domingo, 30 de julho de 2017

Autoridade Docente Legitimada

Implementar uma política educativa, descurando a necessidade do exercício de uma autoridade docente, constituiria um perigo de consequências irreparáveis, na medida em que, nos limites do individualismo, do protagonismo e da prepotência, impor-se-ia a ditadura do mais forte, normalmente, o sistema e os seus servidores corporativos.
A autoridade docente, no seu conceito mais nobre, altruísta e democrático, deve ser interiorizada, justamente, a partir da família. É da responsabilidade indeclinável dos pais e encarregados de educação preparar os seus educandos para o respeito, para a obediência e para a colaboração na e com a escola.
As crianças, os jovens, os adultos e todos os beneficiários do sistema educativo, e de formação profissional, ao integrarem-se numa comunidade escolar convém que já tenham assumido que vão ter de cumprir regras, respeitar e obedecer a quem tem a incumbência de elaborar e transmitir o conhecimento, a técnica e o poder de avaliar todos aqueles que devem e querem aprender.
Para se compreender, e aceitar, a autoridade docente, uma boa estratégia poderá ser aquela que, no seio da família, desenvolve o exercício pleno da autoridade dos pais, não num sentido totalitário e autoritário, não com uma pressão esmagadora, não com o recurso à violência física e psicológica, mas adotando, precisamente, regras, princípios, valores e sentimentos que, mais tarde, serão aperfeiçoados na escola, o que desde logo tem a vantagem de a criança, o jovem ou mesmo o aluno não sofrerem com a integração, entretanto em curso.
O exercício da autoridade no seio da família deve partir das premissas universais consideradas para o conceito genérico de autoridade educativa, segundo o qual: «O verdadeiro educador compreende que a autoridade por ele exercida não é a sua; mostra, por toda a sua conduta, que não é o detentor da autoridade, mas o testemunho. Essa autoridade é a da humanidade sobre todos os homens, a da razão, da ciência, da arte, da consciência; o papel do educador não é confiscá-la, mas atestá-la; (…). Se lhes corrige as faltas (dos alunos), admite ser também corrigido e se exige que dêem razão de seus atos, admite que lhe peçam razão dos seus. Não está acima deles, está com eles.» (REBOULT, 1974:53, in: HAYDT, 1997:64).
O espaço privilegiado e genuinamente autêntico para o exercício da autoridade democrática, afetiva e firme, poderá ser no seio da família, objetivamente, a partir dos comportamentos transparentes e declaradamente assumidos pelos pais e/ou encarregados de educação.
Os pais que, “tanto dão o pão como a educação”, assumem uma importância decisiva para a compreensão que a criança e o jovem vão ter sobre o exercício da autoridade docente, a qual, eventualmente, nem se fará sentir se o educando já estiver habituado a reconhecer a autoridade dos pais e, pelo contrário, fica automática e tacitamente legitimada pela preparação educativa que os jovens educandos e formandos já trazem de casa.
Não existindo na família as boas-práticas do respeito, da obediência, da solidariedade e da colaboração, então, muito pouco mais a escola poderá fazer, para além de tentar corrigir, quantas vezes pelos piores processos, os maus hábitos que a criança e o jovem já interiorizaram, sob a influência da organização familiar.
A grande abertura para compreender a vida, e o mundo, realiza-se: primeiramente, na família, a quem compete intervir junto da criança e do jovem, com rigor, com verdade, com transparência, sem mitos nem ambiguidades.
Os pais ganham em amor e respeito dos filhos, e confirmam a sua autoridade com práticas adequadas aos valores culturais, religiosos, económicos, estéticos e outros, próprios da época e do local em que educam os seus filhos.
Na verdade: «Seriam realmente privilegiados estes momentos de intimidade em que os pais poderiam recuperar a sua autoridade e talvez a percam irremediavelmente por terem escondido a realidade, não satisfazendo a justa curiosidade das crianças. Estas, então, ou se fecham em si mesmas ou se vão informar noutras fontes suspeitas perante a atitude de falso pudor de pais inábeis ou hesitantes que se sentem incapazes face a este problema. (…). Os pais têm de fazer grande reconversão, porque as crianças esperam que dêem o primeiro passo, e sejam os primeiros a estender-lhes a mão quando elas não se atrevem a perguntar.» (ALVES, 1990:22).
O exercício da autoridade por uma pessoa, grupo, comunidade ou nação, implica, desejavelmente, boas-práticas e antecedentes favoráveis à natureza da autoridade, por quem tem legalidade e legitimidade para a exercer, isto é: como se pode impor autoridade a alguém se não se respeita esse alguém na sua própria autoridade, desde logo, e originariamente, como a que resulta da dignidade da condição de pessoa humana? Por que a dignidade de cada um impõe autoridade pelo respeito e consideração que lhe são devidos.
Poder-se-ia estabelecer uma fórmula descritiva de autoridade, como por exemplo: a autoridade de cada um é tanto maior quanto maior for o respeito pela autoridade do outro.
Neste sentido o apelo que, frequentemente, nos mais diversos contextos, se faz ao respeito pelas autoridades, tem todo o sentido, porque se há quem defenda que o exemplo vem de cima, portanto, de quem governa e tem o poder, também se pode aceitar a apologia que sustenta que a autoridade emana de baixo, do povo, dos governados.
O importante e necessário é que a autoridade se respeite com autoridade. O exercício do poder é tanto mais eficaz, e aceite, quanto mais legitimada for a autoridade de quem o exerce. Legitimação também significa adesão, participação, mesmo que precedida de questionamento legítimo, justo e legal.

Bibliografia

ALVES, A. Martins, (1990). Autoridade Educativa na Família, Porto: Editorial Perpétuo Socorro.
HAYDT, Regina Célia Cazaux, (1997). Curso de Didática Geral, 4ª ed. São Paulo: Ática

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domingo, 23 de julho de 2017

Pedagogia e Cumplicidade

Seguramente que é pela educação/formação que todo um povo, uma nação e o mundo se desenvolvem, e se aperfeiçoam as muitas e diferentes capacidades do homem.
Significa isto que existe uma responsabilidade imensa em todos os intervenientes por este setor vital da organização societária, cujo núcleo duro central se estabelece numa dualidade cúmplice - aluno-professor, Formador/Formando -, sendo aquele o objeto de todas as atenções deste, ou seja, um sistema educativo/formativo centrado no aluno/formando, porque sem este elemento central, não se justificaria qualquer sistema, recursos, infraestruturas, bem toda uma quantidade de meios envolvidos.
Pertence, por direito próprio, ao aluno/formando todo o protagonismo no setor da educação e formação profissional o que implica, correlativamente, a necessidade de o aluno/formando ser cada vez mais competente nas suas aprendizagens, demonstração das mesmas, em contextos reais de avaliação e aplicação na vida prática da realização e execução dos diferentes papéis: profissionais, sociais, culturais, religiosos, político-cívicos e tantos outros.
O sucesso do sistema educativo inicia-se, claramente, a partir da maior harmonia, solidariedade e cumplicidade entre dois protagonistas: aluno/professor; formando/formador e pais/encarregados de educação.
Tudo o resto, à sua volta, desempenha um papel fundamental, ao nível da complementaridade e da compreensão das posições que os atores principais vão assumindo, de forma responsável e segura, sem prejuízo, relativamente aos menores, de os respetivos encarregados de educação poderem (e deverem) decidir para o bem dos seus educandos, escutando, embora, as opiniões especializadas dos respetivos técnicos e dos docentes.
O ideal desejado, nesta cumplicidade aluno-professor, vai no sentido de o primeiro conseguir uma educação e formação profissional integrais, de tal forma que a sua inserção na sociedade se realize sem dificuldades de maior, quaisquer que sejam os contextos e papéis a observar.
Para que o sucesso se verifique, o aluno/formando deve empenhar-se profunda e ativamente no estudo, e nas boas-práticas, que ao longo da sua preparação para a vida real ativa lhe vão sendo transmitidas, reveladas e exemplificadas pelo professor/formador. A formação integral é, aqui, consubstanciada nos: Saber-ser; Saber-estar; saber-fazer e saber-conviver-com-os-outros.
A cumplicidade envolve e responsabiliza, igualmente, o professor/formador e, numa dimensão tal, que as suas atitudes, conhecimentos, práticas, experiências, emoções, valores e sentimentos possam ser manifestados ao aluno/formando, numa perspetiva de total sinceridade e abertura para o diálogo crítico e construtivo, entre os dois, com objetivos de aprendizagens recíprocos.
Uma tal atitude, por parte do professor/formador reforça a confiança e segurança do aluno/formando, criando-lhe um forte sentimento de admiração e respeito pelo seu mestre e “colega”, neste processo de cumplicidade recíproca. Nesta conjuntura, tão afetiva, o prestígio e autoridade do professor/formador, seguramente que se reforçam e consolidam.
A estratégia da cumplicidade, implica, inevitavelmente, uma relação de entreajuda, em que nenhum dos elementos se impõe ao outro, mas ambos se complementam, cada um dando ao outro o que melhor tem.
Num processo de ensino/aprendizagem e formação, obviamente, existe uma diretividade, uma responsabilização e técnicas que, implicitamente, são assumidas pelo docente/formador, sem que este tenha que, ostensivamente, assumir tal protagonismo.
À boa maneira socrática, pode-se, inclusivamente, utilizar o método da maiêutica, conduzindo e controlando o diálogo, porque: «Professor e aluno, partilhando como homens um destino comum, devem também aprender em comum, em intercomunicação pedagógica, numa comunidade de trabalho. Essa é a «relação de biofilia» que promove a educação para a liberdade. Na escola tradicional, em que o aluno é transformado de ser vivo em objecto, pratica-se, ao contrário, uma «relação de necrofilia.» (Freire, 1974, in CAMPOS, 1997:150).
A pedagogia da cumplicidade, possivelmente, estará a dar os primeiros passos, em escolas onde se verifica uma situação de grande autonomia pedagógica, uma genuína democracia académica, a partir dos docentes e dirigentes educativos.
A médio prazo, na Europa Comunitária, acredita-se que a partir da implementação total e definitiva do «Processo de Bolonha» se possa desenvolver uma relação de entreajuda, em perfeita cumplicidade e complementaridade, entre professor e aluno, o que implicará uma autêntica revolução de muitas mentalidades, em docentes, dirigentes, funcionários do sistema, encarregados de educação e, eventualmente, muito menor nos alunos.
De facto, em certos níveis do ensino/aprendizagem e formação, um aluno, numa determinada matéria, pode saber muito mais do que o próprio professor, aliás, o que hoje é professor, amanhã poderá ser aluno e assim se alternando os papéis ao longo da vida.
A partir do revezamento de papéis, novos conceitos de autoridade se vão formando: autoridade, que resulta do respeito que professor e aluno manifestam um pelo outro, no exercício alternado daquelas funções; autoridade, que se cria pela compreensão das dificuldades que cada um vai revelando, quando entra nas matérias do outro; autoridade, que se consolida pela empatia alimentada pela tolerância e pela cumplicidade dos intervenientes; autoridade, singularmente democrática para o exercício da liberdade.
Quando se questiona determinado tipo de autoridade na escola, não é relativamente à natureza da autoridade que aqui se reflete, mas, outro sim, a uma autoridade que, alegadamente, exerceria um poder discricionário e ilimitado sobre o aluno/formando, porque, tradicionalmente, a hierarquia estabelecida faculta vastos poderes ao professor/formador.
Assim, a alegada crise de autoridade, nas escolas, poderá significar que: «Não se trata, decerto, de uma recusa radical da autoridade em si, mas antes de questionar a legitimidade de certas formas concretas de autoridade em certas instituições concretas. A questão é de saber que valores são desse modo defendidos, ou que valores anulados; e de distinguir entre o poder que é necessário para coordenar as acções e o poder que é produzido para dominar as pessoas.» (CAMPOS, 1977:150).
Uma alternativa possível para a redução das crises de autoridade, entendida esta como o poder unilateral do professor/formador, sobre o aluno/formando, pode passar por uma pedagogia da cumplicidade solidária, justamente, entre: o professor e o aluno; formador/formando, através de acordos pedagógicos, livre e responsavelmente assumidos pelas partes e, sempre que se justifique, com a adesão dos encarregados de educação.

Bibliografia

CAMPOS, Bártolo Paiva, (Coord.), (1990). Psicologia do Desenvolvimento e Educação de Jovens. Vol. I, Lisboa: Universidade Aberta.


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segunda-feira, 17 de julho de 2017

Autoridade Docente, Competência e Segurança.

Discute-se, por vezes acaloradamente, até onde pode chegar a autoridade do docente e considera-se, em certos meios menos prevenidos, a autoridade no sentido do respeito devido ao professor e autoridade do docente no sentido do domínio das matérias que leciona.
Obviamente que são aspetos, dimensões ou realidades diferentes que, congregadas na mesma pessoa, o professor, desenvolvem-se em contextos escolares distintos.
Desde já, esta dupla autoridade, quando existe e é exercida, dá segurança aos alunos, encarregados de educação, instituições, sistema e comunidade em geral, motivando o docente para o seu uso prudente e didático-pedagógico, mais no sentido de formar, objetivamente, para a vida, do que, propriamente, ensinar esta ou aquela teoria.
Destaca-se, a partir das reflexões que antecedem, a propósito destas matérias, uma evidência fundamental: é imprescindível a competência multidimensional do docente, para que possa inspirar autoridade e segurança, às comunidades escolar e civil que o envolvem.
Apresenta-se claro e diverso que o professor trabalha num ambiente muito especial, com públicos oriundos de variadas origens: culturais, sociais, étnicas, etárias, económicas, religiosas e até políticas, ou seja, um público heterogéneo, que sendo mais ou menos exigente, obriga o docente a ser competente, polivalente, especializado, flexível e rigoroso, porém, cabe à escola, enquanto sistema educativo/formativo, estabelecer, ainda que minimamente, os programas, os conteúdos, as avaliações e certificações.
Com a mesma coerência, exige-se que as escolas que formam professores os preparem, também, para os domínios relacionados com a gestão das carreiras, desde logo a do próprio docente, porque só com esta estratégia é que ele, o professor, pode, perante os seus alunos, incutir autoridade e segurança: «As escolas, com raríssimas excepções, nunca incluíram em seus objectivos e papeis proporcionar alguma orientação de carreira aos seus alunos. Talvez não julguem ser essa uma obrigação sua; talvez considerem tratar-se de uma questão complexa; talvez considerem que ao optarem pelos cursos especializados, as pessoas já tenham definido as suas carreiras e não há muito mais o que fazer. Como predomina a crença de que a principal qualificação para a carreira profissional são os conhecimentos técnicos, adquiridos nas escolas, directores, professores e alunos acham que a questão está fundamentalmente resolvida.» (RESENDE, 2000:112).        
A autoridade docente, nas suas diferentes abordagens: específicas de cada disciplina; culturais, humanas, sociais, políticas e de cidadania; deve ser exercida: não só em contexto escolar da sala de aula; mas também noutros âmbitos da vida do professor, o qual deve ser o primeiro a manifestar um comportamento deontológico, compatível com a sua nobre função e estatuto exemplar, porque só por esta forma revelará competência e inspirará segurança.
Definitivamente, o docente, assim preparado e atuante, constituirá uma referência para a sociedade em geral, e para a comunidade escolar em particular. Ao longo da sua carreira, o professor é, também, um cogestor de interesses, recursos, expectativas e classificações. Uma vez mais tem de se revelar competente e seguro porque: «Aquele que tem de intervir em deliberações, conselhos e decisões, há-de conhecer a fundo o terreno que pisa, e necessita de ter uma competência adquirida através do estudo, da experiência e do trato com homens e coisas.» (WELTY, 1966:428).
Valerá muito pouco ao docente, e servirá muito menos aos alunos, apenas os conhecimentos muito especializados do primeiro, se não tiver competência e autoridade para os transmitir, aliás, poderá, inevitavelmente, nem sequer ser escutado ativamente.
Competência e autoridade acumulam-se e ganham-se, respetivamente, através do estudo e da experiência de vida, coerente com os princípios e valores que propaga, no meio estudantil. Seria inútil, e até improcedente, tentar transmitir e incutir no espírito dos alunos, um conhecimento, uma teoria que, na vida prática, o docente nega pelo seu comportamento. Que autoridade poderá ter o professor que assim se posiciona na vida?
Naturalmente que se determinados programas e conteúdos são de ensino/aprendizagem obrigatórios, e o professor discorda deles, o que eticamente deve fazer é, justamente, revelar esta sua posição e colocar-se numa atitude de conselheiro dos seus formandos, no sentido de lhes notar que em termos de programa e avaliação tais conteúdos devem estar sabidos.
O comportamento deontológico do docente sugere, nestas circunstâncias, uma separação nítida entre o seu pensamento e a divulgação e explicação dos conteúdos oficiais que superior, legal e legitimamente estão determinados.
Mesmo em discordância, eticamente assumida, o professor não perde a sua competência, nem a autoridade, antes as reforça, como ganha em domínio, incutindo ainda maior segurança.

Bibliografia

RESENDE, Enio, (2000). O Livro das Competências. Desenvolvimento das Competências: A melhor Auto-Ajuda para Pessoas, Organizações e Sociedade. Rio de Janeiro: Qualitymark.
WELTY, Eberhard, (1966). Manual de Ética Social III – O Trabalho e a Propriedade, Tradução,  José da Silva Marques, Lisboa: Editorial Aster.

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domingo, 9 de julho de 2017

Capacidade Comunicacional

Independentemente, e/ou conjuntamente, com habilitações académicas, experiências, situações e estatutos económico-políticos, exige-se, em todas as profissões, atividades e intervenções, competência, eficácia, resolução de problemas, harmonia, compreensão e resultados. Hoje, primeiro quarto do século XXI, vive-se num mundo progressivamente avançado, num tempo e num espaço, incompatíveis com o marasmo, com a indiferença, com o desleixo. 
Produtividade, competitividade, qualidade e resultados positivos, face aos objetivos prefixados, são palavras-chave que, seguramente, se devem aplicar à comunicação, esta suportada no diálogo competente, implicando aqui proficiência, um conceito mais profundo, envolvendo valores e princípios, não tanto materiais, mas, isso sim, mais ao nível das atitudes e dos sentimentos que, em cada momento, é necessário revelar, sem complexos.
O paradigma comunicacional pressupõe competência, porque se trata de um processo permanentemente vivenciado pelas pessoas, na medida em que estas ocupam parte significativa do seu tempo a comunicar, seja qual for o tipo de linguagem utilizado: verbal e/ou não-verbal, o que contribui para a ocorrência de situações problemáticas, ou solucionadoras de questões diversas, quantas vezes resultantes da comunicação incompetente: porque ambígua; porque agressiva; porque manipuladora; porque passiva.
Na realidade: «A comunicação é um processo complexo porque envolve muitas formas de manifestações e de expressão, com diferentes finalidades. Ela é resultante da expressão do conhecimento, da inteligência e da emoção, e pode ser afetada por diversos fatores ambientais. A comunicação está presente em todas as situações da vida – na convivência familiar, no trabalho, na participação comunitária, no amor e na amizade, nos negócios, no lazer, no ensino – e, em cada uma delas, requer diferentes maneiras de expressão. Significa dizer que – para bem da felicidade geral de todos – as pessoas devem desenvolver e aperfeiçoar constantemente várias competências de comunicação …» (RESENDE, 2000: 95-96).
Ser competente na comunicação impõe, desde logo, aos vários interlocutores, uma atitude comunicacional assertiva, isto é, pela positiva, pelo respeito, pela verdade, pela tolerância, pelo diálogo, que conduzem a um resultado do tipo ganha/ganha, ou seja, nenhum dos intervenientes perde tudo, mas também nenhum deles ganha tudo, porque todos cedem a favor de todos.
Analisada a comunicação por esta perspectiva, reconhecendo-se, embora, não ser a única possível, o conceito de competência comunicacional envolve o princípio do diálogo, com as características referidas e o resultado previsível, segundo a fórmula do “ganha/ganha”. Uma comunicação, onde existe diálogo, que atinja aquele resultado, pode considerar-se competente.
Naturalmente que para haver competência na comunicação, para além do recurso ao diálogo assertivo, que incluirá uma escuta ativa e um retorno inequívoco da compreensão dos temas, abordagens, informações, ordens e conclusões, trazidas ao processo, é indispensável que se desenvolvam outras competências, envolventes ao ato comunicacional, supondo que este utiliza os dois tipos de linguagem: verbal e não-verbal. Assim, por exemplo, é importante, na competência comunicacional, o domínio de competências técnicas, intelectuais, cognitivas, relacionais, sociopolíticas, didático-pedagógicas, metodológicas, entre outras.
A comunicação é, apenas, uma das muitas dimensões humanas, logo, a sua eficácia, seguramente, vai depender da competência com que são exercidas as múltiplas dimensões da pessoa, todavia, mesmo na dimensão espiritual, portanto, inefável, imaterial e subjetiva, é possível ser-se competente, se forem atingidos resultados que proporcionem bem-estar individual e coletivo, independentemente de serem ou não quantificáveis.
Avaliar, através de um determinado equipamento e/ou instrumento, com uma unidade de medida universalmente reconhecida e validada, resultados que envolvem dimensões subjetivas do homem, é uma tarefa discutível: como medir a felicidade, o amor, a tristeza, a alegria? O resultado da dimensão religiosa do indivíduo, como deverá ser expresso: quantidade de orações, de penitências, de atos de caridade, participação em cerimónias litúrgicas, em rituais?
Muito difícil, polémica e inconclusiva, seria a discussão sobre uma análise objetiva, expressa em resultados concretos, medíveis e universais, em domínios que envolvem grande subjetividade. Apesar de todas as dificuldades, cada pessoa poderá entender determinadas situações, acontecimentos e factos como um resultado, obtido através das suas intervenções competentes.
Se o conceito de resultado for utilizado em sentido lato, como um valor, material ou imaterial, a que se chegar, após um percurso desenvolvido e com uma metodologia sistematizada, então torna-se mais pacífico aceitar o conceito de competência, nos termos que se seguem: «Competência é a transformação de conhecimentos, aptidões, habilidades, interesses, vontade, etc., em resultados práticos. Ter conhecimento e experiência e não saber aplicá-los em favor de um objectivo, de uma necessidade, de um compromisso, significa não ser competente, no sentido aqui destacado.» (Ibid.:32).
Neste enquadramento conceptual é possível ser-se competente, ou incompetente, também na comunicação interpessoal. Conclui-se, então, sobre as vantagens da comunicação competente, qualquer que seja a atividade, objetivos e intervenientes.
O resultado a que se chega, através do diálogo, numa negociação, será, pelo menos em parte, consequência da competência comunicacional e argumentativa de cada interveniente. Obviamente que nem toda a capacidade persuasiva, nem os argumentos, aparentemente, mais poderosos, podem fazer vencimento, perante um interlocutor que, de igual forma, tem as suas razões que considera verdadeiras, adequadas e as melhores, para a resolução do conflito em apreço.
Encontrar o ponto de equilíbrio pode revelar-se um caminho difícil que, uma vez mais, um diálogo assertivo, em todos os seus sentidos, incluindo aqui a atitude conciliadora, tolerante e democrática, conjugada com a capacidade de cada uma das partes interessadas se colocar no papel da outra.
A perspectiva poderá ser a competência de se implementar a estratégia do “ganha/ganha”. Ser competente significará, então, aceitar a distribuição equitativa e justa dos recursos disponíveis, e/ou dos valores em discussão.

Bibliografia

RESENDE, Enio, (2000). O Livro das Competências. Desenvolvimento das Competências: A melhor Auto-Ajuda para Pessoas, Organizações e Sociedade. Rio de Janeiro: Qualitymark.


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domingo, 2 de julho de 2017

Comunicação Transparente

Comunicar apresenta-se, hoje, como uma das principais potencialidades da humanidade, objetivamente, na sua vertente mais nobre que é o diálogo, a diferentes níveis: interpessoal, intergrupos, intergerações e internações, sejam quais forem os domínios, os temas e as finalidades.
O caminho mais adequado e digno da condição humana, para resolver os conflitos: alguns, naturais e compreensíveis; outros, menos atendíveis, que nas diversas circunstâncias da vida e dos papéis que cada ser humano desempenha, vão opondo interesses, princípios, valores e objetivos.
A humanidade está predestinada à inevitabilidade da comunicação. Quem se esconder na penumbra da indiferença, na aparente tranquilidade do silêncio sistemático e inconfessável, ou no egoísmo dos interesses ilegítimos, terá, provavelmente, imensas dificuldades em cooperar com os seus semelhantes, com as instituições, com um mundo cada vez mais exigente, e com a própria natureza.
Gerir, equilibradamente, a comunicação interpessoal é, cada vez mais, uma ciência superior, (também uma arte), nem necessariamente uma ciência exata, nem absolutamente uma ciência social e humana, porque numa ou noutra, sempre terá lugar alguma objetividade e, simultaneamente, haverá espaço para uma certa margem de subjetividade, sem que isso afete a veracidade da comunicação, a sua autenticidade e eficácia.
Com efeito, a ciência da comunicação pressupõe um método e um objeto: um método ou processo pelo qual se progrida e se alcancem novos resultados, ou se melhorem os já existentes e se atinjam objetivos previamente estabelecidos; um objeto, que, no quadro da ciência da comunicação, se pode identificar com a dimensão humana de relacionamento interpessoal, isto é, melhorar a qualidade e a quantidade dos atos comunicacionais.
Na conjugação e articulação do método com o objeto de estudo, considerem-se as estratégias, os instrumentos e a avaliação, através dos quais se credibilizem, testando, os procedimentos dos interlocutores comunicacionais.
Falar, ouvir, escrever, pintar, mimetizar e desenvolver toda uma panóplia de linguagens verbais e não-verbais, sem intencionalidade, sem regras, sem objetivos e sem consequências, equivale a uma possível incompetência dos intervenientes comunicacionais.
Sendo a comunicação humana um veículo poderosíssimo, único e acessível, exige-se que os seus utilizadores sejam competentes no exercício deste recurso singular do ser humano. Da competência do uso da língua, dependem os resultados do ato comunicacional, respeitando sempre as normas do respetivo código utilizado, o qual deve ser do conhecimento profundo dos interlocutores.

Bibliografia

BÁRTOLO, Diamantino Lourenço Rodrigues de, (2007). Curso de Comunicação e Relações Interpessoais Avançado – Manual de Estudos


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