domingo, 27 de maio de 2018

A Arte: Expressão Humana

Se a expressão vital: na sua manifestação mais originária e espontânea, não chega a ser arte, por lhe faltar a intencionalidade, a fixação e a comunicação; então, a expressão mística ultra-humana, enquanto atitude sincera de diálogo em silêncio, oração sem palavras, êxtase perante Deus, recolhimento profundo, fé sublime e esperança numa outra vida, também não é arte, porque a transcende.

Igualmente, a expressão retórica no seu significado mais pejorativo e corrupto de verbalidade fútil, de jogo de palavras, cores, linhas, planos e volumes, pretende ser arte, mas não o sendo, por insuficiente e desequilibrada.
Tomando para a expressão retórica um outro significado, para o seu vocábulo, no sentido mais puro e lato, em que se manifesta pelos vários ramos da arte, também aqui a mesma expressão pretende ser arte, não o sendo por excesso de formas, numa multiplicidade que desunifica o ser, que distingue o fundo da forma, o homem do estilo, enfim, que não é a totalidade do ser interior, todo em si mesmo.
Então o que é a arte? Intenção profunda e jogo, transfiguração do real, fixação e comunicação! Creio que arte pode ser, também, algo de supremo na simplicidade da expressão multifacetada da natureza, enquanto criação perfeita, primordial e originária, espontânea, intencional e comunicativa.
Nesta simplicidade multifacetada da natureza, encontramos a expressão artística do Criador, obviamente a Arte em si, desde a conceção, desenvolvimento e morte da simples planta, ao mais complexo dos seres animais – o Homem –, deparamo-nos com a arte, beleza perfeita, porque originária do Criador incriado, intencional e comunicativa, porque Ele, ao colocar no mundo tudo o que à nossa volta encontramos, fê-lo com a intenção de propiciar a todos os entes as melhores condições de existência, num círculo eterno hierarquizado, segundo a Sua Vontade.
Disposição dos astros, da terra, da água, do fogo, do ar, da fauna e da flora, são a cabal prova da arte que preexistiu à criação do mundo, não olvidando a comunicabilidade entre cada uma das espécies, e entre estas e o Mundo, nas suas mais diversificadas formas, desde o contacto do vento com a terra, as coisas, as plantas e os animais, à convivência entre os homens, qualquer que seja a sua situação, posição geográfica, existe sempre uma possibilidade de comunicação. Não será isto arte? Creio que sim. E tanto mais creio, quanto é certo, que a arte humaniza a vida concreta, porque ela é expressão universal aplicada ao condensado da existência ecuménica.
É claro que não se pode descurar a intervenção da ciência e da técnica, na explicação de inúmeros fenómenos que hoje esclarecem, de forma verificável, o funcionamento físico do mundo, todavia, ainda parece estarmos muito longe de uma elucidação cabal de alegados acontecimentos, se realmente existem, como alguns afirmam: Extraterrestres, Ovnis. Alguns “mistérios” da antiguidade, deixaram-no de o ser, justamente, graças à inteligência e capacidades humanas.
A arte é, efetivamente, expressão vital porque ao fabricar a beleza e provocar a emoção estética ela atinge o homem todo, em corpo e alma, possibilitando-lhe a experiência de vida, o que o torna distinto e superior a todo outro qualquer ser conhecido neste Planeta Terra.
Por outro lado, a arte, a expressão perfeita, dá um gozo espiritual tão profundo que o homem, portador deste privilégio, bem pode considerar-se a caminho da sua realização plena, porque ao sentir o êxtase de tal prazer, ele dá-se conta que um maior deleite o espera se, lógica e esperançadamente, acreditar no Artista que idealizou e realizou obra tão maravilhosa, como é a própria Natureza, da qual aquele mesmo homem é uma peça importantíssima.
A Arte, expressão vital; a Arte, expressão mística; a Arte expressão retórica, não é mais, nem menos, do que uma ínfima parte da Arte que nos transporta ao gozo de um mundo melhor, à plenitude inefável duma companhia eterna, infinitamente bela, prodigiosamente perfeita. A Arte que assim nos pode conduzir a uma vida plena e puramente realizada é a Arte Espiritual, pela qual o homem se concretiza à imagem e perfeição do seu próprio Criador.
A espiritualidade das vivências vitais, concretas e sinceras, mas também intencionadas, orientadas, interessadas num supra-humano é, decididamente, a Arte de hoje, de amanhã, do agora e sempre. Em suma, a expressão artística é a síntese da alma e corpo, espiritualização de imagens, jogo puro da vida.
É, portanto, indispensável viver a vida com arte, aperfeiçoando a nossa humildade, aprofundando a nossa espiritualidade, até que possamos ser uma verdadeira obra de arte que Deus pôs no Mundo, à sua própria imagem. Pela Arte de sermos Pessoas e com a Arte da nossa expressão vital e espiritual, aproximamo-nos da Arte-em-si, para com Ela unificarmos a Arte-Final, a identidade homem-Deus.


Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo


domingo, 20 de maio de 2018

Expressão que por Insuficiência, ou Excesso, Pretende e não Atinge a Arte

O significado da retórica vai ser aqui utilizado: primeiro, no seu sentido pejorativo, mais corrupto e, portanto, pode ser usado pelo músico, pelo escultor, pelo escritor, quando as suas artes são menos sinceras, mais pretensiosas.
A Retórica é, portanto, uma forma de expressão, diferente da expressão vital, e da expressão mística, a arte-pela-arte, segundo alguns, expressão retórica, defende RÉGIO, que considera: «Produto de um esforço e de um talento desacompanhados da necessária riqueza humana, vital, do sujeito.» (1980:51).
Há quem pense que o cultor da retórica é complicado, enfático e falso, ao contrário do verdadeiro artista, por isso, dizem, a expressão retórica é tão excessiva quanto deficiente, facto que face às suas produções nos leva, facilmente, a distinguir o fundo e a forma, o poeta e o artista.
Qualquer obra de arte denota as suas insuficiências e desequilíbrios, a partir da distinção entre fundo e forma, porque a obra de arte é exatamente uma síntese, uma unificação, uma solução do problema, posto por tal dualidade, isto é, uma solução que se baste e nos basta, ou seja, a “arte-pela-arte”, mas, a expressão retórica não chega, e por isso ela é insuficiente para ser arte, porque o que opõe a expressão artística à expressão retórica é que: aquela basta-se; e esta não, e o que permite aquela bastar-se é a sua dificuldade real de distinção entre fundo e forma, é ser ela uma unificação, uma síntese.
A dificuldade de distinção gera o equilíbrio, a correspondência profunda no criador de uma expressão vital, e uma expressão artística. A Retórica resulta da aspiração a grande artista do homem médio, o qual vai gerar a expressão Retórica que, por sua vez, vai simular a expressão artística, afigurando-se pobre e banal a experiência destes homens, logo, o seu fundo será, necessariamente, insuficiente, o desequilíbrio interno evidente, nítida a distinção entre fundo e forma.
Não poderemos exigir arte a quem não tem uma expressão vital individual, não deveremos exigir romances épicos da vida coletiva a um psicólogo do individual, porque de contrário teremos a falsidade da arte, expressão retórica, simulação daquela arte humana, que só a verdadeira arte pode dar.
Finalmente, a palavra retórica tomada no seu sentido mais puro, referir-se-á aos documentos que, não sendo arte, tão-pouco o pretendem ser, tais como compêndios de ensino, uma cópia fiel de qualquer quadro célebre, uma reprodução escultórica, poderão ser exemplos de expressão retórica no melhor sentido e, alargado o significado do vocábulo a ramos de arte, que não só a palavra escrita ou falada.
Os três aspetos da expressão – vital, mística e retórica – todos coexistentes numa mesma sociedade, em nada se podem equiparar à expressão artística, porque: ou ficam aquém, ou além, ou pretendem e não conseguem essa mesma expressão artística.
A expressão artística é, então, uma intenção profunda e jogo, imitação aparente e transfiguração do real. Sendo movimentos, sons, palavras, linhas, cores, volumes, a arte é um jogo que nos agrada enquanto desperta o bom gosto, o lindo, o formoso, enfim, o belo, segundo a formação íntima do recetor dessa obra de arte, ou seja, ser dotado de uma expressão vital profunda, embora o senso de obra de arte esteja reduzido ao mínimo, ou, pelo contrário, ser o apreciador da obra de arte um intelectual, alheio às vivências da vida, mas profundamente culto nas questões do teatro, um fino especialista nessa arte.
Assim: para o primeiro espetador, impõem-se os aspetos referentes à expressão vital, que se relaciona com a intenção profunda da arte, de fixação e comunicação; enquanto que, ao segundo espetador, pelo contrário, impõem-se os pormenores que, sendo jogo, opera sobre a realidade imitada, uma transfiguração do real, portanto, a arte é: intenção profunda e jogo; imitação e transfiguração do real; premeditação logo, na sua criação.
A arte não é um bloco hermético, uno e individual, mas pelo contrário, é uma multiplicidade de combinações, que no seu conjunto formam a totalidade do ser interior, cada ramo de arte há-de contribuir para o todo que é a arte, segundo o fim que o artista se propõe focar e comunicar.
Mas a arte tanto serve para enaltecer e divulgar a dignidade humana, pois ela é um produto do homem; como também é utilizada para fins específicos doutras atividades e: «seriam simplesmente ridículos a não serem perigosos por usarem de todos os meios, incluindo a violência e a difamação, quaisquer pretensões à imposição de qualquer vontade externa a vontade involuntária do artista criador.» (Ibid.:72).
A expressão artística é mediata, indireta, joga com elementos de vária ordem, implica escolha e é profundamente tendenciosa, porque se propõe fixar e comunicar; pelo contrário, a expressão mística é constituída pelas experiências incomunicáveis, inexprimíveis, silêncio e passividade, êxtase e inibição; por fim, existe uma outra expressão: a retórica, que pretende ser arte, mas que devido à distinção que opera entre estilo e ideia, forma e fundo, não chega a ser arte por insuficiente; nem chega a ser arte por excessiva fragmentação do ser total e interior.
A verdadeira arte está na coadjuvação entre a expressão e o expresso, em que o estilo é o homem, em que o grande artista é aquele que tem uma vida interior profunda, rica e intensa. Toda a arte começa por ser imitação da vida.
A terminar, poder-se-á afirmar e ainda com RÉGIO, que a arte é: «Uma expressão transfiguradora da mera expressão vital, um jogo em que se revelam todas as fundas intenções do homem» mais: «Toda a arte subentende comunicação (…) visa ao universal e ao eterno (…) a expressão vital e as intenções profundas (…) pertencem a todos os homens, de todos os tempos e lugares. Eis como toda a verdadeira arte é humana.» (Ibid.77-78)

Bibliografia

RÉGIO, José, (1980). Três Ensaios sobre a Arte. Em Torno da Expressão Artística. 2ª Ed. Porto: Brasília Editora.

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo


sábado, 12 de maio de 2018

Confiança e Expectativa em Fátima

Tanto quanto se julga saber e, relativamente ao que a ciência e a técnica têm evoluído, a verdade é que o ser humano tem caraterísticas inefáveis que, provavelmente, nenhum outro animal possui. A dimensão espiritual, por exemplo, sempre esteve presente na pessoa humana, que por sua vez, e na maior parte dos indivíduos, remete para a crença e prática religiosas.
Realmente, somos diferentes, somos seres superiores, pelo menos em relação aos restantes animais conhecidos. Construímos, praticamente, tudo o que necessitamos para o nosso bem-estar, naturalmente com as limitações que a Força da Natureza nos impõe e também porque, é bom reconhecer, ainda não somos perfeitos, nem sequer totalmente autossuficientes, mas caminhamos para alcançar objetivos que nenhum outro ser terrestre conseguirá.
A religião é uma prerrogativa do ser humano crente, embora os não-crentes, reconheçam esta dimensão, contudo, sem a praticar. Ser moderadamente religioso, crente, ter Fé e Esperança, num Ente Divino, não fará mal a ninguém, pelo contrário, talvez possibilite viver-se com alguma serenidade e, simultaneamente, a esperança de se conseguir a solução para algo que nos possa afligir num dado momento da vida, porque todos nós, experienciamos altos e baixos na nossa existência.
Nenhuma outra atividade, nem mesmo as desportivas, move tantas pessoas como a Religião em geral e, a Fé e a Esperança em Nossa Senhora de Fátima, a cujo Santuário, em Fátima, num só dia podem acorrer mais de meio milhão de fiéis, o que, de alguma forma, revela que quanto tudo falha, nomeadamente a ciência, a técnica e a tecnologia e outros meios menos “claros” ou, se se preferir, “esotéricos”, as pessoas se voltam para Maria e lhe “imploram”, ajuda e proteção.
Como seria bom que, entre os limites da ciência e da religião, a humanidade se entendesse para: o desenvolvimento, o trabalho, a justiça social, o amor, a felicidade e a paz. Acredita-se que entre a ciência e a religião, não haverá incompatibilidades, talvez, ainda, alguns “complexos”, algumas reticências em aceitar a religião como mais um “veículo” para a humanidade viver melhor.
Naturalmente que nenhuma destas dimensões, eminentemente humanas, pode ser radicalizada, fanatizada, pretendendo: uma, ser superior à outra, porque quando se envereda por posições extremadas, normalmente, o resultado é mau para as pessoas, gerando-se e alimentando-se conflitos, guerras e outras situações que atingem vítimas humanas inocentes, que nunca tiveram nenhum envolvimento nas causas que deram origem às contendas bélicas.
A intercessão de Maria é, portanto, tão necessária e compreensível como outros “expedientes” a que muitas pessoas “recorrem”. Com Ela, com Maria, porém, existe sempre a possibilidade de “conversarmos”, orarmos e pedirmos apoio e resguardo, com Fé e Esperança, de que poderemos ser “atendidos”, embora nem sempre assim se verifique.
Neste treze de maio, saudemos, oremos e agradeçamos a Nossa Senhora de Fátima, para que haja paz no mundo, para que proteja os milhões de migrantes, refugiados, expatriados e toda a sorte de pessoas fragilizadas, marginalizadas e perdidas no rumo da existência errática, devido às vicissitudes da vida, do desequilíbrio de milhares de indivíduos, alienados pelos fanatismos: políticos, religiosos, económicos, financeiros, estratégicos e bélicos, entre outros.
É essencial que tenhamos Fé e Esperança em Nossa Senhora de Fátima, Maria, Mãe de Jesus, para que possamos ajudar a encontrar as melhores soluções para acabar: com as injustiças, com as perseguições, com a dor e sofrimento e, todos juntos, consigamos ter uma vida, verdadeiramente digna da pessoa humana.


Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo


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domingo, 6 de maio de 2018

Mãe. A Supremacia do Amor

Todos os dias do ano, das nossas vidas e da história, serão sempre muito poucos para enaltecer e homenagear as múltiplas e profundas dimensões da mulher porque, paulatinamente, com o decorrer dos séculos, a sua influência benéfica tem vindo a fazer-se sentir, bem como o desejo para que ela se posicione no lugar, a que por mérito próprio, tem direito no seio da sociedade, é cada vez mais evidenciado, principalmente por todos aqueles que, sem preconceitos, com toda a humildade e gratidão, reconhecem a insubstituabilidade daquele ser humano maravilhoso.

A Mulher vem assumindo, com espírito de tolerância, também de firmeza, a posição merecida de, em todos os domínios, estar ao lado do Homem, partilhando valores, sentimentos, emoções e funções profissionais, numa sociedade muito exigente, extremamente competitiva, todavia ainda muito dominada por um certo setor masculino que, receando perder prerrogativas, continua, de forma muito sub-reptícia, algo velada e envergonhada, a conceber normas jurídico-legais, para controlar os sistemas: político, religioso, empresarial e ainda familiar, em muitos lares, para evitar a justa ascensão da Mulher.
Entre as muitas e sublimes dimensões que a Mulher assume na sociedade, provavelmente a sua condição de Mãe (quando realmente o deseja e consegue) será, porventura, o seu, ou pelo menos, um dos seus expoentes máximos, porque para além das inúmeras tarefas, difíceis e, quantas vezes, incompreendidas, que quase sempre tem de desempenhar, ela é a única pessoa a poder atingir tão grande felicidade: gerar e dar à luz um filho, com sofrimento, alegria e amor, mas também como resultado da sua entrega generosa a um homem que igualmente ama (ou já amou). Impossível igualar uma relação tão profunda.
Ser Mãe em toda a sua plenitude de Mulher, verdadeiramente humana, em todo o seu esplendor, é uma condição que algum outro ser poderá igualar ou substituir porque, em bora verdade, não só a constituição biológica como a sensibilidade sentimental, são caraterísticas que existem genuinamente na Mulher e, além disso, ela comporta uma intuição muito apurada para a proteção do/s seu/s filho/s, tornando-se pouco credível que ela possa ser substituída a partir da conceção e aplicação de leis.
Importa refletir: positivamente, sobre a importância, que em nossos dias, significa ter Mãe; interessa meditar, profundamente, no contributo que a Mulher-Mãe dá à humanidade, no sentido da criação, educação e formação que ela proporciona aos sues filhos, em vista da necessidade de uma sociedade equilibrada: em princípios, valores, sentimentos, emoções e desenvolvimento harmonioso da pessoa humana.
Mas também é necessário que se valorize, se proteja e se concedam às Mulheres condições para que elas possam exercer o seu papel maior, que é ser Mãe porque, afinal, a Mãe é, por um conjunto de qualidades, capacidades, virtudes, valores e sentimentos, o centro da família, a moderadora, a protetora, a administradora, a educadora, a apaziguadora, a única que, paciente e generosamente, sabe escutar, harmonizar posições dos restantes elementos da família, encobrir quando é necessário amparar.
A família, sendo a base e a principal célula da sociedade, será tanto mais responsável por um mundo justo, quanto melhor for a preparação dos seus elementos constituintes, sendo certo que a figura maternal, quando verdadeira e humanamente existe, é decisiva para a interiorização, realização e consolidação de valores e boas práticas comunitárias, precisamente a partir da intervenção sensata e amorosa da Mãe.
O poder matriarcal, no seio da família, será um fator de estabilidade, uma garantia de compreensão e tolerância, perante situações anormais provocadas, ou não, por algum elemento do agregado familiar, será fonte de amor, de carinho e de aconchego, finalmente, significará o poder moderador, conciliador e solucionador de conflitos. O poder da Mãe impõe-se pelas suas virtudes, valores e sentimentos naturais, não é conquistado pela força, nem pelo divisionismo da família, e muito menos pela intervenção e intromissão de elementos estranhos.
Conhece-se bem o papel da Mãe na criação, educação e preparação para a vida dos seus filhos, pelos quais tudo faz, até ao limite dos maiores sacrifícios. A credibilidade da Mãe e o reconhecimento da sua necessidade formal e prática são de tal maneira visíveis e aceites que, em grande parte das separações matrimoniais, quando há filhos, estes são entregues à guarda da Mãe, naturalmente, com algumas exceções bem fundamentadas.
Igualmente se julga saber que o abandono dos filhos, por parte do pai, é muito maior do que pela Mãe, como também parece um dado adquirido que, na maior parte das situações, são os avós maternos que apoiam a mãe na criação e educação dos filhos, podendo-se inferir que, em regra, os pais, aqui reportados aos homens, são menos responsáveis do que as mães, em muitas situações, designadamente: por imaturidade, por egocentrismo, por não serem capazes de abdicar de certos vícios e formas de vida.
É indiscutível que há muitas e boas exceções, como também é verdade que existem mães que se revelam incapazes para cuidar dos seus filhos, nalguns casos, porém, sem terem qualquer culpa, porque são surpreendidas por homens e/ou jovens sem quaisquer princípios, valores e sentimentos humanos.
O exercício das funções de Mãe, quando assumido em todas as suas dimensões, enfrentando diferentes e complexas dificuldades, revela bem a grandeza desta condição sublime da Mulher-Mãe, eminentemente feminina, e que por tudo isto deveria ser mais respeitada, mais protegida, mais reconhecida nos seus direitos, enquanto Mulher, Cidadã e Trabalhadora.


Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo


terça-feira, 1 de maio de 2018

Trabalhador: a força reivindicativa

O “Dia do Trabalhador”, comemorado no primeiro de maio, principalmente nos países democráticos, constitui um marco histórico na libertação da mulher e do homem: da escravatura salarial, da prepotência patronal e da reivindicação por melhores condições de trabalho, com garantias de uma velhice tranquila e materialmente confortável, porque ninguém deve iludir-se quanto ao futuro que, salvo alguma situação imprevisível, a maioria deseja atingir idade provecta e usufrui-la com dignidade.
É normal que os trabalhadores lutem por melhores dias laborais, em todos os sentidos e, independentemente das qualificações que possuam, sejam: intelectuais, cientistas, liberais, operários, agricultores, pescadores, mineiros, funcionários públicos, militares, policias, entre outras profissões.
É justo, e será legítimo e legal, que recorram a todos os meios para fazerem valer as suas pretensões, porém, e sempre que possível, minimizando os prejuízos aos colegas de outros setores, principalmente quando optam pelo instrumento mais incisivo, a grave que, sabendo-se o seu objetivo, é precisamente, causar danos e demonstrar que aquele grupo de profissionais faz falta à sociedade.
Neste “Dia do Trabalhador”, convém recordar que ele, em qualquer atividade profissional, é parte da máquina do progresso, cada um contribuindo com a sua quota-parte de tempo, de conhecimentos e de prática, sem o que: cada empresário, patrões, chefias e outros interventores de topo, não teriam sucesso, ou então não continuariam a progredir numa determinada carreira.
Talvez interesse aqui referir que, por vezes, afigura-se existir algum afastamento, e até mesmo insensibilidade por parte de determinados trabalhadores no ativo, quando desencadeiam greves, para conseguirem melhores condições gerais pelo trabalho que realizam e, raramente, se lembram daqueles que, estando agora na reforma, já contribuíram para manter a empresa, onde os atuais têm os seus postos de trabalho, e até em melhores condições.
Verifica-se que nem sempre haverá solidariedade dos trabalhadores no ativo para com os colegas reformados. Raramente ocorre uma greve, ou uma qualquer outra forma de luta, dos trabalhadores ainda em funções, a favor daqueles que, atualmente, aposentados, vivem com magras reformas. Esta mentalidade que poderá revelar desconsideração pelos ex-colegas, em nada favorece a imagem de quem está no ativo que, afinal, também descartam aqueles que, eventualmente, no passado os tenha ajudado a entrar para a sua empresa, para a função pública, enfim, os tenha apoiado e obterem um emprego.
O “Dia do Trabalhador” também deve ser aproveitado, não só para manifestações, como também para refletir na situação que tendo sido trabalhadores, agora, grande parte, estão votados ao ostracismo. Neste dia, feriado nacional, consagrado ao trabalhador, não se pode ignorar, pelo contrário, quem trabalhou uma vida inteira e contribuiu para um país melhor, sofrendo na pele, quantas vezes, a humilhação, a repressão, a perseguição, para que hoje se possa comemorar este dia. Seria bom que nenhum trabalhador esquecesse o passado de seus avós, pais, parentes, amigos e conhecidos.
Neste primeiro de maio, deseja-se que a população: quem trabalha; quem está a chegar ao mundo do trabalho e os que já deram décadas das suas vidas, deem as mãos para que haja mais união, mais solidariedade e mais reivindicações globais, para que possamos usufruir de melhores condições de vida. Na verdade, não pode haver portugueses de primeira e de segunda classes.

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo