que deveriam ser as primeiras a zelar pela segurança do direito, nem sempre conseguem cumprir a sua missão, com solidariedade e lealdade para com os contribuintes mais desprotegidos.
A instabilidade do Direito é ainda mais preocupante, quanto é certo que quando ocorrem alterações na legislação, elas contemplam um conjunto, por vezes muito vasto, de exceções e, quando se trata da perda de benefícios e direitos adquiridos, aquelas exceções, com alguma frequência, abrangem quem já tem imensos privilégios.
Em bom rigor são, praticamente, sempre os mesmos a suportar as medidas mais penosas: trabalhadores, reformados, pensionistas e desempregados. Além desta inquietante insegurança do Direito, ainda acresce a discriminação negativa, ou seja: os privilegiados e protegidos continuam, na sua maioria, incluídos nas exceções para os benefícios e direitos adquiridos, mantendo-os ou até reforçando-os.
Pode-se afirmar que há uma grande falta de solidariedade e de lealdade daqueles que prometem e depois não cumprem. A palavra de honra, que em termos de honestidade, valia mais do que qualquer escritura, hoje, ao que parece, é apenas um “valor” para estratégias de sedução política.

Bibliografia

BÁRTOLO, Diamantino Lourenço Rodrigues de, (2012). Direitos Humanos: Alicerces da Dignidade. 1ª Edição, Lisboa: Chiado-Editora.
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA PORTUGUESA, (1974), Versão de 2004. Porto: Porto Editora.

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

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domingo, 16 de novembro de 2014

O Génio Humano na Sociedade


A sociedade humana, que é uma construção do génio humano, continua, complexa, apesar de toda a evolução da sua estratégica organização, da proliferação e aplicação de regras, complexa, difícil e conflituosa, gerando situações que já não são compatíveis com o estatuto superior que deveria corresponder à dignidade da pessoa humana, numa organização que tem a obrigação de se conduzir pelos princípios, valores, sentimentos e emoções, referenciais desta superior espécie.
O homem (abrangendo, obviamente, os dois géneros: feminino e masculino) que ao longo da sua história, a partir do seu mais remoto antepassado, cientificamente denominado por “hominídeo”, considerando, ainda, a sua evolução, nas abordagens filogenética e ontogenética, certamente que tem sido objeto de um progresso, a todos os títulos notável, que nenhuma outra espécie animal terá conseguido.
A incapacidade para o homem alcançar os absolutos não significa, de modo algum, uma situação de total relativismo, porque dentro das limitações humanas, existem situações, valores, princípios, sentimentos, emoções, deveres e direitos que não devem ser relativizados, de contrário, duvidar-se-ia das realizações que a ciência, o conhecimento, a técnica e os resultados concretos têm revelado ao homem; este duvidaria, no limite, da sua própria existência.
O que se pretende alertar é para a precariedade da espécie humana, com o dramatismo que lhe é dado viver, justamente por conhecer as suas próprias insuficiências e limitações concretas. Afigura-se, portanto, difícil, afirmar que uma determinada pessoa é, absolutamente, ética, moral, honesta, perfeita ou qualquer outro atributo sublime.
Descobrir, aplicar e validar a fórmula mágica para pacificar a sociedade humana são tarefas que, decididamente, não se vislumbram com facilidade, e até se pode questionar se alguma vez isso será possível, pelo menos sem a vontade e determinação de todos os indivíduos.
Parece haver todo um longo e relativamente difícil caminho a percorrer, cujo início terá de se estabelecer na base de uma formação inicial, bem cedo na vida, continuando com uma atualização persistente ao longo da existência humana, nos domínios da cidadania.
Lançar as bases para uma “Nova Ordem Internacional Cívica”, elegendo a cidadania como um imperativo universal, no que ela contém de princípios, deveres, direitos, valores e/ou, se se preferir, uma ética comprometida com a sociedade, uma ética exercida com competência por todos os cidadãos, independentemente do seu estatuto.
Vivenciar e usufruir dos benefícios da cidadania, numa sociedade democraticamente livre será, porventura, a situação que todo o cidadão responsável e competente deseja. O cidadão moderno, culto, no sentido antropológico que o conceito de cultura implica, capaz de utilizar, para o bem-comum, todas as suas capacidades cognitivas, técnicas e humanas, deverá ser formado, rapidamente, através e pelas diversas instituições da sociedade global: família, escola, Igreja, comunicação social, comunidades, vizinhos, empresas e até pela “Instituição” Natureza que tanto pode ensinar, quando o homem lhe presta atenção.
Atitudes de confiança nas capacidades humanas e no desenvolvimento de boas-práticas, constituem algumas das estratégias possíveis para se erradicarem do indivíduo, da comunidade e do universo, diversas patologias preconceituosas, que impedem o homem de se manifestar pelo seu lado bom, que lhe será inato. O processo que pode, em grande parte, contribuir para uma sociedade melhor, no sentido da justiça, da paz e do bem-estar coletivos, passa, também e necessariamente, pela educação e formação éticas.
Haverá, porventura, alguma falta de sensibilidade para os valores da solidariedade, da caridade e da entre-ajuda; alguma ausência de ética para o dever de proteger os mais fracos e discriminados. Interiorizar um conjunto de valores, no domínio da ética social, que conduzam às boas-práticas da convivência humana, digna entre cidadãos, que deveriam ter todos o mesmo estatuto de cidadania, poderá ser uma outra estratégia que, apoiada em diversos recursos humanos e financeiros, eliminaria esta chaga social, que alastra com o aumento da discriminação e da exclusão social, política, laboral, cívica, religiosa e outras, mais se aproximando de uma “globalização da exclusão”, porque remete milhões de cidadãos, grande parte dos quais deram, enquanto novos, o seu melhor à sociedade que agora os exclui, para os guetos da miséria, do esquecimento e do ostracismo.
A comunidade em geral, e o indivíduo em particular, devem preparar-se para a construção de uma nova Ordem Internacional para a Ética e para a Justiça que imponha a igualdade no respeito pelas diferenças, sem discriminações: sejam privilégios; sejam exclusões negativas, num espírito de solidariedade, cada vez mais abrangente, aceitando, naturalmente, as diferenças entre indivíduos e povos, porque ela é natural e caracteriza cada parte.
A igualdade deve ser estabelecida, precisamente, no que respeita ao relacionamento interpessoal, no acesso às oportunidades e aos bens comuns, porque no restante, é muito complexo, eventualmente, injusto, tratar de forma igual aquilo que é desigual. O conceito de Justiça, a partir do respeito pelas diferenças, pode ser um atributo das democracias modernas.
Uma ética societária que apele para o compromisso do dever e motive para o cumprimento dos deveres sociais de solidariedade, de respeito pela dignidade de toda a pessoa humana e recuperação/integração de todos quantos estão excluídos, constitui, no início deste século XXI, um imperativo universal.
Assuma-se, inclusivamente, a Ética no seu sentido pragmático, de boas práticas, porque o importante e decisivo é que todo o cidadão interiorize o conceito do dever, como uma boa metodologia ao serviço daqueles que mais necessitam. Uma Ética dos valores religiosos, políticos, sociais, económicos profissionais e cívicos. 

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
 
Portugal: http://www.caminha2000.com (Link’s Cidadania e Tribuna)

domingo, 9 de novembro de 2014

Liderança Democrático-Humanista


O mundo do trabalho revela-se cada vez mais exigente, seja em contexto profissional, seja no âmbito associativo-amador, porque para além do exercício dos respetivos cargos, ocupados nos diversos níveis da cadeia hierárquica, a realização das tarefas que cabem a cada trabalhador e/ou colaborador institucional, devem, igualmente, ser desempenhadas com rigor, qualidade e competitividade. A tudo isto acresce a responsabilidade de prestar contas às entidades competentes, sejam estas Departamentos oficiais do Estado, sejam acionistas, sejam sócios da respetiva associação, sejam clientes.
Todo o trabalho deve ser exercido com profissionalismo, com ética, com respeito pelos direitos dos trabalhadores/colaboradores, também com exigência do cumprimento dos seus deveres, naturalmente com um sentido humanista, com tolerância e compreensão por erros involuntários, que devem ser corrigidos com metodologias pedagógicas, jamais pela repressão, pela punição sem argumentos graves, provados e irrefutáveis. É muito importante que se saiba fazer uma análise correta das funções desenvolvidas pelo funcionário/trabalhador/colaborador.
Exigir, por exemplo, a execução de funções sem que seja dada formação teórica e prática adequadas, ainda que seja para cargos em que é suposto os responsáveis, quando são admitidos, possuírem as respetivas qualificações, não serão uma política de trabalho e progressão na carreira corretas. Por outro lado, cada trabalhador deve saber, exatamente, quais são as suas funções para, posteriormente ser avaliado, classificado, incentivado, reconhecido e promovido.
Tornou-se, portanto, necessário interiorizar que a: «Análise de funções consiste num processo estruturado e sistemático de recolha e organização sobre as tarefas e operações que uma pessoa ou um grupo devem realizar no âmbito do seu trabalho. (...) A análise de funções ocorre como um processo relativamente organizado, sistemático e estruturado, cujo produto final é igualmente o de conhecer a função e o trabalho.» (CUNHA, et. al., 2010:142-3).
Adotando-se aquele conceito, caberá, então, à entidade empregadora, ou associação, organizar o processo referente à elencagem de funções para cada colaborador, tendo em vista o público-alvo a servir, os resultados a alcançar os meios necessários para a realização das respetivas funções, os instrumentos e acompanhamento, avaliação, correção, atualização, reavaliação e assim sucessivamente, intercalando, periodicamente, as formações em ordem à melhoria contínua do empregado e à satisfação do cliente.
É injusto, ilegítimo e, eventualmente, ilegal despedir um colaborador, sem que primeiro se lhe tenham dado as oportunidades necessárias par se sentir motivado, frequentar as ações de formação adequadas às suas funções específicas e, sempre que conveniente, para uma certa polivalência, bem como ao nível de conhecimentos teóricos e boas práticas, nos domínios da ética e deontologia profissionais, relacionamento interpessoal, gestão do tempo, liderança e motivação de equipas, entre muitas outras formações, de curta duração.
Qualquer líder, dirigente, minimamente responsável por um determinado setor de uma empresa, instituição, serviço público ou associação, não pode, em circunstância alguma, descurar a condição verdadeiramente humana dos colaboradores, porque as pessoas não são meros objetos, que se manipulam, coercivamente, conforme as vontades do dirigente, porque este tem a obrigação de respeitar e salvaguardar os legítimos direitos e exigir os respetivos deveres dos seus subordinados, todavia, sem represálias, sem estratégias escondidas por uma muito bem dissimulada “gentileza”, uma inofensiva mas, provavelmente, falsa candura do dirigente.
Quando se aborda a questão dos direitos dos colaboradores, destaca-se, desde logo, a formação profissional, como resulta, inclusivamente, do próprio Código de Trabalho Português: «1. No âmbito da formação contínua, o empregador deve:
a) Promover o desenvolvimento e a adequação da qualificação do trabalhador, tendo em vista melhorar a sua empregabilidade e aumentar a produtividade e a competitividade da empresa; b) Assegurar a cada trabalhador o direito individual à formação, através de um número mínimo anual de horas de formação, mediante acções desenvolvidas na empresa ou a concessão de tempo para frequência de formação por iniciativa do trabalhador; c) Organizar a formação na empresa, estruturando planos de formação anuais ou plurianuais e, relativamente a estes, assegurar o direito à informação e consulta dos trabalhadores e dos seus representantes; d) Reconhecer e valorizar a qualificação adquirida pelo trabalhador.
2 - O trabalhador tem direito, em cada ano, a um número mínimo de trinta e cinco horas de formação contínua ou, sendo contratado a termo por período igual ou superior a três meses, um número mínimo de horas proporcional à duração do contrato nesse ano.»
(LEI N.º 7/2009, de 12 de fevereiro, Artº 131º).
Por outro lado, também não se ignora que a progressão numa carreira profissional, e que entre muitas outras variáveis, uma delas prende-se com a formação contínua profissional, e esta será selecionada a partir da análise de funções porque: «Uma descrição correta das funções ajuda a estabelecer as necessidades de formação profissional dos ocupantes de cada posto de trabalho. Se for conhecido o tipo de exigências que se colocam numa função, será possível estabelecer as necessidades formativas dos seus titulares.» (CUNHA, et. al., 2010:145).
Sendo ponto assente que o ensino/educação e a formação são requisitos essenciais para que um trabalhador desempenhe, o melhor possível, as suas funções, também é verdade que o rigor, o profissionalismo, a qualidade e até a motivação tenham de ser avaliados. Para estes aspetos devem os dirigentes estar atentos e serem facilitadores, incentivadores das iniciativas, experiências e entrega dos colaboradores, ajudando-os a suprir as dificuldades, sem ameaças nem processos de despedimento. As pessoas não são objetos descartáveis que apenas servem para objetivos de realização pessoal.
Seguramente que não será aconselhável a implementação de culturas negativas nas organizações, nem estilos de liderança que promovam medidas discriminatórias, embora se tenha conhecimento de que ainda há instituições cujos líderes entendem que é a partir de uma disciplina férrea, exigências para além das capacidades humanas e caraterísticas específicas dos funcionários, que vão obter bons resultados, recorrendo, por vezes, ao desgaste psicológico, para levar os colaboradores a falhar e assim terem argumentos para os despedir, alegadamente, com justa causa e admitirem outros que lhes convém. Este é o protótipo do líder ditatorial, que até é capaz de se disfarçar em amabilidades, com intervenções e gestos brandos, até conquistar as simpatias de quem os rodeia.
Com efeito verifica-se que o: «Estilo autocrático-paternalista, a impulsividade e a emoção dominam as ações e decisões dos executivos, tanto nas cobranças como concessões, com prejuízo a uma necessária postura profissional requerida por essas funções.» (RESENDE, 2000:144), conduz a situações de uma autêntica cultura institucional negativa e injusta, transmitindo parta o exterior a pior imagem da organização e dos seus dirigentes.
E se infraestruturas, equipamentos, tecnologias e capital financeiro são fundamentais para o sucesso da instituição, obviamente que o fator humano é imprescindível e quanto melhor for a sua formação, a todos os títulos, tanto melhor será a produtividade, a qualidade, a satisfação do cliente e o prestígio da instituição.
Na verdade e infelizmente: «Cultura de valorização do fator humano: por incrível que possa parecer a quem não está habituado a conviver em ambientes empresariais, a grande maioria das organizações valoriza mais as estruturas, os equipamentos, os processos, do que as pessoas.» (Ibid.:146).
O capital humano numa instituição é, inequivocamente, o mais importante. Pode-se investir massivamente, por exemplo, em equipamentos, mas se não houver formação contínua, de pouco valem; podem-se atualizar modelos de gestão, transferir de umas instituições para outras tais arquétipos, mas se os colaboradores não forem respeitados, acarinhados, estimulados, de nada servem os modernos paradigmas organizacionais; pode-se recorrer à intimidação, ao controlo “monitorizado” por funcionários ditos “fidedignos” ao líder (espreitas), todavia, mais tarde ou mais cedo, serão desmascarados pelos seus próprios atos de prepotência, de comprovada incompetência para gerir recursos humanos.
O desenvolvimento organizacional está a alterar-se rapidamente com a preocupação de centrar no colaborador a maior parte das expectativas, e no qual se sabe que é necessário investir, não só na formação técnica para manusear bem os equipamentos, como também no domínio pessoal.
As relações entre os diversos níveis da cadeia hierárquica e os próprios trabalhadores tendem a estreitar-se, e o que se verifica é que: «Competências e requisitos outrora pouco relevantes transformaram-se em aspectos essenciais a considerar na execução do trabalho (e.g., as competências interpessoais relacionadas com a gestão das emoções, o conflito, a comunicação e a negociação com as pessoas de diferentes culturas). Já não se requer que as pessoas executem apenas o papel inscrito no cargo – requer-se-lhes também que executem co portamentos extra-papel, ou comportamentos de cidadania organizacional.» (CUNHA, et al., 2010:178-9).
Ao líder deste século XXI também se lhe exige que tenha qualidades pessoais humanistas, competência e vontade para se relacionar, honestamente, ao nível de “pessoa-a-pessoa”, com os seus colaboradores, numa postura autêntica, sem metamorfoses, de aparentes inocências, apenas para ganhar a confiança dos seus colaboradores, obter destes todo o tipo de apoios, informações, conivências e até adesão a determinadas medidas para, logo que não precise deles, os afastar de forma desleal, incluindo os próprios colegas dirigentes, e assim controlar tudo e todos, a seu belo prazer, praticamente sem qualquer oposição.
Estes líderes, naturalmente, não prestam um bom serviço aos seus colaboradores, aos colegas, aos clientes da instituição e a esta própria. Tais líderes desempenham o seu papel prepotentemente, buscando protagonismo através de uma liderança autocrática, injusta, discriminatória, eventualmente, patológica, o que, evidentemente, é criticável e sem qualquer dúvida, condenável.
Não se pode, nem deve fazer das pessoas meros instrumentos para alimentar vanglórias pessoais, porque: quer se queira, quer não, mais tarde ou mais cedo, líderes desta natureza, quais tiranos, também caem dos seus pedestais dourados, com pilares de barro, e então quererão receber a compreensão, a tolerância e o indulto daqueles que até então humilharam, até ao sofrimento psicológico e físico. É tempo destes líderes começarem a ser inteligentes, competentes, humildes e humanos.

Bibliografia

CUNHA, Miguel Pina, et. al., (2010). Manual de Gestão de Pessoas e do Capital Humano. 2ª Edição. Lisboa: Edições Sílabo, Ldª.
MINISTÉRIO DO TRABALHO E SEGURANÇA SOCIAL (2009). LEI N.º 7/2009, de 12 de fevereiro, Artº 131º que aprova o Código do trabalho.
RESENDE, Enio, (2000). O Livro das Competências. Desenvolvimento das Competências: A melhor Auto-Ajuda para Pessoas, Organizações e Sociedade. Rio de Janeiro: Qualitymark
 

domingo, 2 de novembro de 2014

Reciprocidade de Valores, Atitudes e Sentimentos


É normal e desejável que toda e qualquer organização tenha bem definidos os seus princípios, valores, missão, estatutos, objetivos, como de igual forma é crucial que uma pessoa, razoavelmente bem formada, tenha a sua própria hierarquia axiológica, que divulga e pratica, dentro dos limites aceitáveis, em conformidade com uma reciprocidade que em princípio pode (nalgumas situações, deve) exercer.
Ao longo da vida damos e recebemos, por vezes, trocamos, intencionalmente, favores, influências, objetos, prendas: materiais e imateriais, retribuímos valores, sentimentos, atitudes, afetos. Durante a sua existência, a pessoa, verdadeiramente humana, tem capacidade para realizar atos incomensuravelmente altruístas, sendo legítimo, todavia não exigível, que espere atitudes recíprocas, porque afinal, lá diz o bom povo: “Uma mão lava a outra; as duas lavam o rosto”, para além de um valor fundamental que existe nas pessoas de bem e que se denomina por “Gratidão”.
Qualquer pessoa bem formada, que é alvo de: atenção, consideração, estima, solidariedade, amizade, lealdade, cumplicidade, carinho e afeto, naturalmente que jamais poderá esquecer quem lhe fez e/ou continua a fazer tanto bem, nunca poderá ignorar que a ajudou a alcançar determinado estatuto social, ou uma outra qualquer situação e, em circunstância alguma, poderá hostilizar quem por ela deu tudo, ficou a dever favores, arriscou, inclusive, eventualmente, algum conforto próprio e/ou de familiares.
Sabe-se que há, para a sociedade em geral e, também, para as pessoas individualmente consideradas, um conjunto de procedimentos previsíveis, atitudes perante determinadas situações, princípios e valores, que se observam, sem grande dificuldade, e que não são suscetíveis de serem negados, pelas pessoas que os praticam e/ou deles beneficiam. 
Existem, ainda, sentimentos e emoções, que se controlam, ou não, que revelam a constituição psíquico-emocional de uma dada pessoa, só que, por vezes, a dissimulação da personalidade é tão perfeita que, quem está de boa-fé, acaba por ser enganado por criaturas manipuladoras, bajuladoras e cínicas.
Quando se defende, por exemplo, a “Lealdade nas Relações Pessoais”, a solidariedade, a amizade, a ética, a tolerância e tantos outros valores humanistas e cristãos, parte-se do pressuposto que se está a conviver com pessoas que comungam de idêntico comportamento, aceitando-se que: «Os indivíduos se unem e recriam pela linguagem afetiva, os sentimentos de amor e de pertencer a um mesmo destino e a uma mesma jornada histórica.» (CARVALHO, 2007:53).
Conceptualizar-se-á o afeto neste contexto, ou seja: de sentimentos recíprocos, que devem ser partilhados pelos membros de uma equipa, que se forma para atingir determinados objetivos legais, legítimos e justos, onde, naturalmente, há um líder em quem se confia e, inclusivamente, se lhe manifesta consideração, amizade, lealdade, solidariedade e afeto, esperando-se que esse chefe retribua tais valores e sentimentos, aos restantes membros do grupo e, se assim acontecer, poder-se-á estar perante um líder humilde, competente solidário.
Infelizmente, os tempos são diferentes, a palavra de honra, o respeito, a gratidão, a consideração e a estima raramente funcionam ao nível da reciprocidade, por isso, não é de estranhar que quando alguém é ofendido, nos seus princípios, valores, sentimentos e dignidade, fique profundamente magoado, porque, em bom rigor, esta pessoa está a ser “apunhalada pelas costas”, precisamente por quem dela recebeu todas as atenções, apoio, consideração e, em alguns casos, amizade sincera e incondicional.
Será demasiado pretensioso exigir-se a alguém que, depois de ser humilhado, ofendido e marginalizado, esteja disponível para esquecer, para, tal como Jesus Cristo, dar a outra face do rosto, e porque somos humanos, a perfeição e a abnegação totais não existem em nós, evidentemente que, como refere o adágio popular: “Quem não se sente, não é filho de boa gente”, portanto, é necessário enveredar sempre pelos caminhos da afetividade, do compromisso, do respeito e da reciprocidade, designadamente para o Bem.
Acontece, cada vez com mais frequência e despudor, certas pessoas, aproximarem-se de outras, que sabem ter alguma influência, serem conhecidas, bem colocadas no meio local, para lhes subtraírem conhecimentos, apoios, favores diversos, para atingirem determinados objetivos, incluindo os de promoção pessoal, protagonismo, alimento de narcisismos doentios e depois de alcançarem os fins premeditados, revelarem a sua formação e sentimentos ignóbeis.
Tais pessoas, sem princípios, nem valores, nem sensibilidade, verdadeiramente humanistas, valem-se de métodos e estratégias do tipo: “pezinhos de lã”, bajulação e hipocrisia; nunca elevam a voz; não gesticulam desabridamente; tudo é calculado, premeditado, qual predador que espera a presa inofensiva; comportam-se como o “Deuses do Bem” entre os pobres e pacíficos mortais; conseguem, inclusive, convencer quem com eles está de boa-fé. Trata-se de pessoas singularmente maquiavélicas, em que tudo é planeado ao pormenor, no espaço e no tempo, situações maldosamente engendradas e nos resultados esperados.
Deploravelmente, as vítimas deste tipo de gente são pessoas de bem, por vezes com excelente educação e formação, que antes preferem afastar-se do que responder com idênticos comportamentos e processos, mas sempre fica a mágoa, a dor e o sofrimento, porque o pior que pode acontecer a uma pessoa é ser “apunhalada” por quem tinha por amiga/o, com quem estava disposto a colaborar, para objetivos dignificantes de instituições e pessoas.
Ao longo da nossa existência, deparamo-nos com as mais diversas e inesperadas situações: umas excelentes, outras muito boas, ainda outras menos boas e, finalmente, também não escapamos às más e muito más. Não temos a capacidade de evitar tudo o que nos é prejudicial, nem a faculdade de construirmos o melhor dos mundos para nós, família e amigos. Somos fracos e limitados.
A vida, de facto, não é, como se costuma dizer: “um mar de rosas sem espinhos”, nem um universo de facilidades, em nenhum dos domínios que nos ocupam a existência. Sempre encontramos dificuldades, seja na saúde, no trabalho, nas relações interpessoais, nos sentimentos, nem sempre correspondidos, nas emoções incompreendidas, nos valores, por vezes traídos, por quem menos esperávamos que o fizesse. Na verdade, a existência humana é complexa.
Caminha-se, por vezes, sem rumo, outras, procurando um porto seguro, ou, ainda, buscando o farol da orientação que nos conduza à concretização de objetivos materiais e/ou imateriais legítimos, justos e legais. Navegamos num espaço de incertezas, de turbulências diversas que, quantas vezes, desejamos terminar com tudo, descansar num “outro local” que, alguns, acreditam, possa existir.
“O mundo, tem muitas esquinas”; “a vida, muitos altos e baixos”. Não haverá ninguém neste espaço terreste que, estando muito bem hoje, não venha, amanhã, a passar tempos muito difíceis, como jamais alguém poderá afirmar que não precisa do seu semelhante, mesmo que este seja o seu maior inimigo. Sempre foi assim ao longo da História da Humanidade: o mais rico, precisa do mais pobre; o mais forte só o é, enquanto o mais fraco não se tornar forte; o empresário só tem sucesso se os seus trabalhadores colaborarem, afincadamente, para os melhores resultados.
Ao ler-se esta reflexão pode pensar-se que tudo não passa de falsos moralismos, de uma ética social anacrónica, de “lamechices” de quem está profundamente ofendido, magoado, que não merecia a deslealdade e a ingratidão de quantos foram ajudados, incondicionalmente, com total solidariedade, amizade e sinceridade, onde alguns ainda não conseguiram tudo a que têm direito, mas em que outros já desempenham um qualquer poder, obtiveram mais um elevado estatuto social, no seio da comunidade, enfim, ingratidão por parte de quem hoje se vangloria de exercer um domínio quase total.
O mundo tem muita gente pouco confiável, pessoas que utilizam sorrisos forçados, que através da flexibilidade manipuladora, conseguem conviver com todos, para todos e por todos, desde que isso lhes proporcione uma boa imagem social, reina a mentalidade de “agradar a Gregos e Troianos”. Não importa que neste relacionamento, dito “social”, ao conviver com uns, tenhamos de magoar outros, porque convém fazer jogos duplos, que são determinantes para que as mentalidades subservientes e bajuladoras fiquem bem vistas na sociedade.
 Vive-se, de facto, de aparências, de falsas aparências, porque o importante é agradar e conseguir-se o que se deseja, nem que para tal tenha de se vender dignidade, reputação, trair amigos, não ter respeito por si próprio nem pelos outros, afinal, é conveniente: “Servir a Deus e ao Diabo”. É claro que o “verniz social” vai derretendo, os “punhos de renda” vão-se sujando e rompendo e, finalmente, estas “máscaras” vão caindo e fica à mostra a figura miserável de quem nos enganou.
Felizmente que, por outro lado, ainda se assiste a algumas, ainda que poucas, boas-práticas no âmbito das relações interpessoais, de consolidação de amizades, de comportamentos solidários, amigos e leais, recebem-se, também, atos de autêntica gratidão, de sincera camaradagem e consideração, principalmente por parte de uma camada de jovens e ainda de pessoas com idades mais avançadas, que nos respeitam e por nós têm afeto, porque sabem que a recíproca é verdadeira.
É tempo, portanto, de sermos prudentes, sábios, no sentido de nos podermos defender de quem pretende aproveitar-se de nós, para fins de satisfação exacerbada do próprio ego, normalmente pessoas extremamente vaidosas, ambiciosas e prepotentes, de ideias perigosamente fixas, que não olham a meios para atingirem os fins almejados, por isso, se apela que a quem assim age, pense todos os dias, durante alguns minutos, que tais “reinados” acabam, normalmente, sem honra nem glória.

Bibliografia

CARVALHO, Maria do Carmo Nacif de, (2007). Gestão de Pessoas. 2ª Reimpressão. Rio de Janeiro: SENAC Nacional 
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
 
Portugal: http://www.caminha2000.com  (Link’s Cidadania e Tribuna)