domingo, 29 de outubro de 2017

Percurso Normal da Pessoa Humana

Do nascimento à morte, a vida do ser humano desenvolve-se em função de ciclos biológico-mentais, relativamente bem estudados, ao nível das diversas ciências que se ocupam das várias parcelas, e especialidades da realidade humana.
Na verdade, enquanto crianças, ocorrem determinadas situações que implicam correções, compatíveis com uma determinada cultura e respetiva socialização, para que se adquiram os hábitos e pratiquem as ações adequadas, através dos procedimentos que se vão interiorizando, com forte incidência na construção da personalidade, no sentido de melhor adequação às regras, deveres e direitos, em vigor na sociedade.
É fundamental, para o futuro da criança, que desde bem cedo, ela possa adquirir uma personalidade equilibrada, embora em permanente, dinâmica e por vezes dramática construção, para que o seu crescimento, e enquadramento na sociedade se processem sem grandes conflitos: «A personalidade está indubitavelmente relacionada com o desenrolar e o desfecho das nossas vidas. Com a escolha da nossa carreira, dos nossos relacionamentos e com a forma como nos sentimos em relação a nós próprios e aos outros (…)» (LIMA e ALBUQUERQUE, 2006:246).
E, continuando: «Assim, se por exemplo, na adolescência a identificação deixa de estar primariamente centrada nas introjecções parentais para se abrir a padrões culturais e ideológicos mais alargados, na meia-idade os investimentos generativos e a participação activa na cultura são cada vez maiores. Na última fase da nossa vida, os idosos mais integrados e sábios identificam-se com os padrões duradouros que definem a nossa humanidade.» (Ibid.)
Implementado todo o processo de socialização da pessoa humana, o período correspondente à primeira fase de preparação para a vida adulta, ativa e produtiva, prolongar-se-á até ao fim do primeiro terço de vida, ou seja, por volta dos vinte e cinco a trinta anos, considerando-se concluída a formação superior, especializada num determinado domínio do conhecimento técnico-científico.
O jovem terá adquirido, precisamente, à custa do contributo financeiro dos mais velhos, na maioria das situações, uma formação para poder participar na construção de uma sociedade mais justa, solidária e rica, mas também, na sua própria autonomia económico-social, profissional e progressão do seu bem-estar.
Seria correto, e da mais elementar justiça, que o indivíduo, assim formado para a vida e para a sua própria independência, se colocasse ao serviço da comunidade em geral, daqueles que contribuíram para a sua preparação técnica superior, por um determinado período de tempo, num regime de voluntariado, do tipo de serviços prestados à comunidade, em vez de, em muitas situações, iniciar, de imediato, a exploração daqueles a quem em parte deve a sua formação, ou então, com outras perspectivas, abandonar o país que lhe deu a formação e fixar-se no estrangeiro, preparado para a vida, embora à custa do sacrifício dos contribuintes seus concidadãos.
Infelizmente, o que se tem vindo a verificar (2013-2014-2015) é que os nossos jovens, mais qualificados, foram mesmo obrigados a emigrar, inclusive, incentivados por altos responsáveis governamentais, a levar o melhor que possuíam: juventude, generosidade, dinamismo, conhecimentos e elevados níveis intelectuais, que vão colocar ao serviço de outros povos. Trata-se, sem dúvida alguma, de uma deficiente gestão dos nossos melhores recursos humanos, ainda que tal situação possa ser “prestigiante” para Portugal.
Igualmente, e a exemplo do que é investido na educação e formação dos jovens e adultos, também se poderia canalizar verbas suficientes, justamente, para assegurar uma velhice condigna àqueles que trabalharam e descontaram durante décadas das suas vidas, tantas vezes com imensas dificuldades e privações de vária ordem; ora, se a política social não for, igualmente, neste último sentido, os jovens de hoje, recém-formados, têm um dever moral, ético e de solidariedade para com os mais idosos.
Desenvolvida toda uma carreira profissional, seja qual for a atividade e/ou profissão, durante um período obrigatório, e relativamente longo, cerca de metade da vida, que de acordo com as novas perspectivas de longevidade, poderá corresponder a um tempo produtivo, e de comparticipação fiscal-social, eventualmente superior a quarenta anos, segue-se uma nova fase, denominada de reforma/aposentação, e ao consequente afastamento da atividade profissional que exerceu durante aquela longa época.
A pessoa humana, assim desligada, abruptamente, de todo um conjunto de tarefas, rotinas, responsabilidades, poder, estatuto socioprofissional e de intervenção na sociedade, corre sérios riscos de invalidez permanente e/ou morte prematura que, naturalmente, provoca sofrimento e/ou o luto, respetivamente, com eventuais consequências nocivas para todos aqueles que, de alguma forma, dependiam do recém-reformado.
Nem valerá a pena invocar, até por uma questão de alegado preconceito economicista, os encargos que uma pessoa inválida acarreta para ela própria, para a família e para a sociedade, esta e nesta circunstância, representada pelo Estado, através dos respetivos departamentos competentes.
A política correta será o inverso, isto é, manter as pessoas ativas, dando-lhes condições de ocupação condigna, poder de compra para continuarem a ajudar os familiares, a consumirem os artigos produzidos pelas nossas empresas. A questão é, portanto, mais profunda e humana, e assim deve ser analisada e solucionada. Ao recém-aposentado devem ser-lhe dadas novas e específicas oportunidades para se manter ativo, produtivo e contribuinte.
Ele continua a ser uma pessoa de deveres e direitos, com dignidade, jamais um simples número que integra uma qualquer estatística relacionada com a população idosa, inativa e dispendiosa, como muitos responsáveis insinuam pelas práticas que assumem, pelas leis que elaboram, pela marginalização a que remetem centenas de milhares de idosos, só em Portugal, cerca de dois milhões.
O que tem vindo a acontecer em Portugal é algo de inimaginável. Retirar direitos adquiridos, para os quais se contribuiu uma vida inteira, precisamente quando tais direitos são mais necessários para a manutenção da saúde, da alimentação razoável, do conforto habitacional, do lazer apropriado e da dignidade humana, revela bem até onde vai a insensibilidade social, e humanitária, de alguns governantes  que, eleitos de boa-fé pelos seus concidadãos, a partir de projetos eleitorais, depois não cumpridos, se sentem traídos, humilhados e como que atirados para o “lixo da exclusão social etária”. Haja humildade, bom-senso e respeito pelos mais velhos.

Bibliografia

LIMA, Margarida Pedroso e ALBUQUERQUE, Isabel. (2006). “Personalidade na Idade Adulta: O Contributo dos Projectos Pessoais”, in: Psicologia, Educação e Cultura. Carvalhos: Colégio Internato dos Carvalhos. Vol. X (2). Dezembro. Pp. 245-266


Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo



domingo, 22 de outubro de 2017

Professores: São Necessários?

O mundo está consciente de que a humanidade se aproxima de uma encruzilhada complexa: em cujo ponto central se interceptam, cruzam e partem cada vez mais caminhos; desconhecendo-se, em muitos deles, a natureza e objetivos a que conduzem; ignora-se o fim, embora se conheça o princípio; são como que uma caminhada sem destino concreto.
E nos domínios da metafísica e da espiritualidade, onde imperam a crença, a fé e o misterioso, como aceitar estes conhecimentos e como transmiti-los? Serão as máquinas inventadas pelo homem competentes para o fazer? Como atitude intelectualmente honesta, e metódica, pode-se dar o benefício da dúvida, e aceitar que constituem mais um bom recurso, a utilizar no ensino à distância, este sim, cada vez mais interessante, e que oferece imensas vantagens.
Educar e formar pessoas humanas implica: conhecimentos, técnicas e avaliações diferentes das que se utilizam na construção de objetos, sejam edifícios, pontes, estradas, máquinas ou simples peças de vestuário, calçado e outras inúmeras coisas materiais. Preparar para a vida individual de cada pessoa, em sociedade humana, não é o mesmo que programar uma máquina.
A pessoa humana comporta, e transporta, princípios, valores, sentimentos emoções e atitudes que possibilitam: o melhor ou pior relacionamento interpessoal; que promove, havendo para isso vontade, a harmonia, a compreensão, a tolerância e a resolução de problemas sócio-culturais, pessoais e do grupo; que enriquecem as dimensões verdadeiramente humanas, como a ética, a religião, a política, a social e a interrelacional, entre outras.
A humanidade entrou no século XXI, envolvida numa eufórica confiança, quase ilimitada, nas capacidades e benefícios da tecnologia e de um bem divulgado cientismo positivista que, alegadamente, tudo resolve, muito embora já se saiba que nem todos os problemas, pelo menos por enquanto, estão acessíveis à ciência.
A auréola técnico-científico-materialista, em que alguns setores da sociedade procuram envolver-se, tem conduzido a situações deprimentes e humilhantes, precisamente para alguns dos povos em todo o mundo, desmistificando, assim, a ideia, segundo a qual, uma educação/formação que integre os domínios sócio-culturais, não tem relevância para o progresso e bem-estar humanos.
A educação/formação do homem contemporâneo, numa perspetiva de futuro, no sentido de se aperfeiçoar e consolidar uma sociedade moderna, justa, tolerante, solidária e produtiva, pressupõe investigação, conhecimento e prática, eventualmente inverificados ou inconfirmados pelos critérios científicos e tecnológicos, mas não menos credíveis, realistas e úteis na vida corrente de cada pessoa.
 A fórmula mágica, qual receita milagrosa, para educar/formar pessoas humanas, a ciência e a técnica ainda não a revelaram inequivocamente, o que não impede de se tentar outras abordagens, e transmitir algumas práticas e valores: quer pela comunicação tradicional; quer pelas boas-práticas de quem pode e deve ministrar tais matérias, inegavelmente, os professores/formadores, encarregados de educação e Igrejas, numa primeira fase da vida da criança, do adolescente e do jovem. Posteriormente, também, ao adulto.
 Educar, ensinar, formar, instruir, preparar para a vida e até para a morte biológica, constituem ações interdependentes, que integram um projeto grandioso, a aplicar numa sociedade humana cada vez mais globalizada, para determinados fins, com uns atores bem escolhidos e, também, outros cada vez mais excluídos, em certas faixas sociais e etárias, do acesso aos bens e valores essenciais, à dignidade da condição da pessoa humana.
Será, contudo, muito difícil, se não mesmo inexequível, eliminar a nobre função do professor, formador, docente, tutor, conselheiro, companheiro e cúmplice pedagógico, do sistema educativo, quaisquer que sejam as suas modalidades: direta, presencial, emocional, afetiva e espiritual ou à distância, com as vantagens práticas de todo o potencial da tecnologia, ao serviço da educação/formação.


Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo


Portugal: http://www.caminha2000.com (Link’s Cidadania e Tribuna)

domingo, 15 de outubro de 2017

Professor-Paradigma: Sua Formação

       
Demonstrada que está a insubstituabilidade do professor/formador, na sociedade contemporânea, é preciso reconhecer o seu papel na construção de um mundo de Conhecimentos, Cultura, Paz e Felicidade. Nesta fase da vida da humanidade, em que os países se organizam nas mais dignas e distintas instituições, encimadas pela mãe de todas elas – ONU – Organização das Nações Unidas –, onde se congregam todas as nações, supostamente unidas por ideais comuns, um mundo cada vez mais estruturado em grupos internacionais, para várias finalidades, no qual vai ganhando importância um novo conceito: Globalização.
Pensa-se que a preparação dos cidadãos, das comunidades e das sociedades mais alargadas, deverá passar, cada vez mais, pela educação/formação, o mais cedo possível na vida de cada pessoa, prolongando-se até ao fim dessa mesma vida e sem interrupções, através dos diversos e adequados processos: científico, técnicos, pedagógicos e, na fase mais avançada dos alunos/formandos, também de natureza andragógica. (Andragogia - «ciência antiga que estuda a educação para adultos com a finalidade de buscar uma aprendizagem efetiva para o desenvolvimento de habilidades e conhecimento»), (Malcolm Knowle, in: https://www.catho.com.br/carreira-sucesso/gestao-rh/o-que-e-andragogia)
Dificilmente haverá outra alternativa se se pretender um mundo civilizado, de princípios, de valores, de normas libertadoras para a pessoa humana responsável, que possam conduzir à Paz, ao Amor e à Felicidade. Nesse sentido, torna-se imperioso: «Um planejamento educacional que dê conta não só de aumentar as chances de uma cultura enfrentar seus problemas e garantir sua sobrevivência, mas, especialmente, de torná-la capaz de antecipar as condições relevantes para solucioná-los, demanda que saibamos quais são os problemas a serem enfrentados pela cultura, que comportamentos contribuirão para sua solução e, finalmente, qual o ensino necessário para gerar tais comportamentos.» (ZANOTTO, 2000:120).
O professor/formador para um novo mundo que se depara à humanidade, deverá possuir uma preparação bem mais abrangente, na perspetiva de uma polivalência que circunde a sua própria especialização, porque já não basta transmitir, com profunda minúcia e ilustração, os conteúdos de um dado domínio, sem uma visão cultural, do espaço e do tempo, onde tais conhecimentos possam ser aplicados com êxito, se se quiser: “uma visão global para aplicação local
A formação inicial do professor/formador, sem o suporte de uma interiorização de diversos conhecimentos, princípios e valores, adquiridos pela experiência e formação ao longo da vida, de pouco servirá na formação de um novo cidadão-profissional, por isso: «Garantir ao professor o acesso aos saberes relevantes à sua prática por meio de uma formação adequada, não é, no entanto, suficiente para mudar a sua acção e alterar o método segundo o qual ele tem, de modo árduo e nem sempre bem sucedido, se proposto a ensinar.» (Ibid.:132).
A formação deste professor/formador, para uma sociedade cada vez mais exigente e complexa, não se compadece com a assimilação de algumas teorias, num certo período de frequência universitária, de uma licenciatura bem específica, ou mesmo ao nível de uma pós-graduação, nomeadamente de um mestrado ou doutoramento.
Entra nesta formação, tudo o que ao longo de uma vida se foi adquirindo, aplicando, melhorando, testando e validando. Incentivar, acarinhar e reconhecer, objetivamente, os professores experientes, dando-lhes oportunidades para: não só construírem as suas próprias teses; como também passá-las aos mais novos, que em início de carreira, tantas dificuldades sentem, será, seguramente, uma estratégia educativa que, a muito curto prazo, produzirá excelentes resultados.
 Em bom rigor: «Ninguém se tornará profissional apenas porque sabe sobre os problemas da profissão, por ter estudado algumas teorias a respeito. Não é só frequentando um curso de graduação que o indivíduo se torna profissional. É, sobretudo, comprometendo-se profundamente como construtor de uma praxis que o profissional se forma. A partir da sua prática cabe a ele construir uma teoria (…). Assim, a identificação teoria-prática deve apresentar-se como ato crítico, no qual se demonstra que a prática é racional e necessária e a teoria, realista e racional.» (FÁVERO, 1996:65).
Acentua-se, nitidamente, a vantagem que as modernas sociedades podem obter com a manutenção, em condições adequadas, de professores/formadores experientes, obviamente, em funções de coordenação, de supervisão, de preparação e início de carreira dos novos docentes.
Um recente conceito de professor-orientador, que proporcione aos recém-formados: segurança, confiança, incentivo, apoio em rede, solidariedade a todos os níveis, e em todas as circunstâncias, aliás, é uma primeira conclusão a que chegam os próprios candidatos a professores, na medida em que: «A relação teoria e prática é fundamental porque precisamos de orientação, pois nos primeiros anos sempre encontramos dificuldades, barreiras e obstáculos e a prática nos ajuda a enfrentar o mundo sem medo e com força de vontade.» (ALUNO 3º ano, in: OLIVEIRA, 1994:219).
Vai-se desenhando, assim, um ideal de Professor-Paradigma, em contínua formação, ao longo da vida e, portanto, para além do tempo oficial de uma carreira profissional. Um bem planificado programa, para um novo conceito de professor em construção, rentabilizando, justamente, o professor em idade pós-aposentação, afigura-se como uma alternativa de sucesso, principalmente, na formação dos futuros docentes, formadores e educadores.
Exige-se, todavia, um professor que vivencie, sinta e se emocione, que tenha plena consciência de que: «A sociedade onde vive também não é geral, abstracta e estática, mas é onde transcorre sua existência, onde ele se cria e cria a cultura, entendida como trabalho, organização social e representação simbólica da vida natural e social. A educação se faz, então, para que o homem participe, desenvolva e transforme essa cultura na direcção de um viver mais humano.» (PIMENTEL, 2001:86).
O Professor-Paradigma, para este novo século, para um mundo a caminho da globalização, num número crescente de domínios, também se poderia designar de bom-professor, caraterizando-se este como aquele que: «possui uma prática social mais ativa (participação em movimento docente, profissional, religioso, sindical, partido político, etc.) tem maior facilidade de fazer uma análise das questões da educação dentro do atual contexto…» (CUNHA, 2001:161). Professor-paradigma, Bom-Professor, Professor-ideal, são, apenas, reflexões, projetos e percursos que se desejam, e não objetivos que se possam alcançar, no curto prazo.
Caminha-se para o Professor-Reflexivo, questionador, crítico, construtivo e catalisador das ideias e praxis dos mais novos, com estes se interrelacionando e ajudando a construir novos protótipos, novos ideais e novas utopias, tendo por pano de fundo a perspetiva de uma humanidade mais culta, feliz e em paz.
Na verdade, para ser professor/educador, já não basta ser um bom ensinante, ou um técnico-especialista. Ele terá que ser um agente de proximidade e de contágio, atento aos sinais da alteridade dos seus alunos/educandos, um gestor hábil do equilíbrio necessário, mas sempre difícil, entre o desejo de influência inerente ao ato pedagógico, o risco e a manipulação.
Terá também que ser tolerante e paciente, porque na forma como souber ser atento, condescendente e paciente, depende a lição sobre a atenção, a tolerância e a magnanimidade. Este é o professor que se deseja para o primeiro século deste terceiro milénio. Conjuguem-se as sinergias docentes e que não haja preconceitos contra ideias, projetos e percursos ecléticos.

Bibliografia

CUNHA, Maria Isabel da, (2001). O Bom Professor e a sua Prática, 12ª Ed., Campinas-SP: Papirus, (Colecção Magistério: Formação e trabalho Pedagógico)
FÁVERO, Maria de Lurdes de Albuquerque, (1996). “Universidade e Estágio curricular: Subsídios para Discussão”, in: ALVES, Nilda (Org.), (1996). Formação de Professores: Pensar e Fazer, 4ª Ed., São Paulo: Cortez, “Colecção: Questões da nossa época).
OLIVEIRA, Ana Cristina Baptistella de, (1994). Qual a sua Formação Professor? Campinas-SP: Papirus, (Colecção Magistério: Formação e Trabalho Pedagógico).
PIMENTEL, Maria da Glória, (2001). O Professor em Construção, 7ª edição, Campinas-SP: Papirus. (Colecção Magistério: Formação e Trabalho Pedagógico).
ZANOTTO, Maria de Lourdes Bara, (2000). Formação de Professores: a contribuição da análise do comportamento, São Paulo: EDUC – Editora da PUC-SP


Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo





domingo, 8 de outubro de 2017

Professor ao Longo da Vida

Educar, ensinar, formar, instruir, preparar para a vida e até para a morte biológica, constituem ações interdependentes, que integram um projeto grandioso, a aplicar numa sociedade civilizada, cada vez mais globalizada, para determinados fins, com uns atores bem escolhidos e, também, outros cada vez mais excluídos, em certas faixas sociais e etárias, do acesso aos bens e valores essenciais, à dignidade da condição da pessoa humana.
Será, portanto, muito difícil, senão mesmo inexequível, eliminar a nobre função do professor, formador, docente, tutor, conselheiro, companheiro e cúmplice pedagógico, do sistema educativo, quaisquer que sejam as suas modalidades: direta, presencial, emocional, afetiva e espiritual ou à distância, com as vantagens práticas de todo o potencial da tecnologia, ao serviço da educação/formação.
Afigura-se, portanto, difícil imaginar a sociedade sem a intervenção do professor/formador, educador/instrutor, tutor/construtor de pessoas integrais. Quem prepara o juiz, o advogado, o médico, o arquiteto, o engenheiro, o padre, o cientista, o técnico e o próprio professor, senão, esse mesmo professor/formador/educador?
Recuando-se no tempo, verifica-se, sem grandes dúvidas que, desde a antiguidade clássica grega, a figura do preceptor/professor, ao domicílio, era fundamental para a preparação de alguns cidadãos que, mais tarde, iriam administrar a polis, realizar a justiça, exercer a política, construir as estradas e as pontes, erguer magníficos monumentos e navegar pelo mundo.
Excluindo-se, eventualmente, algumas poucas profissões, a esmagadora maioria aprende-se na teoria e nas boas-práticas, na e com a escola, sob a orientação do professor/formador, observando programas, conteúdos, planeamento, avaliações e certificações.
No centro do sistema, o binómio nuclear persiste: educador/educando; professor/aluno; formador/formando: «A relação professor-aluno como vínculo libertador é bilateral, uma troca, uma reciprocidade, e, de certo modo, apresenta-se como um círculo vicioso: o aluno precisa receber confiança do professor para adquirir autoconfiança e poder realimentar a confiança do professor em si mesmo e em seus alunos; o aluno precisa receber aceitação e apoio do professor para sentir-se seguro e retribuir com alegria o trabalho do professor.» (PONTES, 1995:126).
A profissão docente, numa sociedade que se pretende culturalmente desenvolvida, em permanente progresso científico, técnico, económico e cultural, é insubstituível, independentemente do estatuto, das remunerações e reconhecimento que se lhe atribua, porque a humildade docente nem sequer é compatível com quaisquer honrarias e privilégios, apenas se exige à sociedade que apoie, estimule e dignifique este docente, que prepara crianças, jovens e adultos para o mundo e para a vida profissional de cada pessoa, individualmente considerada.
Todas as profissões se iniciam na vida de cada um, o mais cedo possível, revelando-se, de princípio, algumas dificuldades, justamente, pela ainda falta de experiência, pouca maturidade, muitas e bem elaboradas teorias, memorizadas durante a formação teórico-científica e, só mais tarde, é que o docente pode acrescentar a dimensão concreta de uma vida vivida, mais ou menos intensamente, que completa e enriquece a formação inicial.
Com este raciocínio se poderá defender o prolongamento da atividade docente, para além da idade de reforma oficial, direcionando todos aqueles que assim o desejarem, precisamente, na formação dos jovens e futuros professores o que, por sua vez, implica que este professor, já bem maduro, experiente, detentor de conhecimentos e práticas que, tendo sido importantes, num determinado contexto e época, requerem, contudo, atualização.
O essencial é incentivar o professor veterano (jubilado) a prosseguir na investigação, e na elaboração de novas estratégias, diferentes metodologias e, porventura, avaliações mais ponderadas e justas, bem como aumentar a sua própria autoconfiança e correspondente auto-estima.
Na verdade: «Se você não confiar em si mesmo, não espere que os outros tomem a iniciativa. Mas para poder desenvolver essa confiança é preciso estar preparado. Preparação significa conjugação de duas coisas: a teoria e a prática; fundamentação teórica e a capacidade de aplicação dessas teorias. Nesse ponto o professor joga com armas muito favoráveis porque geralmente os dirigentes não são fortes em teorias educacionais, costumam ser fortes em administração.» (WERNECK, 1996:18).
Quando num país, pelas decisões político-administrativas, de alguns dirigentes, ainda que democrática e legitimamente eleitos, e/ou nomeados para os respetivos cargos, se afastam os profissionais das suas atividades, impedindo-os, ou colocando-lhes obstáculos para continuarem no exercício da respetiva profissão, tal país está a regredir, e os dirigentes responsáveis por decisões desta natureza, provavelmente, estarão a pensar em muitas coisas, menos na rentabilização dos seus recursos humanos, e muito menos no progresso sustentado da sociedade.
É um pouco como começar tudo de novo, com novas gerações, apagando todo um passado das gerações precedentes, eliminando os resultados de longas e profícuas investigações, utilização de boas-práticas já demonstradas e, pior do que tudo isto, desconsiderando aqueles que, ao longo de 40 ou 50 anos, deram o seu melhor a esse mesmo país, e à sociedade em que todos se pretendem integrados e incluídos, em qualquer das suas dimensões e capacidades.
Afastar, excluir, desvalorizar conhecimentos, experiências, princípios, valores, sentimentos e atitudes dos profissionais docentes mais experientes, é esbanjar um património cultural, científico e técnico, construído na experiência de uma longa vida docente. É, no limite, delapidar o investimento financeiro que neles foi efetuado para a sua formação, afinal, corresponde, ao desbaratar o erário público que pertence a todos.
A atualização não se efetiva apenas em relação ao mais recente, ao que é inovador, ao que foi descoberto num outro continente, sendo, indiscutivelmente, fundamental para o avanço do progresso das sociedades, para melhor se perspetivar o futuro, mas este também se vai construindo a partir de um presente, que conhece muito bem o passado.
Em princípio, deve partir-se do conhecido, do adquirido, do consolidado e com prova dadas, para o desconhecido, para a verificação de novas teorias. Então, toda a atualização pressupõe a organização sistematizada do passado, deste aproveitando e melhorando o que tem de positivo e evitando o que constitui insucesso e é superficial.
O professor poderá ser o exemplo de como se entende o conceito de atualização, principalmente quando já possui idade, experiência, prudência e sabedoria consolidadas. A atualização é muito mais do que o presente, ou uma perspetiva planificada do futuro: «Parece que a actualização é coisa que só diz respeito à fase actual da nossa vida. Mesmo não lembrada em muitas ocasiões, faz parte integrante de toda a vida humana. (…). Só a actualização através da educação, faz com que possamos usar os produtos novos.» (Ibid:30).


Bibliografia

PONTES, Eglê Franchi, (Org.), (1995). A Causa dos Professores, Campinas: Papirus, (Colecção Magistério: Formação e Trabalho Pedagógico)
WERNECK, Hamilton, (1996). Como vencer na vida sendo Professor”, Petrópolis-RJ: Vozes.


Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Jornal: “Terra e Mar”


domingo, 1 de outubro de 2017

Idosos na Modernidade. 01 de outubro – Dia Mundial do Idoso

Se há situações que incomodam muitos dirigentes políticos, governantes, institucionais e empresariais, em muitos países do mundo, uma delas é o crescente aumento do número de pessoas seniores, com idades provectas, destacando-se de forma nítida grande parte dos países do velho continente, a Europa.
Esta situação tem vindo a ser analisada com “aparente” excessiva apreensão, especialmente pelos alegados encargos sociais que, exaustivamente, são invocados, quantas vezes por altos responsáveis quando, eles próprios, ainda não contribuíram o suficiente, para alimentar o sistema social público atual, do qual, todos, sem exceção, ricos e pobres, estão a beneficiar.
Os “velhos”, como vulgar e, algumas vezes, pejorativamente são designadas as pessoas a partir de uma certa idade, (tradicionalmente a partir dos 65 anos), começaram a ser marginalizados precisamente, com a institucionalização de propalados argumentos de inutilidade e, ainda mais grave, invocando-se os custos sociais que eles causam ao erário público, ignorando-se que, foram eles, no seu tempo de vida ativa, com as respetivas comparticipações que também alimentaram o sistema.
Os idosos, tal como as gerações que se lhes seguem, (as crianças e jovens de hoje) são o melhor património humano que um país pode ter, desde logo, se os responsáveis empresariais e de outras áreas, tiverem a inteligência, e a visão estratégica, de saber utilizar o imenso manancial de conhecimentos, experiências, sabedoria e prudência que a maior parte dos idosos possui, independentemente das suas culturas serem de natureza intelectualizada ou antropológica.
A pessoa humana, enquanto detentora de capacidades físicas, intelectuais e motoras em geral, pode (e deve) trabalhar para ela, para a família e para a sociedade, não havendo idade-limite para as funções, responsabilidades e atividades que ela sabe, pode e quer desenvolver.
A riqueza de uma nação faz-se à custa da participação de todos e, bem ao contrário, da utilização apenas dos mais novos. Podem, inclusivamente, configurar atos de má gestão ou de gestão ruinosa, o inaproveitamento dos recursos humanos mais experientes e capacitados, em qualquer fase da vida, para atividades específicas e compatíveis com a sua situação físico-intelectual.
Dispensando-se as estatísticas que, periodicamente, são divulgadas, por uma ou outra instituição, é do conhecimento direto de cada cidadão, de cada responsável, que a população europeia, de entre outras, tem vindo a envelhecer, sendo a esperança de vida favorável ao aumento da longevidade, o que implica um acréscimo do número de “idosos”, significando que os encargos sociais, de facto, evoluem exponencialmente com a agravante das comparticipações das gerações mais novas não aumentarem em idênticas, ou preferencialmente, proporções, devido às elevadas taxas percentuais de desemprego, emigração e a todo um conjunto de situações, que conduzem ao empobrecimento da sociedade.
Se há algumas décadas a proporção era de quatro ativos para um reformado, hoje, primeiro quatro do século XXI, possivelmente, aquela relação reduziu-se para metade ou menos, o que a continuar esta progressão, dentro de duas a quatro décadas, nenhum sistema social terá capacidade para cumprir os compromissos perante aqueles que contribuíram para o processo, na expetativa de, quando “idosos”, usufruírem das condições de vida, verdadeiramente dignas da pessoa humana.
É, portanto, necessário, analisar com mais acuidade o enquadramento das pessoas ditas “idosas”, aos conhecimentos, experiências, competências e capacidades físicas e mentais, criando-se-lhes condições motivadoras para continuarem a trabalhar e, simultaneamente, manterem-se com elevada e reconhecida autoestima, dignidade, valorização e estatuto social, como processo de realização permanente e satisfação de necessidades de reconhecimento, estima e respeito, ao nível da aceitação pública. Este património não tem sido suficientemente salvaguardado e rentabilizado.


Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Jornal: “Terra e Mar”

Portugal: http://www.caminha2000.com (Link’s Cidadania e Tribuna)
                                   Bélgica: https://www.luso.eu/equipa/470-diamantino-bartolo.html